sábado, 29 de dezembro de 2012

Masoquismo ou fé?

A sério, a sério, o que leva um homem condenado a pagar três milhões de euros por mês à ex-mulher a ter vontade de voltar a casar, mesmo que não fosse com uma rapariga cinquenta anos mais nova e com este currículo?

A verdade é que fidanzata em italiano quer dizer namorada, e não mais do que isso. Tradutori tradittori, é o que é.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Mozart no sapatinho

Há muitos anos, durante uma viagem de InterRail, encontrei-me com amigos em Salzburg e andámos a visitar a cidade antiga. De repente, atrás de uma porta fechada, ouvi um coro lindíssimo que o meu amigo Patrick me disse ser a Grande Missa Solene de Mozart.

A Grande Missa Solene, ou Missa em Dó menor, ouviu-se no sábado passado na Fundação Gulbenkian, pela Orquestra e pelo Coro da casa, dirigidos por Michel Corboz, depois de uma primeira parte constituída por duas obras de Bach (Prelúdio e Fuga em Lá menor, BWV 543 e cantata Gloria in excelsis Deo, BWV 191) que serviram para aquecer.

Os meus momentos preferidos foram protagonizados pelo contrabaixo, pela flauta e pelo oboé. E pelo coro. Aqui fica, em jeito de presente de Natal, o Qui tollis dirigido por Bernstein.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Da contrafacção

Notícia da RTP:

Agentes da PSP cercaram esta manhã todo o perímetro da feira do Relógio, em Lisboa
Ines Gomes de Oliveira, Rui Cardoso e Pedro Pessoa
16 Dez, 2012, 20:45 / atualizado em 16 Dez, 2012, 20:45
3 toneladas de material contrafeito foram apreendidos.


Percebo que a contrafacção seja ilegal, e obviamente concordo. Por outro lado, pergunto-me o que há de tão errado nela. Parece-me evidente que os produtos de marca genuínos e as suas cópias se dirigem a dois mercados diferentes que praticamente não se tocam. Quem tem dinheiro para comprar uma carteira Louis Vuitton legítima não compra a cópia, e quem compra a cópia nunca compraria o original porque não tem dinheiro para isso.
A não ser no dia em que eventualmente venha a tê-lo, e nessa altura compra mesmo, porque a cópia só lhe aguçou o apetite.

Ou seja: a indústria das cópias dá trabalho a muita gente, movimenta dinheiro, satisfaz uma procura, é na realidade, como dizem, uma economia paralela, e não tira pedaço à indústria de originais.

O único lesado é o Estado porquanto, sendo ilegal, o mercado das cópias foge aos impostos.


domingo, 16 de dezembro de 2012

Os BRIC

Notícia do Expresso:

Os BRIC vão dominar o mundo ou este bloco não tem futuro?
O futuro do grupo alternativo ao G7 continua envolto em polémica. A crise empurrou-o para a ribalta, mas os problemas internos que afligem Brasil, Rússia, Índia e China suscitam muitas dúvidas sobre a sua força real e futuro.
Jorge Nascimento Rodrigues (www.expresso.pt)
15:36 Domingo, 16 de dezembro de 2012

(...) Ruchir Sharma, diretor da área de Mercados Emergentes e Macroeconomia global da Morgan Stanley, é perentório, em entrevista ao Expresso: "Na realidade, nunca pertenceram ao mesmo acrónimo". O especialista indiano vai mais longe: nunca foram e nunca serão um bloco nem geopolítico nem económico.
(...)
Olhando os números divulgados em outubro pelo Fundo Monetário Internacional para este conjunto que deveria ser o novo farol sem mácula, as desilusões são muitas: o trambolhão monumental do Brasil vai continuar, de 7,5% em 2010 para uma previsão de 1,5% este ano; a Rússia abranda de 4,3% para 3,8% no mesmo período; a Índia também dará um trambolhão de 10,1% para 4,9%; e o crescimento na China descerá, este ano, abaixo do limiar político dos 8%, com as estimativas a variar entre 7,7% e 7,8%, depois de ter crescido 10,4% há dois anos.


Preocupados como andamos com a nossa própria economia, com as medidas de austeridade e os problemas da zona euro, é raro lermos notícias sobre o que se passa com os países para os quais temos vindo a perder competitividade. Enquanto nunca acreditei que estivessem ao abrigo de intercorrências, não tive consciência disto: de que apesar de serem metidos no mesmo saco de economias emergentes, não têm realmente nada que ver uns com os outros.

Ontem li um cenário supostamente alarmante sobre a substituição do dólar e do euro na cena internacional por um yuan baseado no padrão ouro (não percebo nada deste tema, mas li em tempos um artigo de Oliver Kamm, hoje suponho que só disponível para subscritores do Times, que afirmava precisamente a vantagem de se ter desligado a moeda desse padrão). Hoje leio sobre a bolha imobiliária chinesa e a sua economia sem fundações sólidas, e parece-me fazer mais sentido.

Estarei a ver bem ou não passará de wishful thinking?

sábado, 15 de dezembro de 2012

De boas intenções...


... estará o Palácio de Belém cheio.

A página oficial da Presidência da República diz que a árvore de Natal e a mesa da ceia foram decoradas com artigos exclusivamente portugueses, o que só fica bem, mas olhando bem para a própria árvore, sou só eu a suspeitar que é tão chinesa como a que tenho aqui em casa?



domingo, 9 de dezembro de 2012

O baile e as máscaras

No sábado passado lá regressei à Fundação Gulbenkian para mais uma transmissão da série Met Live in HD. Desta vez tratava-se de Un Ballo in Maschera, uma ópera que eu nunca tinha visto mas apenas ouvido, e que não me tinha seduzido, não sei porquê, visto que tem todos os ingredientes verdianos: a história de amor e política, árias bonitas, coros e ensembles, e o que presumo fosse um momento de bailado no terceiro acto.

A encenação de David Alden é uma mistura de clássico e diferente: clássico no sentido de que os protagonistas são tratados muito mais como cantores do que como actores, sendo mesmo muitas vezes prantados a cantar sem interagir fisicamente; diferente porquanto personagens e relacionamentos são caracterizados segundo conceitos talvez menos óbvios. Um exemplo, o rei Gustavo como um homem com vontade de fugir às suas responsabilidades metendo-se em aventuras pouco apropriadas. Outro exemplo: o amor entre Gustavo e Amelia é casto, enquanto há uma forte ligação erótica entre Amelia e o marido, Renato, e é essa ligação que salva a rapariga e o casamento.
Havia coisas que não percebi, como o simbolismo das asas brancas do pagem, Oscar, a possível relação com o quadro A Queda de Ícaro que decora o palácio real, ou a razão para a história decorrer nos anos de 1930. Debbie Voigt, a apresentadora da noite, deu-nos algumas pistas, nomeadamente para os bailados tipo Broadway, explicando que nos contrastes desta peça alguns números mais alegres remetiam para a opereta.


A orquestra foi dirigida por Fabio Luisi, que a soprano Sondra Radvanovsky elogiou por saber "respirar com os cantores", o que acho muito interessante.

De Sondra Radvanovsky (Amelia) já tinha ouvido falar: tem uma voz interessante, com bons graves e agudos muito agradáveis; e uma dicção muito difícil de entender. Marcelo Álvarez (Gustavo) pareceu-me o típico tenor verdiano que canta mais em potência que em elegância mas, não conhecendo a partitura, eu sei lá se há alguma coisa apontada excepto forte e fortissimo?
Dimitri Hvorostovsky (Renato) foi igual a si próprio excepto na ária Eri tu che macchiavi, em que se superou, transmitindo magnificamente toda uma série de emoções. Stephanie Blythe (Ulrica), que me tinha impressionado como Fricka, está cada vez mais gorda, e pareceu-me menos bem nos agudos, mas bem no registo grave.

Os secundários cumpriram; gostei de Scott Scully no pequeníssimo papel de criado de Amelia. A soprano Kathleen Kim (Oscar) é incrivelmente desajeitada para uma pessoa tão pequena, e tem uma voz um bocadinho estridente. Diz o Joaquim que ela vai cantar a Olympia nos Contos de Hoffmann no Liceu: engraçado que foi exactamente nesse papel que ela me fez pensar.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Take five

Hoje é dia de obituário: morreu Oscar Niemeyer, o arquitecto de Brasília, que em Portugal deixou o Casino Park Hotel do Funchal. E morreu Dave Brubeck, o pianista de jazz cuja peça Take Five me acompanhou muitas vezes na rádio, no caminho para o hospital, quando vivi em Miami.

Aqui fica ela, em homenagem a dois grandes que foram agora descansar.

domingo, 2 de dezembro de 2012

La Clemenza di Tito

Apesar de a temporada de transmissões do Met (porque lhe chamamos o Met se o nome oficial é a casa, por isso feminino? Adiante) para a Fundação Gulbenkian já ir em velocidade de cruzeiro, só ontem nela embarquei, com a última de Mozart, La Clemenza di Tito, na encenação de Jean-Pierre Ponnelle, ambientada na época em que a obra foi criada em vez daquela em que decorre a acção.
Este detalhe àparte, nada de especial a assinalar numa encenação com quase trinta anos, que segue fielmente o libretto e se preocupa com a movimentação dos cantores. Cenários e figurinos são de modelo apropriado mas não os achei bonitos.

O maestro Harry Bicket, que é director da orquestra barroca The English Concert, diz que à Orquestra do Met não se deve pedir um som diferente do que ela tem; depois daqueles solos sublimes dos sopros, eu certamente não peço.

Os cantores: as duas mezzos, Elina Garanča e Kate Lindsey, nos papéis de Sesto e Annio, têm vozes muito bonitas e expressivas; a soprano Barbara Frittoli, graças a um grande domínio técnico, aguentou-se nas difíceis árias de Vitellia, e particularmente em Non più di fiori, foi mesmo aplaudida pela orquestra; pelo contrário, Giuseppe Filianoti viu-se aflito com a coloratura. Gostei dos agudos cristalinos de Lucy Crowe como Servilia e o baixo Oren Gradus, como Publio, também esteve bem. O coro cumpriu mas não me emocionou.


Para a semana há mais. E na sexta-feira, para quem tiver o canal Arte na televisão, há a transmissão directa da abertura da temporada do Teatro alla Scala, com o Lohengrin de sonho para o qual não consegui bilhetes nas récitas "normais". Agradeço ao Paulo esta informação.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Três perguntas

Qual a vantagem que as televisões nacionais encontram ainda neste modelo de debate/frente-a-frente/entrevista em que todos os comentadores, sejam políticos, economistas, jornalistas, professores ou outros, não fazem mais que repetir as mesmas coisas, ainda que com o ar de terem descoberto a pólvora?

O pessoal ainda vê, apesar de toda a gente, incluindo taxistas e empregadas de limpeza, já ser capaz de papaguear os mesmos chavões sobre como o aumento brutal dos impostos leva a mais desemprego e à destruição da economia?

Finalmente: quando toda a gente diz o mesmo, tem razão ou está na altura de procurar outra verdade?

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A luta continua

Notícia do Público:

Cientistas portugueses obrigam células cancerosas a suicidarem-se
Teresa Firmino   27/11/2012 - 07:44
O controlo de uma única reacção química numa proteína teve como consequência a morte de células que, por definição, são imortais. Patente para esta inovação foi pedida para a Europa.
(...)


Em resumo, um dos problemas com as células cancerosas está na falta de contenção do seu processo de divisão/multiplicação. A estabilidade deste processo é regulada por uma proteína, a CLASP2, que sofre uma modificação mediada por outra proteína, a Plk1.
Se se actuar sobre esta última, pode-se impedir a modificação da primeira e desestabilizar o processo de divisão celular, impedindo-o.

(...) 
“Quando impedimos que esta modificação acontecesse, as células não conseguiam estabilizar o interface e não conseguiam (...) dividir-se”, explica Hélder Maiato. “Acabavam por morrer, sem conseguirem dividir-se.”
(...)

Ou seja: interrompe-se o crescimento do tumor por não haver aumento do número de células, sendo que as que não conseguem dividir-se acabam por morrer.

Esta parece-me ser a notícia mais importante do dia. O resumo do artigo original está no Journal of Cell Biology.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Haverá agricultores budistas?

O respeito por todos os animais é muito bonito, mas eu não andei a plantar couves para serem devoradas por caracóis. E aquela história de os desviar para um prato com cerveja onde se afogariam bêbados e felizes, é um mito.

(Hoje, na minha horta)

A não ser que tenha razão quem me disse que foi porque não lhes ofereci tremoços e amendoins ;-)

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

007 Skyfall

Depois de ler as críticas positivas nos blogues O Livro de Areia e In Fernem Land, lá me enchi de esperança e fui ver o último filme de James Bond, Skyfall.
Se calhar ando muito exigente... A verdade é que estive entretida durante duas horas, mas foi uma decepção. Não encontrei praticamente nada de Bond.

Falta-lhe principalmente o humor característico. Há sarcasmo e algumas boas respostas (What makes you think it's my first time?), mas toda a gente, incluindo o próprio Bond, se leva muito a sério. Pode até dizer-se que tudo o que acontece neste filme se deve a que os personagens se tomam demasiado a sério (mesmo Eve, que é um sério caso de baixa auto-estima). O que não é o mesmo que densidade psicológica, que não vi em lado nenhum.

A propósito, continuo a não gostar de Daniel Craig neste papel, e a achar que seria muito melhor aproveitado como vilão. Javier Barden, àparte a peruca loira horrorosa, é um mau muito civilizado e que mantém os seus sequazes sempre sob controle. Não há monstros e não há situações impossíveis para Bond.

Nas cenas de acção, há muitos tiros e muitos incêndios, uma perseguição de carros ou duas, umas quedas de lugares altos, um comboio, nada que não tenhamos já visto, e uma excelente perseguição de motas pelos telhados de Istambul. E que é dos brinquedos extraordinários, das canetas explosivas e dos carros anfíbios? O novo Q não passa de um hacker importado de uma série de televisão tipo 24 horas.

Falemos também de destinos exóticos: a escolha do realizador Sam Mendes de só mostrar Xangai de noite tem como resultado uma perspectiva muito asséptica da cidade. Fica-se, claro, com a sensação da sua vastidão e modernidade urbanística, mas faltam as multidões chinesas, o ar poluído, o ruído, o trânsito, as bicicletas, aquilo que (imagino) deve ser Xangai. Quanto a Macau, ficou praticamente reduzida a um casino, e a Escócia a uma paisagem desolada e um casarão abandonado cujo protagonismo (dá o nome ao filme!) é mentira.

Sem entrar em outros pormenores, menciono ainda a banda sonora, e só para dizer que o tema de Bond só aparece a três quartos do filme, a acompanhar o Aston-Martin DB5 de boa memória, que lá consegue dar um ar da sua graça antes de ser completamente destruído.

É pois esta a conclusão a que chego sobre este filme: sem carro, sem brinquedos, sem tema musical, sem namoradas e praticamente sem sexo, sem humor, sem final feliz, este é um policial negro e, intencionalmente ou não, o assassinato do mito 007.

domingo, 11 de novembro de 2012

O sorvedoiro grego

Notícia do i:

Europa tenta evitar que a Grécia entre em falência dia 16
Por António Ribeiro Ferreira, publicado em 10 Nov 2012 - 03:10 | Actualizado há 1 dia 7 horas
Eurogrupo devia libertar tranche na segunda-feira mas adiou a decisão para 26 de Novembro
O parlamento grego aprovou quarta-feira o pacote de austeridade (...) Este fim-de- -semana será votado o orçamento para 2013, que inclui muitas das medidas aprovadas quarta-feira. Com estas decisões, Atenas esperava que o Eurogrupo, que se reúne segunda-feira, desbloqueasse a tranche de 31,5 mil milhões de euros, decisiva para o país poder pagar salários, pensões e outros serviços essenciais já a partir de dia 16.
(...)


O que mais me impressiona é que dois anos e tal passados sobre o início do plano de resgate à Grécia, se lhe faltar uma fatia do empréstimo o país fica sem dinheiro para pagar salários, pensões e outros serviços essenciais, ou seja, parece que não está nada mais capaz de corresponder aos seus compromissos do que alguma vez esteve.

Ora isto é como emprestar dinheiro a um desempregado que não consegue arranjar novo emprego, para que possa comer: é muito bonito, mas tem de se ir emprestando mais e mais, com a certeza de nunca lhe resolvermos o problema e nunca reavermos o nosso dinheiro.

E ser o Estado Social a emprestar-lhe não é diferente, porque o Estado Social, como parecemos ter descoberto (alguns! outros nem isso) há pouco tempo, somos nós.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O céu na Gulbenkian

Se bem me lembro, o autor do Apocalipse descreve assim a bem-aventurança celeste: há um trono no qual o Senhor está sentado; em volta há quatro figuras (um touro, um leão, uma águia e um homem) que se supõe corresponderem aos quatro evangelistas, e em redor, a perder de vista, os eleitos que cantam em coro, Santo, santo, santo é o Senhor nosso deus*. Uma seca por toda a eternidade.

Aquilo foi escrito há muito tempo, o Senhor é capaz de se ter tornado mais exigente e é possível que o cântico tenha sido substituído por qualquer coisa como o Messias de Händel, peça que nunca me tinha interessado particularmente mas me levou na sexta-feira passada (ai! como o tempo corre) à Fundação Gulbenkian.

É possível que a Fundação tenha avisado da substituição da soprano Miah Persson por Rosemary Joshua e eu não tenha recebido o aviso; é certo que teria ido na mesma, embora preparada para não a ouvir. No início não gostei nada da voz de Joshua, que achei um bocado esganiçada mas, à medida que foi aquecendo, foi soando melhor. Melhorou igualmente o tenor Robin Tritschler, com uma voz bonita embora pequena.
Já o barítono Johannes Weisser tem uma voz potente, para além do timbre agradável, enquanto a da mezzo Mary Phillips me pareceu um tanto baça e desigual. O coro esteve excelente, a orquestra tocou muito bem mas talvez tenha faltado ao maestro J. David Jackson um toque de brilhantismo, que a música de Händel pediria, na ausência de árias espectaculares e de acção no palco, para não se tornar monótona.

Na verdade, concordo em vários pontos com a apreciação do Fanático_Um, que assistiu ao espectáculo na noite anterior.

Uma nota positiva para os instrumentistas solistas: o trompetista, que suponho ter sido Stephen Mason, e Michael Leopold que andou atarefadíssimo com o arquialaúde, a tiorba e a viola barroca.

A sala, que estava cheia no princípio, esvaziou-se de um terço ao intervalo e, na segunda parte, as tosses aumentaram significativamente. Em todo o caso, espero que no céu o Senhor já tenha mudado outra vez o cântico oficial.


* Afinal não é bem assim, mas é muito parecido.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Um conto de fadas de crise

Os principais problemas de Portugal podem ser a corrupção e a desinformação, e esta entra nas nossas cabeças diária e sorrateiramente.

Entre o que se lê e o que se fala tem-se a impressão que a Alemanha (ou a Merkel) é a madrasta que está a transformar Portugal e a Grécia nas novas Gatas Borralheiras, sendo o FMI, a UE e o FEEF as irmãs malvadas.

Esquece-se, voluntariamente ou não, a responsabilidade do pai da rapariga, que casou com a madrasta e lhe deixa a orientação da casa: o pai, penso eu, são/têm sido os sucessivos desgovernos de Portugal e da Grécia.

Continuando a ficção, a Gata Borralheira portuguesa (não vou especular sobre os sentimentos da grega) sonha com o príncipe encantado que a há-de salvar, e frequenta os bailes que pode à procura dele, enquanto cada janota da cidade se imagina ser o tal príncipe, D. Sebastião ou Salazar do século XXI, qualidade a que aspirarão alguns sinistros financeiros e financeiros sinistros.

Duvido que a Merkel seja a madrasta, mas certamente a Lagarde não é a fada madrinha que transforma a abóbora em limusine. Por isso as abóboras que cultivarmos, sejam para nosso consumo ou para vender no mercado, sejam as melhores que pudermos, sabendo que não passarão de abóboras.

Hão-de salvar-se os ratos, suponho, como habitualmente.

domingo, 4 de novembro de 2012

Se fue FOM

Tinha de acontecer um dia, não é? Fernando Ortiz-Monasterio foi um dos grandes cirurgiões plásticos com quem tive o privilégio de trabalhar. Estagiei com ele na Cidade do México, atraída pelos trabalhos que dele conhecera em congressos, sobretudo na remodelação dos ossos da face e crânio e na cirurgia da fenda labial, na qual obtinha resultados superiores a quaisquer outros: Eccelente!, dizia, contemplando-os com satisfação merecida.

(Mexico DF, Setembro 1992)

Elegante, desportista (jogava ténis e fazia vela), feio, sorridente, educado, dizia-se descendente de espanhóis e jaguares e apreciador de mulheres bonitas. Jantei em sua casa, eu e toda a equipa, que incluía vários estrangeiros, vindos tanto de Cuba como de Espanha.
Era importante para ele criar escola. Punha-nos generosamente à disposição a gigantesca colecção de diapositivos para que os copiássemos e usássemos, e para meu desgosto assisti a apresentações cujos autores se esqueceram de lhe dar o devido crédito.
Não que isso o diminuísse. Era um senhor. Morreu no passado dia 31 de Outubro, aos 89 anos.

Para quem quiser recordar o seu trabalho, aqui fica um link, com o aviso de que tem imagens possivelmente chocantes para quem não está habituado a ver estas malformações.

Gracias, maestro, y hasta siempre.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Mal gasto

Notícia do Diário de Notícias:

Japão: Tsunami
Um quarto do dinheiro para reconstrução foi mal gasto
por Lusa, publicado por Luís Manuel Cabral Ontem
Cerca de um quarto dos 113 mil milhões de euros destinados à reconstrução no Japão, depois do maremoto de 2011 e subsequente desastre nuclear, foram gastos em projetos sem qualquer ligação com aquele objetivo, segundo uma auditoria.
Uma auditoria governamental detetou aplicações questionáveis, como subsídios para uma fábrica de lentes de contacto ou investigação na caça à baleia, noticia hoje a agência AFP.
Mais de metade do orçamento ainda não foi aplicada, devido à indecisão e à burocracia, enquanto cerca de 340 mil pessoas retiradas da zona de desastre continuam sem saber se, quando e como serão alguma vez realojadas.
Muitos dos projetos sem qualquer relação com a reconstrução incluídos no orçamento de 11,7 biliões [milhão de milhões] de ienes (113 mil milhões de euros) foram incluídos com o pretexto de que poderiam contribuir para a recuperação económica japonesa (...)


É triste perceber que mesmo no Japão, país com tradições de honra tão valorizadas, estas coisas podem acontecer.
Gostava de perceber o que é uma auditoria governamental: mandada fazer pelo próprio governo? É que em certos outros países que conhecemos têm de ser os jornalistas, a oposição ou mesmo competidores das empresas beneficiadas a descobrir as maroscas.

Retirado

Notícia de The Portugal News:

Anti-fat cream withdrawn from market
by TPN/ Lusa, in General · 25-10-2012 09:52:00

Portugal’s medical sector regulator Infarmed has ordered the full withdrawal of ‘Creme gel Drenante Anticell,’ produced by Bottega Verde, with immediate effect as from Tuesday.
The regulator found that the cream “presents deceiving allegations in relation to its efficiency, especially regarding the treatment of resistant cellulite.” Infarmed added that all stocks held by stores should be immediately withdrawn.


Acho lindamente, e espero que o Infarmed mande retirar do mercado todos os pseudo-medicamentos que proclamam remover a celulite, as rugas, os quilos e os anos sem esforço, dieta ou cirurgia. Vai ter uma trabalheira.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A vida dos Romanos em Sevilha

Sevilha tem património histórico para todos os gostos. Desta vez já comecei a farejar o que resta da antiguidade romana, com uma visita ao Palácio da Condessa de Lebrija, onde se encontram muitos dos mosaicos encontrados nas escavações da vizinha cidade de Italica.


(Sevilha, Outubro 2012)

A própria Italica e o museu arqueológico esperam ainda outra visita, assim como o antiquarium no subsolo da Encarnación, uma praça onde nascem hoje em dia uns cogumelos muito peculiares.


(Sevilha, Outubro 2012)

Na Plaza de S. Francisco, logo atrás da catedral, visitei uma simpática exposição temporária (só lá fica até ao fim de Outubro e segue para Mérida) intitulada Romanorum Vita. É uma apresentação sumária, apelativa e bastante correcta da vida quotidiana dos romanos, que está mais desenvolvida no respectivo site.

A guia, contudo, não deixou de fazer uma daquelas afirmações que resultam sempre bem junto de um público ignorante: tendo informado que os romanos usavam latrinas colectivas, o que é verdade, e que nelas havia canalizações para escoar os resíduos e as águas de lavagem, o que também está certo, contou que ali se encontrava um balde com uma esponja amarrada a um pau e cuja utilidade seria... "Pensem no pior e acertam. Isso mesmo, servia para as pessoas se limparem, porque não havia papel higiénico."





Houvesse ou não papel, é curioso como ninguém pôs em dúvida que os romanos achassem normal limpar o rabiosque à mesma esponja do vizinho. Assim vai a credulidade humana, que não reconhece um piaçaba quando o tem diante dos olhos.

(Ephesus, Setembro 2004)

domingo, 28 de outubro de 2012

Thaïs em Sevilha

Quando, em 2008 no Met, Placido Domingo apresentou a Thaïs de Massenet (interpretada por Thomas Hampson e uma radiosa Renée Fleming), lamentou não poder cantar o monge Athanaël por se tratar de um papel para barítono.
Agora que anda a brincar com esse repertório, o Teatro de la Maestranza fez-lhe o mimo: importou uma produção de Nicola Raab, o maestro Pedro Halffter conduziu a Real Orquestra Sinfónica de Sevilla e o público esgotou as três récitas.

Não é uma ópera fácil, apesar de ter música bonita e um libretto inteligente, porque não tem praticamente árias com impacto, à excepção talvez de Dis-moi que je suis belle. Se a encenação for tonta e os cantores fracos, torna-se uma seca.

Raab transportou a acção para a Paris do século XIX, não faço ideia porquê: para agradar ao cenógrafo que transformou a casa de Nicias num teatro e o deserto numa plateia empoeirada, e ao figurinista que pôs os monges de casaca? Numa ópera que fala de sexo e desejo o único assomo de sensualidade é o caminhar de Nino Machaidze. Bem sei que despir Placido Domingo no palco, na idade dele, é capaz de não ser muito boa ideia, mas nunca por nunca o vi ser sujeito à tentação.

Infelizmente nunca apanhei Domingo em cena nos seus bons tempos (assisti ao concerto que deu no estádio do Belenenses numa noite gelada de 1998, mas isso pouco conta) mas também não me parece boa ideia, depois de agora o ouvir ao vivo, que pretenda acabar a carreira como barítono porque, tendo perdido o brilho dos agudos, não tem graves nem potência para compensar. O timbre baritonal que fazia única e sexy a sua voz de tenor (e faz agora o mesmo pela de Jonas Kaufmann) perde o interesse e torna-se vulgar.
E já que se fala de tessituras, penso que independentemente de outros valores devia ser levado mais a sério por quem canta e por quem contrata a adequação das vozes aos papéis, porque, obviamente, nem todos os sopranos são capazes de cantar as mesmas coisas: eu odeio agudos gritados e Machaidze gritou-os sempre. Como pode uma voz assim esforçada ter um percurso decente?
De entre os cantores secundários o único que vale a pena mencionar foi o baixo Stefano Palatchi no papel de Palémon.
Salvou-se o coro afinado e atento, apesar do sotaque - mas de sotaques é melhor nem falar - e os solistas da orquestra. Boa parte do público aplaudiu alegremente, e outra parte saiu sem esperar pelo ritual dos agradecimentos.

Placido Domingo criou agora um festival com o seu nome a ter lugar na Andaluzia. Tem dado muito e tem muito ainda para dar e só pode ser acarinhado e respeitado, quer como músico quer como pessoa. Não me parece é que continuar a cantar seja a melhor opção.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

No jardim do vizinho

As flores das lantana são um encanto, e hoje descobri que têm frutos com ar de amoras, um apetite. Vim a correr investigar se são comestíveis, e parece que sim, desde que bem maduros; não sou mulher não sou nada se não experimentar.

(Albufeira, Outubro 2012)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Sylvia Kristel

Há actores que se celebrizaram com um filme e, por muitos ou poucos que tenham feito depois, ficarão sempre identificados com um determinado personagem. Assim foi com Sylvia Kristel, a holandesa que protagonizou um dos grandes sucessos eróticos e o primeiro que vi no cinema, ainda sem a idade permitida, Emmanuelle.

Não me lembro já de quase nada (uma cena no avião, outra avistada através das cortinas de um bungalow tailandês), mas não tenho dúvidas de que na altura me impressionou fortemente.

Kristel morreu esta madrugada, aos sessenta anos.

Foto IMDb

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Em Roma com Woody Allen

Já há muitos anos que não via um filme de Woody Allen, suponho que desde o século passado; neste fim de semana, por recomendações várias, entre as quais a da Helena, resolvi ver o mais recente, To Rome with Love, e encontrei um filme leve e divertido.

É óbvio que Allen está mais velho: a ironia não o abandonou, mas serve-lhe agora para desmontar os excessos da intelectualidade com que nos entreteve e fascinou nos anos setenta e oitenta. Diverte-se, e diverte-nos, a arrasar clichés, e nisso tanto vale Alec Baldwin, espécie de génio da lâmpada a denunciar a actriz supostamente inteligente, como o absurdo da personagem de Roberto Benigni, a celebridade instantânea. Mas Allen não se livra, ele mesmo, de clichés.

A Roma que nos oferece é a de um postal ilustrado de há cinquenta anos: a música italiana é Volare, as cenas concentram-se entre a Piazza di Spagna e a Fontana di Trevi, as mulheres italianas usam vestidinhos à Anna Magnani e cozinham, ou têm mamas como a Sofia Loren e são putas. O actor italiano é um personagem de Fellini. Já vimos (eu já vi) boa parte daquelas histórias.

A surpresa, e a razão por que fui ao cinema, é o cangalheiro que canta ópera no duche: porque é nada mais nada menos que Fabio Armiliato, e quem esperaria que um tenor se desembaraçasse tão bem como actor de cinema?

Quanto à ópera, a visão de Woody Allen, que encenou Gianni Schicchi na Ópera de Los Angeles em 2008, é uma visão americana. Ou então não é nada disso: o filme é que tem como público-alvo os americanos. Esta é a Roma que eles querem, a ópera que eles reconhecem, as piadas que pagam as contas.

Eu saí bem disposta. Nestes dias, isso já é muito bom.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Em dia de Orçamento de Estado...

... a resposta dos algarvios:

(Patã, Setembro* 2012)


* ele há mouras encantadas com grande poder de previsão...

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A minha horta

As hortas urbanas estão na moda. Eu não percebo nada de agricultura (embora tenha feito há uns anos um curso de agricultura biológica) mas depois de o meu hibisco australiano ter secado nesta Primavera, decidiu-se criar uns canteiros ao fundo do jardim e, em pleno Agosto, foi-se buscar umas alfaces, rúcula e couves bebés, mais uns rebentos de pepino, feijão-verde e tomate, salvou-se meia dúzia de batatas do seu destino no tacho e, com ajuda e conselhos de gente amiga, fez-se uma horta.

(Albufeira, Agosto 2012)

Tudo aquilo cresceu muito para além das minhas expectativas.

(Albufeira, Outubro 2012)

As alfaces, que são muito fáceis de cuidar, fizeram magníficas saladas com a rúcula, uma das couves já deu um caldo verde fantástico. O tomateiro, por outro lado, parece muito doente, mas estou entusiasmadíssima com o resto que aí vem:




(Albufeira, Outubro 2012)

Isto para já, que as batatas ainda não se vêem. Mas já há novas alfaces bebés, coentros e orégãos.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Com amigos assim...

Ri de quê, a hiena?

orbutuO ed 5

Hoje, 5 de Outubro, data da fundação de Portugal, último feriado celebratório da proclamação da república, o presidente Cavaco Silva e o presidente da Câmara de Lisboa hastearam a bandeira de pernas para o ar.

Foto do Expresso

Portugal está quase a fazer mil anos, mas pelo caminho que leva não sei se os completará.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Jogos de guerra

Ando há tempos a dizer que das duas uma, ou quem nos (des)governa é completamente burro e incompetente, o que me faz alguma confusão, ou tem objectivos diferentes daqueles que apregoa, mas que não sei quais são.

O José Navarro de Andrade propõe no Delito de Opinião que o objectivo seja salvar o euro, que para esse efeito, como numa guerra, a estratégia passe por sacrificar uma ou duas posições, e que uma dessas seja Portugal.
Parece-me uma hipótese bastante plausível, no sentido de que Portugal esteja a ser visto apenas como uma posição fraca num jogo de guerra e por isso descartável.
Portugal, mais uma vez, não contaria, e não haveria objectivos para Portugal enquanto Estado ou nação, nem para os portugueses enquanto pessoas.

Por enquanto, infelizmente, não encontrei teoria melhor.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

OE 2013

Alguém sabe qual é a ganza que Vítor Gaspar consome? Tenho a impressão que me daria jeito.

sábado, 29 de setembro de 2012

Impressões da Alemanha Parte VIII

A Helenatinha falado das Stolpersteine ou pedras no caminho, literalmente pedras de tropeço, as placas de latão que diante das casas recordam as pessoas (principalmente judias, mas não só; ciganas, homossexuais, negras, etc.) que nelas viviam e foram deportadas pelos nazis. Vi-as em Berlim e também em Hamburgo. Toca-me esta maneira de recordar e expiar aquele crime que não se quer repetir nunca mais.



Na St.Johanniskirche, em Hamburgo, encontrei também esta placa:


1933/45 não está assim tão longe, as crianças e adolescentes daquela altura são os reformados de hoje: é uma culpa colectiva recente com que ainda deve ser complicado viver.

(Fotos: Hamburg, Setembro 2012)

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Impressões da Alemanha Parte VII

Há cerca de um ano notei a nova cara dos vidrões lisboetas, mas os recipientes de lixo berlinenses estão muito intelectuais:

(Berlin, Setembro 2012)

Que tal estes molhos de cebolas? Custam 6 euros, mas são quase irresistíveis:

(Weimar, Setembro 2012)

As cebolas vendiam-se numa mercearia normal, mas há mercadinhos de rua por todo o lado. Foi no entanto a primeira vez que vi uma rua ser vedada ao trânsito e ao estacionamento automóvel, com pré-aviso, para se fazer um mercadinho desses:

(Hamburg, Setembro 2012)

Outra coisa que nunca tinha visto, um desfibrilhador em plena rua:

(Koblenz, Setembro 2012)

Mas único, único, na minha experiência, foi este chuveiro (música acrescentada por mim):

(Hotel am Rothembaum, Hamburg, Setembro 2012)

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Impressões da Alemanha Parte VI

O tempo nesse dia não estava grande coisa, mas ainda assim o passeio de barco pelo porto de Hamburgo, o segundo maior da Europa apesar de ficar a cerca de oitenta quilómetros do mar, foi muito interessante.
Há ali de tudo, e eu não vi um centésimo. Gruas enormes, por supuesto:


navios de cruzeiro:


mas também praias:


cargueiros tão atulhados que me perguntei como é que metade daqueles contentores não cai ao mar durante as tempestades do mar do Norte:


arquitectura moderníssima, como o edifício da Unilever*:


ou a nova Elbphilharmonie:


Quando esta estiver pronta, volto a Hamburgo. Pode ser que tenha a sorte de apanhar um concerto como este:


que teve críticas fantásticas, como o Paulo descobriu aqui, aqui, aqui...

(Todas as fotos: Hamburg, Setembro 2012)


*Só a ponho no blogue porque diz que está a fazer um grande esforço para abandonar os testes em animais.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Impressões da Alemanha Parte V - Jardins

Flores no degrau à porta da Goethes Gartenhaus (ali onde fiz o piquenique)

Outro ponto do Park an der Ilm em Weimar:


O jardim vertical da livraria Dussmann em Berlim:


O Alsterpark em Hamburgo:


Não fotografei o Tiergarten em Berlim, porque andei tão contente por ter visto uma das mil e oitocentas raposas que lá vivem (não sei quem as contou) que nem me lembrei de mais nada :-)

(Todas as fotos, Setembro 2012)

domingo, 23 de setembro de 2012

Impressões da Alemanha Parte IV

Restauradas, reconstruídas, certas ou em dúvida de autenticidade, mais ou menos interessantes, não têm conta as casas de celebridades que se podem visitar.

a de Thomas Mann em Lübeck, que só vi por fora;

a de Händel em Halle, muito aldrabada;

a de Liszt em Weimar, pobrezinha, mas os pianos eram mesmo dele;

a de Goethe em Weimar, abastada mas com algum mau gosto, com peças autênticas, incluindo a biblioteca:

(Weimar, Setembro 2012)

a de Schiller em Weimar, na qual pouco mais que os armários é genuíno;

a de Bach em Eisenach, talvez a mais interessante como museu, mas provavelmente a casa errada. Tem o único objecto caseiro que se sabe ter pertencido a Bach, este copo de vidro:

(Eisenach, Setembro 2012)

a de Lutero em Eisenach, onde o maior destaque é dado à vida num vicariato.

Divertido mesmo foi fazer um piquenique junto da porta de serviço da outra casa de Goethe em Weimar (a casa no parque, Goethes Gartenhaus), fechada nesse dia, enquanto os passantes nos olhavam espantados.

(Weimar, Setembro 2012)

Impressões da Alemanha Parte III

A Alemanha destruída, dividida e reunificada foi entendida como um maná de oportunidades para os arquitectos. Já na minha primeira viagem a Berlim me tinha encantado com os pátios reconstruídos e requalificados dos Hackeshen Höfe.

(Berlim, Fevereiro 2003)

Desta vez, achei particularmente interessante a visita à Philharmonie. A Verena Alves é uma guia portuguesa com um sorriso luminoso, que nos conduziu através dos conceitos assimétricos e das influências várias do arquitecto Hans Scharoun. No auditório pricipal afinavam-se instrumentos e no mais pequeno (Kammermusiksaal) assistimos a parte de um ensaio: a acústica pareceu-me tão extraordinária que fiquei com mais vontade ainda de lá voltar para um concerto.


(Berlim, Setembro 2012)

Curiosamente encontrei outro edifício bem diferente que de certo modo quebra tanto a tradição como a Philharmonie: a Frauenkirche de Dresden, com as suas galerias que parecem balcões de um teatro. A igreja barroca foi totalmente destruída em 1945 e só reconstruída depois da reunificação alemã, utilizando materiais modernos combinados com os originais resgatados das próprias ruínas.

(Dresden, Setembro 2012)

Não era permitido fotografar o interior, mas pode ver-se as galerias aqui. Como (felizmente) só me apercebi da proibição depois de já ter fotografado o altar, ei-lo:

(Dresden, Setembro 2012)

Impressões da Alemanha Parte II

Outra coisa (muito) impressionante na Alemanha é o seu património cultural. Em qualquer sítio onde se vá existe uma casa, um museu, uma igreja que vale a pena visitar. É interessante distinguir o que é antigo, o que foi restaurado e o que foi totalmente reconstruído nos últimos sessenta anos: para um país totalmente devastado por várias guerras, a teimosia em repôr o património é extraordinária.

Numa pequena exposição de fotos de antes, durante e depois do bombardeamento de 1942, a catedral de Lübeck apresenta-se como exemplo:




(Lübeck, Setembro 2012)