sexta-feira, 29 de junho de 2007

O regresso da bufaria

Notícia do Público:

Despacho publicado hoje
Directora de centro de saúde demitida por não retirar cartaz "jocoso" sobre Correia de Campos
28.06.2007 - 17h53 Lusa

A directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho, Maria Celeste Cardoso, foi exonerada pelo ministro da Saúde por não ter retirado do centro um cartaz que apresentava declarações de Correia de Campos "em termos jocosos".
O despacho de exoneração de Maria Celeste Vilela Fernandes Cardoso foi publicado hoje em Diário da República.

(...)
"Pelo despacho (...) do Ministro da Saúde, de 05 de Janeiro, foi exonerada do cargo de directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho a licenciada Maria Celeste Vilela Fernandes Cardoso, com efeitos à data do despacho, por não ter tomado medidas relativas à afixação, nas instalações daquele Centro de Saúde, de um cartaz que utilizava declarações do Ministro da Saúde em termos jocosos, procurando atingi-lo", lê-se no documento.
Perante este caso, considera-se demonstrado que Maria Celeste Cardoso não tem "condições para garantir a observação das orientações superiormente fixadas para a prossecução e implementação das políticas desenvolvidas pelo Ministério da Saúde".

Podem-se concluir várias coisas:
1. Certamente quem votou em Salazar como o maior Português de todos os tempos foram os membros do desgoverno actual, pois esta série de suspensões, exonerações e demais questões tem cheiro a naftalina.
2. Voltaram os "bufos" - informadores, delatores, o que se lhes queira chamar. O sinistro não viu ele próprio o cartaz, visto que não é pessoa para entrar em centros de saúde.
3. O lapso de tempo entre o despacho e a sua publicação oficial foi de quase seis meses. Aqui ponho duas hipóteses: ou o funcionário responsável é arraçado de lesma, ou pelo contrário, é um homem de bem e reteve o texto o mais que pôde para dar ao sinistro a oportunidade de se arrepender.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

O Estado Português da Índia

Acabei de ler o livro de Francisco Cabral Couto "O Fim do Estado Português da Índia".
Couto foi o comandante da Companhia de Caçadores 10 baseada em Navelim. Participou na execução do plano de defesa do estado de Goa, e como tal foi testemunha da trapalhada em que tal plano se transformou por falta de homens, de armamento e de comunicações.
Do seu relato o que mais impressiona é a mensagem de 14 de Dezembro de 1961 (4 dias antes da invasão indiana) do Primeiro Ministro e Ministro da Defesa, Salazar, ao Governador-Geral de Goa. A estratégia do Governo é evidente nestas frases:


"Todos temos consciência da modéstia das nossas forças mas, podendo o Estado vizinho multiplicar, por factor arbitrário, as forças de ataque, revelar-se-ia sempre no final grande desproporção.
(...)
É horrível pensar que isso pode significar o sacrifício total, mas recomendo e espero esse sacrifício como única forma de nos mantermos à altura das nossas tradições e prestarmos o maior serviço ao futuro da Nação. Não prevejo possibilidades de tréguas nem prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos."


Em resumo, Salazar queria o massacre dos portugueses na Índia para depois apresentar Portugal como vítima e obter simpatia e ajuda da comunidade internacional (ou pelo menos dos Estados Unidos e do Reino Unido) para manter as restantes colónias.
Porque não antevia qualquer vantagem em manter as tropas minimamente armadas, retirou homens, carros e armas da Índia e enviou-os para Angola e para Timor. E em vez de granadas mandou para a Índia... chouriços!

Animais em férias

Notícia do Sol, hoje:

Lisboa
Troca de animais domésticos pretende evitar abandono
Uma campanha de intercâmbio de animais de domésticos para evitar o seu abandono durante as férias foi lançada terça-feira pela Câmara Municipal de Lisboa (CML)
Evitar o abandono de animais domésticos durante as férias é o objectivo da nova campanha de troca temporária lançada terça-feira pela CML.

A câmara vai criar uma bolsa de voluntários constituída por donos de animais disponíveis para tomarem conta dos bichos de outras pessoas quando estas forem de férias.
Os voluntários que acolherem os animais de outros inscritos ficam com a garantia que outras pessoas tomarão conta do seu animal de estimação quando estiverem ausentes.
Também serão criadas famílias de acolhimento temporário pela SOS Animal, parceira da CML e da Liga Portuguesa dos Animais nesta iniciativa.
Estas famílias vão receber os animais domésticos durante as férias dos donos sem a necessidade destes retribuirem o acolhimento.


E que tal pressionarmos os hotéis, restaurantes, lojas, etc, para aceitarem os nossos animais bem comportados?
Não será a melhor maneira de evitar o abandono dos animais permitir que estes acompanhem os donos nas suas férias?
Enquanto em toda a Europa civilizada os cães são bem-vindos em todo o lado, Portugal, país de mouros encapuçados, escorraça-os.
Vergonha!

domingo, 24 de junho de 2007

Notícias do Expresso

Normalmente prefiro nem ler os jornais. Só servem para me irritar ou entristecer. Hoje li o Expresso (edição em papel) e eis o que encontrei:

MÊS DAS CIDADES
Era uma vez um país...
Portugal para 40 milhões de habitantes
Paulo Paixão
00:00 sábado, 23 JUN 07

Há um país que parece mera ficção. Mas é levado muito a sério por autarcas que elaboram os planos directores municipais (PDM) e pelo Governo central que os aprova. Nos seus cantinhos, presidentes e vereadores expandem as áreas edificáceis do concelhos. O resultado é um país onde somados os valores máximos da densidade admitida por cada PDM poderiam viver 40 milhões de almas. “Cada município tem a esperança de captar mais moradores, mas ninguém faz as contas gerais”, diz João Joanaz de Melo, professor universitário da Engenharia do Ambiente. Olhando para a demografia virtual dos PDM, “a população cresce de forma galopante. Isto até parece a Índia”, ironiza.

De ano para ano aumenta o parque habitacional do país. O número de fogos (cerca de 5 milhões) supera o de famílias (3,5 milhões). Em consequência, Portugal tem das mais altas taxas de segunda habitação da Europa.

É na construção de novas casas - através do Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas (IMT), a antiga sisa, e do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI), ex-contribuição autárquica – que as câmaras têm uma fonte de receitas cada vez maior.

Já sabia disto há muito tempo, embora sem números exactos (ninguém garante que estes o sejam. Os jornalistas costumam ser ainda piores em números do que eu). É deprimente ver a quantidade de casas e apartamentos vazios. A história da segunda habitação leva a que em Armação de Pêra, por exemplo, a população passe dos 5,000 residentes habituais a 25,000 nas primeiras duas semanas de Agosto. O resto do ano parece uma cidade fantasma.

Mas não é só a segunda habitação. Na realidade há por aí muita construção que nem primeira chega a ser, enquanto casas antigas no coração das cidades não páram de se degradar.

Outras notícias são sobre o TGV: Lisboa e Madrid não se entendem sobre a velocidade dos comboios, e enquanto a secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, diz que

"Esta rede ferroviária criará 36 mil postos de trabalho, terá um impacto no PIB de 99 mil milhões de euros e promoverá um investimento privado da ordem dos 21 mil milhões", ela própria terá duvidado, segundo Miguel Sousa Tavares adianta na sua crónica "O Desvario dos Socialistas", que "a linha para Madrid consiga ser auto-sustentável", sendo que o modelo deste negócio segue a linha das SCUTS, propondo o Governo pagar às empresas concessionárias dos diversos troços "segundo a capacidade instalada e não segundo a capacidade utilizada" (MST)

Ah bom! Continuamos na política dos subsídios. E quanto aos 36 mil postos de trabalho, o que serão? Quão permanemtes? Ou estamos a falar de ucranianos importados para a obra e depois atirados para o desemprego?

Finalmente, fiquei a saber que António Balbino Caldeira, autor do blog Do Portugal Profundo, foi alvo de uma queixa-crime apresentada pelo Sr. José Sousa provavelmente realacionada com os textos publicados no blogue sobre a polémica licenciatura e o título de engenheiro.

I rest my case.


sábado, 23 de junho de 2007

More on reading Gandhi

This morning I was feeling a little more critical of Gandhi. No one is perfect, and he never said he was. He was ready to face death and indeed faced it several times, especially at his own hand. But the most the British did to him was put him in prison; he was always treated with respect, was not beaten (except early in his life in South Africa in the episode which opened his eyes to the problems of apartheid and untouchability), was never injured, was never raped. Many of his followers were injured and killed.
Can non-violent resistance always work? Perhaps it did in India because he was facing the British - but what good did it do to Jews against Hitler? Six million died anyway.

Is there a solution for mankind?

The answer may be in another Gandhi quote:

Not knowing the stuff of which non-violence is made, many have honestly believed that running away from danger every time was a virtue compared to offering resistance...
M. K. Gandhi, The Essential Gandhi, Louis Fischer Ed., NY 1983, pg. 299

The Jews were not violent, but did they resist?

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Reading Gandhi

We are often thoughtless and therefore like only to read books or, worse still, to talk...
M. K. Gandhi, quoted in The Essential Gandhi, Louis Fischer Ed., NY 1983, pg. 238


I like Gandhi. In fact, I revere him. He was, in my opinion, one of the greatest men in history, and I wish there were more like him. The Palestinian/Israeli problem can only be solved by walking the path of non-violence in the steps of a leader who is as determined about it as Gandhi.
A Gandhi would fast for peace in Palestine. He would fast until all involved got rid of their weapons, forgot the hurt in themselves and their loved ones, and ceased to perceive and treat their neighbours as their foes.
Gandhi's non-violent means didn't mean passivity. He was in fact a preacher and practicioner of non-violent civil disobedience, which is probably the solution for my own country.


Real Swaraj [Self-Rule] will come not by the acquisition of authority by a few but by the acquisition of the capacity by all to resist authority when abused.
Ibid, pg. 176
Non-cooperation is a protest against an unwitting and unwilling participation in evil.
Ibid, pg. 145
Fasting cannot be undertaken against an opponent.(...) Fasting can be resorted to only against a lover, not to extort rights but to reform him...
Ibid, pg. 182
Man does not live by bread alone. Many prefer self-respect to food.
Ibid, pg. 172


I believe what one likes in a book is the echo of one's own feelings, and what one learns is the awakening of one's consciousness to issues which resound in one's brain and body. I've read books to stop myself from thinking, but the books I cherish are those which make me think - like this one.