sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Por qué no se calla?

Que Mário Soares ande ressentido, eu percebo e aceito, mas que outros se aproveitem do seu rancor e da sua provecta idade para o encorajar a disparatar em público, isso já é uma história diferente.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

La Fille du Régiment em Lisboa

Tive um convite irrecusável para voltar ao S. Carlos para ver La Fille du Régiment. Como disse o Paulo, não saí deslumbrada, mas a encenação de Mário Redondo é divertida, os cenários são engraçados, os figurinos bonitos (excepto que no tenor assentavam mal), o coro cantou muito bem e esteve muito bem coreografado, e ninguém desafinou.


Achei a orquestra um bocado empastelada mas talvez seja mais correcto dizer que faltou ao maestro Rui Pinheiro um toque de génio para abrir a música.

A soprano Cristiana Oliveira tem, aos meus ouvidos, um timbre de uma só cor, embora não desagradável. O tenor Alessandro Luciano, que o Fanático_Um detestou, não achei assim tão mal: a voz não é grande mas é melodiosa, e a sua personagem cresceu do 1º para o 2º acto (a tropa fez dele um homenzinho haha). Vi finalmente o barítono Luís Rodrigues num papel para brilhar; julgo que não é belcantista de formação, mas tem uma voz bonita e esteve muito bem em cena.

(Lisboa, Novembro 2013)

Um bom espectáculo para um teatro que já viu melhores (e piores!) dias.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Manifesto

Notícia do Diário de Notícias

INICIATIVA DE RUI TAVARES
"Livre" vai ser o novo partido "no meio da esquerda"
por Octávio Lousada Oliveira, com Lusa     16 novembro 2013
Rui Tavares reuniu cerca de 150 pessoas para debater um "espaço de liberdade" que visa agregar os que "não se sentem representados". (...)
O independente, eleito para o Parlamento Europeu em 2009 na lista do BE, (...) defende que seja "no meio da esquerda", isto é, entre o PS, de um lado, e o PCP e o BE, do outro (...)
Ao abrigo da lei, a "inscrição de um partido político tem de ser requerida por, pelo menos, 7500 cidadãos eleitores" junto do Tribunal Constitucional.



Declaro já aqui que, se me pedirem para assinar, não o faço. Nem para este nem para qualquer outro partido, quer se posicione a meio da esquerda, quer a meio da direita, a três quartos ou para lá de onde quer que seja.
A mim, que não me sinto representada, já me chegam os existentes, dentro ou fora do "arco da governação". Não quero contribuir para mais cartazes, mais discursos e entrevistas, mais passeios e almoços "de trabalho", para mais massagens a egos. Aliás não quero mais partidos, movimentos, ongs, fundações, ligas, sociedades recreativas. Quem quiser fazer parte de uma organização, procure uma das que já existem aos milhares, inscreva-se e trabalhe.
Cresça e desapareça.
Bye bye.

domingo, 10 de novembro de 2013

Passeando em Veneza

Como diz Nemorino: Quanto è bella, quanto è cara, più la vedo e più mi piace...

Desde os lugares mais turísticos


aos menos conhecidos


do Canal Grande


aos telhados


do sol da tarde


à noite


de San Giorgio


a La Salute


e ao Lido ao domingo de manhã


onde na Gelateria Maleti se comem umas guloseimas que, só por elas, valem a viagem de vaporetto,

(Venezia, Outubro 2013)

Veneza continua mágica.

Aqui deixo o Nemorino do tenor Shi Yijie:

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Arte em Veneza

Tenho ideia que antigamente a bienal de arte tinha lugar apenas nos jardins públicos, mas agora espalha-se por toda a cidade, em igejas e palácios transfigurados em pavilhões onde artistas das mais diversas nacionalidades expõem em representação do seu país ou enquanto indivíduos.

Na igreja de Santa Maria della Visitazione, que vale a visita só pelo tecto em caixotões pintados do século XVI, encontrei uma curiosa instalação do chinês Zhong Biao, considerado em 2010 o "artista mais inovador da China" e que se declara parcialmente inspirado em Jorge Luís Borges.

De resto, as igrejas de Veneza reclamam uma nova visita com os seus Tiepolos, Tizianos e Tintorettos. As Bodas de Caná deste último, na sacristia da Chiesa della Salute, só por si pede longos minutos de admiração e espanto: como se pinta um quadro deste tamanho? Como se compõe uma cena para estas dimensões? Como se mantém as proporções correctas? De que enormes ateliers dispunham estes artistas?

Saindo da Salute apercebi-me que nascera uma nova ponte entre a Punta della Dogana e a Riva degli Schiavoni, ou seja, podia voltar para a zona de San Marco a pé - se esperasse pela inauguração, que estava a ter lugar nesse momento.


Assim fiz, estreando ☺ a ponte temporária por onde passariam, no dia seguinte, os corredores da 28ª maratona de Veneza.

(Venezia, Outubro 2013)

domingo, 3 de novembro de 2013

Vivaldi em Veneza

Vivaldi entrou definitivamente nos circuitos turísticos venezianos e chega a ser difícil escapar-lhe. Há vários grupos a tocá-lo: os Musici Veneziani em fatos ao estilo da época perto de Rialto, os Virtuosi di Venezia a San Marco, os Virtuosi Italiani na Chiesa della Pietà com o ardil "Venha ouvir a música onde ela foi escrita".



Publicidade enganosa: esta igreja foi construída depois da morte de Vivaldi e daquela que ele conheceu já só existem, parece, duas colunas no lobby do Hotel Metropole ali ao lado. No entanto a igreja actual vale pela acústica fantástica e pelos frescos de Tiepolo.


Os Virtuosi Italiani devem estar mais que fartos das Quattro Stagioni, mas se é o que os turistas querem, é o que lhes dão todas as noites (além de outros dois números para desenjoar). Não me queixaria, se o solista Glauco Bertagnin não tivesse escolhido mostrar o seu virtuosismo tocando o mais depressa e o mais forte possível. Dei por mim a perguntar-me se era eu ou de repente a música barroca soava a czardas.


(Venezia, Outubro 2013)

Ópera em Veneza

Devagar, devagarinho, já tenho uma bela colecção de memórias de teatros de ópera frequentados. Juntei-lhe agora o La Fenice, com uma representação do Elisir d'Amore de Donizetti.

O teatro foi reconstruído, depois do mais recente incêndio, segundo a traça e decoração anterior: é grande, bonito e confortável, com o fosso da orquestra rebaixado e adiantado em relação ao palco. Nos séculos XVIII e XIX chegava-se lá de barco, mas entretanto o canal, como tantos outros em Veneza, foi preenchido e vai-se a pé.


Passei um fim de tarde muito agradável. A encenação de Bepi Morassi é viva e alegre, sem grandes idiossincrasias, e bem servida de cenários (com telas antigas pintadas) e figurinos. O maestro Stefano Montanari conduziu a orquestra com entusiasmo, e o coro deu boa conta de si. O pessoal encarregado das legendas é que só se lembrou de as ligar já ia o espectáculo adiantado.

Gostei de todos os cantores solistas. A soprano Irina Dubrovskaya foi Adina: começou praticamente inaudível, talvez por estar ao fundo do palco, mas ao longo da récita revelou um timbre claro, bonito, com agudos fortes bem controlados, nunca gritados. Um alívio! O tenor chinês Shi Yijie esteve sempre bem, vocal e cenicamente, cantando sem esforço aparente e fazendo um Nemorino credível, ingénuo e, depois da segunda garrafa de elixir, bastante bêbado (conseguindo contudo não exagerar na caricatura).

Ambos os barítonos, Marco Filippo Romani em Belcore e Omar Montanari em Dulcamara, têm vozes quentes, bem audíveis e adequadas aos seus personagens. A soprano Arianna Donadelli foi uma simpática Giannetta.

No Youtube há um video dos ensaios, e vários dos cantores em outras produções.

(Venezia, Outubro 2013)

Portugal em Veneza

Assumo que quando vou para fora não quero saber do que cá fica: não quero comer em restaurantes portugueses nem ouvir música portuguesa (ouviria de boa vontade a Maria João Pires, a cujos concertos aqui nunca consigo assistir) nem comentar política portuguesa nem ver arte contemporânea portuguesa.

Dito isto, acho simpático ver referências positivas a Portugal. Assim, em Veneza, ainda no vaporetto entre o aeroporto e a cidade, deparar-me com o pavilhão português da Bienale:


ou, a encher a Piazza San Marco, este anúncio:

(Venezia, Outubro 2013)

o qual seria mais interessante se não existisse aquele primeiro ponto no texto.