quarta-feira, 11 de julho de 2012

O Inverno do Leão

Quando estive em Bordéus lembrei-me muito do filme The Lion in Winter, que conta as desavenças familiares por causa da sucessão ao trono de Inglaterra, ambicionada pelos três filhos de Henrique II: Ricardo Coração de Leão, Geoffrey e João Sem Terra. A rainha, peça fundamental desse xadrez sem tabuleiro, era Leonor da Aquitânia, uma mulher extraordinária com uma vida extraordinária, casada em primeiras núpcias com o rei de França, divorciada e re-casada com Henrique de Anjou, que viria a ser rei de Inglaterra. No filme era representada por Katharine Hepburn, uma das minhas actrizes favoritas, e o rei era Peter O'Toole.

Pois Peter O'Toole, aos oitenta anos, depois de mais de cinquenta de actividade, em que foi nomeado oito vezes para os Óscares mas só ganhou o prémio de carreira, perdida há muito a beleza estonteante de Lawrence of Arabia, cujos olhos nem pelos de Mel Gibson foram superados, decidiu reformar-se agora. Segundo disse, sai porque já não tem vontade de fazer filmes nem teatro.

Foto daqui


Eu fiquei cheia de inveja porque, no mundo actual, em que se corta tudo o que conforta quem trabalha (os médicos estão hoje em greve!) e em que no entanto a idade da reforma se afasta por imposição de uns quantos que não obedecem à sua própria regra, gostaria que só aos oitenta anos me passasse a vontade de trabalhar, mas não me parece que aconteça.

6 comentários:

Joao Quaresma disse...

Da maneira como está o cinema, em que é raro haver um filme de qualidade e a maior parte da produção dirige-se aos adolescentes tardios, eu no lugar dele também teria vontade de me reformar.

Paulo disse...

Quanto aos olhos... os de Paul Newman, não? Não desfazendo, claro.

(Boas pinturas!)

Gi disse...

JQ, de acordo quanto à qualidade da maioria dos filmes que por aí (aqui) passam.

Gi disse...

Paulo, não desfazendo, não... ;-)

(obrigada, mas ficaram adiadas para amanhã)

Ludmila Ciuffi disse...

Gostei do trocadilho com o nome desse filme tão bom. Para mim, no quesito gente de língua afiada e pensamento rápido, esse filme faz par com "Quem tem medo de Virginia Woolf". Não sei qual é melhor...
A história de Eleonor de Aquitânia valeria um filme à parte! Até seu túmulo é memorável com o jacente dela a ler a literatura que sempre amparou...

Gi disse...

Ludmila, concordo totalmente. Eu gosto de filmes com diálogos inteligentes e inesperados, como esses dois, ou ainda Sleuth, em que quando parece que um dos combatentes ganhou afinal o outro tinha dado um golpe escondido e está por cima, e o combate de mentes e palavras continua.

Quanto à vida de Leonor de Aquitania, dava de facto um filme. Ou uma série de televisão. E não era preciso inventar nada para interessar os espectadores.