domingo, 27 de janeiro de 2013

Vida e morte de Maria Stuarda

Já passou uma semana e ainda não comentei a transmissão directa MetLive in HD para a Fundação Gulbenkian da ópera Maria Stuarda de Donizetti.
Eu não conhecia esta ópera, não conhecia sequer uma ária, e achei-a tão bonita que não entendo porque não é mais representada.

Esta encenação de David McVicar foi, como já me vai habituando, simples mas eficaz*, com uma boa caracterização das duas figuras principais, as rainhas Isabel I de Inglaterra e Maria da Escócia, primas e adversárias nas guerras político-religiosas do século XVI - mas não, que se saiba, e ao contrário do que propõe o libretto, no coração do duque de Leicester.
A acção foi deixada na época a que pertence, os cenários, embora simplificados, representam o que é suposto representarem, os figurinos, de uma forma geral, são apropriados, com a provável excepção do horrendo fato de caça de Elisabetta. Gostei das movimentações do coro, que por vezes parecia posar para um pintor - e que cantou, como é costume, muito bem. A orquestra do Met foi dirigida por Maurizio Benini.

Maria foi interpretada por Joyce DiDonato, que é, na minha opinião, uma cantora maravilhosa. Já tive o privilégio de a ver em palco duas vezes** e estou entusiasmadíssima com a perspectiva de a voltar a ver no próximo sábado, novamente em recital, desta vez em Lisboa. Tem uma belíssima voz, uma técnica impecável, uma atitude fantástica. Desde os momentos mais líricos aos mais dramáticos, nunca me decepciona. Também já cantou o papel da antagonista.
Desta vez quem fez a Elisabetta foi a soprano Elza van den Heever: tem uma voz um bocadinho áspera mas cheia, afinada, e com um bom domínio da coloratura. Duas curiosidades: começou a carreira como mezzo-soprano, e rapou o cabelo para lhe assentarem melhor as perucas deste papel. Talvez tenha exagerado um tanto os tiques que McVicar lhe encomendou.


O tenor Matthew Polenzani fez Leicester: tem uma voz de timbre agradável (nesta transmissão não encontrei o metal do Don Pasquale) e, não sendo grande actor, esteve aceitável no palco. Gostei do baixo Matthew Rose, que vi em Londres, agora no papel de Talbot; Joshua Hopkins em Cecil e Maria Zifchak na aia, ouviram-se com prazer.


* Acabei de ler uma crítica de Jorge Calado que usa exactamente as mesmas palavras para a definir.
**Conforme contei aqui e aqui.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Regresso de Portugal aos mercados

Perante a histeria com que os meios de comunicação têm anunciado o regresso de Portugal aos mercados de longo prazo (parece que nunca saímos dos de curto prazo), não consigo deixar de concordar com quem diz que isso significa que já estamos a dever mais 2,5 mil milhões de euros que teremos de pagar daqui a cinco anos com juros de 4.89% (122,25 milhões) ao ano.

Teremos? Sim, nós, os do costume.

E, a propósito, parece que o único estímulo à economia de que estas cabeças pensantes se lembram é a abertura de linhas de crédito. Ou seja, se as empresas estão mal, o remédio é endividarem-se... mais ainda.

Mas o problema deve ser meu, que aprendi economia pela cartilha do Álvaro ;-) Por isso, a melhor ilustração do regresso aos mercados é, para mim, a que recebi há uns dois meses por email:

(Imagem de autor desconhecido)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Andam a descascar a A22

A ideia, creio eu, é repavimentar, mas por enquanto há grandes porções em que a camada mais superficial foi descascada.

O material que é aplicado não é sempre igual, e tudo aquilo parece uma manta de retalhos.

(Via do Infante = A22, Janeiro 2013)

Pelo menos corta a monotonia da condução.

Hibisco

Este hibisco sempre teve flores de um rosa desmaiado. Não sei o que lhe deu para hoje corar assim. Algum passarinho?

(Hoje, no meu jardim)

sábado, 12 de janeiro de 2013

O cão, a criança e um blogger que morde

Não pensava escrever sobre a história do cão cruzado de pitbull que matou uma criança com quem convivia habitualmente, e cujo abate friamente encarado pelo dono e pela veterinária municipal desencadeou uma onda de protestos e uma petição pública. Parece-me que deve haver atitudes diferentes perante um cão que é habitualmente agressivo e um que não o é. Mas não conheço este cão e a história parece mal contada.
Eu tive um cão indubitavelmente manso que por três vezes na vida, sem razão aparente, mordeu ou tentou morder pessoas. Como era um yorkie (não o Jr), não aconteceu nada de grave, mas demonstrou-me que os motivos e as situações que podem levar os cães a morder não são sempre evidentes para os humanos.

Em toda esta polémica o que também me chocou foi o texto de Daniel Oliveira sobre o assunto. Argumentando a favor do abate por motivos de segurança (Um animal doméstico, se se revelar perigoso para os humanos, não pode conviver com eles), o que me parece legítimo, resvala para a demagogia (as crianças não podem correr risco de vida, sejam lá qual forem os motivos) e conclui:

Resumo assim: a vida do humano mais asqueroso vale mais do que a vida do animal doméstico de que mais gostamos. Sempre.

Um resumo tonto, já que ninguém estava a discutir o valor relativo da vida de humanos e de animais. Ninguém estava a pesar as vidas do pequeno Dinis e do cão Zico, até porque matar o Zico não traz o Dinis de volta. O único a fazer essas comparações foi o próprio Daniel Oliveira, e para chegar a uma conclusão insustentável: numa escolha entre, por exemplo, o assassino de Oslo e o Zico, não me parece evidente que o humano asqueroso ganhasse.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A horta no inverno

A minha horta continua a dar-me muita alegria. A couve-flor revelou-se finalmente, enorme e apetitosa, e foi colhida hoje:


Os bróculos forneceram uma segunda dose, que provavelmente estará no prato amanhã, e as favas já estão em flor:


As novas plantações de inverno são principalmente temperos: salsa, manjericão (o que havia deu-se mal com o frio), alho e tomilho. Este não sei bem para que serve, mas tem um perfume alimonado delicioso.

(Albufeira, Janeiro 2013)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Sporting

Portugal pode estar numa espiral recessiva; o Sporting está certamente numa espiral depressiva. Felicidades, Jesualdo Ferreira, espero que tenha algum truque na manga para pôr ordem neste clube. Amen.

Bem grelhados

Ouvi há bocado na RTP a apresentação de uma nova grelha que aposta na informação, na ficção e no humor. Achei-a tão indigente como a anterior. Não vi qualquer referência a teatro, ópera, concertos, cinema. A própria RTP diz que são os mesmos nomes a outras horas.

Se é para isto, podem privatizar, entregar aos mwangolés ou a quem quiserem.

Discurso de ano novo

Uma das minhas resoluções de fim de Verão, o ano passado, foi voltar a estudar alemão, e foi nesse contexto que me entretive a ouvir, ler e traduzir o discurso de ano novo da chanceler Angela Merkel. Esperava da mulher que manda na Europa e é doutorada em Física algumas considerações luminosas, por isso qual não foi o meu espanto, qual a minha decepção, ao ouvir historinhas como estas:

(...)Também há hoje no nosso país muita gente corajosa e útil. Um jovem participante nos meus diálogos cívicos em Heidelberg contou-me que um jogador da sua equipa de futebol queria abandonar a escola. Por isso ele foi ter com o treinador e pediu-lhe que reunisse toda a equipa, para que cada um contasse porque é bom ir à escola. Fizeram isso no treino seguinte e resultou. O companheiro de jogo não deixou a escola.(...)

(...) conheci há pouco tempo um rapaz de 10 anos que nasceu quase surdo. Recebeu um implante ultra-moderno e hoje pode ouvir música e ir à escola sem problema. Também encontrei uma rapariga que vive há três anos com uma prótese valvular cardíaca que cresce com ela, e com a qual pode fazer desporto e levar uma vida normal. Estas são pequenas maravilhas médicas. São o sucesso dos nossos investigadores.(...)


Desculpem, mas estas historinhas edificantes num discurso de ano novo não parecem mesmo saídas da boca (e do neurónio) dum outro doutor de Boliqueime?