segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Villa San Michele (As Ilhas Flegreias - Parte II)

Na minha visita anterior a Capri fugi das multidões alugando um barco e dando a volta à ilha.

Desta vez apanhei o autocarro para Anacapri e fui revisitar a Villa San Michele. Para quem não sabe: o primeiro volume da velha Colecção Dois Mundos da editora Livros do Brasil chama-se O Livro de San Michele e foi escrito pelo médico sueco Axel Munthe que viveu entre 1857 e 1949. Formou-se muito jovem e foi trabalhar em Paris, onde se tornou médico da moda entre a comunidade expatriada mas também médico dos pobres e desventurados. Apaixonado por Itália, pela luz, pelas coisas belas e pelos animais, construiu em Anacapri uma casa onde passou muito tempo, embora tivesse acabado por morrer na Suécia. Li e reli O Livro de San Michele e a Villa é para mim uma espécie de santuário.




Adoro esta alameda:


que vai ter a um miradouro donde esta esfinge contempla a paisagem:


A esfinge tem uma história misteriosa que Munthe não desvenda. O panorama que ela contempla é este:


Na Villa há uma sala para concertos a que eu gostaria de assistir:


e um simpático restaurante afastado da confusão:



(Anacapri, Setembro 2015)

Para quem quiser saber mais sobre o Dr. Munthe e a Villa San Michele, aqui fica este link.

domingo, 27 de setembro de 2015

As ilhas Flegreias - Parte I

A baía de Nápoles é "fechada" por três ilhas habitadas de dimensões razoáveis: Capri, Ischia e Procida. Procida é a mais pequena e a menos conhecida, o que não quer dizer desconhecida - tem servido de cenário para filmes - e as suas casinhas de tons pastel vêem-se melhor depois de trepar pelas ruas estreitas em direcção ao núcleo antigo (Terra Murata) e ao sinistro antigo cárcere.



(Procida, Setembro 2015)

Ischia é a maior das três. O tempo limitado apenas permitiu um passeio a pé pelas ruas bordejadas de árvores e lojas desde o Porto de Ischia até perto do Castelo Aragonês, construção que vem de muito antes da casa de Aragão se ter apropriado da ilha, uma das muitas invasões e conquistas sofridas ao longo da sua história. O regresso foi pelas praias de areia escura, algumas públicas, outras concessionadas aos hoteis, estas em geral aumentadas por força de plataformas de cimento e equipadas com espreguiçadeiras e chapéus de sol. Valerá, penso eu, uma visita mais demorada.


(Ischia, Setembro 2015)

Capri, finalmente, a mais famosa, cobiçada por Augusto, tornada notória por Tibério e mais recentemente pelas celebridades do espectáculo do século XX, é aquela onde todos os dias desembarcam hordas de turistas. Muitos vêm em excursões organizadas, e no porto de Nápoles estava atracado o Allure of the Seas, julgo que nesta data o maior navio de cruzeiros do mundo, transportando bem mais de cinco mil passageiros.
Quanto aos viajantes independentes, perdem logo a vaidade de o serem, diante dos táxis todos ocupados e das filas de pelo menos meia-hora para autocarros e funicular completamente lotados. Chegados à piazzetta, cansados e suados, perdem-se nas ruelas atulhadas de lojas caras e vazias, porque não é o turismo de massas que pode ali consumir, preferindo as pizzerias e geladarias e o falso artesanato ou as garrafinhas de limoncello.


(Capri, Setembro 2015)

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Intervalo

Um intervalo na reportagem italiana para protestar contra estas lagartas com ar fofinho e amoroso


que numa noite de voracidade transformaram um vaso de jarros neste desastre:

(Albufeira, Setembro 2015)

Arte antiga em Nápoles

Eu que adoro passear nos centros históricos das cidades, em Nápoles só me apeteceu sair dali o mais depressa possível. É feio, sujo e escuro. Mas tem o Museo Archeologico Nazionale (MANN), imperdível para quem quer ver ao vivo as estátuas, os frescos, os mosaicos, os objectos de uso comum retirados das escavações das cidades antigas circumvesuvianas, ainda que frequentemente haja muitas peças fora, a fazer uma ou outra exposição temporária: nesta altura, quase a deixar o ROM em Toronto, Pompei in the shadow of the volcano.

Estive no MANN há muitos anos, e só me lembro de que a sala onde se encontrava o retrato de César estava fechada. Protestei e expliquei que viera de Portugal especialmente para ver esse retrato, e consegui que me deixassem entrar. Desta vez não houve problema, vi-o e fotografei-o à vontade.


Há muito mais para ver, claro. O Hércules Farnese é extraordinário, aparentemente a descansar sobre os trabalhos completados mas, na realidade, em tensão, com a mão direita escondida atrás das costas a segurar os pomos de ouro das Hespérides, pronto a avançar a qualquer momento.


Este fresco não é particularmente bonito mas conta uma história: a da rixa que teve lugar em 59 dC junto do anfiteatro de Pompeios* entre pompeianos e visitantes de Nuceria a pretexto de uns jogos de gladiadores. Já havia hooligans naquela época!


Quanto a este famosíssimo retrato de uma jovem com um estilete e tabuinhas para escrever, é apenas (talvez) o mais bonito exemplo de uma atitude standard em retratos daquela época.



(Napoli, Setembro 2015)

Os Romanos, que não tinham obviamente fotografias das obras-primas originais para se deleitarem, copiavam-nas mil vezes para as terem por perto, em casa ou em espaços públicos. O próprio César, que era coleccionador de coisas belas, expunha-as em pórticos ou templos para que pudessem ser apreciadas pela população em geral.


*A tradução correcta do nome da cidade é Pompeios e não Pompeia, como me fez notar a Xantipa.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Longe da multidão


Se o que se deseja para umas férias é o afastamento, ir a Nápoles pode parecer estranho: haverá na Europa maior barafunda, maior confusão de trânsito, mais magotes de turistas a desembarcar de cruzeiros, mais lixo nas ruas?

Talvez não. O certo é ter levado três horas - três - do hotel a Anacapri, outras tantas (ao fim de semana!) a Positano. E não ter escapado às notícias sobre as vagas de refugiados e "migrantes" em demanda da Europa central.

Et pourtant...

Do varanda do quarto do hotel, na colina de Posillipo, a vista era esta


e era tão bela, tão serena, tão longe da multidão, tão a pedir fotos e mais fotos e horas esquecidas a admirá-la, que era mesmo o que se pedia a deus.




(Napoli, Setembro 2015)