sábado, 17 de maio de 2008

Esta sociedade não é para velhos

O Serviço de Urgência logo de manhã parece uma espécie de depósito de velhos. Velhos semideitados em macas, semivestidos com batas que não lhes pertencem, com ar atónito muito mais do que ar doente.
Não estão de resto ali por estarem doentes: estão ali porque são velhos e dependentes, e os familiares não têm tempo para cuidar deles.

A nossa sociedade é um desastre para os velhos: já não há famílias, há trabalhadores que saem de casa de manhã e regressam à noite, e os velhos ficam sozinhos, frágeis, calados, a pensar em círculos até ao regresso dos filhos, e então queixam-se, dói-lhes isto ou aquilo, e não comeram, e não saíram, e não se lavaram, e os filhos (cansados, impacientes, desesperados) levam-nos ao hospital para que lá fiquem e alguém tome conta deles.

O problema do Serviço de Urgência é ser encarado de modo completamente diverso por quem lá trabalha e por quem a ele acorre: os profissionais pensam nele como um espaço limitado, de permanência temporária, para se dar uma resposta rápida a uma situação aguda. Para os utentes, ainda não perdeu a sua antiga vocação de misericórdia onde se recolhem os desgraçados.

Até as nuvens têm
dois lados...

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