domingo, 20 de dezembro de 2015

Gerando monstros

Porque é tão difícil encontrar à noite na televisão um programa de ficção que não tenha que ver com assassínios violentos?
Ontem encontrei num dos canais Fox uma cena em que um homem era torturado até à morte à vista de quem acedia a um determinado site, e quanto mais visitas esse site tivesse mais aumentava automaticamente a intensidade da tortura.
Claro que passei adiante, mas ficou a pergunta: que cérebro anormal é capaz de inventar semelhante selvajaria, ainda que para um filme de televisão?

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Tenerife

A última viagem do ano foi uma há muito adiada. As Canárias têm a reputação manchada como destino de turismo de massas, Albufeiras tamanho gigante, plantações de hoteis que são uma das piores invenções dos espanhóis. Mesmo assim, desta vez enchi-me de coragem e aterrei em Tenerife.

Obviamente há esses monstros, desde os mais conhecidos como a Playa de las Americas até outros aparentemente mais remotos:

(Puerto de Santiago, Novembro 2015)

Mesmo assim é possível encontrar uma cidadezinha mais discreta com a sua praia artificial

(Alcalá, Novembro 2015)

e até ficar num aparthotel cheio de estilo:

(Alcalá, Novembro 2015)

debruçado sobre a praça onde à segunda-feira se faz o mercado local.

Ainda há pequenas praias civilizadíssimas de areia negra:

(Alcalá, Novembro 2015)

ou piscinas naturais que ao fim de semana são frequentadas também pelos locais, ou tinerfeños:

(Garachico, Novembro 2015)

Uma excursão a fazer, contudo, é a que nos leva a ver baleias:

(Puerto de Santiago, Novembro 2015)

e golfinhos:

(Puerto de Santiago, Novembro 2015)

e estas falésias conhecidas como Los Gigantes:

(Alcantillado de Los Gigantes, Novembro 2015)

Inspirados por estas, mas deixando a costa, podemos embrenhar-nos por montes escarpados:

(Santiago del Teide, Novembro 2015)

(Santiago del Teide, Novembro 2015)

É preciso alguma coragem para negociar curvas seguidas em cotovelo em estradas em que só a berma nos salva quando cruzamos um autocarro, e podemos chegar ao destino e não conseguir lugar para estacionar quando nos apetecia uma bebida reconfortante.

(Mazca, Novembro 2015)

Mais fácil, afinal, é a visita ao Teide, o vulcão que domina a ilha, com quase quatro mil metros de altura:

(Teide, Novembro 2015)

(Teide, Novembro 2015)

apesar de no teleférico não aceitarem grávidas, cardíacos ou cães ☹

(Teide, Novembro 2015)

Procurem-se então terrenos mais amigos, mais urbanos:

(La Orotava, Novembro 2015)

onde pontifica o dragoeiro milenar

(Icod de los Vinos, Novembro 2015)

e há túneis com vista

(Icod de los Vinos, Novembro 2015)

igrejas antigas

(La Orotava, Novembro 2015)

(La Orotava, Novembro 2015)

e mesmo recintos arqueológicos
(Güimar, Novembro 2015)

com pirâmides construídas pelos guanches, os habitantes pré-hispânicos:

(Güimar, Novembro 2015)

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Tosca em Pompeios

Até este Verão desconhecia a existência de um festival de música em Pompeios, e ainda que não fosse Orange, Taormina ou Verona, entusiasmou-me a ideia de assistir a uma ópera num teatro romano antigo.

Esteve uma noite fantástica, mas o espectáculo não foi extraordinário, e a famosa acústica romana decepcionou-me: talvez porque o teatro já tem muitos restauros em betão, ou porque os meus ouvidos estão habituados à tecnologia dos nossos dias, o som da orquestra não chegava limpo.

Entre os cantores, cujos nomes só foram apresentados no início da récita, havia um já meu conhecido, o tenor Giancarlo Monsalve, que cantou o Don Carlo no S. Carlos há uns anos. Felizmente desta vez não estava constipado, mas ainda assim não foi um Cavaradossi estelar.
A Tosca foi interpretada por Maria Carfora, melhor cantora que actriz, e Scarpia por Carlo Guelfi, que também já cantou em Lisboa, e de que gostei bastante, tanto vocal como cenicamente.

Aqui deixo um bocadinho para amostra.

Memórias de Nápoles

Enquanto chove recordo alguns momentos das férias napolitanas:

a siesta do operário da construção civil

(Procida, Setembro 2015)

O smog sobre a baía

(Vesuvio, Setembro 2015)

A costiera sorrentina à qual se acede por túneis e estradas feíssimas, que ao fim-de-semana engarrafam totalmente.


As casas impossíveis de uma encantadora aldeia em socalcos hoje totalmente comercializada

(Positano, Setembro 2015)

O fogo de artifício todas as noites

(Napoli, Setembro 2015)

O parque arqueológico submerso de Baia, cuja visita falhou por "falta de visibilidade"

(Bacoli, Setembro 2015)

O pequeno, quase desconhecido Museo dei Campi Flegrei

(Miseno, Setembro 2015)

de onde se avista esta praia, onde infelizmente não aceitam cães

(Miseno, Setembro 2015)

A Tosca no Teatro Grande de Pompeios

(Pompei, Setembro 2015)

Dia de todos os santos

Cheguei de comboio a Albufeira à hora do almoço e encontrei o dilúvio.



Em breve se concluiu que não havia passagem e resolveu-se subir um passeio e esperar.



O problema foi a água continuar a subir e chegar ao sistema elétrico... Só se saiu dali a reboque para um local mais seco mas, mesmo depois de a chuva parar, a rotunda das Ferreiras só se cruzava a nado!


Valeram-nos todos os santos, a maré vazante, os bombeiros e algumas boas pessoas, e ao fim da tarde lá se conseguiu chegar a casa.

(Albufeira, Novembro 2015)

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Refugiados e migrantes

Sobre a actual "crise migratória " talvez fosse bom que se dissesse meia dúzia de coisas que não tenho ouvido se não raramente em todo este festival mediático:

1. As dezenas de milhar de pessoas que vão chegando às nossas costas e às nossas fronteiras são apenas a vanguarda: há muitas mais desesperadas em países destroçados ou arruinados.

2. Todas estas pessoas vêm na esperança de uma vida melhor: quer sejam refugiados de guerra quer não, procuram paz, estabilidade e, na maioria dos casos, imagino, emprego. Não querem certamente ser "acolhidas" em acampamentos nem viver de rações.

3. Há quem sugira o contrário: que querem viver de subsídios. É provavelmente uma redução do que acredito seja a verdade: que queiram os benefícios e direitos que sabem ou sonham existir na Europa.

4. A chanceler Merkel quer fazer a distinção entre as pessoas que têm o direito de ser recebidas e as que não têm. Essa distinção tem a ver com a proveniência ou não de países em guerra. Mas isso relaciona-se com a história e os fantasmas da Europa e não com as necessidades dessas pessoas.

5. Enquanto não chegarem ao seu destino, serão como disse Cameron, uma praga. Com falta de higiene e deixando atrás lixo que outros apanharão.

6. O presidente húngaro afirmou que este não é um problema europeu mas sim alemão. O certo é que estas pessoas querem ir para a Alemanha que, ouviram certamente dizer, é a maior economia da Europa, e da qual esperam melhores condições para viverem; não são gado para ser dividido em quotas e levado para a Eslováquia ou para Portugal independentemente da sua vontade.

7. Portugal, um pequeno país de dez milhões de pessoas, conseguiu integrar cerca de meio milhão de "retornados" quando fez a descolonização. Isso faz-nos esperar que a Europa consiga integrar uns milhões de sírios e africanos. No entanto, os valores culturais destes estão muito mais longe dos europeus do que os dos nossos "retornados" estavam. E não devemos esquecer quão longo foi o processo. Pergunto-me se a Alemanha já integrou a sua metade oriental.

8. Fala-se do contributo que estas pessoas e as suas crianças darão à força de trabalho europeia e à sua demografia envelhecida. Como se entre os nossos principais problemas não estivessem a carência de emprego para os que já cá viviam e a deslocação da produção para o Extremo Oriente.

Omissão

Os jornalistas portugueses prosseguem a narrativa angustiante da guerra entre os partidos de esquerda e de direita.
Omitem a outra guerra que está a ter lugar entre a Opus Dei e a Maçonaria, e que é transversal à anterior.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Reflexões pós-eleitorais

Hoje apetece-me escrever sobre as eleições de ontem. E é assim: não me dá alegria nenhuma a vitória da coligação PSD-PP a não ser pela bofetada (PAF!) a António Costa que fez a campanha mais medíocre de que me lembro, dando o dito por não dito ao sabor da sua impressão do que o povo quer (sim, porque aparentemente de sondagens não percebe nada) e tentando convencer toda a gente que nos cortes em salários e pensões, assim como no desemprego e na emigração, não há qualquer responsabilidade do PS.

A vitória PSD-PP não significa que as pessoas estejam contentes com a governação, ou a abstenção não teria aumentado, e o número de votos que recebeu e de deputados que elegeu não teria diminuído. Não há saco para o despesismo e a megalomania socialista, mas sabemos bem que a reforma do Estado não foi feita e que cortar salários e pensões, subir impostos e não substituir funcionários públicos independentemente da sua função, não é o mesmo que fazer crescer a economia, o que só se conseguiria com leis que estimulassem a iniciativa privada diminuindo a burocracia e os regulamentos.

Da CDU nem vale quase a pena falar: ganhou como sempre com uma extraordinária vitória do povo português contra a política de direita. O discurso é o mesmo, o resultado eleitoral inconsequente: o poder do PCP reside nos sindicatos. Mário Soares ainda tem uma possibilidade de redenção por ter evitado a unicidade sindical.

O Bloco de Esquerda teve um belíssimo resultado, por ter conseguido congregar todos os descontentes das gerações educadas depois de 1974, cujo desejo natural e louvável de um futuro melhor, com solidariedade, amor e hortas biológicas (e subsídios da União Europeia) não está inquinado pela memória do PREC. Todos? Não: há mais uma dúzia de partidos e movimentos à esquerda do Bloco de Esquerda que querem solidariedade, amor e hortas biológicas mas com subsídios canalizados directamente para os seus quintais. Nenhum deles tem expressão à excepção do PAN que elegeu um deputado sem saber bem como.

Mas eu digo-lhe como: defendendo os animais. É a única promessa que o individualiza e a única que o justifica. Assim a cumpra.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Villa San Michele (As Ilhas Flegreias - Parte II)

Na minha visita anterior a Capri fugi das multidões alugando um barco e dando a volta à ilha.

Desta vez apanhei o autocarro para Anacapri e fui revisitar a Villa San Michele. Para quem não sabe: o primeiro volume da velha Colecção Dois Mundos da editora Livros do Brasil chama-se O Livro de San Michele e foi escrito pelo médico sueco Axel Munthe que viveu entre 1857 e 1949. Formou-se muito jovem e foi trabalhar em Paris, onde se tornou médico da moda entre a comunidade expatriada mas também médico dos pobres e desventurados. Apaixonado por Itália, pela luz, pelas coisas belas e pelos animais, construiu em Anacapri uma casa onde passou muito tempo, embora tivesse acabado por morrer na Suécia. Li e reli O Livro de San Michele e a Villa é para mim uma espécie de santuário.




Adoro esta alameda:


que vai ter a um miradouro donde esta esfinge contempla a paisagem:


A esfinge tem uma história misteriosa que Munthe não desvenda. O panorama que ela contempla é este:


Na Villa há uma sala para concertos a que eu gostaria de assistir:


e um simpático restaurante afastado da confusão:



(Anacapri, Setembro 2015)

Para quem quiser saber mais sobre o Dr. Munthe e a Villa San Michele, aqui fica este link.

domingo, 27 de setembro de 2015

As ilhas Flegreias - Parte I

A baía de Nápoles é "fechada" por três ilhas habitadas de dimensões razoáveis: Capri, Ischia e Procida. Procida é a mais pequena e a menos conhecida, o que não quer dizer desconhecida - tem servido de cenário para filmes - e as suas casinhas de tons pastel vêem-se melhor depois de trepar pelas ruas estreitas em direcção ao núcleo antigo (Terra Murata) e ao sinistro antigo cárcere.



(Procida, Setembro 2015)

Ischia é a maior das três. O tempo limitado apenas permitiu um passeio a pé pelas ruas bordejadas de árvores e lojas desde o Porto de Ischia até perto do Castelo Aragonês, construção que vem de muito antes da casa de Aragão se ter apropriado da ilha, uma das muitas invasões e conquistas sofridas ao longo da sua história. O regresso foi pelas praias de areia escura, algumas públicas, outras concessionadas aos hoteis, estas em geral aumentadas por força de plataformas de cimento e equipadas com espreguiçadeiras e chapéus de sol. Valerá, penso eu, uma visita mais demorada.


(Ischia, Setembro 2015)

Capri, finalmente, a mais famosa, cobiçada por Augusto, tornada notória por Tibério e mais recentemente pelas celebridades do espectáculo do século XX, é aquela onde todos os dias desembarcam hordas de turistas. Muitos vêm em excursões organizadas, e no porto de Nápoles estava atracado o Allure of the Seas, julgo que nesta data o maior navio de cruzeiros do mundo, transportando bem mais de cinco mil passageiros.
Quanto aos viajantes independentes, perdem logo a vaidade de o serem, diante dos táxis todos ocupados e das filas de pelo menos meia-hora para autocarros e funicular completamente lotados. Chegados à piazzetta, cansados e suados, perdem-se nas ruelas atulhadas de lojas caras e vazias, porque não é o turismo de massas que pode ali consumir, preferindo as pizzerias e geladarias e o falso artesanato ou as garrafinhas de limoncello.


(Capri, Setembro 2015)