quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Mais ópera, por favor

Ontem saí da Fnac contente com alguns CDs apetitosos. Não tinham Jarousski mas tinham Kozená e ao ouvir o Sherza infida lembrei-me de que o Paulo, do Valkirio, escrevera há uns três ou quatro dias que sonhava com um Ariodante completo, possivelmente com a Vesselina Kasarova no papel principal.

Agora que o barroco está revalorizado, não percebo porque não programa o S. Carlos algumas dessas óperas maravilhosas. O ano passado tivemos, para alegria e orgulho, a estreia mundial contemporânea do Motezuma de Vivaldi, uma produção minimalista que viveu de cantores e músicos muito bons e uma direcção de cena capaz. Este ano, nada.

E a propósito, também o ano passado tivemos de Mozart o Così fan Tutte em versão encenada (eu vinha de uma viagem comprida e trinta e tal horas sem dormir, mas mesmo assim valeu a pena); este ano teremos La Clemenza di Tito em versão de concerto. Porquê?

A ópera é um espectáculo total desde há pelo menos 2500 anos: o teatro na antiguidade, com actores que cantavam, com coros, com bailarinos e músicos, não é mais nem menos do que o que conhecemos por ópera. Quem me dera que alguém musicasse Ésquilo ou Menandro para ouvidos actuais.

Não percebo porque se fazem versões de concerto: com os cenários miserabilistas que hoje se usam (uma cruz, uma cadeira, uma padiola no Motezuma, duas camas no Così, para falar somente de duas produções recentes), não é por estes que fica muito mais caro.
Só se for pelo encenador, mas valham-me os deuses, eu nem peço muito, certamente não estou a sonhar com o Woody Allen.

E já agora: a Gulbenkian, que pode prever que cantores carismáticos como a Bartoli esgotem auditórios, não pode contratá-los para dois espectáculos em vez de um só?

E finalmente: quando se aperceberão os promotores de concertos de que quem gosta realmente de música não está disposto a sofrer com a acústica (ou falta dela) de um pavilhão Atlântico?

2 comentários:

Paulo disse...

Olá Gi.
Sonhava mesmo com um Ariodante completo da Anne Sofie von Otter, mas quando escrevi aquele texto pensava em Kasarova. A Kozená também podia ser. Alguma coisa que seja boa, por favor!
As versões de concerto já não me incomodam como no passado. Vi tantas encenações péssimas e com maus cantores, que já prefiro que eles estejam sossegados e sem móveis. Mas que sejam bons. Numa boa versão de concerto, bons cantores conseguem transmitir toda a emoção que está na música (veja-se o Wagner de Bryn Terfel).

Xantipa disse...

Subscrevo!
E obrigada por dizeres que a Fnac (Guia, não é?)não tem o Jarousski: poupaste-me uma viagem!
:)
Beijinho