Trouxe de Barcelona um romance já com alguns anos de Carlos Ruiz Zafón em relação ao qual tinha ouvido dizer maravilhas: La Sombra del Viento. Acabei de o ler há dois ou três dias, e eis em resumo a minha impressão: é um romance gótico anacrónico salvo à justa pelo humor.
Tem todos os ingredientes da tragédia macabra do século XIX na senda de Edgar Allan Poe ou, mais apropriadamente, de Ponson du Terrail: as casas em ruínas e as famílias decadentes, o tempo frio, negro e chuvoso, o homem sem rosto, as meninas de aspecto angelical, os amores impossíveis, as mortes crudelíssimas, e mesmo uma suspeita de fantasmagoria. Se no princípio a biblioteca labiríntica me apareceu como uma referência desajeitada a Borges, logo reforçada pela cegueira do primeiro objecto amoroso do protagonista, a partir de certa altura encontrei-me num mundo irmão do de Rocambole*, com a devida distância de uns milhares de quilómetros entre Paris e Barcelona e de mais de meio século de diferença temporal.
O autor, que vive em Los Angeles e escreve guiões para cinema, detalha itinerários precisos na sua cidade natal, mas o que acho particularmente conseguido é a criação da atmosfera sinistra. Há imensas mortes pelo caminho, e se não fossem as reflexões filosóficas do sem-abrigo resgatado e transformado em sidekick-com-anjo-da-guarda do herói, aquelas quinhentas e tal páginas deixariam qualquer um à beira do Prozac.
*de cujas aventuras li vários volumes quando ainda era adolescente.
Tem todos os ingredientes da tragédia macabra do século XIX na senda de Edgar Allan Poe ou, mais apropriadamente, de Ponson du Terrail: as casas em ruínas e as famílias decadentes, o tempo frio, negro e chuvoso, o homem sem rosto, as meninas de aspecto angelical, os amores impossíveis, as mortes crudelíssimas, e mesmo uma suspeita de fantasmagoria. Se no princípio a biblioteca labiríntica me apareceu como uma referência desajeitada a Borges, logo reforçada pela cegueira do primeiro objecto amoroso do protagonista, a partir de certa altura encontrei-me num mundo irmão do de Rocambole*, com a devida distância de uns milhares de quilómetros entre Paris e Barcelona e de mais de meio século de diferença temporal.
O autor, que vive em Los Angeles e escreve guiões para cinema, detalha itinerários precisos na sua cidade natal, mas o que acho particularmente conseguido é a criação da atmosfera sinistra. Há imensas mortes pelo caminho, e se não fossem as reflexões filosóficas do sem-abrigo resgatado e transformado em sidekick-com-anjo-da-guarda do herói, aquelas quinhentas e tal páginas deixariam qualquer um à beira do Prozac.
*de cujas aventuras li vários volumes quando ainda era adolescente.
10 comentários:
Não sei se foi por estes dias que regressou de Barcelona, Gi. Eu estive lá na passada semana. Tive pela primeira vez a oportunidade de visitar o complexo modernista do Hospital de la Santa Creu i Sant Pau. Caso não tenha tido oportunidade de ver (abriu ao público há poucas semanas), recomendo vivamente. É mais uma obra impressionante de Domènech i Montaner.
Fanático_Um, estive lá em Março passado. Não vi o Hospital, mas estive no Palau de la Musica Catalana, que ainda não conhecia, e que também achei impressionante.
Ainda não tive vontade de escrever sobre esse passeio, talvez o faça nos próximos dias.
Esse foi o único livro que li do autor. E fiquei agarrada a ele, não descansando enquanto não cheguei à última linha. :)
Sim, o Palau é fabuloso! Emocionei-me quando nele entrei pela primeira vez, já lá vão uns anitos. Não estava nada à espera e, como não tinha feito o trabalho de casa, a surpresa foi total.
Fico na expectativa do relato desse seu passeio. Como sempre acontece quando os leio aqui, ou me fazem reviver experiências agradáveis, ou me despertam a curiosidade para algo que não conheço, ou me fazem querer voltar a lugares onde estive mas que, leio aqui, não vi/vivi na sua plenitude.
Tb li este livro (o segundo) deste autor. Gostei. Diferente.
Comecei hoje um de Donna Tartt, “A História Secreta” , autora de “The Goldfinch”, que continua na lista dos best sellers do The New York Times.
Conta, Gi. Mas não à maneira do Tuíta. Queremos os detalhes.
Luisa, a partir de certa altura do livro, também fiquei agarrada para saber como iria desembrulhar-se aquela trama.
Fanático_Um, é muito gentil.
Eu também não tinha grandes conhecimentos sobre o Palau e fiquei encantada.
Catarina, não conhecia a autora, e The Goldfinch só do seu post sobre o quadro de Fabritius, mas já andei a investigar :-)
Paulo, como vês, já comecei a contar.
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