terça-feira, 31 de julho de 2007

Real Climate

Há ou não há alterações climáticas devidas à actividade humana? As emissões de gases industriais têm ou não têm significado? Se não estávamos cá quando o planeta saltou de glaciação em glaciação, o facto de cá estarmos agora mudará alguma coisa?


Sem ser uma adepta das teorias de conspiração, confesso que receio a manipulação de notícias a que somos sujeitos a cada passo. A velha pergunta de Cícero, cui bono?, flutua diante de mim a cada alerta sobre a gripe das aves, sobre a deflorestação da Amazónia ou sobre os alimentos transgénicos.
Não duvido que os USA tenham chegado à Lua, mas dez mortos por infecção entre mil e duzentos milhões de chineses não têm existência estatística. Com isto quero dizer que não sou céptica por sistema e que acho que a globalização da informação é uma coisa fantástica e o desaparecimento das culturas específicas uma perda terrível.


Tudo isto a propósito do site Real Climate onde são debatidos desde há três anos argumentos sobre o aquecimento global. A visitar com uma bebida bem fresca ao lado do monitor.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Veja as diferenças

Alberto João Jardim faz a festa de inauguração de duzentos metros de estrada construída.
José Sousa faz a festa do
anúncio de um hospital cuja construção se iniciará, talvez, em 2009.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Desta não me tinha lembrado

Artigo do The Independent:
26 July 2007 11:59
Home > News > Europe

Rival accuses Portuguese PM of lying about degree
By Elizabeth Nash in Madrid
Published: 23 July 2007

As Portugal takes centre stage as holder of the EU presidency for six months, the Prime Minister, Jose Socrates, is embroiled in a row over the authenticity of his university degree.
Antonio Balbino Caldeira, an activist in the conservative opposition Social Democratic Party, has posted alleged discrepancies about Mr Socrates' academic record on a blog. The claims have received massive press coverage, prompting Mr Socrates, 49, to sue Mr Caldeira for defamation. Meanwhile, a criminal investigation opened last month to establish whether the Prime Minister is guilty of using false academic titles.
(...)
The saga throws doubt on Mr Socrates' personal integrity, and consolidates the dismal reputation of politicians among ordinary Portuguese. The indifference with which the allegations were received by most opposition MPs (they say it is a personal matter) fuel suspicions that Mr Socrates is not the only one to profess academic qualifications yet to be received.

(Nota: itálicos meus)

quarta-feira, 25 de julho de 2007

O mamarracho

Estão online as imagens do edifício que vai substituir o velho hotel Estoril-Sol, horroroso mamarracho que desfeava a baía de Cascais, em boa hora demolido.

Em boa hora? Se calhar não. O arquitecto Gonçalo Byrne explica o seu conceito:


(...) trabalhar o conjunto do Estoril-Sol Residence como uma espécie de grande escultura urbana à escala da topografia do vale. É um todo edificado que assume claramente a diferença entre a cota do mar e a cota alta do Vale, e que é modelado com movimento e aberturas suficientemente grandes para se interpenetrarem com aquela superfície verde do Parque, que se pode ver desde Cascais, desde o mar, como aumenta. Procurei terminar com a ideia de tampão, de torre. Regenerando o tecido da Falésia, o projecto tem quase mais uma dimensão paisagística, geográfica, que arquitectural. Dialogar com esta grande unidade entre a Falésia, o Vale e a Natureza, articulando-a como uma Escultura frente ao mar foi o desafio que encarei.

O resultado é este:

Dá vontade de chorar. Ou de enforcar o arquitecto que concebeu este horror e o autarca que autorizou a construção.

terça-feira, 24 de julho de 2007

The Publisher regrets

O blog The Caffeinated Librarian conta a história da partida que David Lassman, director do festival Austen em Bath, UK, pregou a 18 livreiros, enviando-lhes capítulos de obras de Jane Austen só minimamente alterados, como se fossem escritos por ele.

Lassman nem sequer alterou o início do romance "Orgulho e Preconceito", "It is a truth universally acknowledged, that a single man in possession of a good fortune must be in want of a wife", tornado ainda mais famoso pela adaptação televisiva que a BBC e a HBO fizeram em 1996. Limitou-se a alterar o nome do livro para aquele que tinha sido a primeira escolha de Austen: "First Impressions".

Lassman recebeu notas de rejeição, mas só um dos livreiros demonstrou ter reconhecido o "plágio".

Moral da história: vou mandar o meu livro para Alex Bowler da Jonathan Cape Publishers. Pelo menos ele lê os manuscritos.


A propósito de Jane Austen, cliquem na imagem para visitarem o site Republic of Pemberley, um forum que lhe é dedicado.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

O Dia Nacional da Bélgica

A Bélgica existe? Se calhar não. Aliás não existe rei da Bélgica mas sim rei dos belgas, o que talvez explique o desconhecimento dos dirigentes políticos belgas dos símbolos do seu país.

Notícia do Sol:

Comemorações do dia nacional
Futuro primeiro-ministro belga canta hino errado




Não é só em Portugal que a classe política é desprezível. Aqui, ao menos, ninguém se enganaria no significado do dia nacional, e as seguintes respostas seriam impossíveis:
1. O princípio do Verão;
2. A fundação de Portugal;
3. A implantação da República;
4. O nascimento de Mário Soares.

Hmmm?

domingo, 22 de julho de 2007

Rular?

Lido no blog do Nuno Markl:

Não há melhor maneira de entrar no ano 36 da minha vida......
do que a ver, numa sessão da meia-noite, como convém, o delicioso Death Proof, do Quentin Tarantino.
(...)
P.S. 4 - Kurt Russell rula (ah, grande Snake Plissken, que regressaste mascarado de serial killer rodoviário!)
P.S. 5 - Todas as incríveis, maravilhosas, casemos-com-elas-mesmo-que-nos-partam-a-espinha, fabulosas moçoilas de Death Proof rulam!

O que aconteceu ao verbo mandar? :-(

Os pedarii já têm escribas!

Notícia do Expresso (21/07/07, edição em papel, primeiro caderno, pg.11):

Reforma do Parlamento em marcha

A reforma do Parlamento aprovada esta semana pela AR aponta para o reforço das condições do exercício do mandato de deputado. Entre os documentos aprovados, da autoria de António José Seguro, figura a atribuição, a cada parlamentar, de um gabinete, assistente, caixa de correio dedicada e página individual (...) Para o democrata-cristão Pedro Mota Soares, a criação de 230 assessores "constitui um acréscimo de custos para o Parlamento que não faz sentido num momento em que se pedem sacrifícios aos portugueses". Seguro não concorda: "A eficiência não se obtém a custo zero", sustenta, explicando que os assessores entrarão por fases (...)

Ou seja, na verdadeira democracia até os pedarii tem escribas... como se se lhes exigisse mais eficiência do que um simples voto segundo as indicações do partido.

Nota: pedarii (lat. pes = pé) eram o senadores que em Roma não tinham categoria para falar mas podiam votar. As votações eram feitas, como ainda hoje em Inglaterra, por divisão da sala: quem votava sim encaminhava-se para o lado direito; quem votava não, para o esquerdo.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

E se for dúzia e meia?

Notícia do Público:
UE estuda formas de aumentar recursos humanos no sector
Mariano Gago: "Falta meio milhão de investigadores na Europa"
20.07.2007 - 17h25 Lusa

O ministro português da Ciência, Mariano Gago, afirmou hoje que a Europa precisa de mais meio milhão de investigadores, anunciando que os Estados-membros da União Europeia (UE) estudam formas de aumentar os recursos humanos no sector e de atrair imigrantes qualificados.

Meio milhão? E se forem vinte mil muitíssimo bons? Ou mil ainda melhores? Uma dúzia de génios? Bem, vá lá, dúzia e meia, chega?
Cheira-me que os investigadores, como as rosas, não se compram às dúzias.

No cume do K2


Notícia do Público:

Segunda montanha mais alta do mundo
João Garcia no cume do K2
20.07.2007 - 14h18 Luís Francisco

O alpinista português João Garcia já alcançou o cume do K2 (8611m), a segunda montanha mais alta do mundo, integrado num grupo numeroso de montanhistas de vários países que uniram esforços na recta final da subida.

O jornalista Aurélio Faria tem acompanhado no campo base esta expedição ao cume do K2, a segunda montanha mais alta do mundo, com 8611m de altura, situada no Paquistão.

Para quem não saiba, o João Garcia, o primeiro português a chegar ao cume do Everest, onde perdeu pelo frio as extremidades dos dedos, o nariz e o seu amigo e companheiro de escalada Pascal Debrouwer, tem o projecto de escalar as quatorze montanhas com mais de oito mil metros do planeta, e com o sucesso do K2, hoje pelas 16h00 locais, já vai no nono cume. Suspeito que acumula com este o projecto de escalar a montanha mais alta de cada continente.

Tenho uma grande simpatia e admiração por este homem corajoso e determinado, em cuja cirurgia reparadora participei um bocadinho, e fico muito contente quando ele consegue mais uma vitória, que, como ele próprio diz, "não é atingir o cume, mas regressar cá abaixo são e salvo".

Parabéns João!

domingo, 15 de julho de 2007

Allgarve

Notícia do Observatório do Algarve:

Algarve deve atrair turistas classe alta e não de massas
15-07-2007 11:57:00
Os turistas que interessa atrair para o Algarve são de classe alta, para permitir mais rentabilidade, e não turismo de massas, defendeu o ministro Manuel Pinho em Faro, no lançamento do Allgarve.
(...) "Portugal é um país de reduzida dimensão e que está longe dos grandes centros da Europa", disse o ministro, explicando que "são turistas mais exigentes que trazem mais dinheiro para o país, e que permitem mais rentabilidade aos hotéis".
(...)
Manuel Pinho está empenhado em passar uma imagem do Algarve para o exterior que vá além do mar e sol. "Mar, sol golfe, cultura, congressos. É essa imagem transversal que se pretende passar", disse(...).
(...)
O ministro revelou-se satisfeito com o conjunto de eventos culturais que o Algarve está a oferecer esta época e mostrou-se surpreendido por o espectáculo de ópera "Carmina Burana" já estar ter esgotado.
"Durante três dias os bilhetes estão esgotados, o que é surpreendente. No início do Verão as pessoas vêm para a praia e durante três dias esgotam um espectáculo exigente como é este", notou Manuel Pinho.
O ministro da Economia deu garantias de que o objectivo da campanha promocional 'Allgarve' era "estender de ano para ano a época em que se realiza este evento para reduzir a sazonalidade".
Convicto de que a Economia tem de ser olhada de forma transversal, Manuel Pinho disse que "a cultura é uma forma de atrair portugueses e estrangeiros para o Algarve e para outras zonas do país".

Parece-vos bem? Também a mim. Porém, sendo Portugal "um país de reduzida dimensão e que está longe dos grandes centros da Europa" e tendo o Algarve uma imagem fraquíssima, atraindo hoje em dia quase só ingleses de classe baixa em busca de sol e cerveja a preços reduzidos, reverter esta situação não será fácil a não ser que nos empenhemos numa real mudança de estratégia que implique cuidado com o património, controle do crescimento urbano, criação e manutenção de eventos culturais, e muitos milhões de euros para marketing lá fora.
Isto não é compatível com aquilo que se vê: que o Centro Cultural de Belém deixou de ter capacidade para manter a Festa da Música, que o Teatro Municipal de Faro tem um auditório pindérico e desconfortável, que nos terrenos verdes de Vilamoura se semeiam gruas, que se transformou a Praia de Rocha naquilo que hoje é, sem rocha sequer, com uma Fortaleza sem sentido porque deixou de estar sobranceira à foz do rio, que os centros históricos estão reduzidos à mínima expressão e cercados por prédios de quinze andares semi-vazios.

Mas há mais: a mesma notícia, no
Sol, acrescenta uns dados:

Manuel Pinho
Turismo em Portugal vive «o melhor momento de sempre»
(...) Para sublinhar essa aposta na qualidade, ministro da Economia e secretário de Estado do Turismo apresentaram um filme sobre oito grandes investimentos turísticos, sete deles de cinco estrelas, cuja conclusão está prevista para os próximos dois anos.
Estes projectos estão em fase de implementação, totalizando 1.400 milhões de euros com a capacidade para gerar cerca de 6 mil postos de trabalho.
Os empreendimentos permitirão ao Algarve duplicar a sua oferta de cinco estrelas até 2010, dando cobertura a uma das grandes apostas de oferta turística na região, que é o golfe, que tem actualmente 34 campos a serem explorados, cinco em construção e 39 projectos para novos campos.

Ficamos esclarecidos. Afinal o caminho é o mesmo: o do betão, e o sinistro da Economia não fazia mais do que repetir lugares-comuns.
Há um ditado portugês que diz que "água mole em pedra dura tanto dá até que fura". Mas há coisas mais duras que a pedra: as cabeças que tomam decisões neste país.
Arre!

sábado, 14 de julho de 2007

YouTube

Tenho passado horas sem conta no YouTube a ver clips, sobretudo de ópera mas não só, e tenho encontrado coisas deliciosas que tenho apontadas em playlists.
O problema é que de vez em quando há clips que desaparecem, ou porque estão sujeitos a direitos de autor ou porque as contas de quem os pôs online estão suspensas (possivelmente também por conflitos legais).

Finalmente ontem encontrei vários sites a partir dos quais é possível descarregar os clips (a não ser que sejam de visionamento privado). É preciso software especial para ler os ditos clips, que estão em formato .flv (= flashmovie videos), porque o Windows Media Player não o faz, mas também é possível descarregar um leitor de .flv. E tudo isto gratuitamente.

Uma das coisas maravilhosas na Web é o que se consegue fazer grátis ou quase grátis. Mesmo com a desculpa de que a publicidade nos sites é que paga, há muita gente a gastar o seu dinheiro para o divertimento e a aprendizagem dos outros.
Bem hajam.

Alguns endereços úteis:

quarta-feira, 11 de julho de 2007

5 Livros 5 Blogs

José Teófilo Duarte, do BlogOperatório, teve a gentileza de me incluir na cadeia 5 Livros 5 Blogs.
Como estão à vista os dois livros que estou a ler, e já comentei
aqui, aqui e aqui os três que li mais recentemente, tive de ir à estante ver quais os que ainda estavam por arrumar e que valeu a pena ler.
Ei-los:

Caesar's Legacy - Civil War and the emergence of the Roman Empire, por Josiah Osgood, um estudo sobre o período entre o assassinato de César e o advento de Augusto, com acento nas proscrições e na emergência de novas classes sociais;


Underdog, por Laurie Berenson, um policial de uma série ambientada no mundo das exposições caninas, com uma heroína que é mãe divorciada de um garoto de quatro anos e cujo namorado se parece com o Mel Gibson (aaaaahhh...);

The curious incident of the dog in the night-time, por Mark Haddon, a história muito bem contada de um adolescente autista, inteligente e corajoso, a partir do momento em que decide descobrir quem matou o cão da vizinha;

Holy Cow! por Sarah MacDonald, uma perspectiva da vida na Índia por uma expatriada australiana;

A mais alta solidão, por João Garcia, um relato da aventura que levou o autor ao cume do Everest. Por casualidade, li primeiro o segundo livro dele, Mais além - Depois do Evereste. Gostei de ambos ainda que não sonhe nem de longe chegar àquelas alturas, e embora um colega meu diga que "o problema com este pessoal que vai ao fim do mundo é que quando alguma coisa corre mal é preciso ir mais alguém ao fim do mundo buscá-los..."

E agora passo o testemunho
ao José Botelho Leal d'
A Voz da Abita;
à Carolina do
Ambiguitas Patens;
ao Rafael Lima do
Na Cara do Gol;
ao Zé (do Beco) d' A Rua do Beco;
ao
Luís Filipe Menezes ... ? !

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Novas 7 Maravilhas do Mundo

Porque é que não se diz que esta votação, como outras, "vale o que vale"? Afinal, votou quem votou, e ganhou quem ganhou. Os responsáveis pelo turismo local estão contentes, a UNESCO preocupada, o povo teve o pagode.

Brasileiros, peruanos e indianos votaram aos milhões e tiveram o seu sucesso. Os europeus, inventores do conceito e habituados a terem mais maravilhas por quilómetro quadrado do que qualquer outro continente, encolheram os ombros e devem até ter ficado espantados por ver o Coliseu na lista final.

Cada um terá com certeza a sua lista pessoal. A minha, pelo menos hoje, seria assim:



Disparates

Mais um sinistro abriu a boca para juntar um disparate à lista que já vai longa. Já foi na semana passada que o Público noticiou:

Pescadores contra redução das quotas de pesca
Ministro da Agricultura e comissário das Pescas vaiados na lota de Matosinhos
03-07-2007 10h26 - Por Lusa

O ministro da Agricultura, Jaime Silva, e o comissário europeu das Pescas, Joe Borg, foram hoje recebidos na lota de Matosinhos com protestos dos pescadores locais.
No início da visita, o presidente do Sindicato de Pescadores do Norte, António Macedo, confrontou Jaime Silva com a redução das quotas de pesca e com a sucessiva perda de competitividade do sector, bem como com o futuro da Docapesca de Matosinhos.Em resposta, o ministro disse que está em curso um estudo encomendado pelo Ministério da Agricultura para definir a solução a dar à Docapesca. Contudo, Jaime Silva adiantou que o Governo preconiza a privatização ou a constituição de uma organização de pescadores.O assunto será ainda discutido entre os sindicatos e o Governo, referiu o ministro. Ambas as soluções foram contestadas pelo sindicato, numa troca acesa de palavras entre os pescadores e Jaime Silva.No final desta interpelação feita ao ministro, um pescador reclamou, sobretudo, contra a política das pescas, ao que o ministro respondeu: "Se quiser, peça para sair da União Europeia".

E toma.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Against the Ropes

Ontem vi um filme na televisão (coisa rara), com a Meg Ryan a fazer a agente de um boxeur.
Mais uma vez me deparei com o que me é completamente incompreensível, o prazer na violência... dos outros.
Os boxeurs são os gladiadores do pós-1900. As armas são diferentes, mas a ideia é a mesma, e o treino provavelmente semelhante. De igual modo são o lumpen e de igual modo têm fãs de todas as classes sociais, sobretudo na América, penso eu, onde o box é muito mais apreciado que noutros lados do mundo. Pode-se sem dúvida estar atento e admirar a técnica dos lutadores, e eles são, ao contrário dos touros, dos cães e doutros intervenientes em combates violentos, humanos com consciência do que estão ali a fazer.
Por esse motivo, antes um combate de box do que uma tourada ou uma luta de cães ou galos.
Mas o que me faz confusão e me faz sentir que eu e os fãs do box pertencemos a subespécies diferentes da humanidade é o prazer e a naturalidade com que as pessoas sentadas na assistência aplaudem, encorajam ou apupam as duas pessoas que no ringue se destroem mutuamente ao ponto de acabarem de cara inchada, nariz partido, olhos fechados, lábios feridos, incapazes de se levantarem.
Como é possível ser agente de um boxeur? Como é possível ser amigo de um boxeur?

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Assur ledaber lashon harah

A Internet tem esta coisa: quando se começa a procurar, acaba por se encontrar. Eu já passei muito tempo em sites onde encontrei pequenas tribos com os mesmos interesses. Nas últimas semanas tenho andado a [navegar? surfar?] passear pelos blogs lusitanos e tenho sido levada a paragens de que não suspeitava mas que vêm ao encontro das minhas questões.

Do blog O Cachimbo de Magritte passei para Keren Malki, um site e uma fundação criados em memória duma jovem israelita, Malka Chana Roth, que morreu aos quinze anos num atentado bombista que vitimou mais quatorze pessoas e feriu 130 num restaurante em Jerusalém em Agosto de 2001.

O que me tocou foi a frase que Malki escrevera no seu telemóvel: em hebreu, o correspondente a "Não se deve falar mal dos outros". O que me aborreceu foi que, depois de ler vários textos no site e ver várias fotos, cheguei à questão crucial: o que a Fundação acha que podemos fazer de construtivo.

"Um acto de chesed", ou seja, de caridade, de generosidade desinteressada. Ou não. Porque "O que se compadece dos pobre empresta o seu dinheiro ao Senhor, e este lhe tornará com juros o que ele lhe tiver emprestado" (Provérbios, 19:17). Por isso, que tal uma doaçãozinha dedutível nos impostos?

Tudo bem. Eu volto aos blogs lusitanos. E encontro, no Arrastão (um blog descaradamente bloquista), o seguinte

Está bem. Sejamos modestos. Fiquemos em casa.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Eats Shoots and Leaves



Pode um livro sobre pontuação ser divertido?

Pode pois. O título de Lynne Truss dá o mote, com a explicação na contra-capa.


Panda. Large black-and-white bear-like mammal, native to China. Eats, shoots and leaves.


Esta vírgula intrometida faz toda a diferença entre um animal pacato e vegetariano e um assassino potencial.
Ao longo de pouco mais de duzentas páginas, o uso de apóstrofes, parênteses, hífens e outros pontos-e-vírgulas é dissecado, com exemplos de textos literários e de comezinhos SMS, e apresentado com muito humor. A autora oferece um kit de correcção de pontuação - pontos e vírgulas a colar nos textos onde fazem falta, e pequenos pandas para tapar a pontuação excessiva.

Truss diz que em geral a pontuação se tem vindo a perder, e mais ainda desde a vulgarização da Internet e dos telefones móveis; mas não só ela: os espaços entre as palavras parecem igualmente estar em vias de extinção. Haverá talvez um retorno ao passado e aos scripta continua Romanos (e não só) em que as palavras e até as abreviações se encostavam em frases de tirar a respiração.

E, pergunto eu, com os écrans e a função scroll não estaremos a deixar também os códices e a voltar aos rolos de papiro?