domingo, 31 de outubro de 2010

Halloween

Eu detesto filmes de terror, teias de aranha e Halloween. No entanto, quando vivi na América, achei alguma graça ao ambiente, e cheguei a ter rebuçados em casa para a eventualidade de me aparecerem trick-or-treatsters.

Os bairros residenciais de Toronto, que para o Natal se enfeitam feericamente de luzes, apresentam nesta altura decorações mais sinistras.



(Toronto, Outubro 2010)

sábado, 30 de outubro de 2010

Música e jornais

Esta semana o Expresso oferece, como início de uma série sobre grandes compositores, um CD com obras de Chopin. As informações na capa já me deixaram um bocado perplexa: sendo todas as peças para piano solo, os intérpretes anunciados são a Royal Philarmonic Orchestra com o pianista Ronan O'Hora.
Encolhi os ombros, porque toda a série está creditada à RPO, e pode por isso ser uma edição própria, embora a orquestra evidentemente não toque.

A grande surpresa vem quando ponho o CD no computador e o abro com o iTunes: é que agora o intérprete que me aparece é... Sequeira Costa, e o álbum chama-se Dela za klavir, o que, segundo o Google, é croata para Obras para piano.

Descontente com esta embrulhada, continuo a investigar. E concluo que deve tratar-se desta edição da RPO, e que o pianista será realmente O'Hora.

Ah, quem se importa, para além de mim? Tomai lá mais um pouco de Chopin, por Yuja Wang:

Calimero

Logo neste fim-de-semana em que nem sequer na segunda-feira estou de serviço, tinha de haver temporal?

É que com este vento nem sequer posso acender a lareira :-(

Imagem © Ancient Worlds

Little Portugal

Em Toronto há bairros para todos os gostos, desde a mais sofisticada Yorkville até à inevitável Chinatown e, para os nostálgicos do Portugal dos anos sessenta, o bairro português com lojas chamadas Lanalgo ou Nazaré.

A pastelaria Nova Era serve uns simpáticos pastéis de nata que são apreciados mesmo fora da comunidade portuguesa. Aí se pode igualmente comer um prego tradicional ou, se se preferir, já modificado ao gosto do Novo Mundo.




Noutra zona bem diferente, encontrei numa liquor store (no Canadá só se vendem bebidas alcoólicas em lojas especializadas) uma pequena mas boa selecção de vinhos portugueses.

(Toronto, Outubro 2010)

domingo, 17 de outubro de 2010

Roubalheira à inglesa

Há cerca de um mês um dos maiores operadores turísticos mundiais informou telefonicamente os hoteleiros de Portugal, Espanha e Turquia que iria reter uma percentagem dos pagamentos que se tinha obrigado contratualmente a fazer e que correspondiam a serviços já prestados.

Trocando por miúdos: no inverno passado este operador contratou com os hoteleiros pagar-lhes x por cliente que lhes trouxesse. Os clientes vieram, passaram férias, foram, e na altura de pagar o operador disse, Ah não, agora só vos pago x menos y, porque tive prejuízos quando da erupção do vulcão.

Eu pasmo com estas coisas. Tanto quanto sei, para cortar no salário que me paga o desgoverno deste país tem de ser autorizado pelo parlamento que teoricamente representa os meus interesses. E uma empresa qualquer, ainda por cima estrangeira (não, não se trata de xenofobia), pode decidir cortar nos pagamentos que me deve quando e como lhe apetece? E não acontece nada? Os hoteleiros, ou as suas associações representativas, não fazem uma escandaleira? Não põem os clientes todos na rua? Não sequestram os aviões desse operador? O desgoverno não se intromete? Não há queixas em Bruxelas?

Que raio de país é este...

... em que um hospital central não tem pessoal de enfermagem suficiente no Bloco Operatório para num domingo de manhã se poder operar simultaneamente dois doentes urgentes?

Mas diz que há funcionários públicos a mais e corta-se os salários aos que há.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A crise a nu

Notícia do Expresso:

Operário manifesta-se nu na EN 125 e é detido
Um operário ucraniano que trabalha na construção de um hotel na Quinta do Lago, no Algarve, manifestou-se nu na EN 125 por ter seis meses de salário em atraso. Foi detido por duas horas.
Lusa
15:53 Sexta feira, 15 de Outubro de 2010

(...)
"Tenho três filhos na Ucrânia e preciso do dinheiro dos seis meses de trabalho que me devem", declarou hoje à Lusa, Sergiy Fischchenko, 40 anos, natural da Ucrânia.
Sergiy trabalha para a empresa VDV Protrata na construção do Hotel Conrad Algarve Palácio da Quinta, promovido pelo Grupo Imocom, e foi detido durante duas horas por se ter despido na EN 125 com o objetivo de chamar a atenção para os seus problemas laborais.
(...)


Isto não tem graça nenhuma. Os ucranianos que vivem em Portugal vieram a fugir do seu país cuja economia estava um caos, onde não havia dinheiro, onde os ordenados, quando eram pagos, o eram em géneros, e onde a humanidade se dissolvia perante a fome.
Durante alguns anos sentiram-se a salvo, e resignaram-se a trocar os sonhos pela segurança de um ordenado ao fim do mês. As engenheiras fizeram-se empregadas de limpeza, os médicos carpinteiros. Aprenderam a falar português. Mas agora enfrentam a ameaça de uma nova crise económica e social e já não sabem para onde fugir.

Soubesse eu e fugia com eles.

A idade da reforma

Notícia do Diário de Notícias:

Longevidade
Ana Jorge fala em aumentar a idade da reforma
por Lusa Hoje
(...)
"Se nós aumentamos a longevidade por que não aumentar a idade da reforma, dado que somos mais activos. Hoje os 70 anos é o limite de trabalho activo na área pública e o direito à reforma é mais cedo, está nos 62,5 anos. Mas eu diria que aos 60 anos temos ainda muita capacidade e vontade de trabalhar. Isto merece uma reflexão", afirmou a governante durante a sua intervenção num seminário sobre envelhecimento, que decorre em Lisboa.
(...)


Houve a descoberta da pólvora. Houve o ovo de Colombo. Há a descoberta da longevidade pela Drª Ana Jorge.

Oiçam o que eu digo: a idade da reforma vai desaparecer, porque vai deixar de haver reformas. Os que puderem trabalharão até morrer. Os desempregados morrerão mais cedo, de fome e de doença. Meia dúzia de gajos viverão de rendimentos.

Não era assim, antigamente? Não é assim ainda hoje para metade da espécie humana? Pois no fim da crise vai ser assim outra vez. O Estado Social, meus amigos, é um parêntesis.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Não há festa no Palácio

Notícia do Diário de Notícias:

Reino Unido
Rainha anula festa de Natal devido à crise
por Lusa Hoje
(...)
A rainha Isabel II anulou a recepção que costuma dar de dois em dois anos ao pessoal por ocasião do Natal, alegando que é necessário "mostrar uma certa contenção" nos actuais difíceis tempos económicos, foi hoje anunciado.
(...)
Este ano, a festa estava prevista para 13 de Dezembro e cerca de 1200 empregados domésticos, incluindo secretários, tinham sido convidados, segundo o jornal britânico The Sun.
A «Christmas Party», financiada com fundos privados da rainha, custa cerca de 50 000 libras (57 mil euros), segundo o jornal. O palácio não confirmou estes dados.(...)


Confronte-se isto com esta notícia. E com esta outra. E há muitos que ainda julgam que as monarquias são caras.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Os carros mais bonitos Parte IV

O que primeiro me seduziu no Maserati, em finais dos anos 90, foi o interior: ao contrário de todos os outros carros que conhecia, a pele dos assentos do Maserati Quattroporte não era esticada, antes sobrava em dobras e pregas. Para mim, foi o luxo. Ou a luxúria.

Foto © BBC News

Hoje os modelos do tridente já não desperdiçam dinheiro em excessos de pele, mas as linhas do GranCabrio colocam-no decisivamente no grupo dos carros mais bonitos.

Foto © Maserati

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tony Curtis e Joan Sutherland

Depois da morte do actor Tony Curtis há poucos dias, acabei de saber que Joan Sutherland morreu ontem.

Nem um nem outro faziam parte dos meus preferidos, mas ainda assim lembro um e outro com respeito.
Tony Curtis recordo vagamente da série televisiva de aventuras The Persuaders, que protagonizava com Roger Moore. A minha irmã gostava do personagem de Curtis, eu preferia o de Moore.

Quanto a Dame Joan, nunca me encantou. Admito que a falha seja minha mas, desde que comprei a Traviata que gravou com Pavarotti sob a regência de Bonynge, e descobri que não percebia uma palavra do que ela cantava, nunca consegui gostar de a ouvir.

domingo, 10 de outubro de 2010

Aniversário

Notícia do Diário de Notícias:

Despesas
DGCI gasta 220 mil euros a comemorar aniversário
Ontem
O organismo responsável pela cobrança de impostos fez gastos elevados na celebração dos seus 160 anos.
Mais de 220 mil euros foi quanto a Direcção-Geral das Contribuições e Impostos (DGCI) gastou nas comemorações dos seus 160 anos. Estas despesas - que datam de Novembro de 2009 - incluem os gastos do jantar pago a todos os directores das Finanças, mas não contemplam as despesas de pernoita de cerca de 900 pessoas que se deslocaram a Lisboa para assistir às comemorações, o que ainda poderá adensar mais o valor.
(...)


Suspeito que as únicas pessoas que acham que há motivos para celebrar os 160 anos da DGCI estavam nesse jantar. E mesmo assim, algumas teriam dúvidas.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Sair à noite

Como acho que não se aprende nada se não se testarem coisas sem garantia, esta semana dei novas oportunidades ao cinema e ao teatro musical.

O filme Eat pray love tinha críticas razoáveis; admiti que fosse uma comédia romântica simpática, com cenários fantásticos já que se passa em Itália, na Índia e em Bali, e uma boa interpretação de Julia Roberts, mas mesmo para chick flic foi uma decepção, com um argumento fraco e sem soluções, a protagonista sempre à beira das lágrimas, e um diálogo que era uma sequência de lugares-comuns. Os cenários não salvam tudo.

Churchill - The Musical era uma aposta diferente. Os autores, dois ingleses que vivem no Algarve, lembraram-se de escrever e produzir um musical sobre aquele que foi votado na BBC como o maior britânico de todos os tempos. Ao fim de dois anos de trabalho apresentaram o espectáculo no Auditório Municipal de Lagoa, tendo importado do Reino Unido o encenador, os cantores principais e os bailarinos.

Imagem daqui

Naturalmente Derek Charles Ash e Trevor Holman desejam um grande sucesso para a sua criação, após esta estreia algarvia. E eu acho possível que tenha uma boa carreira, se eles tiverem a humildade necessária para modificar e melhorar algumas coisas.

Para começar, precisam de uma orquestra a tocar ao vivo, em vez de uma gravação fanhosa. Precisam de bons actores e cantores: se Jonathan Reynolds como Winston Churchill e Sarah Pryde como Clemmie Churchill não iam mal, a jovem Jade Willis como Anne Frank foi fraquíssima; os outros, com uma ou duas excepções, suponho que eram amadores com mais ou menos (ou nulo) talento. E precisam de recordar que teatro e cinema não têm o mesmo ritmo, que não se pode andar sempre a mudar os cenários, que por alguma razão os autores clássicos postulavam as três unidades: de lugar, de tempo e de acção.

Interessante, embora não positiva, a sensação de que no Algarve a comunidade britânica continua isolada: Churchill - The Musical foi criado por ingleses para ingleses, e apesar dos apoios e patrocínios locais, eu era uma dos quatro únicos portugueses presentes no auditório.

Lá vai outro

Notícia do Diário de Notícias:

Sporting
Ruptura coloca Izmailov no caminho do Dragão
por ISAURA ALMEIDA Hoje
Transferência do russo para o FC Porto pode concretizar-se já em Janeiro. Bettencourt e Pinto da Costa já falaram sobre o assunto.
A inevitável ruptura entre Marat Izmailov e o Sporting poderá levar o jogador para o FC Porto já em Janeiro. O DN sabe que já existiram conversas entre os dois clubes para a viabilização da transferência do médio. E nem mesmo a notícia da operação ao joelho fez com que o FC Porto perdesse o interesse.
(...)


Isto a juntar ao modo como foi feita a recente transferência de João Moutinho deve querer dizer qualquer coisa. Eu não sei o quê, mas parece-me que não abona a favor do Sporting.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Dogs on the street

Na mourama muitos cães passam o dia na rua enquanto os donos trabalham.
Não sei o nome deste, mas vejo-o quase sempre de manhã. A dona costuma deixar-lhe uma malga com água junto do capacho, e ele lá se orienta.

(Albufeira, Outubro 2010)

O que sentiria...

... se na secção de música clássica da Fnac encontrasse um garoto de cerca de sete anos sentado no chão, queixo apoiado na mão, embevecido diante de um DVD em que Simon Rattle dirige uma sinfonia de Brahms?

Felicidade e esperança, talvez?

sábado, 2 de outubro de 2010

Centenário da República

Já me estou a passar com as comemorações do centenário da implantação da República em Portugal. Até na Fnac, ontem, vi cartazes comemorativos.

Este blog pinta-se hoje de azul e branco.

Mas nesta altura acho que, monarquia ou república, este país é uma choldra porque somos o povo que somos, e não há nada a fazer.

Sequeira Costa ao vivo

O homem é franzino, parece todo cabeça e mãos. E coração. Há-de ter coração também, nota-se, embora recuse os estados de alma de um Chopin choramingas e enjoativo.
O Chopin dele é outro: de ritmos variáveis, exibicionista, brincalhão. Difícil. Às vezes quase impressionista. As mãos não têm a rapidez de outras mais jovens (Berezovsky, por exemplo) mas por isso mesmo evidenciam detalhes que tornam o recital uma experiência de descoberta.

Para quem, como eu, se diverte com estas coisas, é evidente que o tema inicial do Scherzo nº2 op 31 foi repescado por Verdi para a abertura de La Forza del Destino, mas experimentem-se esta e esta versões do Scherzo nº3 op 39 e procure-se o segundo andamento da nona sinfonia de Beethoven. Difícil? Que ideia: ei-la, na mão esquerda a partir do segundo 0:48, conforme demonstra Rubinstein.

Conforme demonstrou ontem claramente Sequeira Costa.

(Faro, Teatro das Figuras, Outubro 2010)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A crise, em resumo

Lido no blog Funes, el memorioso:

Não temos dinheiro e não temos quem nos empreste dinheiro. Ponto. Temos que passar a viver com o que temos e temos pouco. O pouco que temos não chega para o que queremos. Não chega sequer para o que estávamos habituados a ter.

É isto mesmo, em resumo.

Artur Pizarro em directo

Eu sei que ao vivo é outra coisa*, mas quando não se pode assistir ao vivo, o melhor mesmo é ouvir uma transmissão em directo, de preferência em boa companhia.
A noite passada partilhei online com o Paulo a audição do recital de Artur Pizarro no CCB transmitido pela Antena2. Não era eu que dizia que Chopin só em pequenas doses? Ha! Com o alinhamento certo e um intérprete de excepção, estas duas horas foram uma delícia, abrindo o apetite para todo o ciclo. O Pequeno Auditório esgotou, e é de prever que volte a esgotar.

E pergunto eu aos amigos bloggers que andam espalhados por aí, por este Portugal fora até às ilhas e se calhar pela estranja: que tal organizarmo-nos para seguirmos, quando de outro modo não podemos, estas transmissões num chat colectivo? É que até podemos tossir sem incomodar o/s músico/s. Arre que os portugueses tossem muito!

Aqui fica o encore oferecido por Artur Pizarro, o Nocturno em ré bemol maior do compositor português António Fragoso (1897-1918, conhecem?), embora tocado por outro pianista.


*adoptado do blog Diz que não gosta de música clássica?