Quando, em 2008 no Met, Placido Domingo apresentou a Thaïs de Massenet (interpretada por Thomas Hampson e uma radiosa Renée Fleming), lamentou não poder cantar o monge Athanaël por se tratar de um papel para barítono.
Agora que anda a brincar com esse repertório, o Teatro de la Maestranza fez-lhe o mimo: importou uma produção de Nicola Raab, o maestro Pedro Halffter conduziu a Real Orquestra Sinfónica de Sevilla e o público esgotou as três récitas.
Não é uma ópera fácil, apesar de ter música bonita e um libretto inteligente, porque não tem praticamente árias com impacto, à excepção talvez de Dis-moi que je suis belle. Se a encenação for tonta e os cantores fracos, torna-se uma seca.
Raab transportou a acção para a Paris do século XIX, não faço ideia porquê: para agradar ao cenógrafo que transformou a casa de Nicias num teatro e o deserto numa plateia empoeirada, e ao figurinista que pôs os monges de casaca? Numa ópera que fala de sexo e desejo o único assomo de sensualidade é o caminhar de Nino Machaidze. Bem sei que despir Placido Domingo no palco, na idade dele, é capaz de não ser muito boa ideia, mas nunca por nunca o vi ser sujeito à tentação.
Infelizmente nunca apanhei Domingo em cena nos seus bons tempos (assisti ao concerto que deu no estádio do Belenenses numa noite gelada de 1998, mas isso pouco conta) mas também não me parece boa ideia, depois de agora o ouvir ao vivo, que pretenda acabar a carreira como barítono porque, tendo perdido o brilho dos agudos, não tem graves nem potência para compensar. O timbre baritonal que fazia única e sexy a sua voz de tenor (e faz agora o mesmo pela de Jonas Kaufmann) perde o interesse e torna-se vulgar.
E já que se fala de tessituras, penso que independentemente de outros valores devia ser levado mais a sério por quem canta e por quem contrata a adequação das vozes aos papéis, porque, obviamente, nem todos os sopranos são capazes de cantar as mesmas coisas: eu odeio agudos gritados e Machaidze gritou-os sempre. Como pode uma voz assim esforçada ter um percurso decente?
De entre os cantores secundários o único que vale a pena mencionar foi o baixo Stefano Palatchi no papel de Palémon.
Salvou-se o coro afinado e atento, apesar do sotaque - mas de sotaques é melhor nem falar - e os solistas da orquestra. Boa parte do público aplaudiu alegremente, e outra parte saiu sem esperar pelo ritual dos agradecimentos.
Placido Domingo criou agora um festival com o seu nome a ter lugar na Andaluzia. Tem dado muito e tem muito ainda para dar e só pode ser acarinhado e respeitado, quer como músico quer como pessoa. Não me parece é que continuar a cantar seja a melhor opção.
Agora que anda a brincar com esse repertório, o Teatro de la Maestranza fez-lhe o mimo: importou uma produção de Nicola Raab, o maestro Pedro Halffter conduziu a Real Orquestra Sinfónica de Sevilla e o público esgotou as três récitas.
Não é uma ópera fácil, apesar de ter música bonita e um libretto inteligente, porque não tem praticamente árias com impacto, à excepção talvez de Dis-moi que je suis belle. Se a encenação for tonta e os cantores fracos, torna-se uma seca.
Raab transportou a acção para a Paris do século XIX, não faço ideia porquê: para agradar ao cenógrafo que transformou a casa de Nicias num teatro e o deserto numa plateia empoeirada, e ao figurinista que pôs os monges de casaca? Numa ópera que fala de sexo e desejo o único assomo de sensualidade é o caminhar de Nino Machaidze. Bem sei que despir Placido Domingo no palco, na idade dele, é capaz de não ser muito boa ideia, mas nunca por nunca o vi ser sujeito à tentação.
Infelizmente nunca apanhei Domingo em cena nos seus bons tempos (assisti ao concerto que deu no estádio do Belenenses numa noite gelada de 1998, mas isso pouco conta) mas também não me parece boa ideia, depois de agora o ouvir ao vivo, que pretenda acabar a carreira como barítono porque, tendo perdido o brilho dos agudos, não tem graves nem potência para compensar. O timbre baritonal que fazia única e sexy a sua voz de tenor (e faz agora o mesmo pela de Jonas Kaufmann) perde o interesse e torna-se vulgar.
E já que se fala de tessituras, penso que independentemente de outros valores devia ser levado mais a sério por quem canta e por quem contrata a adequação das vozes aos papéis, porque, obviamente, nem todos os sopranos são capazes de cantar as mesmas coisas: eu odeio agudos gritados e Machaidze gritou-os sempre. Como pode uma voz assim esforçada ter um percurso decente?
De entre os cantores secundários o único que vale a pena mencionar foi o baixo Stefano Palatchi no papel de Palémon.
Salvou-se o coro afinado e atento, apesar do sotaque - mas de sotaques é melhor nem falar - e os solistas da orquestra. Boa parte do público aplaudiu alegremente, e outra parte saiu sem esperar pelo ritual dos agradecimentos.
Placido Domingo criou agora um festival com o seu nome a ter lugar na Andaluzia. Tem dado muito e tem muito ainda para dar e só pode ser acarinhado e respeitado, quer como músico quer como pessoa. Não me parece é que continuar a cantar seja a melhor opção.
4 comentários:
Tem muito espaço para melhorar, e espero ainda lá ir um ano que valha a pena.
Lamento a Machaidze, mas belo post, Gi, foi um prazer ler. Obrigado.
Obrigada eu, Mário.
A voz de Fleming tem aquela sensualidade doce que a música de Massenet pede. Uma das árias que cantou na Gulbenkian foi exactamente essa: Dis-moi que je suis belle, e foi de encantar.
Quanto ao resto, estamos conversados.
Ah, em Dezembro teremos "Thaïs" em concerto. Veremos...
Paulo, veremos, como dizes - ou verá quem lá for.
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