domingo, 24 de junho de 2012

Da inutilidade do prolongamento

Se há regra inútil e mesmo deletéria em futebol é o prolongamento depois de um jogo empatado.
Parece-me evidente que se em noventa minutos nenhuma equipa conseguiu resolver o assunto, não será mais meia hora, com os jogadores cansadíssimos, que trará a solução. Nem seria justo.

Passem directamente aos "penáltis", enquanto ainda se aguentam nas pernas.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Os vinhos de Bordéus

Quem visita Bordéus não pode deixar de aprender qualquer coisa sobre os vinhos da região nem de visitar um ou dois châteaux e provar os respectivos vinhos.

(Médoc, Junho 2012)

Os châteaux não são mais do que propriedades vinícolas. Podem ter, e frequentemente têm, umas mansões com ar de solar antigo. Umas são antigas, outras nem tanto, e há mesmo telhadinhos pretos muito catitas feitos agora para dar estilo.

(Ch. du Taillan, Haut-Médoc, Junho 2012)

(Ch. Palmer, Margaux, Médoc, Junho 2012)

Dentro da região de Bordéus e a toda a volta da cidade distinguem-se várias sub-regiões que têm direito a usar denominações de origem controlada*: as principais, no sentido dos ponteiros do relógio são Médoc, Blaye e Bourg, St. Émilion, Entre-deux-mers, Sauternes, Graves, Pessac-Léognan. Algumas só produzem vinho tinto, outras só branco, algumas ambos.

Os primeiros vinhos de qualidade foram classificados em 1855 e orgulham-se disso, ostentando nas garrafas o título grand cru classé. No século XX apareceram mais produtores e mais classificações: cru bourgeois, cru artisan... Todos eles se baseiam nas mesmas castas, com variações de percentagem; assim, os tintos são feitos de uma mistura de Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, podendo ter percentagens mínimas de outras castas, e os brancos são constituídos por Sauvignon Blanc e Semillon e, nos doces, Muscadelle.

Da uva ao vinho, o processo hoje em dia é mais ou menos o mesmo em todo o lado: se não me engano na cronologia, uma vez colhidas as uvas maduras, separa-se os grãos dos talos e folhas (engaço), espreme-se os grãos (quando eu era criança ainda se pisava), separa-se ou não as peles do mosto, põe-se este em cubas de inox a fermentar, decanta-se, purifica-se e estabiliza-se. Em seguida procede-se à mistura das castas; os tintos podem ser então envelhecidos em barris de madeira de carvalho, os brancos passam logo à fase de engarrafamento.

(Ch. Lynch-Bages, Pauillac, Médoc, Junho 2012)

Para meu gosto pessoal, o Cabernet Sauvignon numa percentagem superior a 75% resulta num aroma animal demasiado forte, e os Médoc podem ir muito além disso. Gostei bastante dos brancos de Graves e Pessac-Léognan. O Entre-deux-mers branco foi o mais fraco de tudo o que bebi. Mas os melhores vinhos, lá como cá, têm preços impossíveis e os châteaux mais afamados não fazem provas abertas ao comum dos mortais.



*AOC = appelation d'origine controlée

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Um passeio por Bordéus

A Place des Quinconces é um enorme terreiro entre duas áreas arborizadas, onde fica a estação principal de todos os transportes públicos terrestres de Bordéus. Em si mesma não tem graça nenhuma, mas são interessantes as colunas adornadas com proas de navios, sobre um modelo Romano, assim como o monumento aos Girondins que tomaram parte na Revolução Francesa e foram guilhotinados a mando de Robespierre.



(Bordeaux, Junho 2012)




A Place de la Bourse é a cara que Bordéus gosta de apresentar aos visitantes, ardilosamente reflectida num espelho de água onde nestes dias de calor o pessoal se entretém a chapinhar.



A Porte Cailhau e a Grosse Cloche são portas das muralhas do século XIV, restauradas no século XIX e, suspeito, seguindo uma ideia romântica do passado.


A ponte de pedra é possivelmente a mais bonita das que atravessam o Garonne, e foi projectada no tempo de Napoleão.


A sul do Cours Victor Hugo instalaram-se as comunidades norte-africana e senegalesa. Há souks e cafés frequentados só por homens. Curiosamente este bairro centra-se em torno da igreja muito católica de Saint Michel.


O Museu da Aquitania conta a longa história de Bordéus e da Aquitania, uma das três regiões que César dizia constituirem a Gália, habitada por povos que não eram Celtas nem Belgas. A visita é gratuita e muito interessante.


A catedral de Saint André e a sua torre sineira valem uma visita.


Voltando para norte, esqueça-se a Rue de Sainte Catherine, recomendada para compras em todos os guias mas sem interesse nenhum: as multidões estão lá mas as lojas boas estão no Cours de l'Intendance, que leva direitinho ao Grand Théatre e às esplanadas em seu redor.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Don Giovanni em Bordéus

Quem é que se lembra de ir à Ópera a Bordéus?
Eu, naturalmente. Porque tinha uns dias de férias previstos para agora, porque o A. tinha vontade de ouvir um Don Giovanni ao vivo e eu descobri uma produção com Teddy Tahu Rhodes no protagonista; mesmo com os bilhetes esgotados, talvez se conseguisse - como de facto aconteceu - lugares com má visibilidade, que ao intervalo foi possível trocar.

Bordéus é uma cidade muito bonita, aberta para o rio Garonne, com excelente arquitectura de finais do século XVIII e diversas comunidades étnico-culturais. Lá iremos. Para começar, quero falar da ópera.

(Bordeaux, Junho 2012)

O Grand Théatre tem fachada neoclássica, entrada e escadaria imponentes, em mármore, e uma sala que parece mais pequena do que é na realidade. A encenação, criada em 2002 por Laurent Laffargue, trata o Don como um personagem hiperactivo, para quem o sexo, mais do que sensualidade, é necessidade, e que por isso força mais do que seduz. O cenário é minimalista, com paredes brancas que mudam de posição e são redefinidas pelos próprios cantores/actores. Figurinos e props situam a acção nos anos vinte do século passado.

Da Orchestre National Bordeaux Aquitaine e da direcção de Mikhail Tatarnikov, só posso dizer que estiveram muito bem, apoiando os cantores e servindo a maravilhosa música de Mozart. Na cenas do baile e do jantar, os músicos tocaram no palco, dirigidos do fosso pelo maestro.

Teddy Tahu Rhodes esteve excelente, vocal e cenicamente. Tem um daqueles sotaques cerrados dos antípodas, mas a voz é potente, bonita, comparável a um bom vinho do Médoc - e também lá iremos noutro post. Tem uma belíssima figura que encenador algum se pode dar ao luxo de não aproveitar, e Laffargue não se contentou em fazê-lo mostrar os famosos abdominais, armou-lhe mesmo uma cena de travestismo de que ele se saiu muito bem. Como não encontro vídeos desta encenação, ei-lo na ária Fin ch'han del vino cantada em Sidney no ano passado:


O baixo-barítono Kostas Smoriginas, lituano e não grego como o nome poderia sugerir, foi um valente Leporello. Tem uma voz menos rica do que Rhodes, mas esteve sempre muito bem e foi um prazer ouvi-lo.

O tenor Ben Johnson (Don Ottavio) e a soprano Jacquelyn Wagner (Donna Anna) pareceram-me mudar do primeiro para o segundo acto, o que pode ter explicações várias, incluindo eu ter trocado de lugar. Ambos têm vozes bonitas, afinadas e claras. A dele é pequena e perde-se um tanto nos duetos e conjuntos. A dela, ao longo do espectáculo, pareceu-me tornar-se menos excitante em termos de cor. Já a Donna Elvira de Mireille Delunsch me deixou fria pelos agudos gritados mais do que cantados. Sébastien Parotte e Khatouna Gadelia foram respectivamente Masetto e Zerlina. O baixo Eric Martin-Bonnet foi, no comendador, o mais fraco em cena: no início o desafio ao presumido violador da filha pareceu um convite para um café. Talvez por isso a estátua não tenha aparecido no final, sendo substituída por uma mocinha despida (a morte??) enquanto a voz era difundida por colunas de som. Mesmo assim, e com o Don a suicidar-se possivelmente devido a cefaleias insuportáveis, o clima de terror da música de Mozart impôs-se e Laffargue prescindiu do final moralista de Praga - para mim, confesso, uma opção sempre de apoiar.

No meio de tudo isto, encontrei um daqueles detalhes que me deliciam, embora provavelmente não sejam novidade para mais ninguém. Desta vez foi a descoberta de uma ária à maneira de Händel, em que nunca tinha reparado. Ei-la por Joyce DiDonato:

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Elogio da preguiça

Sempre soube que sou preguiçosa. Mais do que dinheiro, aprecio o tempo, e por isso provavelmente nunca serei rica, ao contrário dos meus colegas que trabalham até altas horas da noite - quando as pessoas dizem que os médicos ganham muito, esquecem-se de que para isso se fartam de trabalhar em dois ou três sítios, incluindo as urgências hospitalares.

A preguiça é na realidade uma organização idiossincrática de prioridades, e se num determinado momento é mais importante ler um artigo de jornal do que varrer a cozinha, isso será condenável?

Por outro lado, manter a imobilidade perante a evolução de um problema pode ser a melhor maneira de o encarar. Sir Harold Gillies, considerado o pai da cirurgia plástica, costumava dizer*: Do not do today what you can honourably put off until tomorrow, ou seja, deixa a situação definir-se antes de intervires. Um conselho que já me tem sido muito útil.

Ora eu tenho andado com preguiça para tratar do jardim, e sobretudo para podar e arrancar ervas que não convidei a instalar-se por aqui.


Estas têm crescido imenso, ocupando por exemplo uma boa parte do canteiro das violetas. Mas agora floriram e eu estou toda contente por não as ter arrancado, porque são mesmo lindas.

(Albufeira, Junho 2012)




* citado por D. Ralph Millard in Principalization of Plastic Surgery, Boston/Toronto, 1986, pg. 17, 402

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Camoniana

Não foi de propósito que estive em Constância no dia de Camões. Nem sabia que decorriam as XVII Pomonas Camonianas, uma espécie de feira com cortejos, conferências, comezainas e venda de flores relacionadas com versos camonianos, presumivelmente cultivadas no Horto de Camões, que foi desenhado por Gonçalo Ribeiro Telles (outra vez ele) mas estava fechado à hora a que lá passei.

(Constância, Junho 2012)

Ainda não foi desta vez que entrei na casa de Camões, na de Vasco de Lima Couto ou na biblioteca que leva o nome de Alexandre O'Neill. A vila que os atraiu a eles a mim diz pouco, embora tenha residentes que dizem o mais que podem.

(Constância, Junho 2012)

Há o Tejo, claro, o fermoso Tejo dele, escorrendo lentamente, engrossando um pouco com o caudal do Zêzere, rodeando o castelo de Almourol que aparenta não ter mudado desde que lá estive em viagem de finalistas do ensino secundário.

(Almourol, Junho 2012)

Mais adiante, em Vila Nova da Barquinha, um autarca megalómano transformou sete hectares num parque ribeirinho para deleite dos seus sete mil habitantes. E alguém (o mesmo autarca?) plantou amoreiras por todo o lado. Mas estas, ah! estas estavam em flor, e quem nunca sentiu o perfume das flores das amoreiras vá lá a correr e diga-me se não quereria ter o talento de Camões para o cantar.



(Vila Nova da Barquinha, Junho 2012)

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Mr. Ed

Esta matrícula estará ali porque o dono do carro lhe conhece o significado, ou porque o ignora? :-)

(Albufeira, Junho 2012)

sábado, 2 de junho de 2012

Jr premiado

Como é possível que eu ande há anos a jogar no Euromilhões e nunca me saia um prémio decente e o Jr vá pela primeira vez a uma exposição canina e venha de lá cheio de prémios e presentes? ☺

Bem, a verdade é o que o Algarve Dog Show é só uma espécie de exposição canina, organizada por ingleses (who else?) para as famílias se divertirem com os seus cães enquanto ajudam uma das numerosas associações de protecção animal do Algarve. Aceitam-se cães das melhores famílias e cães com pais desconhecidos: alguns dos cães expostos são candidatos a adopção. O juiz, que conheci há anos como criador de Parson Jack Russells, é o primeiro a dizer que isto é uma brincadeira e que as características que premeia não são necessariamente as que são exigidas numa exposição a sério.

(Lagoa, Junho 2012)

Assim, além das classes de "melhor cão com pedigree" (em que se misturam mastins com whippets ou terriers!) ou de "melhor cão sem raça", há "o cão e o dono mais parecidos" ou "o cão que faz truques mais engraçados". Tanto o Jr como eu, que adoramos igualmente estar rodeados de outros cães, nos divertimos imenso, e ele ganhou uma taça e duas rosetas: o terceiro lugar na classe "a cauda que mais abana" e o primeiro na classe "o cão mais bem cuidado" - e em relação a este, telefonei logo toda contente a agradecer aos groomers dele: o Nuno e o António, de quem já falei aqui.

Claro que teve direito a montes de festas e beijinhos e guloseimas extra, e acabou exausto na sua cama, onde espero que sonhe com os novos amigos que fez no ring.

(Lagoa, Junho 2012)