Escreve José Manuel Fernandes no Observador:
Cas Mudde e Cristóbal Rovira Kaltwasser, num pequeno livro que acaba de sair em Portugal, “Populismo – Uma Brevíssima Introdução” (Gradiva), escrevem: “Definimos populismo como uma ideologia de baixa densidade que considera que a sociedade está, em última instância, dividida em dois campos homogéneos e antagónicos – “o povo puro” versus “a elite corrupta” – e que defende que a política deveria ser uma expressão da volonté générale (vontade geral) do povo”
Ora a verdade é que cada vez mais, ao ler e ao ouvir as notícias, sinto que há dois mundos diferentes e paralelos, um em que vivemos nós, mortais comuns afogados em preocupações comuns (a prestação da casa, o IMI, o trânsito, as listas de espera nos hospitais e o despontar dos seguros de saúde, os fins-de-semana, as férias, o trabalho, o burnout e o desemprego, as reformas antecipadas, a educação dos filhos), e outro em que vivem as pessoas de dinheiro e de poder, cujos interesses passam pelos movimentos de muitos milhões de euros. Só.
Se ao menos não houvesse contactos nem interferências entre estes dois mundos, poderíamos no nosso seguir as nossas vidinhas e ignorar o outro, ou encará-lo como um filme no cinema; poderíamos tentar melhorar as nossas situações com regras escolhidas por nós e que para nós fizessem sentido. Infelizmente parece que, para continuarem a movimentar os seus milhões, essas outras pessoas precisam de nos infernizar, subjugar e manter em estado de ignorância e precariedade.
Quando era mais novinha, acreditava que a minha vida iria mudar no sentido de maior liberdade, maior conhecimento e reconhecimento profissional, mais dinheiro, mais amigos, melhores viagens, mais tranquilidade, em resumo, maior amplidão de recursos e horizontes. Hoje sinto-me como um rio apertado entre paredes de betão. Quando chove, o caudal aumenta e consigo espreitar para além destas margens artificiais, mas cada vez mais, entre barragens e comportas, sou obrigada a manter-me num curso que não escolhi até chegar, inevitavelmente, ao mar.
Cas Mudde e Cristóbal Rovira Kaltwasser, num pequeno livro que acaba de sair em Portugal, “Populismo – Uma Brevíssima Introdução” (Gradiva), escrevem: “Definimos populismo como uma ideologia de baixa densidade que considera que a sociedade está, em última instância, dividida em dois campos homogéneos e antagónicos – “o povo puro” versus “a elite corrupta” – e que defende que a política deveria ser uma expressão da volonté générale (vontade geral) do povo”
Ora a verdade é que cada vez mais, ao ler e ao ouvir as notícias, sinto que há dois mundos diferentes e paralelos, um em que vivemos nós, mortais comuns afogados em preocupações comuns (a prestação da casa, o IMI, o trânsito, as listas de espera nos hospitais e o despontar dos seguros de saúde, os fins-de-semana, as férias, o trabalho, o burnout e o desemprego, as reformas antecipadas, a educação dos filhos), e outro em que vivem as pessoas de dinheiro e de poder, cujos interesses passam pelos movimentos de muitos milhões de euros. Só.
Se ao menos não houvesse contactos nem interferências entre estes dois mundos, poderíamos no nosso seguir as nossas vidinhas e ignorar o outro, ou encará-lo como um filme no cinema; poderíamos tentar melhorar as nossas situações com regras escolhidas por nós e que para nós fizessem sentido. Infelizmente parece que, para continuarem a movimentar os seus milhões, essas outras pessoas precisam de nos infernizar, subjugar e manter em estado de ignorância e precariedade.
Quando era mais novinha, acreditava que a minha vida iria mudar no sentido de maior liberdade, maior conhecimento e reconhecimento profissional, mais dinheiro, mais amigos, melhores viagens, mais tranquilidade, em resumo, maior amplidão de recursos e horizontes. Hoje sinto-me como um rio apertado entre paredes de betão. Quando chove, o caudal aumenta e consigo espreitar para além destas margens artificiais, mas cada vez mais, entre barragens e comportas, sou obrigada a manter-me num curso que não escolhi até chegar, inevitavelmente, ao mar.
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