domingo, 29 de janeiro de 2017

Ciganos

Cada vez que há um doente cigano internado e o clã inteiro invade o terreno do hospital lembro-me das razões por que não gosto de ciganos: essencialmente porque não se lavam, porque não recolhem o lixo que fazem, porque vivem à margem mas aproveitam os nossos impostos, porque descuidam os cavalos e os cães, porque não estudam e não deixam as raparigas estudar.

(Faro, Janeiro 2017)

Mas hoje perguntei-me: que raio de sociedade é a nossa, especificamente a nossa, portuguesa, que não consegue convencer estas pessoas a integrar-se na nossa cultura, acrescentando-lhe as eventuais mais-valias da sua própria tradição? E apercebi-me de que conheço muito mal a realidade cigana actual no nosso país, pelo que decidi ir à procura e encontrei online este Estudo Nacional sobre as Comunidades Ciganas, que li e recomendo a quem tiver a mesma curiosidade que eu.

Não respondeu a todas as minhas perguntas, confirmou praticamente todas as minhas ideias, mas pôs-me outras questões. Levou-me a perceber melhor que temos, "nós", os gadjos, responsabilidades na discriminação mas que "eles", os ciganos ou roma, também põem barreiras à integração: afinal, há medo de parte a parte, e cada parte se defende como sabe, uma excluindo, a outra manipulando.
Talvez haja, e espero que haja, desde que alguns de "nós" tomaram consciência dos problemas deste relacionamento e que já alguns d'"eles" os encaram também, maneira de os solucionar, mas vai ser preciso tempo, esforço e motivação.

Se gosto mais dos ciganos depois de ler este estudo? Não sei. Gostava que, para começar, apanhassem o lixo em vez de o deixarem para os funcionários do hospital.

4 comentários:

Catarina disse...

Um ano, tomei banho num rio com os meus filhos, juntamente com uma amiga e os seus filhos. Para nós foi uma experiência única. Os meus filhos, ainda pequenos, estavam encantados. Tomar banho num rio?! Cool!! Entretanto, aparece uma família grande de ciganos. Entram no rio vestidos. A minha amiga reconheceu uma senhora cigana que lhe tinha aparecido no hospital com uma criança de colo e que lhe tinha levantado a voz por uma razão que já nem me recordo. Olhou para mim e fez-me sinal com a cabeça que era altura de sairmos do rio e de regressar a casa. Já não há respeito pelos médicos!! : ))

Goldfish disse...

Partilho o que não nas atitudes deles, e já convivi com a etnia em escolas primárias, onde a integração e o dia a dia funcionam apenas porque há um mediador - no caso que conheci, um rapaz cigano que estudou um pouco mais e tirou cursos de assistência social através do centro de emprego. Tenho que dizer que a sua presença fazia uma grande diferença! E por isso acredito que é possível uma maior integração e aceitação de parte a parte mas há um longo caminho a percorrer.

Gi disse...

Catarina, felizmente nenhum doente cigano me faltou ao respeito, nem eu a ele.
Tomar banho de mar vestido vi na Índia, mas obviamente com um sari é impossível nadar!

Gi disse...

Goldfish, foi o que me pareceu lendo aquele estudo. Os ciganos não seguem as nossas regras e é difícil convencê-los da importância de as seguirem. Mesmo em actividades que lhes interessam, a pontualidade e a assiduidade são-lhes estranhas, e muitas crianças só vão à escola para os pais receberem o RSI.
No entanto, com melhor formação poderão ajudar mais a sua própria gente, como esse mediador deverá ter percebido.