quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Três perguntas

Qual a vantagem que as televisões nacionais encontram ainda neste modelo de debate/frente-a-frente/entrevista em que todos os comentadores, sejam políticos, economistas, jornalistas, professores ou outros, não fazem mais que repetir as mesmas coisas, ainda que com o ar de terem descoberto a pólvora?

O pessoal ainda vê, apesar de toda a gente, incluindo taxistas e empregadas de limpeza, já ser capaz de papaguear os mesmos chavões sobre como o aumento brutal dos impostos leva a mais desemprego e à destruição da economia?

Finalmente: quando toda a gente diz o mesmo, tem razão ou está na altura de procurar outra verdade?

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A luta continua

Notícia do Público:

Cientistas portugueses obrigam células cancerosas a suicidarem-se
Teresa Firmino   27/11/2012 - 07:44
O controlo de uma única reacção química numa proteína teve como consequência a morte de células que, por definição, são imortais. Patente para esta inovação foi pedida para a Europa.
(...)


Em resumo, um dos problemas com as células cancerosas está na falta de contenção do seu processo de divisão/multiplicação. A estabilidade deste processo é regulada por uma proteína, a CLASP2, que sofre uma modificação mediada por outra proteína, a Plk1.
Se se actuar sobre esta última, pode-se impedir a modificação da primeira e desestabilizar o processo de divisão celular, impedindo-o.

(...) 
“Quando impedimos que esta modificação acontecesse, as células não conseguiam estabilizar o interface e não conseguiam (...) dividir-se”, explica Hélder Maiato. “Acabavam por morrer, sem conseguirem dividir-se.”
(...)

Ou seja: interrompe-se o crescimento do tumor por não haver aumento do número de células, sendo que as que não conseguem dividir-se acabam por morrer.

Esta parece-me ser a notícia mais importante do dia. O resumo do artigo original está no Journal of Cell Biology.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Haverá agricultores budistas?

O respeito por todos os animais é muito bonito, mas eu não andei a plantar couves para serem devoradas por caracóis. E aquela história de os desviar para um prato com cerveja onde se afogariam bêbados e felizes, é um mito.

(Hoje, na minha horta)

A não ser que tenha razão quem me disse que foi porque não lhes ofereci tremoços e amendoins ;-)

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

007 Skyfall

Depois de ler as críticas positivas nos blogues O Livro de Areia e In Fernem Land, lá me enchi de esperança e fui ver o último filme de James Bond, Skyfall.
Se calhar ando muito exigente... A verdade é que estive entretida durante duas horas, mas foi uma decepção. Não encontrei praticamente nada de Bond.

Falta-lhe principalmente o humor característico. Há sarcasmo e algumas boas respostas (What makes you think it's my first time?), mas toda a gente, incluindo o próprio Bond, se leva muito a sério. Pode até dizer-se que tudo o que acontece neste filme se deve a que os personagens se tomam demasiado a sério (mesmo Eve, que é um sério caso de baixa auto-estima). O que não é o mesmo que densidade psicológica, que não vi em lado nenhum.

A propósito, continuo a não gostar de Daniel Craig neste papel, e a achar que seria muito melhor aproveitado como vilão. Javier Barden, àparte a peruca loira horrorosa, é um mau muito civilizado e que mantém os seus sequazes sempre sob controle. Não há monstros e não há situações impossíveis para Bond.

Nas cenas de acção, há muitos tiros e muitos incêndios, uma perseguição de carros ou duas, umas quedas de lugares altos, um comboio, nada que não tenhamos já visto, e uma excelente perseguição de motas pelos telhados de Istambul. E que é dos brinquedos extraordinários, das canetas explosivas e dos carros anfíbios? O novo Q não passa de um hacker importado de uma série de televisão tipo 24 horas.

Falemos também de destinos exóticos: a escolha do realizador Sam Mendes de só mostrar Xangai de noite tem como resultado uma perspectiva muito asséptica da cidade. Fica-se, claro, com a sensação da sua vastidão e modernidade urbanística, mas faltam as multidões chinesas, o ar poluído, o ruído, o trânsito, as bicicletas, aquilo que (imagino) deve ser Xangai. Quanto a Macau, ficou praticamente reduzida a um casino, e a Escócia a uma paisagem desolada e um casarão abandonado cujo protagonismo (dá o nome ao filme!) é mentira.

Sem entrar em outros pormenores, menciono ainda a banda sonora, e só para dizer que o tema de Bond só aparece a três quartos do filme, a acompanhar o Aston-Martin DB5 de boa memória, que lá consegue dar um ar da sua graça antes de ser completamente destruído.

É pois esta a conclusão a que chego sobre este filme: sem carro, sem brinquedos, sem tema musical, sem namoradas e praticamente sem sexo, sem humor, sem final feliz, este é um policial negro e, intencionalmente ou não, o assassinato do mito 007.

domingo, 11 de novembro de 2012

O sorvedoiro grego

Notícia do i:

Europa tenta evitar que a Grécia entre em falência dia 16
Por António Ribeiro Ferreira, publicado em 10 Nov 2012 - 03:10 | Actualizado há 1 dia 7 horas
Eurogrupo devia libertar tranche na segunda-feira mas adiou a decisão para 26 de Novembro
O parlamento grego aprovou quarta-feira o pacote de austeridade (...) Este fim-de- -semana será votado o orçamento para 2013, que inclui muitas das medidas aprovadas quarta-feira. Com estas decisões, Atenas esperava que o Eurogrupo, que se reúne segunda-feira, desbloqueasse a tranche de 31,5 mil milhões de euros, decisiva para o país poder pagar salários, pensões e outros serviços essenciais já a partir de dia 16.
(...)


O que mais me impressiona é que dois anos e tal passados sobre o início do plano de resgate à Grécia, se lhe faltar uma fatia do empréstimo o país fica sem dinheiro para pagar salários, pensões e outros serviços essenciais, ou seja, parece que não está nada mais capaz de corresponder aos seus compromissos do que alguma vez esteve.

Ora isto é como emprestar dinheiro a um desempregado que não consegue arranjar novo emprego, para que possa comer: é muito bonito, mas tem de se ir emprestando mais e mais, com a certeza de nunca lhe resolvermos o problema e nunca reavermos o nosso dinheiro.

E ser o Estado Social a emprestar-lhe não é diferente, porque o Estado Social, como parecemos ter descoberto (alguns! outros nem isso) há pouco tempo, somos nós.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O céu na Gulbenkian

Se bem me lembro, o autor do Apocalipse descreve assim a bem-aventurança celeste: há um trono no qual o Senhor está sentado; em volta há quatro figuras (um touro, um leão, uma águia e um homem) que se supõe corresponderem aos quatro evangelistas, e em redor, a perder de vista, os eleitos que cantam em coro, Santo, santo, santo é o Senhor nosso deus*. Uma seca por toda a eternidade.

Aquilo foi escrito há muito tempo, o Senhor é capaz de se ter tornado mais exigente e é possível que o cântico tenha sido substituído por qualquer coisa como o Messias de Händel, peça que nunca me tinha interessado particularmente mas me levou na sexta-feira passada (ai! como o tempo corre) à Fundação Gulbenkian.

É possível que a Fundação tenha avisado da substituição da soprano Miah Persson por Rosemary Joshua e eu não tenha recebido o aviso; é certo que teria ido na mesma, embora preparada para não a ouvir. No início não gostei nada da voz de Joshua, que achei um bocado esganiçada mas, à medida que foi aquecendo, foi soando melhor. Melhorou igualmente o tenor Robin Tritschler, com uma voz bonita embora pequena.
Já o barítono Johannes Weisser tem uma voz potente, para além do timbre agradável, enquanto a da mezzo Mary Phillips me pareceu um tanto baça e desigual. O coro esteve excelente, a orquestra tocou muito bem mas talvez tenha faltado ao maestro J. David Jackson um toque de brilhantismo, que a música de Händel pediria, na ausência de árias espectaculares e de acção no palco, para não se tornar monótona.

Na verdade, concordo em vários pontos com a apreciação do Fanático_Um, que assistiu ao espectáculo na noite anterior.

Uma nota positiva para os instrumentistas solistas: o trompetista, que suponho ter sido Stephen Mason, e Michael Leopold que andou atarefadíssimo com o arquialaúde, a tiorba e a viola barroca.

A sala, que estava cheia no princípio, esvaziou-se de um terço ao intervalo e, na segunda parte, as tosses aumentaram significativamente. Em todo o caso, espero que no céu o Senhor já tenha mudado outra vez o cântico oficial.


* Afinal não é bem assim, mas é muito parecido.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Um conto de fadas de crise

Os principais problemas de Portugal podem ser a corrupção e a desinformação, e esta entra nas nossas cabeças diária e sorrateiramente.

Entre o que se lê e o que se fala tem-se a impressão que a Alemanha (ou a Merkel) é a madrasta que está a transformar Portugal e a Grécia nas novas Gatas Borralheiras, sendo o FMI, a UE e o FEEF as irmãs malvadas.

Esquece-se, voluntariamente ou não, a responsabilidade do pai da rapariga, que casou com a madrasta e lhe deixa a orientação da casa: o pai, penso eu, são/têm sido os sucessivos desgovernos de Portugal e da Grécia.

Continuando a ficção, a Gata Borralheira portuguesa (não vou especular sobre os sentimentos da grega) sonha com o príncipe encantado que a há-de salvar, e frequenta os bailes que pode à procura dele, enquanto cada janota da cidade se imagina ser o tal príncipe, D. Sebastião ou Salazar do século XXI, qualidade a que aspirarão alguns sinistros financeiros e financeiros sinistros.

Duvido que a Merkel seja a madrasta, mas certamente a Lagarde não é a fada madrinha que transforma a abóbora em limusine. Por isso as abóboras que cultivarmos, sejam para nosso consumo ou para vender no mercado, sejam as melhores que pudermos, sabendo que não passarão de abóboras.

Hão-de salvar-se os ratos, suponho, como habitualmente.

domingo, 4 de novembro de 2012

Se fue FOM

Tinha de acontecer um dia, não é? Fernando Ortiz-Monasterio foi um dos grandes cirurgiões plásticos com quem tive o privilégio de trabalhar. Estagiei com ele na Cidade do México, atraída pelos trabalhos que dele conhecera em congressos, sobretudo na remodelação dos ossos da face e crânio e na cirurgia da fenda labial, na qual obtinha resultados superiores a quaisquer outros: Eccelente!, dizia, contemplando-os com satisfação merecida.

(Mexico DF, Setembro 1992)

Elegante, desportista (jogava ténis e fazia vela), feio, sorridente, educado, dizia-se descendente de espanhóis e jaguares e apreciador de mulheres bonitas. Jantei em sua casa, eu e toda a equipa, que incluía vários estrangeiros, vindos tanto de Cuba como de Espanha.
Era importante para ele criar escola. Punha-nos generosamente à disposição a gigantesca colecção de diapositivos para que os copiássemos e usássemos, e para meu desgosto assisti a apresentações cujos autores se esqueceram de lhe dar o devido crédito.
Não que isso o diminuísse. Era um senhor. Morreu no passado dia 31 de Outubro, aos 89 anos.

Para quem quiser recordar o seu trabalho, aqui fica um link, com o aviso de que tem imagens possivelmente chocantes para quem não está habituado a ver estas malformações.

Gracias, maestro, y hasta siempre.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Mal gasto

Notícia do Diário de Notícias:

Japão: Tsunami
Um quarto do dinheiro para reconstrução foi mal gasto
por Lusa, publicado por Luís Manuel Cabral Ontem
Cerca de um quarto dos 113 mil milhões de euros destinados à reconstrução no Japão, depois do maremoto de 2011 e subsequente desastre nuclear, foram gastos em projetos sem qualquer ligação com aquele objetivo, segundo uma auditoria.
Uma auditoria governamental detetou aplicações questionáveis, como subsídios para uma fábrica de lentes de contacto ou investigação na caça à baleia, noticia hoje a agência AFP.
Mais de metade do orçamento ainda não foi aplicada, devido à indecisão e à burocracia, enquanto cerca de 340 mil pessoas retiradas da zona de desastre continuam sem saber se, quando e como serão alguma vez realojadas.
Muitos dos projetos sem qualquer relação com a reconstrução incluídos no orçamento de 11,7 biliões [milhão de milhões] de ienes (113 mil milhões de euros) foram incluídos com o pretexto de que poderiam contribuir para a recuperação económica japonesa (...)


É triste perceber que mesmo no Japão, país com tradições de honra tão valorizadas, estas coisas podem acontecer.
Gostava de perceber o que é uma auditoria governamental: mandada fazer pelo próprio governo? É que em certos outros países que conhecemos têm de ser os jornalistas, a oposição ou mesmo competidores das empresas beneficiadas a descobrir as maroscas.

Retirado

Notícia de The Portugal News:

Anti-fat cream withdrawn from market
by TPN/ Lusa, in General · 25-10-2012 09:52:00

Portugal’s medical sector regulator Infarmed has ordered the full withdrawal of ‘Creme gel Drenante Anticell,’ produced by Bottega Verde, with immediate effect as from Tuesday.
The regulator found that the cream “presents deceiving allegations in relation to its efficiency, especially regarding the treatment of resistant cellulite.” Infarmed added that all stocks held by stores should be immediately withdrawn.


Acho lindamente, e espero que o Infarmed mande retirar do mercado todos os pseudo-medicamentos que proclamam remover a celulite, as rugas, os quilos e os anos sem esforço, dieta ou cirurgia. Vai ter uma trabalheira.