Acabei por provar as tais bagas: não vale a pena, não sabem a nada.
Herculaneum, circa 40 BCE. At the villa Pisonis the Epicurean School of Philodemus of Gadara is an informal gathering place for those who enjoy discussing philosophy, literature, general politics, the nature of things and how to live better.
terça-feira, 30 de outubro de 2012
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
A vida dos Romanos em Sevilha
Sevilha tem património histórico para todos os gostos. Desta vez já comecei a farejar o que resta da antiguidade romana, com uma visita ao Palácio da Condessa de Lebrija, onde se encontram muitos dos mosaicos encontrados nas escavações da vizinha cidade de Italica.
A própria Italica e o museu arqueológico esperam ainda outra visita, assim como o antiquarium no subsolo da Encarnación, uma praça onde nascem hoje em dia uns cogumelos muito peculiares.
Na Plaza de S. Francisco, logo atrás da catedral, visitei uma simpática exposição temporária (só lá fica até ao fim de Outubro e segue para Mérida) intitulada Romanorum Vita. É uma apresentação sumária, apelativa e bastante correcta da vida quotidiana dos romanos, que está mais desenvolvida no respectivo site.
A guia, contudo, não deixou de fazer uma daquelas afirmações que resultam sempre bem junto de um público ignorante: tendo informado que os romanos usavam latrinas colectivas, o que é verdade, e que nelas havia canalizações para escoar os resíduos e as águas de lavagem, o que também está certo, contou que ali se encontrava um balde com uma esponja amarrada a um pau e cuja utilidade seria... "Pensem no pior e acertam. Isso mesmo, servia para as pessoas se limparem, porque não havia papel higiénico."
Houvesse ou não papel, é curioso como ninguém pôs em dúvida que os romanos achassem normal limpar o rabiosque à mesma esponja do vizinho. Assim vai a credulidade humana, que não reconhece um piaçaba quando o tem diante dos olhos.
(Sevilha, Outubro 2012)
A própria Italica e o museu arqueológico esperam ainda outra visita, assim como o antiquarium no subsolo da Encarnación, uma praça onde nascem hoje em dia uns cogumelos muito peculiares.
(Sevilha, Outubro 2012)
Na Plaza de S. Francisco, logo atrás da catedral, visitei uma simpática exposição temporária (só lá fica até ao fim de Outubro e segue para Mérida) intitulada Romanorum Vita. É uma apresentação sumária, apelativa e bastante correcta da vida quotidiana dos romanos, que está mais desenvolvida no respectivo site.
A guia, contudo, não deixou de fazer uma daquelas afirmações que resultam sempre bem junto de um público ignorante: tendo informado que os romanos usavam latrinas colectivas, o que é verdade, e que nelas havia canalizações para escoar os resíduos e as águas de lavagem, o que também está certo, contou que ali se encontrava um balde com uma esponja amarrada a um pau e cuja utilidade seria... "Pensem no pior e acertam. Isso mesmo, servia para as pessoas se limparem, porque não havia papel higiénico."
Imagem Romanorum Vita
Houvesse ou não papel, é curioso como ninguém pôs em dúvida que os romanos achassem normal limpar o rabiosque à mesma esponja do vizinho. Assim vai a credulidade humana, que não reconhece um piaçaba quando o tem diante dos olhos.
(Ephesus, Setembro 2004)
domingo, 28 de outubro de 2012
Thaïs em Sevilha
Quando, em 2008 no Met, Placido Domingo apresentou a Thaïs de Massenet (interpretada por Thomas Hampson e uma radiosa Renée Fleming), lamentou não poder cantar o monge Athanaël por se tratar de um papel para barítono.
Agora que anda a brincar com esse repertório, o Teatro de la Maestranza fez-lhe o mimo: importou uma produção de Nicola Raab, o maestro Pedro Halffter conduziu a Real Orquestra Sinfónica de Sevilla e o público esgotou as três récitas.
Não é uma ópera fácil, apesar de ter música bonita e um libretto inteligente, porque não tem praticamente árias com impacto, à excepção talvez de Dis-moi que je suis belle. Se a encenação for tonta e os cantores fracos, torna-se uma seca.
Raab transportou a acção para a Paris do século XIX, não faço ideia porquê: para agradar ao cenógrafo que transformou a casa de Nicias num teatro e o deserto numa plateia empoeirada, e ao figurinista que pôs os monges de casaca? Numa ópera que fala de sexo e desejo o único assomo de sensualidade é o caminhar de Nino Machaidze. Bem sei que despir Placido Domingo no palco, na idade dele, é capaz de não ser muito boa ideia, mas nunca por nunca o vi ser sujeito à tentação.
Infelizmente nunca apanhei Domingo em cena nos seus bons tempos (assisti ao concerto que deu no estádio do Belenenses numa noite gelada de 1998, mas isso pouco conta) mas também não me parece boa ideia, depois de agora o ouvir ao vivo, que pretenda acabar a carreira como barítono porque, tendo perdido o brilho dos agudos, não tem graves nem potência para compensar. O timbre baritonal que fazia única e sexy a sua voz de tenor (e faz agora o mesmo pela de Jonas Kaufmann) perde o interesse e torna-se vulgar.
E já que se fala de tessituras, penso que independentemente de outros valores devia ser levado mais a sério por quem canta e por quem contrata a adequação das vozes aos papéis, porque, obviamente, nem todos os sopranos são capazes de cantar as mesmas coisas: eu odeio agudos gritados e Machaidze gritou-os sempre. Como pode uma voz assim esforçada ter um percurso decente?
De entre os cantores secundários o único que vale a pena mencionar foi o baixo Stefano Palatchi no papel de Palémon.
Salvou-se o coro afinado e atento, apesar do sotaque - mas de sotaques é melhor nem falar - e os solistas da orquestra. Boa parte do público aplaudiu alegremente, e outra parte saiu sem esperar pelo ritual dos agradecimentos.
Placido Domingo criou agora um festival com o seu nome a ter lugar na Andaluzia. Tem dado muito e tem muito ainda para dar e só pode ser acarinhado e respeitado, quer como músico quer como pessoa. Não me parece é que continuar a cantar seja a melhor opção.
Agora que anda a brincar com esse repertório, o Teatro de la Maestranza fez-lhe o mimo: importou uma produção de Nicola Raab, o maestro Pedro Halffter conduziu a Real Orquestra Sinfónica de Sevilla e o público esgotou as três récitas.
Não é uma ópera fácil, apesar de ter música bonita e um libretto inteligente, porque não tem praticamente árias com impacto, à excepção talvez de Dis-moi que je suis belle. Se a encenação for tonta e os cantores fracos, torna-se uma seca.
Raab transportou a acção para a Paris do século XIX, não faço ideia porquê: para agradar ao cenógrafo que transformou a casa de Nicias num teatro e o deserto numa plateia empoeirada, e ao figurinista que pôs os monges de casaca? Numa ópera que fala de sexo e desejo o único assomo de sensualidade é o caminhar de Nino Machaidze. Bem sei que despir Placido Domingo no palco, na idade dele, é capaz de não ser muito boa ideia, mas nunca por nunca o vi ser sujeito à tentação.
Infelizmente nunca apanhei Domingo em cena nos seus bons tempos (assisti ao concerto que deu no estádio do Belenenses numa noite gelada de 1998, mas isso pouco conta) mas também não me parece boa ideia, depois de agora o ouvir ao vivo, que pretenda acabar a carreira como barítono porque, tendo perdido o brilho dos agudos, não tem graves nem potência para compensar. O timbre baritonal que fazia única e sexy a sua voz de tenor (e faz agora o mesmo pela de Jonas Kaufmann) perde o interesse e torna-se vulgar.
E já que se fala de tessituras, penso que independentemente de outros valores devia ser levado mais a sério por quem canta e por quem contrata a adequação das vozes aos papéis, porque, obviamente, nem todos os sopranos são capazes de cantar as mesmas coisas: eu odeio agudos gritados e Machaidze gritou-os sempre. Como pode uma voz assim esforçada ter um percurso decente?
De entre os cantores secundários o único que vale a pena mencionar foi o baixo Stefano Palatchi no papel de Palémon.
Salvou-se o coro afinado e atento, apesar do sotaque - mas de sotaques é melhor nem falar - e os solistas da orquestra. Boa parte do público aplaudiu alegremente, e outra parte saiu sem esperar pelo ritual dos agradecimentos.
Placido Domingo criou agora um festival com o seu nome a ter lugar na Andaluzia. Tem dado muito e tem muito ainda para dar e só pode ser acarinhado e respeitado, quer como músico quer como pessoa. Não me parece é que continuar a cantar seja a melhor opção.
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Sylvia Kristel
Há actores que se celebrizaram com um filme e, por muitos ou poucos que tenham feito depois, ficarão sempre identificados com um determinado personagem. Assim foi com Sylvia Kristel, a holandesa que protagonizou um dos grandes sucessos eróticos e o primeiro que vi no cinema, ainda sem a idade permitida, Emmanuelle.
Não me lembro já de quase nada (uma cena no avião, outra avistada através das cortinas de um bungalow tailandês), mas não tenho dúvidas de que na altura me impressionou fortemente.
Kristel morreu esta madrugada, aos sessenta anos.
Não me lembro já de quase nada (uma cena no avião, outra avistada através das cortinas de um bungalow tailandês), mas não tenho dúvidas de que na altura me impressionou fortemente.
Kristel morreu esta madrugada, aos sessenta anos.
Foto IMDb
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Em Roma com Woody Allen
Já há muitos anos que não via um filme de Woody Allen, suponho que desde o século passado; neste fim de semana, por recomendações várias, entre as quais a da Helena, resolvi ver o mais recente, To Rome with Love, e encontrei um filme leve e divertido.
É óbvio que Allen está mais velho: a ironia não o abandonou, mas serve-lhe agora para desmontar os excessos da intelectualidade com que nos entreteve e fascinou nos anos setenta e oitenta. Diverte-se, e diverte-nos, a arrasar clichés, e nisso tanto vale Alec Baldwin, espécie de génio da lâmpada a denunciar a actriz supostamente inteligente, como o absurdo da personagem de Roberto Benigni, a celebridade instantânea. Mas Allen não se livra, ele mesmo, de clichés.
A Roma que nos oferece é a de um postal ilustrado de há cinquenta anos: a música italiana é Volare, as cenas concentram-se entre a Piazza di Spagna e a Fontana di Trevi, as mulheres italianas usam vestidinhos à Anna Magnani e cozinham, ou têm mamas como a Sofia Loren e são putas. O actor italiano é um personagem de Fellini. Já vimos (eu já vi) boa parte daquelas histórias.
A surpresa, e a razão por que fui ao cinema, é o cangalheiro que canta ópera no duche: porque é nada mais nada menos que Fabio Armiliato, e quem esperaria que um tenor se desembaraçasse tão bem como actor de cinema?
Quanto à ópera, a visão de Woody Allen, que encenou Gianni Schicchi na Ópera de Los Angeles em 2008, é uma visão americana. Ou então não é nada disso: o filme é que tem como público-alvo os americanos. Esta é a Roma que eles querem, a ópera que eles reconhecem, as piadas que pagam as contas.
Eu saí bem disposta. Nestes dias, isso já é muito bom.
É óbvio que Allen está mais velho: a ironia não o abandonou, mas serve-lhe agora para desmontar os excessos da intelectualidade com que nos entreteve e fascinou nos anos setenta e oitenta. Diverte-se, e diverte-nos, a arrasar clichés, e nisso tanto vale Alec Baldwin, espécie de génio da lâmpada a denunciar a actriz supostamente inteligente, como o absurdo da personagem de Roberto Benigni, a celebridade instantânea. Mas Allen não se livra, ele mesmo, de clichés.
A Roma que nos oferece é a de um postal ilustrado de há cinquenta anos: a música italiana é Volare, as cenas concentram-se entre a Piazza di Spagna e a Fontana di Trevi, as mulheres italianas usam vestidinhos à Anna Magnani e cozinham, ou têm mamas como a Sofia Loren e são putas. O actor italiano é um personagem de Fellini. Já vimos (eu já vi) boa parte daquelas histórias.
A surpresa, e a razão por que fui ao cinema, é o cangalheiro que canta ópera no duche: porque é nada mais nada menos que Fabio Armiliato, e quem esperaria que um tenor se desembaraçasse tão bem como actor de cinema?
Quanto à ópera, a visão de Woody Allen, que encenou Gianni Schicchi na Ópera de Los Angeles em 2008, é uma visão americana. Ou então não é nada disso: o filme é que tem como público-alvo os americanos. Esta é a Roma que eles querem, a ópera que eles reconhecem, as piadas que pagam as contas.
Eu saí bem disposta. Nestes dias, isso já é muito bom.
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
A minha horta
As hortas urbanas estão na moda. Eu não percebo nada de agricultura (embora tenha feito há uns anos um curso de agricultura biológica) mas depois de o meu hibisco australiano ter secado nesta Primavera, decidiu-se criar uns canteiros ao fundo do jardim e, em pleno Agosto, foi-se buscar umas alfaces, rúcula e couves bebés, mais uns rebentos de pepino, feijão-verde e tomate, salvou-se meia dúzia de batatas do seu destino no tacho e, com ajuda e conselhos de gente amiga, fez-se uma horta.
Tudo aquilo cresceu muito para além das minhas expectativas.
As alfaces, que são muito fáceis de cuidar, fizeram magníficas saladas com a rúcula, uma das couves já deu um caldo verde fantástico. O tomateiro, por outro lado, parece muito doente, mas estou entusiasmadíssima com o resto que aí vem:
Isto para já, que as batatas ainda não se vêem. Mas já há novas alfaces bebés, coentros e orégãos.
(Albufeira, Agosto 2012)
Tudo aquilo cresceu muito para além das minhas expectativas.
(Albufeira, Outubro 2012)
As alfaces, que são muito fáceis de cuidar, fizeram magníficas saladas com a rúcula, uma das couves já deu um caldo verde fantástico. O tomateiro, por outro lado, parece muito doente, mas estou entusiasmadíssima com o resto que aí vem:
(Albufeira, Outubro 2012)
Isto para já, que as batatas ainda não se vêem. Mas já há novas alfaces bebés, coentros e orégãos.
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
orbutuO ed 5
Hoje, 5 de Outubro, data da fundação de Portugal, último feriado celebratório da proclamação da república, o presidente Cavaco Silva e o presidente da Câmara de Lisboa hastearam a bandeira de pernas para o ar.
Foto do Expresso
Portugal está quase a fazer mil anos, mas pelo caminho que leva não sei se os completará.quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Jogos de guerra
Ando há tempos a dizer que das duas uma, ou quem nos (des)governa é completamente burro e incompetente, o que me faz alguma confusão, ou tem objectivos diferentes daqueles que apregoa, mas que não sei quais são.
O José Navarro de Andrade propõe no Delito de Opinião que o objectivo seja salvar o euro, que para esse efeito, como numa guerra, a estratégia passe por sacrificar uma ou duas posições, e que uma dessas seja Portugal.
Parece-me uma hipótese bastante plausível, no sentido de que Portugal esteja a ser visto apenas como uma posição fraca num jogo de guerra e por isso descartável.
Portugal, mais uma vez, não contaria, e não haveria objectivos para Portugal enquanto Estado ou nação, nem para os portugueses enquanto pessoas.
Por enquanto, infelizmente, não encontrei teoria melhor.
O José Navarro de Andrade propõe no Delito de Opinião que o objectivo seja salvar o euro, que para esse efeito, como numa guerra, a estratégia passe por sacrificar uma ou duas posições, e que uma dessas seja Portugal.
Parece-me uma hipótese bastante plausível, no sentido de que Portugal esteja a ser visto apenas como uma posição fraca num jogo de guerra e por isso descartável.
Portugal, mais uma vez, não contaria, e não haveria objectivos para Portugal enquanto Estado ou nação, nem para os portugueses enquanto pessoas.
Por enquanto, infelizmente, não encontrei teoria melhor.
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
terça-feira, 2 de outubro de 2012
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