segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A casa dos murmúrios

Inacreditável o anúncio murmurado de que a cantora estava indisposta e não cantaria todo o programa: a maioria das pessoas nem o ouviu, o que infelizmente foi o prenúncio do que se seguiria.

Não sei como é habitualmente ao vivo Marijana Mijanovic, mas é tão delgada que é natural que mesmo que não estivesse doente fosse difícil ouvi-la nas últimas filas do grande auditório da Gulbenkian. Eu tive a sorte de ficar na terceira fila, e confirmei com outras pessoas que fez diferença.

Mesmo assim achei a voz velada e a coloratura frágil: se calhar a senhora fica melhor em gravação. Se calhar não tem fôlego para aguentar as longuíssimas linhas melódicas de Händel. Se calhar estava doente e fez o melhor que pôde nas circunstâncias: cortou as duas árias mais exigentes, mas no fim ofereceu-nos um encore. Hoje tinha outro recital em Munique, e se calhar era verdade que tinha de poupar-se um bocadinho.

A Orquestra de Câmara de Basileia, que a acompanhou e nos deu três Concerti grossi do opus nº 3, é composta por gente muito jovem e precisaria, na minha opinião, de uma direcção mais experiente para lhe extrair todo o potencial.

Felizmente houve os danos colaterais: reencontrar o Paulo, conhecer a Io e a MJ, com quem tinha falhado uma combinação anterior, e o Ezequiel: os prazeres reais da blogosfera.

6 comentários:

Paulo disse...

Também me disseram, mais tarde, que esse anúncio tinha sido murmurado. Estariam com medo? O facto é que andei às voltas com o programa sem saber o que ela ia cantar a seguir. Foi triste.

Moura Aveirense disse...

Sinceramente, eu não acho aceitável que um(a) cantor(a) vá a espectáculo se está doente ou indisposto(a). Acho mais correcto da parte dos artistas que se cancele o concerto e que se adie para outra altura ou que se devolva o dinheiro às pessoas. Poupar a voz em Lisboa porque tinha um concerto em Munique?? Credo... Acho que, ainda por cima, os bilhetes não eram propriamente baratos.

Não tinha grande impressão dela (mesmo através das gravações... prefiro de longe o timbre e a técnica da Mingardo)... agora, ainda menos. Ainda bem que não eu não estava em Lisboa.

Quanto à Orquestra de Câmara de Basileia, creio que foi a mesma que acompanhou a Bartoli e foi impecável nessa ocasião. Enfim, coisas...

Beijinho, Moura Aveirense

io disse...

Inteiramente de acordo com a Moura: obviamente deveriam ter cancelado ou anunciado devidamente os cortes no programa e colocado à disposição de quem quisesse abandonar a sala a devolução do dinheiro. Mas Gi e Paulo ouviram aquelas palmas todas? Ouviram algum apupo ou uma reclamação? Estamos tão longe dos teatros europeus: lembro-me de há uns anos, por muito menos, ter assistido a uma quase revolução na ópera de Madrid. Eis porque, certamente, nos tratam assim tão mal. Foi lamentável o que se passou domingo à noite na Gulbenkian.

Ezequiel Coelho disse...

Foi realmente uma (des)ilusão! Sofrível - Mínimo justo, para não ser mau / tecnicamente correcto, mas sem brilho!
O que não nos teríamos divertido numa tertúlia algures por ali perto!!!
:D Fica para a próxima!
Foi um prazer (pré)conhecer-vos!

PS. Tenho um tecto à espera de ser pintado!! LOL
Ah... e tentei associar-me à Liga (ligar-me??? eheheh) dos Amigos do Botânico, mas parece que eles não querem!... está tudo off-line!!

beijos, porque sou muito beijoqueiro!

Gi disse...

Imagino que cancelar um concerto e devolver o dinheiro ao público deve ser muito complicado, e que artistas e empresários fiquem sempre à espera de melhoras até ao último minuto - aliás sei que é assim.

Ezequiel, beijinhos para si também :-)

Moura Aveirense disse...

Bastou-me ouvir isto ... ui...