quarta-feira, 16 de abril de 2008

Os Contos de Hoffmann

O meu problema com as óperas em francês é que o francês fica irreconhecível. Cantam-se as sílabas todas, incluindo as que normalmente são mudas, e cada vez que alguém diz aimé-e eu encolho-me instintivamente. Isto para além da pronúncia horrível de alguns cantores (Johannes von Duisburg). Como conhecia muito mal Os Contos de Hoffmann, agradeci mil vezes as legendas.

Jean-Pierre Furlan, o tenor de ontem, já fez Hoffmann
em todo o lado, mas é fraquinho, muito fraquinho, com uma voz velada e pouco extensa. Também não fiquei fã de Maria Fontosh, que como Antonia era suposto ter uma voz lindíssima... Por outro lado, achei que Chelsey Schill se tinha saído bastante bem na Olympia - não a descreveria de todo como estridente, mas acredito que haja noites melhores que outras. Está claro que não é a Natalie Dessay. Foi apupada e pateada por um único espectador que parece detestá-la (e que aplaudiu imenso a Fontosh). A voz de que mais gostei foi a da mezzo-soprano Stephanie Houtzeel, que fez o Nicklausse.

Quanto à encenação, suponho que a ideia terá sido que todas as histórias não passariam de criações delirantes de alguém cronicamente etilizado, assim se justificando que o início e o fim tivessem lugar num manicómio-cliché. De resto, eu preferia que Hoffmann não passasse as cenas todas a escrever, mas se calhar é suposto ser assim. O que não é suposto, com certeza, é ele morrer no final.

Entre os cantores portugueses notei Rui Baeta (Schlemil), Pedro Chaves (Spalanzani) e Carlos Guilherme de quem gostei mais do que habitualmente. E finalmente uma palavra para o corpo de baile: as gajas não dançavam nada, mas distraíam, o que se calhar, nas circunstâncias, não era mal pensado.