sexta-feira, 26 de julho de 2013

Depressão

Mais que apagada e vil*, esta tristeza
É uma manta mansa, larga, densa,
Que cobre o que se diz e o que se pensa
E extingue sem remorso a chama acesa

Da esperança. Estende devagar
Os dedos de silêncio em cada canto,
Esmorece a raiva, o sonho e o pranto
E parece que come o próprio ar.

Transforma as cores todas em cinzento,
Fecha à chave as portas e janelas
Num quase imperceptível movimento.

Põe selos, puxa fitas, ata os nós:
Ficam fora todas as coisas belas
E dentro, embrutecidos, estamos nós.




* como dizia Luiz de Camões, in Os Lusíadas, Canto X, 145


Nota: Ninguém se aflija, por favor: este é um poema político, não pessoal.

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