terça-feira, 31 de março de 2015

Berlim revisitada

Fui à procura de alguns dos meus lugares favoritos em Berlim: a loja de cultura Dussmann e o seu jardim vertical


o Brandenburger Tor, símbolo da reunificação alemã


os oito pátios Arte Nova interligados, conhecidos como Hackesche Höfe, que já tinha mencionado aqui



a cobertura do centro Sony onde tem lugar o festival de cinema Berlinale


(a propósito, a Potsdamer Platz já não está em obras!)

a Gemäldegallerie onde, entre obras-primas de Rubens, de Rembrandt, de Vermeer, de Botticelli, encontrei este gordo extraordinário de um para mim até agora desconhecido Charles Mellin, nascido em Nancy no fim do século XVI mas romano de carreira

(Berlin, Março 2015)

Não é de uma modernidade surpreendente?

domingo, 29 de março de 2015

A História de Berlim

Escondido num centro comercial na Ku'Damm fica uma espécie de museu chamado The Story of Berlin, que conta a evolução da cidade desde as origens medievais até à reunificação de 1989.

É uma proposta ambiciosa realizada com relativamente poucos recursos, e cujo ponto alto é a visita guiada a um bunker anti-atómico subterrâneo, construído nos anos 70 do século XX, em plena Guerra Fria, (mal) pensado para abrigar até três mil e seiscentas pessoas (as primeiras que conseguissem chegar, de qualquer sexo e idade) durante duas semanas, após a eventual queda de uma bomba atómica perto da cidade.

Desde a entrada, uma sala nua em que era suposto as pessoas despirem-se completamente e tomarem duche para se descontaminarem (inevitáveis as lembranças de outros duches colectivos),


antes de vestirem fatos de treino que não mais seriam lavados nem despidos, até aos beliches básicos de metal e rede que ocupariam quase todo o espaço disponível, sobrepostos quatro a quatro (esqueci-me de perguntar como subiam e desciam os inquilinos de cima) na quase escuridão


às duas cozinhas tamanho caseiro e aos alimentos enlatados


às quatro casas de banho colectivas e aos dois rolos de papel higiénico atribuídos a cada pessoa, aos dezasseis supervisores encarregados de preservar a ordem e cuidar da manutenção, ao posto médico rudimentar onde eventuais médicos presentes entre os refugiados tentariam tratar diarreias, feridas, desidratações e o mais que aparecesse

(Berlin, Março 2015)

ao que aconteceria quando os filtros deixassem de funcionar e fosse necessário sair pela mesma sala por onde tinham entrado (e onde entretanto teriam ficado empilhadas as roupas contaminadas de três mil e seiscentas pessoas?) só posso ficar ainda mais feliz por nunca ter sido preciso usá-lo e desejar ainda mais ardentemente que nunca seja preciso.

sábado, 28 de março de 2015

Na Philharmonie

Finalmente cumpri o desejo de assistir a um concerto na grande sala da Philharmonie em Berlim e testar a famosa acústica. Gostei imenso: é clara e ao mesmo tempo aconchegante, macia. Fiquei na sexta fila, onde o som chega em estereofonia, o que talvez nem seja a intenção dos compositores mas é como eu gosto de ouvir a música.

A orquestra da Philharmonie estava ausente em digressão, mas fiquei a conhecer a Akademisches Orchester Berlin, o seu maestro Peter Aderholt, e a solista, uma jovem violinista de origem coreana e australiana chamada Suyeon Kang, em três belíssimas obras: a Abertura do Don Giovanni de Mozart, o Concerto para Violino de Sibelius (que ouvi há pouco, em Fevereiro, na Fundação Gulbenkian, por Frank Peter Zimmerman) e a Terceira Sinfonia de Beethoven.

Foi uma tarde fantástica. Um ou dois desacertos àparte, a orquestra tocou maravilhosamente, com grande equilíbrio, sem afogar nunca a solista, atenta ao maestro, empenhada e expressiva. Kang, depois de, à chegada ao palco, tropeçar no vestido demasiado comprido, não tropeçou em mais nada, e deu-nos um Concerto muito bonito, coerente e virtuoso.

(Berlin, Março 2015)

A Eroica resultou muito bem e muito curiosamente, cada uma das pessoas do meu grupo foi seduzida por um andamento diferente. O meu preferido foi o segundo, que achei riquíssimo e onde encontrei (mais uma das minhas descobertas que provavelmente não são novidade para mais ninguém) tocado repetidamente nos primeiros minutos pelos violinos, e já perto do fim pelos tímpanos, o tema inicial da Quinta Sinfonia.
Aqui o deixo à apreciação, embora com outros intérpretes:


Finalmente um reparo para o público, que me fez sentir em casa, tanto pelos ataques de tosse como pelos aplausos entre andamentos: tornou-se moda, é?

sexta-feira, 27 de março de 2015

La Bohème na Deutsche Oper em Berlim

Berlim tem três teatros de ópera; nestes dias de férias a opção foi para La Bohème na Deutsche Oper, que é um teatro moderno, simpático e com preços acessíveis, de tal forma que fiquei excelentemente sentada numa das primeiras filas da plateia, de onde apenas não tinha vista para o fosso da orquestra para além da careca do maestro Donald Runnicles.

Foi uma boa opção, diga-se já: a encenação do já falecido Götz Friedrich, clássica mas muito viva, com uma boa direcção de actores, cenários e figurinos "de época", à excepção dos quadros do pintor Marcello, que eram modernos, feios e fracos, orquestra muito competente apesar de de quando em quando abafar os cantores.

Destes gostei muito: o único nome que conhecia era o da soprano Carmen Giannattasio, que cantou a Mimì com voz potente, cheia, muito correcta em toda a tessitura. É pequenina mas tem uma figura agradável e esteve muito bem em palco. Tanto o tenor coreano Yosep Kang, que fez um excelente Rodolfo, como todos os companheiros de boémia, o jovem barítono Davide Luciano no pintor Marcello, os baixo-barítonos Noel Bouley no compositor Schaunard e Marko Mimica no filósofo Colline, compuseram muito bem os seus personagens, tanto vocal como cenicamente. A Musetta foi a soprano Martina Welschenbach e a única que me deixou com vontade de mais alguma coisa, mas pode ser apenas porque, sendo a personagem uma mulher forte e independente, mereceria maior protagonismo... correndo o risco de se sobrepor à Mimì.

Não sendo esta, na minha opinião, a mais interessante ópera de Puccini, entendo que seja a mais popular: é curta, tem um bom equilíbrio de comédia e tragédia, os personagens são simpáticos, a música é bonita e usa leitmotive de uma forma facilmente reconhecível.

(Berlin, Março 2015)

Brandos costumes

Triste país em que gangsters tentam atemorizar um juiz envenenando-lhe o cão.

terça-feira, 10 de março de 2015

Marés de Março

O Mário já chamou a atenção para as marés vivas de Março. O equinócio vai quase coincidir com a lua nova, o que deve produzir amplitudes muito grandes.
No Algarve as marés são obviamente mais modestas; ainda assim no domingo passado fui até à praia passear o Jr e encontrei rochas que habitualmente estão submersas até meio:


em certos casos, "meio" são dois metros e tal


enseadas com várias vezes a extensão habitual


e até lapas agarradas ao que normalmente é o fundo do mar

(Praia da Galé, Março 2015)