Herculaneum, circa 40 BCE. At the villa Pisonis the Epicurean School of Philodemus of Gadara is an informal gathering place for those who enjoy discussing philosophy, literature, general politics, the nature of things and how to live better.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Imortalidade
Os antigos, mais talvez do que nós, a quem, segundo Warhol, bastam quinze minutos de fama, procuravam activamente, quando não a imortalidade, pelo menos a glória imortal. No entanto sabiam bem, lá no fundo, quanto esta era precária:
Ex his ipsis cultis notisque terris num aut tuum aut cuiusquam nostrum nomen vel Caucasum hunc, quem cernis, transcendere potuit vel illum Gangem tranatare? Quis in reliquis orientis aut obeuntis solis ultimis aut aquilonis austrive partibus tuum nomen audiet? Quibus amputatis cernis profecto, quantis in angustiis vestra se gloria dilatari velit. Ipsi autem, qui de nobis loquuntur, quam loquentur diu?
Nas terras cultivadas por nós conhecidas, pode o teu nome, ou o de qualquer de nós, atravessar o Cáucaso que avistas, ou nadar para além do Ganges? Quem no longínquo Oriente ou no lugar onde o sol se põe ou nas partes donde sopra o vento norte ou sul ouve o teu nome? Se retirares estas, vês quão estreito é o território em que a tua glória se espalha. E mesmo esses que falam de nós, até quando falarão?
M.T. Cicero, De Republica, VI, 22
Sejamos modestos, pois. Ou não. É que a Rachelet encontrou a maneira de qualquer de nós atingir a imortalidade: é só mandar transformar as próprias cinzas, naturalmente após a morte, num diamante.
Já que os diamantes são eternos...
Ex his ipsis cultis notisque terris num aut tuum aut cuiusquam nostrum nomen vel Caucasum hunc, quem cernis, transcendere potuit vel illum Gangem tranatare? Quis in reliquis orientis aut obeuntis solis ultimis aut aquilonis austrive partibus tuum nomen audiet? Quibus amputatis cernis profecto, quantis in angustiis vestra se gloria dilatari velit. Ipsi autem, qui de nobis loquuntur, quam loquentur diu?
Nas terras cultivadas por nós conhecidas, pode o teu nome, ou o de qualquer de nós, atravessar o Cáucaso que avistas, ou nadar para além do Ganges? Quem no longínquo Oriente ou no lugar onde o sol se põe ou nas partes donde sopra o vento norte ou sul ouve o teu nome? Se retirares estas, vês quão estreito é o território em que a tua glória se espalha. E mesmo esses que falam de nós, até quando falarão?
M.T. Cicero, De Republica, VI, 22
Sejamos modestos, pois. Ou não. É que a Rachelet encontrou a maneira de qualquer de nós atingir a imortalidade: é só mandar transformar as próprias cinzas, naturalmente após a morte, num diamante.
Já que os diamantes são eternos...
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Encontre as semelhanças
Bach (1685 - 1750): Concerto para dois violinos em Ré menor BWV 1043, composto entre 1730 e 1731, 2º andamento, largo. Solistas: Yehudi Menuhin e David Oistrackh.
Haendel (1685 - 1758): Ópera Serse, estreada em 1738, ária Ombra mai fù. Cantora: Joyce diDonato.
Haendel (1685 - 1758): Ópera Serse, estreada em 1738, ária Ombra mai fù. Cantora: Joyce diDonato.
Natal sem luzes
Não sei o que se passa no resto do país, mas em Albufeira este ano não há iluminações de Natal. Só um letreiro à entrada da cidade para quem vem da autoestrada. Em Lisboa também nada vi: aquela espécie de cogumelos Disney em volta da estátua do marquês de Pombal não dá luz e obviamente não conta*.
Toda a gente parece achar normal esta austeridade, contentando-se em lamentá-la com ar compungido.
Por outras palavras: que desperdício foi esse a juntar aos outros? E os senhores autarcas ainda andam aí?
*Para quem não sabe a que cogumelos me refiro, ei-los aqui.
Toda a gente parece achar normal esta austeridade, contentando-se em lamentá-la com ar compungido.
(Hoje, na minha janela)
Mas a pergunta que ninguém faz (excepto o A., esta tarde) é: o que aconteceu às luzes dos anos anteriores? Não se podem reutilizar? Não sobrou nada? Foi tudo para o lixo?Por outras palavras: que desperdício foi esse a juntar aos outros? E os senhores autarcas ainda andam aí?
*Para quem não sabe a que cogumelos me refiro, ei-los aqui.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Razões
Às vezes esqueço-me das razões pelas quais não gosto do Partido Comunista Português, mas ele encarrega-se de mas ir lembrando.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Uma conta
Este fim-de-semana foi uma razia nas celebridades: morreram Cesária Évora, Vaclav Havel e Kim Jong-Il.
Curiosamente dois deles estavam na área das artes e dois na política, uma conta de 2+2=3...
Confesso que para mim uma morna é muito semelhante a outra morna e Cesária Évora, quando a vi em palco, já não estaria na sua melhor forma. Ainda assim, aquela música pode ser um acompanhamento simpático para um copo na praia ao pôr-do-sol. E porque não lendo alguma obra de Havel, o que nunca fiz durante a vida dele?
Quanto a Kim, apesar de a sua morte ter sido anunciada com emoção, acredito que só lhe sentirá a falta quem acompanhava o blogue, de que já aqui falei, Kim Jong-Il looking at things. Embora o autor tenha centenas de fotos em arquivo e ponha a hipótese de continuar a publicá-las, não será a mesma coisa.
Curiosamente dois deles estavam na área das artes e dois na política, uma conta de 2+2=3...
Confesso que para mim uma morna é muito semelhante a outra morna e Cesária Évora, quando a vi em palco, já não estaria na sua melhor forma. Ainda assim, aquela música pode ser um acompanhamento simpático para um copo na praia ao pôr-do-sol. E porque não lendo alguma obra de Havel, o que nunca fiz durante a vida dele?
Quanto a Kim, apesar de a sua morte ter sido anunciada com emoção, acredito que só lhe sentirá a falta quem acompanhava o blogue, de que já aqui falei, Kim Jong-Il looking at things. Embora o autor tenha centenas de fotos em arquivo e ponha a hipótese de continuar a publicá-las, não será a mesma coisa.
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Matricular as matrículas
Notícia do Expresso:
Algarve: PSP apela à marcação de matrículas (vídeo)
PSP de Faro pede aos condutores que façam pequenas marcas nas suas matrículas e veículos. Objetivo: evitar que sejam usadas por outros nas ex-SCUT. Veja o vídeo no final do texto.
Mário Lino, correspondente no Algarve (www.expresso.pt)
16:34 Quinta feira, 15 de dezembro de 2011
(...)
"Pode fazer-se uma pequena marca na matrícula, na chapa traseira do veículo, que é aquela que o sistema dos pórticos capta aquando das passagens, para termos a certeza de que o veículo em causa corresponde ou não àquela matrícula ou então colar um autocolante no vidro traseiro", refere o comandante distrital da PSP.
(...)
Só em dezembro, já há registo de pelo menos 35 matrículas furtadas, 34 em Olhão e uma em Faro, segundo adianta o comandante distrital da PSP de Faro, Vítor Rodrigues. A nível nacional, o número já ascende a 213 matrículas furtadas, com queixa à PSP.
(...)
Ah, o pessoal de Olhão... é muito especial, digo eu.
Mas o que me intriga é saber que marcas se podem fazer na matrícula de um carro que demonstrem, ao passar na Via do Infante, que foi roubada e aplicada noutro carro.
Algarve: PSP apela à marcação de matrículas (vídeo)
PSP de Faro pede aos condutores que façam pequenas marcas nas suas matrículas e veículos. Objetivo: evitar que sejam usadas por outros nas ex-SCUT. Veja o vídeo no final do texto.
Mário Lino, correspondente no Algarve (www.expresso.pt)
16:34 Quinta feira, 15 de dezembro de 2011
(...)
"Pode fazer-se uma pequena marca na matrícula, na chapa traseira do veículo, que é aquela que o sistema dos pórticos capta aquando das passagens, para termos a certeza de que o veículo em causa corresponde ou não àquela matrícula ou então colar um autocolante no vidro traseiro", refere o comandante distrital da PSP.
(...)
Só em dezembro, já há registo de pelo menos 35 matrículas furtadas, 34 em Olhão e uma em Faro, segundo adianta o comandante distrital da PSP de Faro, Vítor Rodrigues. A nível nacional, o número já ascende a 213 matrículas furtadas, com queixa à PSP.
(...)
Ah, o pessoal de Olhão... é muito especial, digo eu.
Mas o que me intriga é saber que marcas se podem fazer na matrícula de um carro que demonstrem, ao passar na Via do Infante, que foi roubada e aplicada noutro carro.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
A Formiguinha e a Neve
Não há dúvida: a rede está cheia de surpresas, e a última foi descobrir que uma das histórias da minha infância faz parte das memórias de imensa gente. Interessante é que deve tratar-se de pessoal mais novo, das gerações sem trauma, porque ao contrário da minha versão, as outras têm final feliz.
Confrontando o que me lembro (praticamente o princípio) com o que encontrei por aí, a coisa era mais ou menos assim:
Era uma vez uma formiguinha que andava a tratar da sua vida e ficou com o pé preso na neve, sem poder libertar-se. Aflita, pediu:
"Oh neve, que és tão forte, liberta o pé que me prendes!"
A neve respondeu: "Mais forte é o sol que me derrete."
E a formiguinha pediu: "Oh sol, que és tão forte, derrete a neve que o meu pé prende!"
O sol respondeu: "Mais forte é a nuvem que me tapa."
E a formiguinha pediu: "Oh nuvem que és tão forte, destapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
A nuvem respondeu: "Mais forte é o vento que me afasta."
E a formiguinha pediu: "Oh vento que és tão forte, afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O vento respondeu: "Mais forte é o muro que me pára."
E a formiguinha pediu: "Oh muro que és tão forte, não pares o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O muro respondeu: "Mais forte é o rato que me fura."
E a formiguinha pediu: "Oh rato que és tão forte, fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O rato respondeu: "Mais forte é o gato que me come."
E a formiguinha pediu: "Oh gato que és tão forte, não comas o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O gato respondeu: "Mais forte é o cão que me morde."
E a formiguinha pediu: "Oh cão que és tão forte, morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O cão respondeu: "Mais forte é o pau que me bate."
E a formiguinha pediu: "Oh pau que és tão forte, não batas no cão que morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O pau respondeu: "Mais forte é o fogo que me queima."
E a formiguinha pediu: "Oh fogo que és tão forte, queima o pau que bate no cão que morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O fogo respondeu: "Mais forte é a água que me apaga."
E a formiguinha pediu: "Oh água que és tão forte, não apagues o fogo que queima o pau que bate no cão que morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
A água respondeu: "Mais forte é o homem que me bebe."
E a formiguinha pediu: "Oh homem que és tão forte, bebe a água que apaga o fogo que queima o pau que bate no cão que morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O homem respondeu: "Mais forte é a morte que me leva."
E a formiguinha pediu: "Oh morte que és tão forte, não leves o homem que bebe a água que apaga o fogo que queima o pau que bate no cão que morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
A morte não respondeu, e a formiguinha, que já estava ao frio há muito tempo, morreu.
Eu chorava a morte da formiguinha, mas pedia a história outra e outra vez.
Confrontando o que me lembro (praticamente o princípio) com o que encontrei por aí, a coisa era mais ou menos assim:
A Formiguinha e a Neve
Era uma vez uma formiguinha que andava a tratar da sua vida e ficou com o pé preso na neve, sem poder libertar-se. Aflita, pediu:
"Oh neve, que és tão forte, liberta o pé que me prendes!"
A neve respondeu: "Mais forte é o sol que me derrete."
E a formiguinha pediu: "Oh sol, que és tão forte, derrete a neve que o meu pé prende!"
O sol respondeu: "Mais forte é a nuvem que me tapa."
E a formiguinha pediu: "Oh nuvem que és tão forte, destapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
A nuvem respondeu: "Mais forte é o vento que me afasta."
E a formiguinha pediu: "Oh vento que és tão forte, afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O vento respondeu: "Mais forte é o muro que me pára."
E a formiguinha pediu: "Oh muro que és tão forte, não pares o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O muro respondeu: "Mais forte é o rato que me fura."
E a formiguinha pediu: "Oh rato que és tão forte, fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O rato respondeu: "Mais forte é o gato que me come."
E a formiguinha pediu: "Oh gato que és tão forte, não comas o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O gato respondeu: "Mais forte é o cão que me morde."
E a formiguinha pediu: "Oh cão que és tão forte, morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O cão respondeu: "Mais forte é o pau que me bate."
E a formiguinha pediu: "Oh pau que és tão forte, não batas no cão que morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O pau respondeu: "Mais forte é o fogo que me queima."
E a formiguinha pediu: "Oh fogo que és tão forte, queima o pau que bate no cão que morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O fogo respondeu: "Mais forte é a água que me apaga."
E a formiguinha pediu: "Oh água que és tão forte, não apagues o fogo que queima o pau que bate no cão que morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
A água respondeu: "Mais forte é o homem que me bebe."
E a formiguinha pediu: "Oh homem que és tão forte, bebe a água que apaga o fogo que queima o pau que bate no cão que morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
O homem respondeu: "Mais forte é a morte que me leva."
E a formiguinha pediu: "Oh morte que és tão forte, não leves o homem que bebe a água que apaga o fogo que queima o pau que bate no cão que morde o gato que come o rato que fura o muro que pára o vento que afasta a nuvem que tapa o sol que derrete a neve que o meu pé prende!"
A morte não respondeu, e a formiguinha, que já estava ao frio há muito tempo, morreu.
Eu chorava a morte da formiguinha, mas pedia a história outra e outra vez.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
Taxas imoderadas
Notícia no Diário de Notícias:
Taxas moderadoras
Preço das consultas nos hospitais vai triplicar
Hoje
A partir de Janeiro, consultas com especialistas e SAP vão custar 10 euros.
(...)
As taxas moderadoras das consultas nos hospitais distritais vão subir de 3,10 euros para dez (...)
Nos hospitais centrais (...) sobem também para dez.
Os valores foram confirmados ao DN por uma fonte ligada ao Ministério da Saúde, que também referiu que os atendimentos urgentes em centros de saúde (...) vão igualmente passar de 3,80 euros para dez.
Espero que se faça um estudo prospectivo sobre os resultados destes aumentos, porque enquanto o ministério espera arrecadar mais cerca de cem milhões de euros, eu tenho a impressão que vai haver muito menos gente a recorrer às consultas e mesmo às urgências, com diversas consequências:
haverá pessoas a prescindir de tratamentos necessários;
haverá uma redução drástica nas consultas de acompanhamento após tratamento da fase aguda;
haverá alguma fuga para os hospitais privados (a preços semelhantes), embora pouco significativa;
haverá proporcionalmente mais casos sociais (isentos) nas salas de espera.
Mas, claro, eu às vezes engano-me e frequentemente tenho dúvidas.
Taxas moderadoras
Preço das consultas nos hospitais vai triplicar
Hoje
A partir de Janeiro, consultas com especialistas e SAP vão custar 10 euros.
(...)
As taxas moderadoras das consultas nos hospitais distritais vão subir de 3,10 euros para dez (...)
Nos hospitais centrais (...) sobem também para dez.
Os valores foram confirmados ao DN por uma fonte ligada ao Ministério da Saúde, que também referiu que os atendimentos urgentes em centros de saúde (...) vão igualmente passar de 3,80 euros para dez.
Espero que se faça um estudo prospectivo sobre os resultados destes aumentos, porque enquanto o ministério espera arrecadar mais cerca de cem milhões de euros, eu tenho a impressão que vai haver muito menos gente a recorrer às consultas e mesmo às urgências, com diversas consequências:
haverá pessoas a prescindir de tratamentos necessários;
haverá uma redução drástica nas consultas de acompanhamento após tratamento da fase aguda;
haverá alguma fuga para os hospitais privados (a preços semelhantes), embora pouco significativa;
haverá proporcionalmente mais casos sociais (isentos) nas salas de espera.
Mas, claro, eu às vezes engano-me e frequentemente tenho dúvidas.
Tiro ao alvo
Notícia do Público (via O País do Burro):
Pórtico de portagem na Via do Infante incendiado e destruído a tiro
12.12.2011 - 14:19 Por Idálio Revez
O pórtico de cobranças de portagens de Boliqueime, na Via do Infante (A22) foi atingido esta madrugada a tiro de caçadeira e os equipamentos eléctricos foram incendiados.
(...)
Está aliás em toda a imprensa de hoje. Mas juro que não fui eu, apesar disto :-)
Pórtico de portagem na Via do Infante incendiado e destruído a tiro
12.12.2011 - 14:19 Por Idálio Revez
O pórtico de cobranças de portagens de Boliqueime, na Via do Infante (A22) foi atingido esta madrugada a tiro de caçadeira e os equipamentos eléctricos foram incendiados.
(...)
Está aliás em toda a imprensa de hoje. Mas juro que não fui eu, apesar disto :-)
domingo, 11 de dezembro de 2011
Oxford upon Avon
Suetonius conta que do comediógrafo Terentius se dizia, já em vida, que não era ele o autor das suas comédias mas alguém mais culto e bem nascido. O próprio Terentius o referiu no prólogo da comédia Adelphi, agradecendo ironicamente o elogio que assim lhe era feito.
Da vida de Shakespeare conhece-se muito pouco, e é talvez natural que também se tenha posto em causa a autoria das suas obras, por se duvidar que tanto talento e sofisticação pudessem nascer num plebeu provinciano. O filme Anonymous, realizado por Roland Emmerich com guião de John Orloff, baseia-se na hipótese de o verdadeiro autor ter sido Edward de Vere, conde de Oxford.
Especulativo até ao disparate, é no entanto um filme muito bem feito, no qual a tecnologia digital é intensiva mas discretíssima, que recria plausivelmente a atmosfera da época e alguns dos personagens (excelente a rainha Elizabeth de Vanessa Redgrave) e é um bom entretenimento que ainda por cima remete não poucas vezes para outro excelente filme de época, Shakespeare in Love.
Por mim, acredito sem dificuldade que o terceiro filho de um rico comerciante de Stratford e da herdeira de um senhor de terras local tenha tido uma educação cuidadosa e um raro talento. O que me maravilha é que o povo daquela época não só percebesse o requinte da linguagem e das imagens de Shakespeare como aderisse e o admirasse claramente.
Da vida de Shakespeare conhece-se muito pouco, e é talvez natural que também se tenha posto em causa a autoria das suas obras, por se duvidar que tanto talento e sofisticação pudessem nascer num plebeu provinciano. O filme Anonymous, realizado por Roland Emmerich com guião de John Orloff, baseia-se na hipótese de o verdadeiro autor ter sido Edward de Vere, conde de Oxford.
Especulativo até ao disparate, é no entanto um filme muito bem feito, no qual a tecnologia digital é intensiva mas discretíssima, que recria plausivelmente a atmosfera da época e alguns dos personagens (excelente a rainha Elizabeth de Vanessa Redgrave) e é um bom entretenimento que ainda por cima remete não poucas vezes para outro excelente filme de época, Shakespeare in Love.
Por mim, acredito sem dificuldade que o terceiro filho de um rico comerciante de Stratford e da herdeira de um senhor de terras local tenha tido uma educação cuidadosa e um raro talento. O que me maravilha é que o povo daquela época não só percebesse o requinte da linguagem e das imagens de Shakespeare como aderisse e o admirasse claramente.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Se calhar era domingo
É notícia em quase todos os jornais (o Expresso, o Jornal de Negócios, o Correio da Manhã, o primeiro a dar a notícia,o Público, com uma voltinha - o DN ignora-o olímpicamente e se calhar faz bem): sr. José Sousa disse numa palestra em França que a ideia que agora é preciso pagar a dívida é uma ideia de criança; as dívidas dos países são por definição eternas; as dívidas gerem-se.
Mais: disse que isso estuda-se em economia e que foi assim que ele estudou durante... tempo.
Querem ver que ainda tira da cartola uma licenciatura em Economia?
Mas uma pista para resolver o enigma vem praticamente no fim do video, quando diz que enfim, isto é uma discussão muito... técnica.
Pois. Como o inglês técnico que lhe conhecemos bem.
Mais: disse que isso estuda-se em economia e que foi assim que ele estudou durante... tempo.
Querem ver que ainda tira da cartola uma licenciatura em Economia?
Mas uma pista para resolver o enigma vem praticamente no fim do video, quando diz que enfim, isto é uma discussão muito... técnica.
Pois. Como o inglês técnico que lhe conhecemos bem.
domingo, 4 de dezembro de 2011
Sócrates morreu
Peço desculpa: não foi esse. Deviam saber que nunca o trato com essa familiaridade. Quanto ao filósofo, claro, já morreu há dois mil e tal anos, pelo que não é notícia.
Quem morreu foi o antigo jogador de futebol brasileiro, de quem me lembro mais pela figura, de cabelo comprido e barba, e pela licenciatura em Medicina - suponho que nunca exerceu - do que pelo toque de calcanhar que segundo parece era a sua imagem de marca.
Nas fotos recentes estava bastante envelhecido: sol, tabaco e álcool não são realmente bons companheiros para a saúde, mas espero que tenha sido feliz.
Quem morreu foi o antigo jogador de futebol brasileiro, de quem me lembro mais pela figura, de cabelo comprido e barba, e pela licenciatura em Medicina - suponho que nunca exerceu - do que pelo toque de calcanhar que segundo parece era a sua imagem de marca.
Nas fotos recentes estava bastante envelhecido: sol, tabaco e álcool não são realmente bons companheiros para a saúde, mas espero que tenha sido feliz.
A TAP
Notícia do Público:
Escolhida entre 36 mil votantes
TAP é a melhor companhia europeia para os leitores da revista Global Traveler
03.12.2011 - 15:32 Por Pedro Crisóstomo
(...)
A Global Traveler é uma revista mensal, publicada nos Estados Unidos desde 2004, com uma circulação mensal de 105.201 exemplares, de acordo com os números de Junho de 2011 da entidade que verifica a circulação da imprensa naquele país, o Audit Bureau of Circulations.
(...)
Cem mil exemplares, num país como os Estados Unidos, deve corresponder aqui a A Avezinha ou coisa do género. Mesmo assim, a TAP e o Público embandeiram em arco, talvez nunca tenham viajado noutra companhia aérea, ou viajem sempre em executiva e emborquem umas garrafitas do “Melhor vinho tinto servido em Classe Executiva Internacional”.
Na minha pouco humilde opinião, a TAP é uma companhia vulgar com um catering invulgarmente mau. Porque viajo nela? Porque aceita cães na cabine. Cetero taceo.
Escolhida entre 36 mil votantes
TAP é a melhor companhia europeia para os leitores da revista Global Traveler
03.12.2011 - 15:32 Por Pedro Crisóstomo
(...)
A Global Traveler é uma revista mensal, publicada nos Estados Unidos desde 2004, com uma circulação mensal de 105.201 exemplares, de acordo com os números de Junho de 2011 da entidade que verifica a circulação da imprensa naquele país, o Audit Bureau of Circulations.
(...)
Cem mil exemplares, num país como os Estados Unidos, deve corresponder aqui a A Avezinha ou coisa do género. Mesmo assim, a TAP e o Público embandeiram em arco, talvez nunca tenham viajado noutra companhia aérea, ou viajem sempre em executiva e emborquem umas garrafitas do “Melhor vinho tinto servido em Classe Executiva Internacional”.
Na minha pouco humilde opinião, a TAP é uma companhia vulgar com um catering invulgarmente mau. Porque viajo nela? Porque aceita cães na cabine. Cetero taceo.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Entulho Parte II
Em Março de 2010, digo bem, 2010, reclamei da falta de organização que deixava uma rua completamente entulhada durante dias a fio.
Que dizer mais de um ano e meio depois, quando a solução de entulhar apenas uma das faixas parece ter-se tornado definitiva?
Que dizer mais de um ano e meio depois, quando a solução de entulhar apenas uma das faixas parece ter-se tornado definitiva?
(Albufeira, Novembro 2011)
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Caceres
Outra cidade da raia espanhola que vale bem uma visita é Cáceres. Dela só me lembrava da Plaza Mayor; desta vez encontrei-a cheia de bancas de comida e artesanato para o mercado medieval de las tres culturas que subia ao assalto da cidade monumental. Desengane-se quem julgar, assim de repente, que estas casas de pedra são, também elas, medievais: muitas são renascentistas ou posteriores, testemunhas do enriquecimento das famílias que participaram na conquista da América.
Logo abaixo rasgam-se avenidas modernas e, para regularizar o trânsito, há semáforos muito divertidos.
(Caceres, Novembro 2011)
Logo abaixo rasgam-se avenidas modernas e, para regularizar o trânsito, há semáforos muito divertidos.
domingo, 27 de novembro de 2011
Merida
Para quem não se cansa de admirar o que nos ficou da antiguidade romana, Mérida aqui tão perto é visita obrigatória. Foi fundada no tempo de Augusto para instalar os veteranos de duas legiões, a V Alauda que tinha sido inicialmente recrutada por César na Gália Cisalpina e a X Gemina, herdeira de outra legião cesariana, a X Equestris.
Para além do teatro, há um anfiteatro, um templo de Diana, uma ponte, que sei eu? coisas que davam para pôr no mapa turístico-cultural várias cidades. O museu nacional de arte romana é interessante pela sua colecção, que inclui restos arquitectónicos e esculturas (a cabeça de Augusto, no início do post), excelentes mosaicos, pinturas e objectos de uso quotidiano, mas mais interessante ainda pela sua arquitectura, reminiscente das grandes basílicas de Roma.
Quanto à moderna ponte Lusitania, desenhada pelo inefável Calatrava, não tem nada que ver com Portugal mas com os nossos antepassados comuns.
(Merida, Novembro 2011)
Mérida orgulha-se principalmente do seu teatro, onde no Verão há um festival de teatro clássico a que um dia espero ir. Para além do teatro, há um anfiteatro, um templo de Diana, uma ponte, que sei eu? coisas que davam para pôr no mapa turístico-cultural várias cidades. O museu nacional de arte romana é interessante pela sua colecção, que inclui restos arquitectónicos e esculturas (a cabeça de Augusto, no início do post), excelentes mosaicos, pinturas e objectos de uso quotidiano, mas mais interessante ainda pela sua arquitectura, reminiscente das grandes basílicas de Roma.
Quanto à moderna ponte Lusitania, desenhada pelo inefável Calatrava, não tem nada que ver com Portugal mas com os nossos antepassados comuns.
sábado, 26 de novembro de 2011
Se beber não publicite
Notícia do Expresso:
Merkel e Sarkozy dão a cara pelo Licor Beirão
Depois de Paulo Futre, o Licor Beirão voltou ao humor com uma campanha de Natal protagonizada por bonecos de Angela Merkel e Nicholas Sarkozy.
Catarina Nunes (www.expresso.pt)
19:30 Sexta feira, 25 de novembro de 2011
(...)
O anúncio que será divulgado nas campanhas internacionais, por seu lado, faz referência às visitas do FMI a Portugal.
(...)
As imagens até têm graça, mas até que ponto é ético (pergunta retórica) usar as imagens de pessoas, sem a sua autorização, para publicitar produtos comerciais?
Da mesma forma a campanha Unhate da Benetton, será muito bem intencionada mas teve da parte de um dos intervenientes uma resposta negativa perfeitamente legítima.
Suspeito que o Licor Beirão se vale de ser pequenino e nem a senhora Merkel nem o senhor Sarkozy nunca terem ouvido falar dele.
Merkel e Sarkozy dão a cara pelo Licor Beirão
Depois de Paulo Futre, o Licor Beirão voltou ao humor com uma campanha de Natal protagonizada por bonecos de Angela Merkel e Nicholas Sarkozy.
Catarina Nunes (www.expresso.pt)
19:30 Sexta feira, 25 de novembro de 2011
(...)
O anúncio que será divulgado nas campanhas internacionais, por seu lado, faz referência às visitas do FMI a Portugal.
(...)
As imagens até têm graça, mas até que ponto é ético (pergunta retórica) usar as imagens de pessoas, sem a sua autorização, para publicitar produtos comerciais?
Da mesma forma a campanha Unhate da Benetton, será muito bem intencionada mas teve da parte de um dos intervenientes uma resposta negativa perfeitamente legítima.
Suspeito que o Licor Beirão se vale de ser pequenino e nem a senhora Merkel nem o senhor Sarkozy nunca terem ouvido falar dele.
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Cordoba
Quando eu era criança não se viajava tanto como agora. Isto dito assim talvez não se perceba, mas o turismo de massas é um fenómeno relativamente recente e a minha família não ia de férias para destinos exóticos. Íamos a Espanha de vez em quando, e as recordações que guardo não são talvez as mais evidentes.
Lembro-me das estradas espanholas sempre em obras, das ruas sujas, da peseta que valia menos de metade do escudo, e das desesperantes esperas nas fronteiras, sempre com medo de que nos confiscassem os caramelos e o gel de banho que tínhamos comprado.
Lembro-me pouco de ruas, prédios ou monumentos, mas lembro-me da mesquita de Cordoba com o coro da catedral lá dentro: na altura achei que uma coisa não dizia com a outra e era uma falta de respeito.
*Suetonius, Diuus Iulius, VII
NB: enganei-me: como é evidente em Suetónio, esse episódio não teve lugar em Cordoba mas em Cádiz.
Lembro-me das estradas espanholas sempre em obras, das ruas sujas, da peseta que valia menos de metade do escudo, e das desesperantes esperas nas fronteiras, sempre com medo de que nos confiscassem os caramelos e o gel de banho que tínhamos comprado.
Lembro-me pouco de ruas, prédios ou monumentos, mas lembro-me da mesquita de Cordoba com o coro da catedral lá dentro: na altura achei que uma coisa não dizia com a outra e era uma falta de respeito.
(Cordoba, Novembro 2011)
Voltei agora a Cordoba, e que posso dizer? A cidade é encantadora: perdi-me nas ruas da Judiaria, jantei umas tapas deliciosas, achei que a catedral afinal não desfeava a arquitectura da mesquita, e que não se resume a esta o que há para ver na antiga capital da Baetica e do califado andaluz, onde César tomou consciência que ainda não fizera nada de memorável na idade em que Alexandre já conquistara o mundo*.(Cordoba, Novembro 2011)
O mundo não perdeu pela demora. *Suetonius, Diuus Iulius, VII
NB: enganei-me: como é evidente em Suetónio, esse episódio não teve lugar em Cordoba mas em Cádiz.
Reflexões sobre as greves
No meu local de trabalho a greve "geral" sentiu-se muito pouco, e apenas porque alguns que a fizeram impediram pela sua ausência que outros executassem integralmente as suas tarefas. Quanto às greves de transportes públicos no Algarve, são pouco eficazes porque já são habitualmente tão maus e tão poucos que ninguém confia neles.
As pessoas, hoje em dia, acham aliás que as greves não atingem nenhum objectivo prático. Na realidade, enquanto nos séculos XIX e XX o objectivo das greves era pôr em perigo a produção e conseguir assim obrigar o patrão a negociar, agora só servem para justificar a existência dos sindicatos. É que nem de protesto servem: alguém duvida que o patrão, ou no caso de hoje o governo, está plenamente consciente da insatisfação dos empregados? Da mesma forma como não são precisos vinte e cinco deputados do PSD madeirense para completar o grupo parlamentar, também não são precisos cartazes e passeatas na Avenida para demonstrar descontentamento, num regime que felizmente permite falar e escrever todos os dias o que se pensa.
Há formas de luta que só servem se forem utilizadas nas circunstâncias e para os fins certos. Li ontem que uma mulher resolveu fazer greve de fome até que lhe paguem o salário em atraso. Ora, dizia Gandhi, a greve de fome só resulta se quem a faz for objecto de amor e a fizer por amor. Ou seja, resulta se for a filha do patrão a fazer greve de fome até que o pai pague aos empregados.
Uma greve geral alemã até que os bancos perdoassem a dívida grega talvez resultasse, sei lá.
As pessoas, hoje em dia, acham aliás que as greves não atingem nenhum objectivo prático. Na realidade, enquanto nos séculos XIX e XX o objectivo das greves era pôr em perigo a produção e conseguir assim obrigar o patrão a negociar, agora só servem para justificar a existência dos sindicatos. É que nem de protesto servem: alguém duvida que o patrão, ou no caso de hoje o governo, está plenamente consciente da insatisfação dos empregados? Da mesma forma como não são precisos vinte e cinco deputados do PSD madeirense para completar o grupo parlamentar, também não são precisos cartazes e passeatas na Avenida para demonstrar descontentamento, num regime que felizmente permite falar e escrever todos os dias o que se pensa.
Há formas de luta que só servem se forem utilizadas nas circunstâncias e para os fins certos. Li ontem que uma mulher resolveu fazer greve de fome até que lhe paguem o salário em atraso. Ora, dizia Gandhi, a greve de fome só resulta se quem a faz for objecto de amor e a fizer por amor. Ou seja, resulta se for a filha do patrão a fazer greve de fome até que o pai pague aos empregados.
Uma greve geral alemã até que os bancos perdoassem a dívida grega talvez resultasse, sei lá.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Schuld
Em alemão a palavra que traduz a nossa “dívida” é a mesma que diz a nossa “culpa”
António Guerreiro in Expresso, via Domadora de Camaleões
Isto explica realmente muitas coisas.
António Guerreiro in Expresso, via Domadora de Camaleões
Isto explica realmente muitas coisas.
Déjà vu
Às vezes parece que a Europa vai deslizando em direcção a uma nova guerra... A Alemanha vai tomando o papel, voluntário ou atribuído, de papão. Terá a Inglaterra de assumir novamente a resistência em nome de toda a gente?
via Eça é que é essa
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Sakamoto
A assistir ao concerto de Ryuichi Sakamoto na Gulbenkian, em directo e em óptima companhia, descubro que a peça de que realmente gosto ainda é o tema de Merry Christmas Mr. Lawrence.
domingo, 20 de novembro de 2011
Satyagraha
Note: text in English added after the video
Em primeiro lugar, sou admiradora de Gandhi: mais, acho que o inventor da resistência pacífica e da desobediência civil é a grande figura política do século XX.
Em segundo lugar, gosto da música de Phillip Glass, em particular do concerto para violino e de várias peças para piano.
Em terceiro lugar, assisti na última temporada à transmissão de Nixon in China, de John Adams, outro autor da mesma escola, e achei interessante.
E então?
Então fui toda animada no sábado à Gulbenkian ver a transmissão MetLive HD de Satyagraha, e saí aos cinquenta minutos.
Há artistas que não sabem colocar-se ao alcance do ouvido (a frase é de Nietzsche). Ou não querem, e Glass deve ser um deles.
O libretto é em sânscrito, uma língua tão "popular" como o grego antigo, o latim ou o aramaico, e ao contrário por exemplo do filme The Passion of the Christ de Mel Gibson, não há legendas, embora sejam projectadas de vez em quando umas frases panfletárias em inglês, cuja autoria desconheço; a encenação de Phelim McDermott, estreada em 2008, enquadra-se no género simbólico/mágico e com esses condicionantes é complicado perceber o que se está a passar no palco. Mas enfim, havia o programa de sala com a sinopse, e antigamente também não havia legendas nos teatros de ópera.
Gostei das vozes, tanto do tenor Richard Croft (Gandhi) como do baixo-barítono Bradley Garvin (Arjuna).
Porém tudo rapidamente se tornou entediante.
A música de Glass é repetitiva, hipnótica, com pequenas variações harmónicas: eu sei e gosto. Mas o tratamento das partes vocais tem de ser diferente, senão o que é fascinante durante alguns minutos torna-se uma lenga-lenga insuportável. Talvez uma realização cinematográfica inspirada salvasse a situação, mas não a houve. Na esperança que depois do prólogo a coisa ficasse mais animada, deixei-me estar à espera... mas tal não aconteceu, pelo contrário.
A verdade é que para fretes bastam aqueles a que sou obrigada. Não aguentei. Tenho pena.
I really am a fan of Gandhi's: I actually think that the inventor of non-violent resistance and civil disobedience is the great political figure of the XX century.
I also really like Phillip Glass's music, particularly the violin concerto and several piano pieces.
And last season I watched the broadcast of John Adams's Nixon in China, Adams being another author from the same school, and I found it interesting.
So?
So last Saturday I happily went to Gulbenkian's auditorium to watch the MetLive HD broadcast of Satyagraha, and left after fifty minutes.
Em primeiro lugar, sou admiradora de Gandhi: mais, acho que o inventor da resistência pacífica e da desobediência civil é a grande figura política do século XX.
Em segundo lugar, gosto da música de Phillip Glass, em particular do concerto para violino e de várias peças para piano.
Em terceiro lugar, assisti na última temporada à transmissão de Nixon in China, de John Adams, outro autor da mesma escola, e achei interessante.
E então?
Então fui toda animada no sábado à Gulbenkian ver a transmissão MetLive HD de Satyagraha, e saí aos cinquenta minutos.
Há artistas que não sabem colocar-se ao alcance do ouvido (a frase é de Nietzsche). Ou não querem, e Glass deve ser um deles.
O libretto é em sânscrito, uma língua tão "popular" como o grego antigo, o latim ou o aramaico, e ao contrário por exemplo do filme The Passion of the Christ de Mel Gibson, não há legendas, embora sejam projectadas de vez em quando umas frases panfletárias em inglês, cuja autoria desconheço; a encenação de Phelim McDermott, estreada em 2008, enquadra-se no género simbólico/mágico e com esses condicionantes é complicado perceber o que se está a passar no palco. Mas enfim, havia o programa de sala com a sinopse, e antigamente também não havia legendas nos teatros de ópera.
Gostei das vozes, tanto do tenor Richard Croft (Gandhi) como do baixo-barítono Bradley Garvin (Arjuna).
Porém tudo rapidamente se tornou entediante.
A música de Glass é repetitiva, hipnótica, com pequenas variações harmónicas: eu sei e gosto. Mas o tratamento das partes vocais tem de ser diferente, senão o que é fascinante durante alguns minutos torna-se uma lenga-lenga insuportável. Talvez uma realização cinematográfica inspirada salvasse a situação, mas não a houve. Na esperança que depois do prólogo a coisa ficasse mais animada, deixei-me estar à espera... mas tal não aconteceu, pelo contrário.
A verdade é que para fretes bastam aqueles a que sou obrigada. Não aguentei. Tenho pena.
I really am a fan of Gandhi's: I actually think that the inventor of non-violent resistance and civil disobedience is the great political figure of the XX century.
I also really like Phillip Glass's music, particularly the violin concerto and several piano pieces.
And last season I watched the broadcast of John Adams's Nixon in China, Adams being another author from the same school, and I found it interesting.
So?
So last Saturday I happily went to Gulbenkian's auditorium to watch the MetLive HD broadcast of Satyagraha, and left after fifty minutes.
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Tintin
Já temia não conseguir apanhar As Aventuras de Tintin no cinema, o primeiro filme em três dimensões que vejo desde o Frankenstein de Warhol e Morrissey. A tecnologia está, evidentemente, muito melhor, e de certo modo é pena que o filme seja tão movimentado que nem dê tempo para se apreciar devidamente as imagens. E há cenas deliciosas em cenários fabulosos que Hergé provavelmente apreciaria.
Vi a versão dobrada em português e não me dei mal: afinal, a original não é em francês e em inglês o cãozinho chama-se Snowy e o barco Unicorn. Nah. O pessoal que fez a dobragem trabalhou lindamente e as vozes foram muito bem escolhidas - Rui Unas e Nuno Markl fazem Dupont e Dupond, ou o contrário, Luís Mascarenhas o capitão Haddock e Simon Frankel, antes para mim desconhecido, o próprio Tintin.
Embora este não fosse o meu herói preferido - Astérix tinha essa distinção - e não tenha presentes os detalhes deste álbum em particular, foi um prazer reencontrar estes personagens. Só me decepcionou o rouxinol milanês, a diva Castafiore, porque cantou... bem! Esperava uma daquelas vozes que arrepiam e há-as, como sabemos, mesmo entre cantoras muito conceituadas, mas Kim Stengel, uma texana que se distinguiu sobretudo no musical Phantom of the Opera e que não cantou Ah! Je ris... do Faust de Gounod, a ária de estimação da Castafiore nos álbuns, mas sim Je veux vivre de Roméo et Juliette, não sendo Diana Damrau não justificou de modo algum o horror do capitão e de Milou.
Foram duas horas de entretenimento com, surpresa! a sala de cinema só para nós.
Vi a versão dobrada em português e não me dei mal: afinal, a original não é em francês e em inglês o cãozinho chama-se Snowy e o barco Unicorn. Nah. O pessoal que fez a dobragem trabalhou lindamente e as vozes foram muito bem escolhidas - Rui Unas e Nuno Markl fazem Dupont e Dupond, ou o contrário, Luís Mascarenhas o capitão Haddock e Simon Frankel, antes para mim desconhecido, o próprio Tintin.
Embora este não fosse o meu herói preferido - Astérix tinha essa distinção - e não tenha presentes os detalhes deste álbum em particular, foi um prazer reencontrar estes personagens. Só me decepcionou o rouxinol milanês, a diva Castafiore, porque cantou... bem! Esperava uma daquelas vozes que arrepiam e há-as, como sabemos, mesmo entre cantoras muito conceituadas, mas Kim Stengel, uma texana que se distinguiu sobretudo no musical Phantom of the Opera e que não cantou Ah! Je ris... do Faust de Gounod, a ária de estimação da Castafiore nos álbuns, mas sim Je veux vivre de Roméo et Juliette, não sendo Diana Damrau não justificou de modo algum o horror do capitão e de Milou.
Foram duas horas de entretenimento com, surpresa! a sala de cinema só para nós.
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Ronda
Ronda é famosa pela sua Ponte Nova (do século XVIII) que atravessa uma garganta escarpada e vertiginosa.
Foi cenário de uma ou duas versões da ópera Carmen e de um livro de Nick Bantock, o autor da extrordinária trilogia Griffin & Sabine. Tem jardins, palacetes e igrejas, doces regionais deliciosos e um museu do bandido único em Espanha, que terei de visitar na próxima vez.
(Ronda, Novembro 2011)
Foi cenário de uma ou duas versões da ópera Carmen e de um livro de Nick Bantock, o autor da extrordinária trilogia Griffin & Sabine. Tem jardins, palacetes e igrejas, doces regionais deliciosos e um museu do bandido único em Espanha, que terei de visitar na próxima vez.
A crise em Espanha
A taxa de desemprego em Espanha é superior a vinte por cento. E note-se que desempregado é aquele que procura emprego através de instituições públicas, porque se não o fizer chama-se inactivo e não conta para esta estatística. A bolha imobiliária é evidente, sobretudo no sul, na região de Marbella, onde, como cá, ainda mais do que cá, se construiu desalmadamente na convicção de que para tudo o que se construísse haveria compradores. Assim, há aldeias completamente descaracterizadas, às quais só restam as excursões de velhotes que vão admirar a vista e fotografar os burros.
(Mijas, Novembro 2011)
Em Novembro a marina de Puerto Banús é como a de Vilamoura: um deserto, ainda que com barcos e lojas de outro escalão, pelo que imagino que a clientela em Agosto também seja diferente.(Puerto Banús, Novembro 2011)
No entanto não há quem lhes roube a boa disposição nem o amor pela rua. Em Cáceres o fim-de-semana medieval parecia ter atraído meia Extremadura, e dir-se-ia que ali não há quebra de natalidade.(Caceres, Novembro 2011)
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
terça-feira, 15 de novembro de 2011
Altamente Jaroussky
Se a voz dos castrati combinava o timbre das crianças com a potência e a maturidade dos adultos, a voz da maioria dos contra-tenores actuais não tem nada a ver, por muito bonita e interessante que seja. E muitas vezes é.
Destaca-se Philippe Jaroussky, cuja voz tem a pureza virginal da de uma criança. Como mais uma vez se provou, ao vivo, ontem ao fim da tarde na Fundação Gulbenkian, um recital para ver o qual pedi férias, que isto de ir a Lisboa durante a semana é complicado (Ha! Take that, Riccardo Muti!)
E foi bom, foi muito bom: Jaroussky, que se saiu muito bem nas árias de bravura, encantou nas árias mais lentas, que lhe dão tempo para modelar as frases, ornamentar e resolver. A orquestra Apollo's Fire que o acompanhou fez justiça ao nome e brilhou sobretudo nos concertos de Vivaldi - que a isso se presta - deixando-me vontade de saber mais a seu respeito.
O público aplaudiu sem reservas e foi brindado com três belíssimos encores (Alto Giove, Venti, turbini e um requintado Ombra mai fù).
Depois do espectáculo, os artistas saíram por entre o público e Jaroussky assinou autógrafos, recebeu pelo menos um presente, da senhora que estava à minha frente na fila, e revelou-se um doce de rapaz.
Destaca-se Philippe Jaroussky, cuja voz tem a pureza virginal da de uma criança. Como mais uma vez se provou, ao vivo, ontem ao fim da tarde na Fundação Gulbenkian, um recital para ver o qual pedi férias, que isto de ir a Lisboa durante a semana é complicado (Ha! Take that, Riccardo Muti!)
E foi bom, foi muito bom: Jaroussky, que se saiu muito bem nas árias de bravura, encantou nas árias mais lentas, que lhe dão tempo para modelar as frases, ornamentar e resolver. A orquestra Apollo's Fire que o acompanhou fez justiça ao nome e brilhou sobretudo nos concertos de Vivaldi - que a isso se presta - deixando-me vontade de saber mais a seu respeito.
O público aplaudiu sem reservas e foi brindado com três belíssimos encores (Alto Giove, Venti, turbini e um requintado Ombra mai fù).
Depois do espectáculo, os artistas saíram por entre o público e Jaroussky assinou autógrafos, recebeu pelo menos um presente, da senhora que estava à minha frente na fila, e revelou-se um doce de rapaz.
(Lisboa, Novembro 2011)
terça-feira, 8 de novembro de 2011
Finalmente assinei
Sábado passado, na Fundação Gulbenkian, estava um grupo a pedir assinaturas para uma proposta legislativa para revogar o famigerado Acordo Ortográfico (ILCAO). Durante muito tempo encolhi os ombros perante um acordo que não tencionava (nem tenciono) cumprir, mas o facto é que me irrita ler coisas como espetadores ou setor - por isso assinei.
Ainda me aborrece mais a ignorância que não tem nada que ver com o dito acordo, que desconhece o verbo haver, que troca acentos, que hifeniza onde não deve, sobretudo quando a encontro onde não esperava. Não estou a falar das gralhas de quem escreve a correr atrás do pensamento e não tem tempo para corrigir, embora essas também me façam tropeçar na leitura. Já não me incomoda que alguém, sabendo o que faz, escreva num estilo particular, sem maiúsculas ou sem pontuação, como não me incomoda a escrita própria das mensagens de texto nos telemóveis, desde que a elas se limite.
Nunca estudei por traduções brasileiras; a grafia brasileira e o frasear brasileiro só me são agradáveis na versão original - e muito boa escrita se faz em português do Brasil. Mas ler em jornais portugueses ação e fato é muito mau; pior será quando encher livros de quatrocentas páginas.
Ainda me aborrece mais a ignorância que não tem nada que ver com o dito acordo, que desconhece o verbo haver, que troca acentos, que hifeniza onde não deve, sobretudo quando a encontro onde não esperava. Não estou a falar das gralhas de quem escreve a correr atrás do pensamento e não tem tempo para corrigir, embora essas também me façam tropeçar na leitura. Já não me incomoda que alguém, sabendo o que faz, escreva num estilo particular, sem maiúsculas ou sem pontuação, como não me incomoda a escrita própria das mensagens de texto nos telemóveis, desde que a elas se limite.
Nunca estudei por traduções brasileiras; a grafia brasileira e o frasear brasileiro só me são agradáveis na versão original - e muito boa escrita se faz em português do Brasil. Mas ler em jornais portugueses ação e fato é muito mau; pior será quando encher livros de quatrocentas páginas.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
MetLive: Siegfried
Tão bom ir descobrindo Wagner nas transmissões do Met para a Gulbenkian, Wagner que eu tinha deixado lá atrás, no meu passado, quando possivelmente era demasiado cedo para gostar de uma música tão cheia de tensão e de lirismo, praticamente sem árias fáceis à italiana mas com frases melódicas cujo significado eu então não entendia. Siegfried é uma espécie de compêndio do wagnerismo, não? A sabatina entre o Caminhante e Mime (que contém pelo menos uma observação epistemológica fundamental: Tinhas três perguntas a fazer-me e só perguntaste coisas que já sabias, diz o Caminhante) é em primeiro lugar uma revisão da história anterior ilustrada com os leitmotive correspondentes.
Siegfried foi transmitida no sábado passado e temia-se que o tenor Jay Hunter Morris, substituto do substituto do cantor inicialmente designado, não estivesse à altura, embora já tivesse cantado o papel na San Francisco Opera e o Met não fosse com certeza buscar um incompetente. Ora Morris pode ter algumas falhas (a nota falhada no fim do primeiro acto) mas compôs um belíssimo Siegfried, tanto vocal como cenicamente, e o Siegfried é um herói com defeitos, um rapazola com uma educação muito deficiente no isolamento da floresta, a quem se perdoa a má-criação, como Wotan o faz, pela inocência e pelo amor que inspira. Morris, ainda por cima, tem uma bela figura, uns olhos lindos e límpidos como convém, e coragem e empenho não lhe faltam. Chegou ao terceiro acto cansadíssimo (já no primeiro intervalo confessou estar muito cansado) e isso notou-se até nos pedidos de apoio ao maestro e à orquestra. Fico com muita vontade de o rever em Fevereiro no Götterdämmerung.
O outro tenor, Gerhard Siegler, que fez o anão Mime, foi fantástico: tem uma voz impecável, e cenicamente foi brilhante, um Mime buffo cheio de tiques, que provavelmente passam despercebidos no palco mas nos primeiros planos da transmissão - ou do DVD que está prometido - são necessariamente valorizados. Mime é um personagem do qual inicialmente nos apiedamos, mas que depois, quando nos é permitido, como a Siegfried, ouvir os seus verdadeiros pensamentos, merece toda a repugnância que este lhe dedica.
Um encenador europeu talvez se lembrasse de recriar a relação entre os dois no quadro da pedofilia, justificando ainda mais o herói, sem sequer trair o libretto, mas Robert Lepage preferiu mais uma vez, apesar da tecnologia, uma encenação bastante clássica, fácil de perceber, com bom ritmo e movimento dos actores, excepto o final um bocadinho tonto.
Voltando aos cantores: absolutamente perfeito Bryn Terfel, em voz e em atitude, como Caminhante/Wotan, o deus imperfeito; muito bem os baixos Eric Owens e Hans Peter König nos pequenos papéis de Alberich e Fafner e a mezzo-soprano Patricia Bardon no de Erda. O passarinho foi cantado por Mojca Erdmann, a Zerlina da semana passada.
Debbie Voigt foi mais uma vez Brünnhilde. Pode já não conseguir sustentar as notas, como diz o Paulo, mas gostei de a ouvir, e para mim fez uma (ex) valquíria muito credível e agradável, gerindo bem as suas capacidades.
A orquestra foi divina, e confirmo que gosto muito da direcção viva de Fabio Luisi. A música do despertar de Brünnhilde comoveu-me de tão bonita. A máquina funcionou bem, e apesar do tratamento do som na transmissão ainda foi possível ouvi-la estalar e grunhir, o que ao vivo deve ser complicado; pergunto-me também às vezes como conseguem os cantores andar por ali sem escorregar. Os efeitos visuais de Pedro Pires (de origem portuguesa) foram interessantes. Fraco, mesmo, foi o dragão, completamente incapaz de assustar quem quer que fosse, quanto mais o herói.
A escolha de clips desta produção ainda não é muita; fica aqui a canção de Notung.
Siegfried foi transmitida no sábado passado e temia-se que o tenor Jay Hunter Morris, substituto do substituto do cantor inicialmente designado, não estivesse à altura, embora já tivesse cantado o papel na San Francisco Opera e o Met não fosse com certeza buscar um incompetente. Ora Morris pode ter algumas falhas (a nota falhada no fim do primeiro acto) mas compôs um belíssimo Siegfried, tanto vocal como cenicamente, e o Siegfried é um herói com defeitos, um rapazola com uma educação muito deficiente no isolamento da floresta, a quem se perdoa a má-criação, como Wotan o faz, pela inocência e pelo amor que inspira. Morris, ainda por cima, tem uma bela figura, uns olhos lindos e límpidos como convém, e coragem e empenho não lhe faltam. Chegou ao terceiro acto cansadíssimo (já no primeiro intervalo confessou estar muito cansado) e isso notou-se até nos pedidos de apoio ao maestro e à orquestra. Fico com muita vontade de o rever em Fevereiro no Götterdämmerung.
O outro tenor, Gerhard Siegler, que fez o anão Mime, foi fantástico: tem uma voz impecável, e cenicamente foi brilhante, um Mime buffo cheio de tiques, que provavelmente passam despercebidos no palco mas nos primeiros planos da transmissão - ou do DVD que está prometido - são necessariamente valorizados. Mime é um personagem do qual inicialmente nos apiedamos, mas que depois, quando nos é permitido, como a Siegfried, ouvir os seus verdadeiros pensamentos, merece toda a repugnância que este lhe dedica.
Um encenador europeu talvez se lembrasse de recriar a relação entre os dois no quadro da pedofilia, justificando ainda mais o herói, sem sequer trair o libretto, mas Robert Lepage preferiu mais uma vez, apesar da tecnologia, uma encenação bastante clássica, fácil de perceber, com bom ritmo e movimento dos actores, excepto o final um bocadinho tonto.
Voltando aos cantores: absolutamente perfeito Bryn Terfel, em voz e em atitude, como Caminhante/Wotan, o deus imperfeito; muito bem os baixos Eric Owens e Hans Peter König nos pequenos papéis de Alberich e Fafner e a mezzo-soprano Patricia Bardon no de Erda. O passarinho foi cantado por Mojca Erdmann, a Zerlina da semana passada.
Debbie Voigt foi mais uma vez Brünnhilde. Pode já não conseguir sustentar as notas, como diz o Paulo, mas gostei de a ouvir, e para mim fez uma (ex) valquíria muito credível e agradável, gerindo bem as suas capacidades.
A orquestra foi divina, e confirmo que gosto muito da direcção viva de Fabio Luisi. A música do despertar de Brünnhilde comoveu-me de tão bonita. A máquina funcionou bem, e apesar do tratamento do som na transmissão ainda foi possível ouvi-la estalar e grunhir, o que ao vivo deve ser complicado; pergunto-me também às vezes como conseguem os cantores andar por ali sem escorregar. Os efeitos visuais de Pedro Pires (de origem portuguesa) foram interessantes. Fraco, mesmo, foi o dragão, completamente incapaz de assustar quem quer que fosse, quanto mais o herói.
A escolha de clips desta produção ainda não é muita; fica aqui a canção de Notung.
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Os carros mais bonitos Parte VIII
Não sou particularmente apreciadora de Porsches, que no entanto julgo serem o carro de sonho da maioria dos homens e de algumas mulheres. O L.A. tem um 911 Targa de 1984 que é o seu orgulho. Outro dia deu-me boleia, e o carro é muito mais pequeno e confortável do que me parecia; no entanto, quando leva a namorada a acelerar, a pobrezita vai de coração na garganta.
Para mim, se um VW é uma carocha, um Porsche é uma carocha esborrachada, e no entanto ainda capaz de correr muito mais depressa do que eu. A não ser o novo Boxter, que é lindo e sem dúvida merecedor de um lugar no pódio.
Para mim, se um VW é uma carocha, um Porsche é uma carocha esborrachada, e no entanto ainda capaz de correr muito mais depressa do que eu. A não ser o novo Boxter, que é lindo e sem dúvida merecedor de um lugar no pódio.
(Quinta do Lago, Almancil, Setembro 2011)
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Tempestade
Chegaram os temporais a todo o país
e ao resto da Europa também.
(Praia da Galé, Novembro 2011)
e ao resto da Europa também.
Quem é você? Diga logo...*
Ou, pelo menos, quantos é você? Encontre o seu número de ordem na população mundial, segundo este modelo da BBC (via Expresso). Quando penso que já nasceram cerca de dez mil milhões de pessoas depois de mim, sinto vertigens.
*acrescentado em 6/11/11 para quem não sabe: o título é um verso desta canção de Chico Buarque d'Holanda.
*acrescentado em 6/11/11 para quem não sabe: o título é um verso desta canção de Chico Buarque d'Holanda.
terça-feira, 1 de novembro de 2011
De NY para Lisboa: Don Giovanni
Assisti à ópera Don Giovanni transmitida do Met no sábado passado para a Fundação Gulbenkian: a encenação de Michael Grandage seguia o libretto de muito perto, numa leitura imediata, sem grandes novidades, mas em que tudo fazia sentido. Dentro do género, gostei. Os cenários eram um bocadinho escuros e monótonos, os figurinos pelo contrário correctos e elegantes, tudo a condizer, o que se espera do Met. A orquestra excelente sob a direcção vivace con brio de Fabio Luisi.
Gostei de todas as vozes masculinas. Os barítonos Mariusz Kwiecien (Don Giovanni) e Luca Pisaroni (Leporello) excelentes, fazendo uma grande equipa. Kwiecien aliás comentou no intervalo que já se conheciam bem nos respectivos papéis, e estes de trás para a frente. Pisaroni tem uma voz magnífica e uma grande presença cénica; todas as árias lhe sairam lindamente. O tenor Ramón Vargas tem uma voz muito doce e bonita, com fraseado elegante, e conseguiu construir um Don Ottavio cuja fraqueza não é vexatória. Joshua Bloom foi um Masetto simpático e o baixo Stefan Kocán, sem falhas, um Commendatore apropriadamente arrepiante.
Quanto aos sopranos, alguns reparos. Marina Rebeka na Dona Anna, uma voz clara mas metálica, com perfeito controle dos agudos e da afinação. O wagner-fanatic achou que a maneira de cantar de Rebeka seria talvez adequada à Rainha da Noite; o facto é que são duas personagens psicologicamente muito semelhantes, que perseguem a vingança através de terceiros que manipulam pelo afecto. Barbara Frittoli na Dona Elvira esteve muito melhor na parte vocal do que eu esperava, embora desejasse uma criação cénica mais complexa. Mojca Erdmann na Zerlina foi uma voz fresca e agradável, que no entanto Jorge Calado, na sua coluna do Expresso, diz que ao vivo, no ensaio geral, mal se ouvia - mais uma vez se comprova que não se pode realmente julgar as vozes pelo que os microfones nos apresentam.
Em resumo, um Don Giovanni dirigido às famílias, outra excelente tarde passada no Grande Auditório. Na próxima semana há mais.
Gostei de todas as vozes masculinas. Os barítonos Mariusz Kwiecien (Don Giovanni) e Luca Pisaroni (Leporello) excelentes, fazendo uma grande equipa. Kwiecien aliás comentou no intervalo que já se conheciam bem nos respectivos papéis, e estes de trás para a frente. Pisaroni tem uma voz magnífica e uma grande presença cénica; todas as árias lhe sairam lindamente. O tenor Ramón Vargas tem uma voz muito doce e bonita, com fraseado elegante, e conseguiu construir um Don Ottavio cuja fraqueza não é vexatória. Joshua Bloom foi um Masetto simpático e o baixo Stefan Kocán, sem falhas, um Commendatore apropriadamente arrepiante.
Quanto aos sopranos, alguns reparos. Marina Rebeka na Dona Anna, uma voz clara mas metálica, com perfeito controle dos agudos e da afinação. O wagner-fanatic achou que a maneira de cantar de Rebeka seria talvez adequada à Rainha da Noite; o facto é que são duas personagens psicologicamente muito semelhantes, que perseguem a vingança através de terceiros que manipulam pelo afecto. Barbara Frittoli na Dona Elvira esteve muito melhor na parte vocal do que eu esperava, embora desejasse uma criação cénica mais complexa. Mojca Erdmann na Zerlina foi uma voz fresca e agradável, que no entanto Jorge Calado, na sua coluna do Expresso, diz que ao vivo, no ensaio geral, mal se ouvia - mais uma vez se comprova que não se pode realmente julgar as vozes pelo que os microfones nos apresentam.
Em resumo, um Don Giovanni dirigido às famílias, outra excelente tarde passada no Grande Auditório. Na próxima semana há mais.
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Os veados da Nazaré
Notícia do Público:
Primeira hasta pública tinha ficado deserta
Veados da Nazaré foram finalmente vendidos e renderam 3 mil euros
27.10.2011 - 13:25 Por Inês Boaventura
À segunda foi de vez. A Câmara da Nazaré vendeu hoje, em hasta pública, 11 veados por 3.050 euros.
(...)
Segundo revelou ao PÚBLICO a assessora de imprensa da autarquia, todos os lotes foram arrematados. Os dois primeiros pelo proprietário de uma quinta em Ourém e um valor total de dois mil euros. O último lote foi arrematado pelo proprietário de uma unidade de turismo rural em Portel, que deu por ele 1.050 euros. Houve mais um concorrente, que não levou nenhum dos lotes para casa.
A Câmara da Nazaré já defendeu em comunicado que a população de cervídeos no cercado do Pinhal de Nossa Senhora da Nazaré é "demasiado grande para o habitat onde estão inseridos" e alertou que a manter-se o "acentuado" nível de reprodução da espécie "o seu habitat poderia entrar em desequilíbrio e degradar as condições de vida". (...)
(...) permanecerão no cercado, após o levantamento dos que foram alienados hoje, dois machos, seis fêmeas e as crias.
Não fazia ideia que a Câmara da Nazaré fosse proprietária de veados e os pudesse vender. Podendo, foi melhor opção do que outras possíveis, embora vender onze veados por esse preço me pareça ofensivo para os veados. Espero que sejam felizes nos lugares para onde vão - pelo que leio, parece que não serão caçados.
Um dia talvez vejamos, como nas aldeias da Áustria, veados a pastar no jardim de casa... Ah, sonhar não custa...
Primeira hasta pública tinha ficado deserta
Veados da Nazaré foram finalmente vendidos e renderam 3 mil euros
27.10.2011 - 13:25 Por Inês Boaventura
À segunda foi de vez. A Câmara da Nazaré vendeu hoje, em hasta pública, 11 veados por 3.050 euros.
(...)
Segundo revelou ao PÚBLICO a assessora de imprensa da autarquia, todos os lotes foram arrematados. Os dois primeiros pelo proprietário de uma quinta em Ourém e um valor total de dois mil euros. O último lote foi arrematado pelo proprietário de uma unidade de turismo rural em Portel, que deu por ele 1.050 euros. Houve mais um concorrente, que não levou nenhum dos lotes para casa.
A Câmara da Nazaré já defendeu em comunicado que a população de cervídeos no cercado do Pinhal de Nossa Senhora da Nazaré é "demasiado grande para o habitat onde estão inseridos" e alertou que a manter-se o "acentuado" nível de reprodução da espécie "o seu habitat poderia entrar em desequilíbrio e degradar as condições de vida". (...)
(...) permanecerão no cercado, após o levantamento dos que foram alienados hoje, dois machos, seis fêmeas e as crias.
Não fazia ideia que a Câmara da Nazaré fosse proprietária de veados e os pudesse vender. Podendo, foi melhor opção do que outras possíveis, embora vender onze veados por esse preço me pareça ofensivo para os veados. Espero que sejam felizes nos lugares para onde vão - pelo que leio, parece que não serão caçados.
Um dia talvez vejamos, como nas aldeias da Áustria, veados a pastar no jardim de casa... Ah, sonhar não custa...
(St. Wolfgang, Setembro 2000)
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Joyce alla Scala
A ouvir, graças ao Paulo que me indicou o link da Radio 3 italiana, Joyce DiDonato, Juan Diego Florez e outros a cantar La Donna del Lago no Teatro alla Scala em Milão.
A Joyce tem estado doente mas mesmo assim está a cantar lindamente, esperemos que se aguente.
Para quem quiser seguir (começou às 19h00 e são mais de três horas), eis o libretto.
Aqui fica um clip da senhora a cantar a última ária na mesma produção, há um ano em Paris:
A Joyce tem estado doente mas mesmo assim está a cantar lindamente, esperemos que se aguente.
Para quem quiser seguir (começou às 19h00 e são mais de três horas), eis o libretto.
Aqui fica um clip da senhora a cantar a última ária na mesma produção, há um ano em Paris:
domingo, 23 de outubro de 2011
Chove
Eu sei que a chuva faz falta, mas que mal havia em que tivesse um horário/calendário diferente? Por exemplo, podia chover todas as noites do ano entre as três e as seis da manhã. O pessoal já sabia e programava o trabalho nocturno e as saídas (ou entradas!) das discotecas de acordo com isso,
Esta manhã fui despedir-me do Verão. Estava lindo.
Esta manhã fui despedir-me do Verão. Estava lindo.
(Praia de Dona Ana, Lagos, Outubro 2011)
sábado, 22 de outubro de 2011
Liszt: Jogos d'água
Em dia de aniversário de Liszt - duzentos anos, nada menos! - aqui fica uma das peças que escreveu inspirado nos seus anos de peregrinação pela Europa. A Villa d'Este fica em Tivoli, perto de Roma, e lembro-me da sensação de frescura dos seus jardins e fontes quando, há muitos anos, a visitei em pleno Verão.
À atenção do sr. ministro das Finanças
Acho feio fazer queixinhas, mas deve haver aqui um equívoco qualquer, ou será que o pessoal dos Serviços da Assembleia da República vai mesmo receber em 2012 subsídio de férias e de Natal?
Via Eça é que é essa.
Via Eça é que é essa.
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
Paz no País Basco
Notícia do Expresso:
ETA anuncia fim definitivo da luta armada (vídeo)
Num vídeo publicado nos jornais bascos Gara e Berria, a ETA anuncia o fim definitvo das atividades terroristas
18:13 Quinta feira, 20 de outubro de 2011
"A ETA decidiu a cessação definitiva da sua atividade armada", refere o comunicado da organização.
"A ETA faz um apelo aos governos de Espanha e França para abrir um processo de diálogo direto que tenha por objetivo a resolução das consequências do conflito e, assim, a superar a confrontação armada. A ETA com esta declaração histórica mostra o seu compromisso claro, firme e definitivo", refere.
(...)
"A luta de longos anos criou esta oportunidade. Não foi um caminho fácil. A crueza da luta levou muitos companheiros e parceiros para sempre. Outros estão a sofrer o cárcere ou o exílio" (...)
Esta é a melhor notícia do dia. Apetece-me dançar e abraçar todos os espanhóis - sejam eles castelhanos, bascos ou andaluzes. Parabéns, hermanos, parabéns por esta vitória. Eu abomino o terrorismo.
Noto que o comunicado da ETA lamenta os seus próprios mortos mas não os mortos do outro lado. Pergunto-me o que vai acontecer agora. Uma amnistia? Será possível passar uma esponja sobre estes quarenta e três anos e não levar ninguém à justiça? Mas não me preocupo: a Espanha fará o que for preciso para mais uma etapa na reconciliação nacional.
ETA anuncia fim definitivo da luta armada (vídeo)
Num vídeo publicado nos jornais bascos Gara e Berria, a ETA anuncia o fim definitvo das atividades terroristas
18:13 Quinta feira, 20 de outubro de 2011
"A ETA decidiu a cessação definitiva da sua atividade armada", refere o comunicado da organização.
"A ETA faz um apelo aos governos de Espanha e França para abrir um processo de diálogo direto que tenha por objetivo a resolução das consequências do conflito e, assim, a superar a confrontação armada. A ETA com esta declaração histórica mostra o seu compromisso claro, firme e definitivo", refere.
(...)
"A luta de longos anos criou esta oportunidade. Não foi um caminho fácil. A crueza da luta levou muitos companheiros e parceiros para sempre. Outros estão a sofrer o cárcere ou o exílio" (...)
Esta é a melhor notícia do dia. Apetece-me dançar e abraçar todos os espanhóis - sejam eles castelhanos, bascos ou andaluzes. Parabéns, hermanos, parabéns por esta vitória. Eu abomino o terrorismo.
Noto que o comunicado da ETA lamenta os seus próprios mortos mas não os mortos do outro lado. Pergunto-me o que vai acontecer agora. Uma amnistia? Será possível passar uma esponja sobre estes quarenta e três anos e não levar ninguém à justiça? Mas não me preocupo: a Espanha fará o que for preciso para mais uma etapa na reconciliação nacional.
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Don Carlo no São Carlos
Durante os próximos dez anos não espero voltar ao São Carlos. Mais ainda se todos os governos forem persististindo na política de redução de subsídios, reduzindo proporcionalmente a já fraca possibilidade de se contratarem elencos decentes.
De facto, ou se aumentam de alguma forma as verbas para a produção de espectáculos ou mais vale cortá-las de vez e esquecer a ópera em Portugal.
Fui ontem à única récita do Don Carlo a que me era possível assistir. Quem esteve na estreia e noutras récitas pareceu ter ficado contente, e lá fiz uns malabarismos que me permitiram ir a Lisboa durante a semana.
A encenações meio parvas já estou habituada, e esta, de Stephen Langridge, não era das mais parvas, se passarmos sobre coisas como, desde logo, os anacronismos criados pela passagem da acção do século dezasseis para o século vinte, pôr em primeiro plano um caixote de vidro que tanto fazia de altar como de túmulo de Carlos V ou de banco de jardim, obrigar Elisabete Matos a cantar diversas vezes de joelhos e vestido comprido, tendo de levantar-se com óbvia dificuldade, ou não acender o fogo a propósito, na cena do auto-de-fé, e no último acto acendê-lo a despropósito.
Adiante. Nos figurinos havia de tudo, desde vestidos de festa para a rainha e suas aias passearem no jardim até um príncipe vestido com a roupinha suplente de um dos músicos da orquestra (acho eu). Mas também já vi pior.
Quanto ao coro e à orquestra em si mesmos, nada contra, gostei de os ouvir. Só que ainda não percebi se há alguma coisa errada com a construção do teatro, sei lá, o fosso da orquestra muito avançado, por exemplo, ou se o facto de a orquestra repetidamente abafar os solistas se deve a má direcção daquela ou a falta de qualidade destes.
Vamos então aos solistas. Começaram todos mal, pessimamente, embora alguns melhorassem pela noite dentro. Admito que o tenor Giancarlo Monsalve, que adoeceu na primeira récita, ainda não esteja recuperado: assim se explica que tenha estado rouco, incapaz de agudos, incapaz fosse do que fosse. Já o barítono Dimitri Platanias tem uma voz bastante bonita - quando se ouve - e fez um Posa aceitável dentro das suas capacidades cénicas. A mezzo-soprano albanesa Enkelejda Shkosa foi uma Eboli desastrosa na canção do véu do primeiro acto, fraca no segundo, atacando mal O don fatale no terceiro mas acabando melhor do que começara.
O baixo Enrico Iori foi o melhor da noite, a voz era boa, bem trabalhada e ouvia-se. Podia ter sido mais expressivo - afinal, o rei Filippo tem algumas das árias mais bonitas da ópera - mas não esteve mal. No confronto com o Grande Inquisidor, Ayk Martirossian, faltou contraste nas vozes, pelo que se pode culpar o casting. A propósito, nunca vi tanta falta de empatia como entre este príncipe e esta rainha.
E a rainha, Elisabete Matos, a razão principal que me levou ao S. Carlos desta vez? Que fique claro: eu simpatizo muito com ela, fico contente quando tem sucesso e orgulhosa quando a plateia do Met se levanta para a aplaudir. Mas não gosto da voz dela, e ontem percebi porquê,
Elisabete tem uma maneira de cantar antiga - ela própria o confirma na entrevista que concedeu a Jorge Rodrigues para o programa de sala. É essa forma de cantar, é essa voz particular que cativou os americanos - una voce all'antica, diz ela, que lhes faz lembrar Birgit Nilsson ou Kirsten Flagstad, e que ao meu ouvido, se calhar educado por outras vozes, não encanta, nem é sequer agradável.
Finalmente, só uma menção para Joana Seara, que já vi cantar bem e ontem não correspondeu ao esperado no pequeno papel de Tebaldo.
De facto, ou se aumentam de alguma forma as verbas para a produção de espectáculos ou mais vale cortá-las de vez e esquecer a ópera em Portugal.
Fui ontem à única récita do Don Carlo a que me era possível assistir. Quem esteve na estreia e noutras récitas pareceu ter ficado contente, e lá fiz uns malabarismos que me permitiram ir a Lisboa durante a semana.
A encenações meio parvas já estou habituada, e esta, de Stephen Langridge, não era das mais parvas, se passarmos sobre coisas como, desde logo, os anacronismos criados pela passagem da acção do século dezasseis para o século vinte, pôr em primeiro plano um caixote de vidro que tanto fazia de altar como de túmulo de Carlos V ou de banco de jardim, obrigar Elisabete Matos a cantar diversas vezes de joelhos e vestido comprido, tendo de levantar-se com óbvia dificuldade, ou não acender o fogo a propósito, na cena do auto-de-fé, e no último acto acendê-lo a despropósito.
Adiante. Nos figurinos havia de tudo, desde vestidos de festa para a rainha e suas aias passearem no jardim até um príncipe vestido com a roupinha suplente de um dos músicos da orquestra (acho eu). Mas também já vi pior.
Quanto ao coro e à orquestra em si mesmos, nada contra, gostei de os ouvir. Só que ainda não percebi se há alguma coisa errada com a construção do teatro, sei lá, o fosso da orquestra muito avançado, por exemplo, ou se o facto de a orquestra repetidamente abafar os solistas se deve a má direcção daquela ou a falta de qualidade destes.
Vamos então aos solistas. Começaram todos mal, pessimamente, embora alguns melhorassem pela noite dentro. Admito que o tenor Giancarlo Monsalve, que adoeceu na primeira récita, ainda não esteja recuperado: assim se explica que tenha estado rouco, incapaz de agudos, incapaz fosse do que fosse. Já o barítono Dimitri Platanias tem uma voz bastante bonita - quando se ouve - e fez um Posa aceitável dentro das suas capacidades cénicas. A mezzo-soprano albanesa Enkelejda Shkosa foi uma Eboli desastrosa na canção do véu do primeiro acto, fraca no segundo, atacando mal O don fatale no terceiro mas acabando melhor do que começara.
O baixo Enrico Iori foi o melhor da noite, a voz era boa, bem trabalhada e ouvia-se. Podia ter sido mais expressivo - afinal, o rei Filippo tem algumas das árias mais bonitas da ópera - mas não esteve mal. No confronto com o Grande Inquisidor, Ayk Martirossian, faltou contraste nas vozes, pelo que se pode culpar o casting. A propósito, nunca vi tanta falta de empatia como entre este príncipe e esta rainha.
E a rainha, Elisabete Matos, a razão principal que me levou ao S. Carlos desta vez? Que fique claro: eu simpatizo muito com ela, fico contente quando tem sucesso e orgulhosa quando a plateia do Met se levanta para a aplaudir. Mas não gosto da voz dela, e ontem percebi porquê,
Elisabete tem uma maneira de cantar antiga - ela própria o confirma na entrevista que concedeu a Jorge Rodrigues para o programa de sala. É essa forma de cantar, é essa voz particular que cativou os americanos - una voce all'antica, diz ela, que lhes faz lembrar Birgit Nilsson ou Kirsten Flagstad, e que ao meu ouvido, se calhar educado por outras vozes, não encanta, nem é sequer agradável.
Finalmente, só uma menção para Joana Seara, que já vi cantar bem e ontem não correspondeu ao esperado no pequeno papel de Tebaldo.
Integridade
Notícia do Público:
Dados do estudo "Integridade Académica em Portugal"
Metade dos estudantes do superior admite já ter plagiado em trabalhos académicos
19.10.2011 - 09:07 Por Samuel Silva
O plágio entre os estudantes portugueses é hoje uma prática "generalizada" e facilitada pelo acesso às novas tecnologias. (...)
A fraude mais recente, segundo o estudo, não é bem o plágio, mas a "reciclagem" de um ensaio ou trabalho feito anteriormente para outra disciplina e entregue como se de material original se tratasse.
Ainda assim. Triste país que tal juventude enforma.
Dados do estudo "Integridade Académica em Portugal"
Metade dos estudantes do superior admite já ter plagiado em trabalhos académicos
19.10.2011 - 09:07 Por Samuel Silva
O plágio entre os estudantes portugueses é hoje uma prática "generalizada" e facilitada pelo acesso às novas tecnologias. (...)
A fraude mais recente, segundo o estudo, não é bem o plágio, mas a "reciclagem" de um ensaio ou trabalho feito anteriormente para outra disciplina e entregue como se de material original se tratasse.
Ainda assim. Triste país que tal juventude enforma.
Subscrever:
Mensagens (Atom)