segunda-feira, 30 de junho de 2014

Politicamente quê?

Vi na TVi e sinceramente não percebi: existem uns prémios só para negros patrocinados por uma cadeia de televisão, e está certo? Mas se houvesse prémios só para brancos não seria racismo?

domingo, 29 de junho de 2014

Lyon Parte IV: ópera

É também na Presqu'Île que se localizam os dois grandes teatros de Lyon: o Théatre des Célestins


e a Opéra Nouvel, assim chamada porque foi o arquitecto Jean Nouvel que alterou e aumentou na década de 90 do século passado o antigo edifício neoclássico. Na minha opinião, o resultado não é brilhante: se o exterior ainda escapa, embora com cara de estação de caminho de ferro,


a sala, toda em negro, é mesmo feia.


Ouvi comentar que do ponto de vista acústico está mal proporcionada: isso não sei, porque fiquei num dos lados, praticamente sobre o fosso da orquestra, e aí já se sabe: sujeitamo-nos a alguma distorção mas o som chega sempre.

Lembrando-me que o Parsifal do Met fora criado em Lyon, pareceu-me que era capaz de valer a pena assistir a uma produção própria de Simon Boccanegra, uma das obras tardias de Verdi que praticamente não conhecia, à excepção de uma ou duas árias. Não me arrependi.

Já agora, um comentário: ir à ópera em teatros diferentes é muito engraçado: há públicos mais e menos formais, os bares têm atmosferas diferentes; em quase todos se tornou normal ir para a rua no intervalo, não para respirar ar fresco mas para fumar. A entrada na Opéra Nouvel faz-se por um pórtico (eles chamam-lhe peristilo) no qual existe um bar com mesas e lugares sentados e onde se fazem espectáculos de outros géneros musicais; naquela tarde havia um pequeno agrupamento de jazz a tocar; o pessoal da ópera passava e, na maioria dos casos, não ligava ou encolhia-se discretamente. Para quem gosta de jazz, no entanto, aqui fica a ligação para o site do Etienne Vincent Quartet.


E a récita? Boa, pois. A orquestra tocou muito bem, dirigida por um jovem maestro, Daniele Rustioni, empolgante e empolgado, muito seguro da sua interpretação e que era um gosto observar. A encenação de David Bösch, moderna e negra, usando cenários muito despidos e complementada por pequenos videos que de certo modo ajudavam a entender as mudanças temporais e políticas que nesta ópera são um bocadinho abruptas, em parte por Verdi ter sentido necessidade de cortar e colar o trabalho inicial, em parte também por culpa do encenador e do figurinista que nos levaram não se sabe bem para quando - anos 40? 50? agora mesmo?

O certo é que Verdi, que escreveu uma primeira versão nos anos 50 do século XIX, a década que viu estrear La traviata, Rigoletto ou Il trovatore, a reviu e expandiu e re-estreou vinte anos mais tarde, o que a torna uma das suas últimas obras, e isso nota-se na música, que sendo lindíssima é menos imediata e mais... moderna, talvez.

Dos cantores, o único nome que me era familiar era o da soprano Ermonela Jaho (Amelia): a sua voz é muito mais potente do que se esperaria do seu corpo franzino, cristalina e com agudos fáceis. O tenor Pavel Černoch (Gabriele Adorno) tem uma voz muito bonita, de timbre escuro e, sendo bastante jovem, parece-me ter margem para progressão. O barítono Andrzej Dobber (Simon) também tem uma voz bonita, doce e potente, mas é fisicamente pesado e não conseguiu, no prólogo, convencer como o jovem corsário Boccanegra. O figurinista achou que o ajudava pondo-lhe uma peruca horrorosa.
Também gostei do baixo Riccardo Zanellato que incarnou Jacopo Fiesco, aka Grimaldi, o adversário de Boccanegra, talvez o papel mais confuso de toda a ópera. O barítono Ashley Holland no manipulador e eventualmente traidor Paolo Albiani, merece atenção, embora por vezes não se conseguisse ouvir sobre a orquestra.

(Lyon, Junho 2014)


Antes do espectáculo fomos informados da luta que os trabalhadores temporários (intermittents) estão a travar contra uma nova legislação que diminui a protecção no desemprego. Se fosse em Itália, provavelmente não teria havido récita...

sábado, 28 de junho de 2014

Lyon Parte III a península

Os rios Saône


e Rhône (= Ródano, o mesmo que passa em Genève, a pouco mais de hora e meia de carro)


definem a Presqu'Île. A arquitectura é diferente; as ruas são em quadrícula; os restaurantes têm melhor ar e há lojas por todo o lado. Ali ficam a mairie, o palácio da bolsa


várias praças imponentes como a dos Jacobins


ou a dos Terreaux, onde impera esta fonte desenhada inicialmente para a Place des Quinconces em Bordéus pelo escultor Frédéric Bartholdi, o autor da estátua da Liberdade de Nova Iorque.


É também na Presqu'île que fica o Musée des Beaux-Arts, com uma colecção de antiguidades egípcias e de pintura muito decente. Não consegui apreciar devidamente este Picasso, muito menos fotografá-lo, porque no mesmo momento chegou um grupo de crianças que ali se sentou a ouvir as explicações das monitoras - e fiquei a perguntar-me se em Portugal, ou pelo menos em Lisboa e no Porto, mas também em Amarante ou nas Caldas da Rainha, as escolas básicas organizam visitas aos museus para transmitirem aos alunos o conhecimento e o gosto pela arte.

Além de Picasso, e entre muitos outros, as crianças de Lyon podem admirar Monet


Rubens


(maravilhoso, este detalhe)


e até Vieira da Silva...

(Lyon, junho 2014)

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Lyon Parte II Fourvière

A colina de Fourvière é a localização original da cidade de Lugdunum, onde em 43 aC foi fundada uma colónia romana pelo governador Lucius Munatius Plancus. As ruínas de dois teatros e alguns edifícios públicos, muito restaurados, não são muito bonitas mas são utilizadas para festivais e visitadas por excursões de crianças em semi-férias.


Muito mais recente é a basílica de Notre-Dame, construída em finais do século XIX, suponho que vagamente inspirada na basílica de S. Francisco em Assis, com duas igrejas sobrepostas, ricamente decoradas.


A basílica é sobranceira à cidade velha


e dela tem-se uma panorâmica fantástica da cidade.

(Lyon, Junho 2014)

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Lyon Parte I: a cidade velha

Lyon é considerada a segunda cidade de França, embora segundo alguns cálculos seja na verdade a terceira em número de habitantes. É composta por vários bairros diferentes uns dos outros dos quais, no pouco tempo de que dispus, só colhi amostras de três: Vieux Lyon, Fourvière e Presqu'Île.

A cidade velha fica na margem sul do rio Saône. Tem a sua inevitável catedral gótica


as ruas estreitas, os restaurantes com esplanadas cheias de turistas, mas a sua graça maior está nas traboules, passagens semi-secretas de uma rua para outra pelo interior de prédios, através de pátios insuspeitados. Senti-me num livro d'Os Cinco.

(Lyon, Junho 2014)

terça-feira, 24 de junho de 2014

Alésia

Finalmente visitei o lugar da grande vitória de César sobre a coligação dos povos gauleses, Alésia, ou o que se supõe ser Alésia desde as escavações mandadas fazer por Napoleão III.



Foi uma enorme alegria, embora a visita fosse ao monte onde terá sido a cidade fortificada gaulesa e não àqueles onde César estabeleceu os seus acampamentos. É um lugar magnífico, hoje em dia muito sereno, onde no entanto se pode imaginar Vercingétorix (cuja estátua comemorativa tem o rosto do imperador francês que a mandou erigir) observando as fortificações romanas, voltadas para dentro num circuito de 14 km para conter os sitiados, e voltadas para fora em 21 km para deter o exército gaulês de reforço: entre os dois moviam-se as legiões de César.


Existe um centro de interpretação a pouca distância na planície, onde para além da apresentação de filmes, achados arqueológicos e reconstituições das batalhas e das fortificações romanas, um grupo de "legionários" ensina o público sobre a realidade do armamento e das técnicas de combate, bem diferentes do que se vê nos filmes.



Se eu pudesse, teria ficado por ali muitas horas, tão entusiasmada como as crianças a experimentar as armas e a visitar as tendas.



(Alise Sainte-Reine, Junho 2014)

segunda-feira, 23 de junho de 2014

La Traviata de Paris: aviso

Aviso à navegação: o canal Mezzo vai transmitir a Traviata de que falei (não a récita a que assisti mas a seguinte, de terça-feira 17) depois de amanhã, quarta-feira 25 de Junho, julgo que às 19h30 hora de Lisboa.

domingo, 22 de junho de 2014

Côtes de Beaune, o vinho que cura

A Borgonha é conhecida pelos seus vinhos, e entre eles pelo que é possivelmente o menos interessante, o Beaujolais.
Mesmo este tem diversas variedades, mas há muitos outros. Nós, portugueses, gostamos de elogiar os nossos vinhos como se os franceses não tivessem mais de dois mil anos de experiência com os deles.

As encostas de Beaune produzem tintos e brancos; uma porção desses terrenos vitícolas pertence aos hospitais de Beaune e estes são em parte financiados pelas receitas da venda dos seus vinhos.
Outra fonte de receita é o turismo, através das visitas ao Hôtel-Dieu, o hospital medieval fundado e construído para abrigar e tratar os pobres - no fim da guerra dos cem anos, eles não faltavam na região - e que se manteve em funcionamento até quase ao fim do século XX.

Os telhados multicoloridos são típicos na região:

Na enfermaria principal as camas alinham-se em direcção à capela:


Nesta, o altar apresenta um trabalho riquíssimo:

E o acervo contém numerosas obras de arte, incluindo pinturas e tapeçarias.

(Beaune, Junho 2014)

Passear em Dijon

A melhor maneira de conhecer Dijon é fazer o parcours de la chouette, ou seja, seguir as placas de cobre gravadas com a figura de uma coruja e cravadas no chão

que nos levam a todos os lugares relevantes, desde o palácio dos Duques da Borgonha, onde está actualmente instalado o Musée des Beaux Arts

por casas com fachadas de barrotes de madeira

até ao Grand Théatre, à catedral ou ao mercado

rodeado de restaurantes, à rua das lojas

e à igreja de Notre Dame

que exibe uma extraordinária colecção de gárgulas como eu nunca tinha visto.

(Dijon, Junho 2014)

sábado, 21 de junho de 2014

Paris: apontamentos

Vivement les filles!


O jardim da Place des Vosges é um dos muitos em que surpreendentemente não são permitidos cães. Já das arcadas não há nada a dizer.


Desta vez a Notre Dame só avistei de longe.


Vida alternativa:

(Paris, Junho 2014)

La Traviata em Paris

A Opéra de Paris tem um sistema muito simpático de revenda de bilhetes, e foi nessa bolsa que consegui dois lugares ao fundo da plateia na Opéra Bastille para ver esta nova produção do cineasta Benoît Jacquot.

A sala, cujo aspecto mais impressiante é os balcões em consola sem apoio aparente, é muito profunda, e talvez em parte por isso o som não é muito envolvente.

(Paris, Junho 2014)

Ainda assim, gostei muito. Gostei da encenação, que é de época e serve o libretto e a música, e gostei dos cenários, que são simples, eficazes, e muito bonitos. A grande cama de dossel de Violetta tem, no primeiro acto, na cabeceira a Olympia de Manet; no terceiro acto o quadro foi retirado e virado ao contrário. No primeiro quadro do segundo acto uma árvore muito bonita exprime o bucolismo da nova vida dos dois apaixonados.

A orquestra, dirigida por Francesco Ivan Ciampa, esteve bem; o coro foi talvez para mim o ponto mais fraco, pesado, compacto e escuro, mas foi como o encenador o quis no palco, por isso talvez vocalmente também fosse essa a intenção. Adorei o oboé no diálogo com Violetta no terceiro acto. Delicioso o bailado em casa de Flora, com os bailarinos transvestidos em honra ao Carnaval.

Quanto aos protagonistas: a soprano Diana Damrau foi Violetta, o tenor Francesco Demuro foi Alfredo e o barítono Ludovic Tézier o pai Germont. A melhor voz, para meu gosto, foi a de Tézier, grande, melodiosa, segura; infelizmente acho-o sempre muito parado. Damrau, a Traviata do momento, domina muito bem a coloratura, tem uma grande intensidade dramática e no Addio, bel passato, chegou a comover-me. Demuro, se não me encantou no brinde, foi melhorando em todos os aspectos durante o espectáculo.

Fica aqui o Sempre libera que encontrei no Youtube:

terça-feira, 3 de junho de 2014

Barcelona a fingir

Ou: como transformar as empenas sem graça dos prédios que rodeiam o pátio traseiro de um hotel no centro da cidade.

(Barcelona, Março 2014)