sábado, 30 de agosto de 2008

À caça no Alaska

Tenho feito alguns posts sobre Barack Obama não porque o apoie (obviamente, não tenho que apoiar candidatos à presidência de um país onde não vivo) mas porque neste circo eleitoral é sem dúvida o candidato mais visível.

Se a América precisa de mudar e em quê, talvez estejamos de acordo: embora haja quem condene a visão de aumento do papel do Estado que Obama propõe, talvez essa condenação faça mais sentido deste lado do charco, onde parece claro que tanto os Estados como essa instituição supra-estatal que é a União Europeia têm demasiado peso na vida dos cidadãos. Do outro lado talvez isso não seja assim - embora não deixem de ser fúteis promessas como a de recrutar um exército de novos professores, pagar-lhes salários mais altos e dar-lhes mais apoio, ou a de pagar as despesas que propõe acabando com as lacunas na legislação empresarial e com os paraísos fiscais.

Anyway, o que me leva hoje a este post é a escolha vice-presidencial de McCain. McCain é o que é: um fraco candidato à presidência, que não consegue agradar a ninguém, nem aos Republicanos convictos a quem tem vindo a tentar colar-se durante a campanha, nem aos mais liberais que o viram renegar algumas posições mais independentes.

Agora atirou este osso às mulheres, mas é um truque tão óbvio que não pode resultar. Al Jazeera chama-lhe condescendente, e diz que há quem vá mais longe e o considere um insulto à inteligência das mulheres. Para além disso, para quem há muitos meses pergunta, incluindo em videos de campanha lamentáveis, se o adversário estará pronto para liderar, é pelo menos curiosa a escolha para vice-presidente de uma pessoa com a (falta de) idade, experiência e mundo de Sarah Palin*.

(Pentágono, Washington DC, Junho 2008)


*Cuidado: a senhora caça, e há uma foto no site indicado chocante para os amigos dos animais.

Fotografia em Faro

Notícia do Observatório do Algarve:

Faro: workshop de fotografia digital
28-08-2008 13:56:00
A capital algarvia vai receber um workshop de fotografia digital sob a orientação do fotógrafo José Goulão. (...)
O workshop de Fotografia Digital vai decorrer nas instalações da Educaplus – Learning Center em Faro, nos dias 13 e 14 de Setembro.
(...)As inscrições são limitadas a 12 participantes e podem ser realizadas através do telefone 91 808 0 808 ou no site http://photoworkshops.wordpress.com.


Não sei se vou conseguir participar: o mês de Setembro chama-me para tanta coisa!

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A via da floresta

O Miguel Castelo Branco, no seu blog Combustões, que leio sempre com interesse e prazer embora nem sempre concordando, afirma gostar do major-general Chamlong Srimuang, que descreve assim:

De origem social modestíssima, veterano da guerra do Vietname e Laos, homem profundamente religioso, ascético, vegetariano, abstémio e com voto de castidade, (...) só consome uma refeição por dia - frutos, vegetais e leite - dorme em esteira e faz meditação em severos retiros espirituais.

(Chakri Maha Prasat, Grand Palace, Bangkok, Outubro 2008)

A minha primeira reacção foi perguntar-me se este tipo de homem, que exige tanto de si próprio e se afasta tanto da natureza humana, não merecerá mais temor que admiração. Se não ficaremos melhor servidos com homens como nós, que comem peixe e carne e gostam de sexo.
Mas depois lembrei-me de alguns homens como nós, de Hitler e Mao a Berlusconi, Sarkozy e Gordon Brown - e lembrei-me de Gandhi, e se calhar ficamos melhor servidos com quem exige o melhor de si. Porque se calhar é do melhor que precisamos.

Perhaps he can

Li o discurso de Barack Obama na Convenção do Partido Democrático. Na minha opinião é um discurso muito bom, feito à medida de um comício de 75,000 pessoas mas para ser em seguida transcrito, lido e analisado por jornalistas*, comentadores e adversários políticos.
Por isso foi escrito para emocionar, mas também para contrariar quem habitualmente o acusa de vacuidade. Apresenta meia dúzia de objectivos políticos, embora não aprofunde o modo ($) como serão atingidos.
Aliás tudo o (pouco) que vi desta Convenção foi muito bem pensado e encenado como um grande espectáculo mediático, provavelmente quase tanto quanto a cerimónia inaugural dos Jogos Olímpicos chineses...

De qualquer maneira, for what it's worth, eis a promessa de Barack Obama ao povo americano, e que qualquer povo neste início de século gostaria de ouvir e ver cumprir:


It's a promise that says each of us has the freedom to make of our own lives what we will, but that we also have the obligation to treat each other with dignity and respect.
(...) Ours is a promise that says government cannot solve all our problems, but what it should do is that which we cannot do for ourselves, protect us from harm and provide every child a decent education, keep our water clean and our toys safe, invest in new schools and new roads and new science and technology.
(...) [A] tax code that doesn't reward the lobbyists who wrote it, but the American workers and small businesses who deserve it.
(...) Individual responsibility and mutual responsibility, that's the essence of America's promise.
(...) [T]his election has never been about me. It's been about you.
(...) [A]t defining moments like this one, the change we need doesn't come from Washington. Change comes to Washington.


O resto pode ler-se aqui, ou ver-se e ouvir-se aqui, enquanto esperamos pela resposta dos Republicanos.

*Obrigada pelo link, Álvaro.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Isto é um massacre

O Real Madrid bate o Sporting 5-1 ao intervalo. Cada remate um golo. A defesa do Sporting parece um passador.

:-(

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Depois do amor

A Io pergunta:

Para onde vai o amor, depois do amor acabar?

Fez-me lembrar de um pequeno poema que escrevi há muitos anos:

Eu creio que o amor é sempiterno
e amei, depois de ti, sempre a ti mesmo:
o sol do meu Verão, em sóis de Inverno.

28.02.92


Mais recentemente, depois da morte de cada um dos meus cães, fiquei ainda mais com a impressão de que há uma dose certa de amor que não se esgota com a perda extemporânea de um ente amado, mas deve ser usada na sua totalidade - se for caso disso, sendo transferida para outro objecto de amor semelhante.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Insight

The bull will die, as we all do. The art and beauty is in how it meets its end, not in what the man does.
Christopher North, comentando este post.

Devia ser assim que os antigos Romanos viam os combates de gladiadores.

Estava-se a ver

Parabéns ao Nelson Évora pela sua vitória no triplo salto.

O problema agora é ter de aturar os lampiões* nas próximas semanas...


*Já começaram aqui, aqui, aqui...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Verão quente

No princípio de Junho o presidente do Instituto de Meteorologia (que não é meteorologista) previa que este Verão poderia ser o mais quente dos últimos vinte e cinco anos, com meio grau acima das temperaturas médias.

Na realidade, as noites do Algarve têm sido frias, a água do mar está a 19ºC, e as nortadas são constantes. Raramente tem sido possível jantar ao ar livre.

Onde está o aquecimento global quando precisamos dele?

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A profecia de Napoleão

Disse Napoleão I: Quand la Chine s'éveillera, le monde tremblera.

Não tenho visto os Jogos Olímpicos, mas vou tendo uma ideia do que se está a passar.

Sei que a cerimónia de abertura foi no estilo habitual das festas de propaganda dos regimes de partido único, ou seja, centenas ou milhares de pessoas a fazerem a mesma coisa ao mesmo tempo, tipo formigas descerebradas.

Sei que os portugueses, além de não ganharem nada, dão explicações estúpidas - à excepção dos verdadeiramente bons, como Vanessa Fernandes, que se esforçou e ganhou uma medalha de prata (parabéns, Vanessa!), ou Francis Obikwelu, que não ganhou e pediu desculpa.

Sei que um americano de perna curta ganhou oito medalhas de ouro na natação o que acho notável e alguns acham que é um milagre dos fatos de banho made in Portugal.

Mas sobretudo sei que os chineses têm esmagado toda a gente, e nomeadamente os Estados Unidos da América, ganhando a maioria das medalhas de ouro. E isto tem um significado para além do esforço dos atletas individuais ou das estruturas desportivas. Isto quer dizer que os chineses ambicionam ser os melhores do mundo, e não estamos a falar de jogos.

Os chineses foram aqueles tipos que faziam umas imitações de camisolas Lacoste que se deformavam à segunda lavagem e relógios Rolex que perdiam o dourado ao segundo mês de uso. Hoje são os que inundam o mundo com produtos baratos e de fraca qualidade. Mas não vai ser sempre assim, até porque graças à globalização os trabalhadores chineses vão ficar mais caros quando começarem a exigir os mesmos direitos dos ocidentais. Por isso, se os empresários chineses quiserem continuar a vender, têm de mudar de estratégia.

Já estão a mudar.

Os chineses agora querem fazer bem, ou antes, querem fazer melhor: melhor do que os outros. Já não se contentam com medalhas de lata, nem sequer lutam por medalhas de bronze ou prata: essas podem ficar para quem as quiser. Os chineses estão a lutar pelo ouro. Estão a lutar pela excelência. Não só a nível desportivo: até mesmo as aldrabices na cerimónia de abertura foram feitas com recurso às tecnologias em que o ocidente detinha a primazia.

E é um objectivo nacional. Os chineses pretendem, daqui a dez anos? vinte anos? ser a maior economia mundial. Estão a lutar por isso.

A China acordou. Treme, mundo.

domingo, 17 de agosto de 2008

Amigos outra vez...

Notícia de Al Jazeera:

Sunday, August 17, 2008
16:23 Mecca time, 13:23 GMT

News Africa
Tsvangirai aims for premiership

Morgan Tsvangirai, Zimbabwe's opposition leader, has proposed a power-sharing deal that would see Robert Mugabe remain the country's president, according to a spokesman for the opposition Movement for Democratic Change (MDC).
Tsvangirai would become prime minister, according to the deal (...)


São estas coisas que eu já espero, mas que continuam a meter-me nojo. A oposição grita Aqui d'El-Rei que aquele bandido está a destruir a nação e a matar o povo, mas basta que o bandido lhe ofereça um cheirinho de poder para todas as alianças se tornarem possíveis.

Caças ao sul

Por um momento pensei que íamos invadir Marrocos.
Afinal era o festival aéreo, mas as gaivotas e o meu cão assustaram-se bué.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Comendo um gelado na marina

A marina de Albufeira é uma taveirada em jeito de Lego com cores de Arlequim, e um flop comercial. Apartamentos e moradias foram comprados por investidores a pensar nas mais-valias na altura da revenda; calculo que o BPN tenha ficado dono de uma boa parte por mor das hipotecas.


(marina, Albufeira, Agosto 2008)

As lojas não abriram, por falta de consumidores, e estes não vão lá porque não há nada para consumir. Ao nível da rua funciona um café/pastelaria, a mercearia fechou, e suponho que os frequentadores do café vão comprando uns jornais na loja do lado. Ao nível dos barcos, dois ou três restaurantes vão tentando sobreviver, e a geladaria Nosolo Italia é a única âncora de todo o empreendimento.

Foi aí que me encontrei ontem com a Moura Aveirense. Estivemos numa longa, interessante e divertida conversa, como o prova o facto de, pela primeira vez, ter pago o estacionamento, que é grátis nas primeiras três horas (apesar disso, os carros continuam a parar fora, em cima das ciclovias).

Os gelados da Nosolo Italia são uma delícia para gulosos. Ainda não tive a oportunidade, por impossível que pareça, de experimentar a concorrência de origem algarvia, a que já me referi: A Frígida Olhanense.
Juro que se chama assim.

Ah, e para quem quiser saber, há barcos na marina, e muitos, praticamente ali amarrados para o resto da vida. Mas isso não interessa nada: em Portugal as marinas e os campos de golfe não têm a utilidade evidente: são apenas desculpas para se construirem mais casas em redor.

Vivaldi por Carmignola para a Moura Aveirense:

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Toca e foge

Ontem à noite vi uma coisa que nunca tinha imaginado poder ver: à entrada de Albufeira, numa fila compacta, o carro à frente do meu bateu na traseira do carro à frente dele... e fugiu. Não sei como conseguiu naquelas circunstâncias, mas fugiu.

Só sei que era um carro pequeno (económico, citadino, whatever), de matrícula amarela, julgo que francesa e terminando em 25. Não estamos a ver a GNR a percorrer Albufeira à procura de um carro assim tão mal identificado, pois não? Menos ainda ontem, quando havia centenas de carros a mais, dos bimbos que tinham vindo assistir ao
espectáculo do José Cid.

Tive muita pena dos donos do outro carro. Ficaram com a noite e as férias estragadas, e perdida a fé na natureza humana.

Olha o submarino

No blog de Nuno Garoupa (via Desmitos):

[Portugal] é talvez a primeira economia desenvolvida que se pode designar de economia submergente. Tal como manda a definição, a economia portuguesa vive um processo de empobrecimento continuado, sustentado e possivelmente irreversível.

Proibir, proibir

Manuela Ferreira Leite, de quem nem sequer gosto particularmente, escreveu este sábado no Expresso:

É um Estado em que tudo é proibido com excepção do que ele próprio autoriza, quando devíamos ter um Estado em que tudo devia ser autorizado, desde que a lei o não proibisse.

Concordo inteiramente. Só que para isso, parece-me, teríamos de viver na Dinamarca. Ou na Holanda.

sábado, 9 de agosto de 2008

Aviões a milhas

Notícia do Diário de Notícias:

Lisboa
07.08.08
NACIONAL

Cavaco manda fechar espaço aéreo em Albufeira
LICÍNIO LIMA
Segurança. Aviões proibidos de sobrevoar casa de férias do Presidente
O Presidente da República (PR) está em férias no Algarve e, por razões de segurança, mandou reservar o espaço aéreo na região de Albufeira. Por cima da sua casa, localizada da praia de S. Rafael, ninguém voa. As aeronaves, não autorizadas, têm de passar a uma distância de uma milha (cerca de dois quilómetros).


Será por isso que todo o dia passaram por cima da minha casa?

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Tribalistas

Os humanos são tribalistas. É normal: são-no igualmente numerosas espécies animais. O grupo é, inicialmente, uma protecção, depois, uma força, uma facilitação, e finalmente uma identificação. Aquele é da tribo sabina, o outro é osco. Cada tribo tem características próprias, as mais básicas dependentes de forma directa do seu território e, em consequência, do seu modo de vida, outras evoluindo a partir daquelas conforme a evolução e especialização do grupo, e outras ainda inventadas pelo grupo, ou por indivíduos dentro do grupo e por este aceites, para o diferenciar dos outros, como os tartans dos clãs escoceses.

Nada mudou na nossa época. Uma boa parte da nossa identidade ainda nos é dada pelo grupo a que pertencemos ou que nos exclui. E da mesma forma usamos adornos para exprimirmos a nossa filiação tribal, para nos reconhecermos e diferenciarmos. Penso que os nossos adolescentes assumem isso melhor do que os mais velhos que ainda foram embalados em sonhos igualitários. Por isso eles exigem marcas aos pais.

Na realidade as marcas de roupas que vestimos, a cor e o corte de cabelo, os acessórios, a maneira como falamos, o bairro onde moramos, o carro e o cão, significam muito mais do que simples factos, e todos nós rapidamente nos medimos e avaliamos através desse tipo de dados aparentemente fúteis mas imediatos.

Através deles inferimos as coisas que temos em comum e as diferenças irreconciliáveis, e por conseguinte as atitudes que podemos ou não devemos tomar. E assim conseguimos viver mais ou menos em harmonia, os de Cascais e os de Almada, os do rock e os da ópera, os do Sporting e os do Benfica, os que odeiam o sr. Sousa e os que têm por ele... o máximo desprezo ;-)

Memória* de Adriano

Tantôt ma vie m'apparaît banale au point de ne pas valoir d'être, non seulement écrite, mais même un peu longuement contemplée, nullement plus importante, même à mes propres yeux, que celle du premier venu. Tantôt, elle me semble unique, et par là même sans valeur, inutile, parce qu'impossible à réduire à l'expérience du commun des hommes.

Marguerite Yourcenar, Mémoires d'Hadrien, Paris, 1972, pg 43

*Não é engano: o título deste post é mesmo memória no singular.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Os "agostinhos" Parte II

O João Quaresma teve a gentileza de responder ao meu post com outro, e eu vou continuar aqui a conversa.

Ele acha que para quem passa o ano rodeado de betão, saberia bem chegar a uma costa que estivesse preservada e eu discordo: saberia bem a ele, a mim e outras pessoas como nós, mas eu ainda não me esqueci de, há muitos anos, ter descoberto uma espécie de parque de campismo espontâneo sobre a praia de Carcavelos onde os campistas tinham arrumado as suas tendas e caravanas em ruas a que tinham dado nomes e tudo!
O povo gosta de viver em tribo. É natural, não tem mal nenhum, mas isso hoje traduz-se no transporte do peso urbano habitual para onde quer que se instale o dito povo. Ou seja: se vive todo o ano no Cacém, ou na Amadora, em Agosto vai para Armação de Pêra ou para Quarteira. De pombal para pombal, é igual.

Os portugueses que passam férias em Espanha, no Brasil, Caraíbas e Cabo Verde não vão lá pelas paisagens preservadas: vão porque os outros vão, ficam nos mesmos resorts, bebem as mesmas bebidas e pagam barato. Porquê? Porque nesses países o trabalho é barato - e em relação à Espanha, cujos salários são europeus, fica aqui ao lado, poupa-se o avião, e lá os preços também estão esmagados pelo excesso de oferta - veja-se o que se passa em Maiorca ou nas Canárias.


Playa del Inglés, Gran Canaria, foto hotels4u

A propósito de preços o João está um bocadinho desactualizado (aliás muito do que ele diz, não sendo hoje correcto, já o foi): comprar uma semana de férias no Algarve é tão barato em Lisboa como em Londres, basta fazê-lo pela Internet, que não descrimina a origem do comprador.

Outro aspecto em que também está desactualizado é quando diz que muito frequentemente o português é mal-vindo e tratado como turista de 2ª ou 3ª, e precisamente porque está certo quando diz que quem dá mais dinheiro são os portugueses. Em grande parte dos casos isto é verdade: longe vão os tempos em que os turistas ingleses traziam dinheiro, e os hoteis e restaurantes desabafam que hoje nem uma água bebem às refeições, enquanto os portugueses comem e bebem sem contar os cêntimos. Dito isto, é sempre melhor, no Algarve como no Estoril, "auditar" a conta antes de a pagar...

E subscrevo integralmente a conclusão do João, que transcrevo com a devida vénia: Não se pense que eu não gosto do Algarve ou dos algarvios: gosto e muito. E por isso tenho imensa pena pelo muito que tem sido estragado. Se tivesse havido bom senso e bom gosto, seria a Califórnia da Europa, com 1/10 dos turistas e o dobro do rendimento.

Flores iguais...

... àquela que o Paulo postou aqui?


(Guia, Julho 2008)

O peso de Obama

Já há anos parafraseávamos o Astérix e o seu ils sont fous ces romains, aplicando-o aos americanos. Apesar de sabermos que foram eles que nos livraram de várias situações complicadas, nomeadamente do nazismo ou da ameaça soviética, não conseguimos ter deles a imagem dos clássicos heróis sensatos, inteligentes e confiáveis.
São, aos nossos olhos, cow-boys impulsivos, que disparam quando provocados e às vezes, para nossa sorte, acertam nos verdadeiros inimigos.

Hoje, através do blog de Dan Hannan, descobri esta pérola no Wall Street Journal: em resumo, os americanos andam preocupados com o peso do senador Obama, e perguntam-se se não será demasiado magro e em boa forma para ser presidente dos Estados Unidos.

O que verdadeiramente me aborrece é que o homem, mais uma vez, é capaz de deixar a sua rotina no ginásio e as suas saladas com rúcula e começar a comer galinha frita para agradar ao eleitorado mais primário.


(room service no hotel Four Seasons, New York City, Junho 2008)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Os "agostinhos"

Caem no Algarve no mês de Agosto; na realidade julgam que o Algarve só existe no mês de Agosto. Enchem supermercados e restaurantes e protestam contra as multidões; nos dias em que chove engarrafam a EN125 a caminho dos centros comerciais, e nos dias de sol estendem-se na areia e só saem da praia com queimaduras do segundo grau. Acham a água fria mas dizem aos amigos que ficaram em casa que está óptima. Ferem as pernas ao saltar para as piscinas e as mãos a fazer arranjos caseiros; queimam-se nos churrascos e engasgam-se com as espinhas do peixe fresco. Acham os hoteis caros e os apartamentos bolorentos. Estranham os letreiros e as ementas em inglês porque não entendem que no resto do ano quem mantém a engrenagem são os turistas estrangeiros.

Não sabem como era a praia da Rocha quando havia a rocha e a Fortaleza vigiava a entrada do Arade, nem como era o centro de Albufeira ou o mercado do peixe; não se lembram das fábricas de conservas nem das carroças que faziam o caminho até às praias. A electricidade e a água já não faltam dia sim, dia sim, e não perdem o dia inteiro à espera de um telefonema para Lisboa. Vêm à procura de sol e encontram-no. Não lhes interessa nada que para eles se tenham construído toneladas de betão e descaracterizado uma província, porque nem lhes passa pela cabeça como era ou podia ser de outra maneira.

E a culpa não é deles: é dos espanhóis que, não tendo Albufeira nem a Meia-Praia nem Tavira, plantaram Torremolinos e Benidorm onde não havia nada, e convenceram o resto do mundo de que assim é que se fazia turismo.

Lixaram-nos bem lixados.


(madrugada em Albufeira, Agosto 2008)

O manto diáfano

Notícia do Expresso (e confirmada no Corriere della Sera, La Stampa, etc):

Itália
Berlusconi tapa seio de pintura

Para não ferir sensibilidades, o primeiro-ministro italiano decidiu fazer um retoque e mandar tapar um seio a descoberto numa pintura do século XVIII.
20:14 Segunda-feira, 4 de Ago de 2008

(...)
A pintura em causa pertence a Giovanni Battista Tiepolo, data do século XVIII e está no Palazzo Chigi, o equivalente ao Palácio de São Bento, no local onde habitualmente o chefe de Governo dá as conferências de imprensa.
Paolo Bonaiuti, secretário da Presidência, disse ao jornal 'The Guardian' que o retoque feito na pintura tem como objectivo prevenir as sensibilidades dos telespectadores.


Alguém está parvo. Retocar La Verità svelata dal Tempo de Tiepolo (mesmo que seja só uma cópia*) para prevenir sensibilidades? Ou seja, tapar a verdade? E Berlusconi deixou? Se isto não é dar o flanco, não sei o que é.

E a propósito, deixará agora o cavaliere de dizer piropos às deputadas e secretárias, para prevenir sensibilidades?


* É o que parece, lendo a crónica do Corriere. O original estará ainda em Vicenza.

domingo, 3 de agosto de 2008

Spam

Depois de anos a receber spam com propostas de aumento de pénis com satisfação garantida, ou de Viagra ou Cialis suponho que no caso de a garantia do aumento de pénis falhar, os títulos das mensagens diversificam-se.

Não sei no entanto se os títulos são mais interessantes do que o texto seguinte. Três exemplos:

Enviado por Towers - título: McCain undergoes surgery - texto: These slinky hot models have taken all our good men, the ones left over are jerks.

Enviado por skopec - título: Bush plans to kill prisoner - texto: Typhoon strikes Taiwan, thousands dead and homeless

Enviado por pomy - título: Bush lets McCain inherit $485 billion deficit - texto: Please disregard my flirting email to your wife

Todos têm links que obviamente não tenciono seguir.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Isto é que é produtividade!

Hoje, sexta-feira 1 de Agosto, às 19:12, recebi um e-mail da Direcção-Geral dos Impostos, dizendo que brevemente me será remetida, via CTT, uma notificação para me dirigir ao Serviço de Finanças local e justificar as Divergências na minha declaração de rendimentos do ano passado.

E ainda dizem que os funcionários públicos não produzem! Enquanto o pessoal vai de férias, os da Direcção-Geral de Finanças não descansam.

Ou, pelo menos, não deixam descansar.

Da importância do artigo indefinido

Para quem se preocupa com acordos ortográficos, ou para quem simplesmente se preocupa com a correcção da escrita, encontrei, via Samizdata, este email furioso escrito aos editores de The Times por um jornalista, Giles Coren, que ali faz crítica de restaurantes.
Aparentemente um dos seus textos tinha sido ligeiramente alterado - é preciso ler para perceber quão ligeiramente.
O pedaço de prosa é divino. E hilariante. Como Zorro*.


*Como Zorro é o último fragmento da passagem com que Coren ganhou o prémio Bad Sex in Fiction em 2005 pelo seu livro Winkler. A passagem também é hilariante, mas por razões diversas.