sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Memórias da Grande Guerra


O ano passado marcou o centenário do início da Primeira Guerra Mundial, conhecida como a Grande Guerra até ao advento da Segunda.
O meu passeio de Novembro levou-me à região de Verdun e às memórias dessa guerra. Ali se estende este cemitério onde jazem quinze mil militares franceses:



aos pés do Ossuário erguido para albergar mais cento e trinta mil combatentes não identificados, tanto franceses como alemães:


(Douaumont, Novembro 2014)

Quinze mil, cento e trinta mil... Alguns dos muitos milhões de rapazes e homens que se alistaram a partir do Verão de 1914, cheios de ilusões e vontade de vencer. Em Reims, diante da catedral envolta em nevoeiro, encontrei uma exposição fotográfica extraordinária chamada Merci! 100 photos pour un Centenaire.




Com estas fotos de seres humanos que deram as suas vidas na maior carnificina da história, o curador da exposição, Jean Claude Narcy, pretende evitar que morram uma segunda vez pelo esquecimento.

A reconciliação oficial entre a França e a Alemanha teve lugar na Catedral de Reims (considerada cidade mártir da Grande Guerra)


Será sido isso que inspirou este anjo, uma das figuras do portal norte da fachada principal, a sorrir assim?

(Reims, Novembro 2014)

5 comentários:

Mário R. Gonçalves disse...

Gi,

tenho pensado muitas vezes, como é que todos aqueles rapazes - de todas as classes, aristocratas inclusive - se entusiasmavam tanto com a guerra ? Como é possível que sonhassem ir a combate como se fosse a maior alegria e ambição ? E que sofressem vergonha os que por qualquer motivo não iam ?

Hoje isso parece impensável. As guerras passadas são por de mais conhecidas em todo o seu horror. Mas os que vão militar no ISIS vão com esse mesmo entusiasmo.

Compreendo os idealistas que foram combater para Espanha contra Franco. Gostava que houvesse um idealismo assim pela Ucrânia martirizada. Mas os que se alistaram para a 1º Grande Guerra não iam por nenhum ideal - foi talvez a guerra mais idiota e sem-razão de sempre. Iam, pressurosos e animadíssimos, deixar-se morrer por causas obscuras de geopolítica imperialista.

Não percebo o que se passava na mentalidade da juventude de 14. Nem sequer era uma questão de desemprego, de falta de futuro, de miséria social ou cultural. Voltavam (?) de lá traumatizados, estropiados, mas uma nova leva estava sempre pronta a partir.


Grande post, Gi, grande post.


luisa disse...

Imagens captadas em dias de nuvens e nevoeiro o que ainda intensifica mais a mensagem que querem passar. E é maravilhoso o anjo da reconciliação.

Gi disse...

Mário, não lhe parece que a informação jornalística tem, e já tinha naquela altura, uma tremenda influência?
Em 1914 as pessoas ouviam a propaganda do "seu lado". Hoje a confusão talvez seja maior, com todos os "lados" em competição para nos manipularem, e o "outro lado" às vezes a falar muito alto.
Eu sinto que talvez seja tempo de nos deixarmos de pacifismos e começarmos a encarar a sério a hipótese de uma nova guerra. Um pensamento horrorizante.

Gi disse...

Luisa, o rosto daquele anjo foi destruído durante um bombardeamento e reconstruído. Lindo, não é?

Mário R. Gonçalves disse...

É um pensamento horrorizante, Gi, mas não vejo como isso possa estar para breve. Esse pensamento faltava em 1914, nessa altura "ir à guerra" era exaltante, talvez como diz por ignorância e cumplicidade dos jornais. Mas hoje só conheço gente que tem horror à guerra.

Mesmo o perigo que possa vir da Ucrânia e outras fronteiras leste / centro da Europa não me parece que possa alastrar. O poderio militar da Rússia ainda é muito relativo, e o fraco poderio económico não permite aventuras. Para já, claro.