domingo, 3 de novembro de 2013

Ópera em Veneza

Devagar, devagarinho, já tenho uma bela colecção de memórias de teatros de ópera frequentados. Juntei-lhe agora o La Fenice, com uma representação do Elisir d'Amore de Donizetti.

O teatro foi reconstruído, depois do mais recente incêndio, segundo a traça e decoração anterior: é grande, bonito e confortável, com o fosso da orquestra rebaixado e adiantado em relação ao palco. Nos séculos XVIII e XIX chegava-se lá de barco, mas entretanto o canal, como tantos outros em Veneza, foi preenchido e vai-se a pé.


Passei um fim de tarde muito agradável. A encenação de Bepi Morassi é viva e alegre, sem grandes idiossincrasias, e bem servida de cenários (com telas antigas pintadas) e figurinos. O maestro Stefano Montanari conduziu a orquestra com entusiasmo, e o coro deu boa conta de si. O pessoal encarregado das legendas é que só se lembrou de as ligar já ia o espectáculo adiantado.

Gostei de todos os cantores solistas. A soprano Irina Dubrovskaya foi Adina: começou praticamente inaudível, talvez por estar ao fundo do palco, mas ao longo da récita revelou um timbre claro, bonito, com agudos fortes bem controlados, nunca gritados. Um alívio! O tenor chinês Shi Yijie esteve sempre bem, vocal e cenicamente, cantando sem esforço aparente e fazendo um Nemorino credível, ingénuo e, depois da segunda garrafa de elixir, bastante bêbado (conseguindo contudo não exagerar na caricatura).

Ambos os barítonos, Marco Filippo Romani em Belcore e Omar Montanari em Dulcamara, têm vozes quentes, bem audíveis e adequadas aos seus personagens. A soprano Arianna Donadelli foi uma simpática Giannetta.

No Youtube há um video dos ensaios, e vários dos cantores em outras produções.

(Venezia, Outubro 2013)

6 comentários:

Fanático_Um disse...

Ainda bem que gostou Gi. Há anos assisti a uma Tosca (a encenação do Carsen) no La Fenice que não foi nada de especial. Mas a sala é impressionante.

Mário R. Gonçalves disse...

No La Fenice não corre muito perigo de encenações devassas, Gi, ainda bem. Nunca vi o Elisir em palco, acha que vale um esforço ?

Obrigado pelo post.


Paulo disse...

Nunca fui ao La Fenice, mas gostaria.
Ainda bem que a récita foi a contento. Lendo os nomes do elenco não reconheci nenhum, o que não quer dizer nada.

Gi disse...

Fanático_Um, esta récita não foi extraordinária mas foi honesta e suficientemente bem cantada e representada para se sair de lá bem disposto.

Gi disse...

Mário, não vale propriamente um esforço, mas se calhar apanhá-la na passagem, é de aproveitar. A outra alternativa era a Carmen, no dia seguinte.

Gi disse...

Paulo, os nomes também não me diziam nada, mas olha, foram uma agradável surpresa. Andam quase todos nos 30 anos e não me admiro se vier a re-encontrar alguns daqui a um ano ou dois em teatros muito respeitáveis.