sábado, 29 de dezembro de 2012

Masoquismo ou fé?

A sério, a sério, o que leva um homem condenado a pagar três milhões de euros por mês à ex-mulher a ter vontade de voltar a casar, mesmo que não fosse com uma rapariga cinquenta anos mais nova e com este currículo?

A verdade é que fidanzata em italiano quer dizer namorada, e não mais do que isso. Tradutori tradittori, é o que é.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Mozart no sapatinho

Há muitos anos, durante uma viagem de InterRail, encontrei-me com amigos em Salzburg e andámos a visitar a cidade antiga. De repente, atrás de uma porta fechada, ouvi um coro lindíssimo que o meu amigo Patrick me disse ser a Grande Missa Solene de Mozart.

A Grande Missa Solene, ou Missa em Dó menor, ouviu-se no sábado passado na Fundação Gulbenkian, pela Orquestra e pelo Coro da casa, dirigidos por Michel Corboz, depois de uma primeira parte constituída por duas obras de Bach (Prelúdio e Fuga em Lá menor, BWV 543 e cantata Gloria in excelsis Deo, BWV 191) que serviram para aquecer.

Os meus momentos preferidos foram protagonizados pelo contrabaixo, pela flauta e pelo oboé. E pelo coro. Aqui fica, em jeito de presente de Natal, o Qui tollis dirigido por Bernstein.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Da contrafacção

Notícia da RTP:

Agentes da PSP cercaram esta manhã todo o perímetro da feira do Relógio, em Lisboa
Ines Gomes de Oliveira, Rui Cardoso e Pedro Pessoa
16 Dez, 2012, 20:45 / atualizado em 16 Dez, 2012, 20:45
3 toneladas de material contrafeito foram apreendidos.


Percebo que a contrafacção seja ilegal, e obviamente concordo. Por outro lado, pergunto-me o que há de tão errado nela. Parece-me evidente que os produtos de marca genuínos e as suas cópias se dirigem a dois mercados diferentes que praticamente não se tocam. Quem tem dinheiro para comprar uma carteira Louis Vuitton legítima não compra a cópia, e quem compra a cópia nunca compraria o original porque não tem dinheiro para isso.
A não ser no dia em que eventualmente venha a tê-lo, e nessa altura compra mesmo, porque a cópia só lhe aguçou o apetite.

Ou seja: a indústria das cópias dá trabalho a muita gente, movimenta dinheiro, satisfaz uma procura, é na realidade, como dizem, uma economia paralela, e não tira pedaço à indústria de originais.

O único lesado é o Estado porquanto, sendo ilegal, o mercado das cópias foge aos impostos.


domingo, 16 de dezembro de 2012

Os BRIC

Notícia do Expresso:

Os BRIC vão dominar o mundo ou este bloco não tem futuro?
O futuro do grupo alternativo ao G7 continua envolto em polémica. A crise empurrou-o para a ribalta, mas os problemas internos que afligem Brasil, Rússia, Índia e China suscitam muitas dúvidas sobre a sua força real e futuro.
Jorge Nascimento Rodrigues (www.expresso.pt)
15:36 Domingo, 16 de dezembro de 2012

(...) Ruchir Sharma, diretor da área de Mercados Emergentes e Macroeconomia global da Morgan Stanley, é perentório, em entrevista ao Expresso: "Na realidade, nunca pertenceram ao mesmo acrónimo". O especialista indiano vai mais longe: nunca foram e nunca serão um bloco nem geopolítico nem económico.
(...)
Olhando os números divulgados em outubro pelo Fundo Monetário Internacional para este conjunto que deveria ser o novo farol sem mácula, as desilusões são muitas: o trambolhão monumental do Brasil vai continuar, de 7,5% em 2010 para uma previsão de 1,5% este ano; a Rússia abranda de 4,3% para 3,8% no mesmo período; a Índia também dará um trambolhão de 10,1% para 4,9%; e o crescimento na China descerá, este ano, abaixo do limiar político dos 8%, com as estimativas a variar entre 7,7% e 7,8%, depois de ter crescido 10,4% há dois anos.


Preocupados como andamos com a nossa própria economia, com as medidas de austeridade e os problemas da zona euro, é raro lermos notícias sobre o que se passa com os países para os quais temos vindo a perder competitividade. Enquanto nunca acreditei que estivessem ao abrigo de intercorrências, não tive consciência disto: de que apesar de serem metidos no mesmo saco de economias emergentes, não têm realmente nada que ver uns com os outros.

Ontem li um cenário supostamente alarmante sobre a substituição do dólar e do euro na cena internacional por um yuan baseado no padrão ouro (não percebo nada deste tema, mas li em tempos um artigo de Oliver Kamm, hoje suponho que só disponível para subscritores do Times, que afirmava precisamente a vantagem de se ter desligado a moeda desse padrão). Hoje leio sobre a bolha imobiliária chinesa e a sua economia sem fundações sólidas, e parece-me fazer mais sentido.

Estarei a ver bem ou não passará de wishful thinking?

sábado, 15 de dezembro de 2012

De boas intenções...


... estará o Palácio de Belém cheio.

A página oficial da Presidência da República diz que a árvore de Natal e a mesa da ceia foram decoradas com artigos exclusivamente portugueses, o que só fica bem, mas olhando bem para a própria árvore, sou só eu a suspeitar que é tão chinesa como a que tenho aqui em casa?



domingo, 9 de dezembro de 2012

O baile e as máscaras

No sábado passado lá regressei à Fundação Gulbenkian para mais uma transmissão da série Met Live in HD. Desta vez tratava-se de Un Ballo in Maschera, uma ópera que eu nunca tinha visto mas apenas ouvido, e que não me tinha seduzido, não sei porquê, visto que tem todos os ingredientes verdianos: a história de amor e política, árias bonitas, coros e ensembles, e o que presumo fosse um momento de bailado no terceiro acto.

A encenação de David Alden é uma mistura de clássico e diferente: clássico no sentido de que os protagonistas são tratados muito mais como cantores do que como actores, sendo mesmo muitas vezes prantados a cantar sem interagir fisicamente; diferente porquanto personagens e relacionamentos são caracterizados segundo conceitos talvez menos óbvios. Um exemplo, o rei Gustavo como um homem com vontade de fugir às suas responsabilidades metendo-se em aventuras pouco apropriadas. Outro exemplo: o amor entre Gustavo e Amelia é casto, enquanto há uma forte ligação erótica entre Amelia e o marido, Renato, e é essa ligação que salva a rapariga e o casamento.
Havia coisas que não percebi, como o simbolismo das asas brancas do pagem, Oscar, a possível relação com o quadro A Queda de Ícaro que decora o palácio real, ou a razão para a história decorrer nos anos de 1930. Debbie Voigt, a apresentadora da noite, deu-nos algumas pistas, nomeadamente para os bailados tipo Broadway, explicando que nos contrastes desta peça alguns números mais alegres remetiam para a opereta.


A orquestra foi dirigida por Fabio Luisi, que a soprano Sondra Radvanovsky elogiou por saber "respirar com os cantores", o que acho muito interessante.

De Sondra Radvanovsky (Amelia) já tinha ouvido falar: tem uma voz interessante, com bons graves e agudos muito agradáveis; e uma dicção muito difícil de entender. Marcelo Álvarez (Gustavo) pareceu-me o típico tenor verdiano que canta mais em potência que em elegância mas, não conhecendo a partitura, eu sei lá se há alguma coisa apontada excepto forte e fortissimo?
Dimitri Hvorostovsky (Renato) foi igual a si próprio excepto na ária Eri tu che macchiavi, em que se superou, transmitindo magnificamente toda uma série de emoções. Stephanie Blythe (Ulrica), que me tinha impressionado como Fricka, está cada vez mais gorda, e pareceu-me menos bem nos agudos, mas bem no registo grave.

Os secundários cumpriram; gostei de Scott Scully no pequeníssimo papel de criado de Amelia. A soprano Kathleen Kim (Oscar) é incrivelmente desajeitada para uma pessoa tão pequena, e tem uma voz um bocadinho estridente. Diz o Joaquim que ela vai cantar a Olympia nos Contos de Hoffmann no Liceu: engraçado que foi exactamente nesse papel que ela me fez pensar.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Take five

Hoje é dia de obituário: morreu Oscar Niemeyer, o arquitecto de Brasília, que em Portugal deixou o Casino Park Hotel do Funchal. E morreu Dave Brubeck, o pianista de jazz cuja peça Take Five me acompanhou muitas vezes na rádio, no caminho para o hospital, quando vivi em Miami.

Aqui fica ela, em homenagem a dois grandes que foram agora descansar.

domingo, 2 de dezembro de 2012

La Clemenza di Tito

Apesar de a temporada de transmissões do Met (porque lhe chamamos o Met se o nome oficial é a casa, por isso feminino? Adiante) para a Fundação Gulbenkian já ir em velocidade de cruzeiro, só ontem nela embarquei, com a última de Mozart, La Clemenza di Tito, na encenação de Jean-Pierre Ponnelle, ambientada na época em que a obra foi criada em vez daquela em que decorre a acção.
Este detalhe àparte, nada de especial a assinalar numa encenação com quase trinta anos, que segue fielmente o libretto e se preocupa com a movimentação dos cantores. Cenários e figurinos são de modelo apropriado mas não os achei bonitos.

O maestro Harry Bicket, que é director da orquestra barroca The English Concert, diz que à Orquestra do Met não se deve pedir um som diferente do que ela tem; depois daqueles solos sublimes dos sopros, eu certamente não peço.

Os cantores: as duas mezzos, Elina Garanča e Kate Lindsey, nos papéis de Sesto e Annio, têm vozes muito bonitas e expressivas; a soprano Barbara Frittoli, graças a um grande domínio técnico, aguentou-se nas difíceis árias de Vitellia, e particularmente em Non più di fiori, foi mesmo aplaudida pela orquestra; pelo contrário, Giuseppe Filianoti viu-se aflito com a coloratura. Gostei dos agudos cristalinos de Lucy Crowe como Servilia e o baixo Oren Gradus, como Publio, também esteve bem. O coro cumpriu mas não me emocionou.


Para a semana há mais. E na sexta-feira, para quem tiver o canal Arte na televisão, há a transmissão directa da abertura da temporada do Teatro alla Scala, com o Lohengrin de sonho para o qual não consegui bilhetes nas récitas "normais". Agradeço ao Paulo esta informação.