quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Hoje sinto-me catastrófica

As teorias de conspiração revelam o medo que quem se sente mal informado tem de estar a ser manipulado. Muitas vezes sinto-me assim mesmo, e só o medo (maior?) de ser paranóica, uma entidade clínica muito real, me defende de acreditar em estratégias maléficas do Clube Bilderberg, da Opus Dei, da Maçonaria e outros Illuminati.

Neste momento, depois de ler os títulos de jornais portugueses e estrangeiros, pergunto-me: a quem aproveita a estupidificação dos povos? Será que os donos do dinheiro e do poder pensam conseguir manter o seu nível de vida obrigando o resto da população a passar por uma catástrofe económica e social acompanhada pela desinformação total?

Isto é só um desabafo. Mas parece-me aceitável depois de ler que Sarah Palin vai ser comentadora num canal de televisão que segundo ela tanto valoriza a notícia imparcial e equilibrada, depois de ler que o Banco de Portugal prevê a retoma em Portugal a par de mais umas dezenas de milhar de desempregados e depois de ouvir já não sei em que canal de televisão o sinistro das Finanças dizer que vai controlar o défice, quando devia ser evidente que não há retoma para ninguém e que o desgoverno não tem dinheiro para mandar cantar um cego nem margem de manobra, depois de ler em quase todos os jornais que um terramoto de grau 7 escaqueirou o Haiti, um país desgraçado cheio de pretos sidosos e com um regime político deplorável, aonde vários países se preparam para entrar em força com humanitárias ajudas, desde os Estados Unidos e o Canadá à Venezuela, Venezuela esta que vai ela própria racionar energia! enquanto ali ao lado, na metade oriental da ilha, esse paraíso do turismo de massas no inverno que é a República Dominicana terá saído incólume, apesar de o sismo ter sido sentido em Cuba, outro país de pretos desgraçados com um regime político deplorável.

(Honra seja feita a El País, que terá sido o único a fugir ao molde e mencionar que a República Dominicana também terá sofrido alguma coisinha)

E mais: também li que este frio que enregela a Europa (e se calhar não só) pode ser uma pausa naquele aquecimento global desenfreado que nos vai levar ao cataclismo se continuarmos a viver como temos vivido. Isto só não me faz rir porque escondido no Telegraph vem este artigo sobre a economia do Japão e o ilusionismo em que nos mantemos, e quando a bolha estourar quem não quis ver verá, e nunca mais vamos realmente viver como temos vivido.

Medina Carreira, profeta da desgraça? You ain't seen nothing yet. O que me chateia, realmente, é que eu vejo mas não há sítio para onde fugir. Vou-me foder tanto quanto os outros, e é provavelmente a primeira vez que escrevo um palavrão assim neste blog.

9 comentários:

Mário R. Gonçalves disse...

Cara Gi,

Tendo a concordar consigo 100%, e nesses momentos gosto deste pensamento de George Borrow (1803 - 1881):

Life is sweet, brother. There’s night and day, brother, both sweet things; sun, moon, and stars, brother, all sweet things; there’s likewise a wind on the heath.

e o resto são detalhes.

Gi disse...

Mário, num dia cinzento e chuvoso como hoje torna-se difícil acreditar que haja noite e dia, sol, lua, estrelas e até a charneca. Vento há, sem dúvida ;-)

Isa disse...

No caso concreto, poderias ter escrito todos os palavrões. AMAY o post.
Bom, qt ao clima, ouvi no outro dia que estas alterações climáticas são normais, que o clima muda e a atmosfera e tais, assim mesmo.
No mais, é tentar ser feliz e ignorar as adversidades dos sensacionalismos televisivos (o Brasil é bem diferente nessa matéria, a globo) que so querem audiência e o alarmismo vem com o pacote. nc teremos a certeza de como de facto estão as coisas, então...
Bjo

Paulo disse...

Pessimista como tu também eu ando, apesar de me enervar a conversa do dito profeta.
Já agora, podemos pedir-te para repetires aqui diariamente o apanhado das notícias? Poupar-nos-ias um tempão.

P.S. Se entretanto descobrires o tal sítio para onde fugir, avisa.

Gi disse...

Pois é, Isa, a discussão sobre as alterações climáticas parece uma montanha russa. Bj para ti.

Paulo, diariamente? E tu fornecias-me os Prozacs? ;-)

Joao Quaresma disse...

Uma catástrofe previsível à muito tempo, porque é não poderia dar noutra coisa que não nisto, já que o Ocidente tem sido desgovernado em muita coisa.

Este período desde o final da Guerra Fria, de abandono do sentido de responsabilidade e de tomada do poder por parasitas tem sido doloroso de assistir, sobretudo para quem estudou Relações Internacionais.

Resumindo: o mundo está entregue aos bichos.

Estamos a caminho, entre outras coisas, 3ª guerra mundial que, à diferença das anteriores, vai ser uma guerra pela sobrevivência de populações inteiras, com toda a impiedade que isso implica.

É aproveitar as coisas boas da vida enquanto podemos.

Fugir: se eu pudesse, já tinha ido para a Austrália enquanto não blindam a entrada.

Anónimo disse...

Quando também me sinto assim catastrófica, lembro-me dos ciclos de Kondratiev: mais tarde ou mais cedo, a seguir a uma fase B, vem sempre uma fase A.
Eu sei que é simplificação da teoria, mas psicologicamente ajuda-me mais do que sonhar com migrações para o outro lado do mundo ;)

Fernando Vasconcelos disse...

Pois embora neste momento a influência da economia Japonesa no conjunto da economia mundial já não seja propriamente a mesma de há uma década ... O caso Japonês por outro lado em termos de modelo económico é muito particular e os problemas japoneses não são propriamente os mesmos que as restantes economias ocidentais. O problema de uma forma geral é que as expectativas que temos do que podemos aspirar a "possuir" não são sustentáveis ... A próxima geração vai ser a primeira desde há umas décadas que vai efectivamente viver "pior" em média ... As aspas colocadas porque talvez essa seja uma oportunidade para pensarmos se não nos enganamos quanto aos valores em que nos baseamos. Mas isto seria uma linha de raciocínio mas longa do que uma caixa comentário permite. Hoje estou em maré de "discordância", as minhas desculpas.

Gi disse...

JQ, estive a ver online se tinha pontuação para um visto para a Austrália: parece que não.


Lalage, haja fé e que o ciclo seja curto.

Fernando, por quem é :-) O grande problema japonês parece ser um endividamento brutal. Concordo consigo (hoje há um bocadinho de sol) em que teremos de rever as nossas prioridades.