quarta-feira, 27 de junho de 2007

O Estado Português da Índia

Acabei de ler o livro de Francisco Cabral Couto "O Fim do Estado Português da Índia".
Couto foi o comandante da Companhia de Caçadores 10 baseada em Navelim. Participou na execução do plano de defesa do estado de Goa, e como tal foi testemunha da trapalhada em que tal plano se transformou por falta de homens, de armamento e de comunicações.
Do seu relato o que mais impressiona é a mensagem de 14 de Dezembro de 1961 (4 dias antes da invasão indiana) do Primeiro Ministro e Ministro da Defesa, Salazar, ao Governador-Geral de Goa. A estratégia do Governo é evidente nestas frases:


"Todos temos consciência da modéstia das nossas forças mas, podendo o Estado vizinho multiplicar, por factor arbitrário, as forças de ataque, revelar-se-ia sempre no final grande desproporção.
(...)
É horrível pensar que isso pode significar o sacrifício total, mas recomendo e espero esse sacrifício como única forma de nos mantermos à altura das nossas tradições e prestarmos o maior serviço ao futuro da Nação. Não prevejo possibilidades de tréguas nem prisioneiros portugueses, como não haverá navios rendidos, pois sinto que apenas pode haver soldados e marinheiros vitoriosos ou mortos."


Em resumo, Salazar queria o massacre dos portugueses na Índia para depois apresentar Portugal como vítima e obter simpatia e ajuda da comunidade internacional (ou pelo menos dos Estados Unidos e do Reino Unido) para manter as restantes colónias.
Porque não antevia qualquer vantagem em manter as tropas minimamente armadas, retirou homens, carros e armas da Índia e enviou-os para Angola e para Timor. E em vez de granadas mandou para a Índia... chouriços!

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