quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Vantagem

Uma vantagem de se jogar vergonhosamente mal golfe é fazer descobertas extraordinárias no mato, quando se anda à procura da bola.

(Albufeira, Dezembro 2011)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Imortalidade

Os antigos, mais talvez do que nós, a quem, segundo Warhol, bastam quinze minutos de fama, procuravam activamente, quando não a imortalidade, pelo menos a glória imortal. No entanto sabiam bem, lá no fundo, quanto esta era precária:

Ex his ipsis cultis notisque terris num aut tuum aut cuiusquam nostrum nomen vel Caucasum hunc, quem cernis, transcendere potuit vel illum Gangem tranatare? Quis in reliquis orientis aut obeuntis solis ultimis aut aquilonis austrive partibus tuum nomen audiet? Quibus amputatis cernis profecto, quantis in angustiis vestra se gloria dilatari velit. Ipsi autem, qui de nobis loquuntur, quam loquentur diu?

Nas terras cultivadas por nós conhecidas, pode o teu nome, ou o de qualquer de nós, atravessar o Cáucaso que avistas, ou nadar para além do Ganges? Quem no longínquo Oriente ou no lugar onde o sol se põe ou nas partes donde sopra o vento norte ou sul ouve o teu nome? Se retirares estas, vês quão estreito é o território em que a tua glória se espalha. E mesmo esses que falam de nós, até quando falarão?

M.T. Cicero, De Republica, VI, 22

Sejamos modestos, pois. Ou não. É que a Rachelet encontrou a maneira de qualquer de nós atingir a imortalidade: é só mandar transformar as próprias cinzas, naturalmente após a morte, num diamante.

Já que os diamantes são eternos...


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Encontre as semelhanças

Bach (1685 - 1750): Concerto para dois violinos em Ré menor BWV 1043, composto entre 1730 e 1731, 2º andamento, largo. Solistas: Yehudi Menuhin e David Oistrackh.

Haendel (1685 - 1758): Ópera Serse, estreada em 1738, ária Ombra mai fù. Cantora: Joyce diDonato.

Natal sem luzes

Não sei o que se passa no resto do país, mas em Albufeira este ano não há iluminações de Natal. Só um letreiro à entrada da cidade para quem vem da autoestrada. Em Lisboa também nada vi: aquela espécie de cogumelos Disney em volta da estátua do marquês de Pombal não dá luz e obviamente não conta*.

Toda a gente parece achar normal esta austeridade, contentando-se em lamentá-la com ar compungido.

(Hoje, na minha janela)

Mas a pergunta que ninguém faz (excepto o A., esta tarde) é: o que aconteceu às luzes dos anos anteriores? Não se podem reutilizar? Não sobrou nada? Foi tudo para o lixo?
Por outras palavras: que desperdício foi esse a juntar aos outros? E os senhores autarcas ainda andam aí?


*Para quem não sabe a que cogumelos me refiro, ei-los aqui.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Uma conta

Este fim-de-semana foi uma razia nas celebridades: morreram Cesária Évora, Vaclav Havel e Kim Jong-Il.
Curiosamente dois deles estavam na área das artes e dois na política, uma conta de 2+2=3...

Confesso que para mim uma morna é muito semelhante a outra morna e Cesária Évora, quando a vi em palco, já não estaria na sua melhor forma. Ainda assim, aquela música pode ser um acompanhamento simpático para um copo na praia ao pôr-do-sol. E porque não lendo alguma obra de Havel, o que nunca fiz durante a vida dele?

Quanto a Kim, apesar de a sua morte ter sido anunciada com emoção, acredito que só lhe sentirá a falta quem acompanhava o blogue, de que já aqui falei, Kim Jong-Il looking at things. Embora o autor tenha centenas de fotos em arquivo e ponha a hipótese de continuar a publicá-las, não será a mesma coisa.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Matricular as matrículas

Notícia do Expresso:

Algarve: PSP apela à marcação de matrículas (vídeo)
PSP de Faro pede aos condutores que façam pequenas marcas nas suas matrículas e veículos. Objetivo: evitar que sejam usadas por outros nas ex-SCUT. Veja o vídeo no final do texto.
Mário Lino, correspondente no Algarve (www.expresso.pt)
16:34 Quinta feira, 15 de dezembro de 2011

(...)
"Pode fazer-se uma pequena marca na matrícula, na chapa traseira do veículo, que é aquela que o sistema dos pórticos capta aquando das passagens, para termos a certeza de que o veículo em causa corresponde ou não àquela matrícula ou então colar um autocolante no vidro traseiro", refere o comandante distrital da PSP.
(...)
Só em dezembro, já há registo de pelo menos 35 matrículas furtadas, 34 em Olhão e uma em Faro, segundo adianta o comandante distrital da PSP de Faro, Vítor Rodrigues. A nível nacional, o número já ascende a 213 matrículas furtadas, com queixa à PSP.
(...)


Ah, o pessoal de Olhão... é muito especial, digo eu.
Mas o que me intriga é saber que marcas se podem fazer na matrícula de um carro que demonstrem, ao passar na Via do Infante, que foi roubada e aplicada noutro carro.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A Formiguinha e a Neve

Não há dúvida: a rede está cheia de surpresas, e a última foi descobrir que uma das histórias da minha infância faz parte das memórias de imensa gente. Interessante é que deve tratar-se de pessoal mais novo, das gerações sem trauma, porque ao contrário da minha versão, as outras têm final feliz.

Confrontando o que me lembro (praticamente o princípio) com o que encontrei por aí, a coisa era mais ou menos assim:


A Formiguinha e a Neve

Era uma vez uma formiguinha que andava a tratar da sua vida e ficou com o pé preso na neve, sem poder libertar-se. Aflita, pediu:
"Oh neve, que és tão forte, liberta o pé que me prendes!"
A neve respondeu: "Mais forte é o sol que me derrete."
E a formiguinha pediu: "Oh sol, que és tão forte, derrete a neve que o meu pé prende!"
O sol respondeu: "Mais forte é a nuvem que me tapa."
E a formiguinha pediu: "Oh nuvem que és tão forte, destapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
A nuvem respondeu: "Mais forte é o vento que me afasta."
E a formiguinha pediu: "Oh vento que és tão forte, afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O vento respondeu: "Mais forte é o muro que me pára."
E a formiguinha pediu: "Oh muro que és tão forte, não pares o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O muro respondeu: "Mais forte é o rato que me fura."
E a formiguinha pediu: "Oh rato que és tão forte, fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O rato respondeu: "Mais forte é o gato que me come."
E a formiguinha pediu: "Oh gato que és tão forte, não comas o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O gato respondeu: "Mais forte é o cão que me morde."
E a formiguinha pediu: "Oh cão que és tão forte, morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O cão respondeu: "Mais forte é o pau que me bate."
E a formiguinha pediu: "Oh pau que és tão forte, não batas no cão que morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O pau respondeu: "Mais forte é o fogo que me queima."
E a formiguinha pediu: "Oh fogo que és tão forte, queima o pau que bate no cão que morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O fogo respondeu: "Mais forte é a água que me apaga."
E a formiguinha pediu: "Oh água que és tão forte, não apagues o fogo que queima o pau que bate no cão que morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
A água respondeu: "Mais forte é o homem que me bebe."
E a formiguinha pediu: "Oh homem que és tão forte, bebe a água que apaga o fogo que queima o pau que bate no cão que morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O homem respondeu: "Mais forte é a morte que me leva."
E a formiguinha pediu: "Oh morte que és tão forte, não leves o homem que bebe a água que apaga o fogo que queima o pau que bate no cão que morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
A morte não respondeu, e a formiguinha, que já estava ao frio há muito tempo, morreu.


Eu chorava a morte da formiguinha, mas pedia a história outra e outra vez.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Taxas imoderadas

Notícia no Diário de Notícias:

Taxas moderadoras
Preço das consultas nos hospitais vai triplicar
Hoje
A partir de Janeiro, consultas com especialistas e SAP vão custar 10 euros.
(...)
As taxas moderadoras das consultas nos hospitais distritais vão subir de 3,10 euros para dez (...)
Nos hospitais centrais (...) sobem também para dez.
Os valores foram confirmados ao DN por uma fonte ligada ao Ministério da Saúde, que também referiu que os atendimentos urgentes em centros de saúde (...) vão igualmente passar de 3,80 euros para dez.


Espero que se faça um estudo prospectivo sobre os resultados destes aumentos, porque enquanto o ministério espera arrecadar mais cerca de cem milhões de euros, eu tenho a impressão que vai haver muito menos gente a recorrer às consultas e mesmo às urgências, com diversas consequências:


haverá pessoas a prescindir de tratamentos necessários;
haverá uma redução drástica nas consultas de acompanhamento após tratamento da fase aguda;
haverá alguma fuga para os hospitais privados (a preços semelhantes), embora pouco significativa;
haverá proporcionalmente mais casos sociais (isentos) nas salas de espera.

Mas, claro, eu às vezes engano-me e frequentemente tenho dúvidas.

Tiro ao alvo

Notícia do Público (via O País do Burro):

Pórtico de portagem na Via do Infante incendiado e destruído a tiro
12.12.2011 - 14:19 Por Idálio Revez
O pórtico de cobranças de portagens de Boliqueime, na Via do Infante (A22) foi atingido esta madrugada a tiro de caçadeira e os equipamentos eléctricos foram incendiados.
(...)

Está aliás em toda a imprensa de hoje. Mas juro que não fui eu, apesar disto :-)

domingo, 11 de dezembro de 2011

Oxford upon Avon

Suetonius conta que do comediógrafo Terentius se dizia, já em vida, que não era ele o autor das suas comédias mas alguém mais culto e bem nascido. O próprio Terentius o referiu no prólogo da comédia Adelphi, agradecendo ironicamente o elogio que assim lhe era feito.

Da vida de Shakespeare conhece-se muito pouco, e é talvez natural que também se tenha posto em causa a autoria das suas obras, por se duvidar que tanto talento e sofisticação pudessem nascer num plebeu provinciano. O filme Anonymous, realizado por Roland Emmerich com guião de John Orloff, baseia-se na hipótese de o verdadeiro autor ter sido Edward de Vere, conde de Oxford.

Especulativo até ao disparate, é no entanto um filme muito bem feito, no qual a tecnologia digital é intensiva mas discretíssima, que recria plausivelmente a atmosfera da época e alguns dos personagens (excelente a rainha Elizabeth de Vanessa Redgrave) e é um bom entretenimento que ainda por cima remete não poucas vezes para outro excelente filme de época, Shakespeare in Love.


Por mim, acredito sem dificuldade que o terceiro filho de um rico comerciante de Stratford e da herdeira de um senhor de terras local tenha tido uma educação cuidadosa e um raro talento. O que me maravilha é que o povo daquela época não só percebesse o requinte da linguagem e das imagens de Shakespeare como aderisse e o admirasse claramente.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Se calhar era domingo

É notícia em quase todos os jornais (o Expresso, o Jornal de Negócios, o Correio da Manhã, o primeiro a dar a notícia,o Público, com uma voltinha - o DN ignora-o olímpicamente e se calhar faz bem): sr. José Sousa disse numa palestra em França que a ideia que agora é preciso pagar a dívida é uma ideia de criança; as dívidas dos países são por definição eternas; as dívidas gerem-se.
Mais: disse que isso estuda-se em economia e que foi assim que ele estudou durante... tempo.

Querem ver que ainda tira da cartola uma licenciatura em Economia?

Mas uma pista para resolver o enigma vem praticamente no fim do video, quando diz que enfim, isto é uma discussão muito... técnica.

Pois. Como o inglês técnico que lhe conhecemos bem.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Sócrates morreu

Peço desculpa: não foi esse. Deviam saber que nunca o trato com essa familiaridade. Quanto ao filósofo, claro, já morreu há dois mil e tal anos, pelo que não é notícia.
Quem morreu foi o antigo jogador de futebol brasileiro, de quem me lembro mais pela figura, de cabelo comprido e barba, e pela licenciatura em Medicina - suponho que nunca exerceu - do que pelo toque de calcanhar que segundo parece era a sua imagem de marca.
Nas fotos recentes estava bastante envelhecido: sol, tabaco e álcool não são realmente bons companheiros para a saúde, mas espero que tenha sido feliz.

A TAP

Notícia do Público:

Escolhida entre 36 mil votantes
TAP é a melhor companhia europeia para os leitores da revista Global Traveler
03.12.2011 - 15:32 Por Pedro Crisóstomo
(...)
A Global Traveler é uma revista mensal, publicada nos Estados Unidos desde 2004, com uma circulação mensal de 105.201 exemplares, de acordo com os números de Junho de 2011 da entidade que verifica a circulação da imprensa naquele país, o Audit Bureau of Circulations.
(...)


Cem mil exemplares, num país como os Estados Unidos, deve corresponder aqui a A Avezinha ou coisa do género. Mesmo assim, a TAP e o Público embandeiram em arco, talvez nunca tenham viajado noutra companhia aérea, ou viajem sempre em executiva e emborquem umas garrafitas do “Melhor vinho tinto servido em Classe Executiva Internacional”.

Na minha pouco humilde opinião, a TAP é uma companhia vulgar com um catering invulgarmente mau. Porque viajo nela? Porque aceita cães na cabine. Cetero taceo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011