O prémio Nobel da Paz deste ano podia ter ido para várias pessoas ligadas às revoltas da Primavera Árabe. Podia ter ido para o meu candidato, Daniel Barenboim, pelo seu trabalho em prol da paz no Médio Oriente. Em vez disso foi para três mulheres africanas, Ellen Johnson Sirleaf, Leymah Roberta Gbowee e Tawakkul Karman, que lutam, cada uma à sua maneira, para melhorar a condição das mulheres nas suas terras.
Foi uma boa decisão do Comité. Já Plautus escrevia que não há nada mais triste do que ser mulher*. Eu diria que não há nada mais perigoso. A violência contra as mulheres é diária e extrema, e muitas vezes aceite pela comunidade e pelas próprias mulheres. Não é só nos confins da África negra que as mulheres são espancadas e violadas, não é só na Arábia que são proibidas de conduzir ou de ser observadas por médicos homens, não é só nas montanhas do Afeganistão que são impedidas de estudar. Há histórias destas todos os dias nas civilizadas Europa e América. Eu vi, há-de haver vinte anos, duas raparigas serem apedrejadas em Toronto, no Canadá, por irem abraçadas na rua. Mas em África é pior: a Helena Ferro de Gouveia conta que em Moçambique os mineiros de Manica que partem para a África do Sul cosem a vagina das mulheres para lhes assegurar a fidelidade. Leymah Gbowee, uma das novas premiadas, diz que as mulheres que liderou em lutas pacíficas** não tinham medo porque as piores coisas imagináveis já [lhes] tinha[m] acontecido.
Infelizmente quando se trata de maldade a imaginação humana parece não ter limites.
*Miserius nihil est quam mulier (Bacchides, I,1)
** A greve de sexo foi descrita pela primeira vez por Aristophanes na sua comédia Lysistrata, na qual as mulheres gregas conseguiam assim o fim da guerra entre as suas cidades - em tradução inglesa aqui.
Foi uma boa decisão do Comité. Já Plautus escrevia que não há nada mais triste do que ser mulher*. Eu diria que não há nada mais perigoso. A violência contra as mulheres é diária e extrema, e muitas vezes aceite pela comunidade e pelas próprias mulheres. Não é só nos confins da África negra que as mulheres são espancadas e violadas, não é só na Arábia que são proibidas de conduzir ou de ser observadas por médicos homens, não é só nas montanhas do Afeganistão que são impedidas de estudar. Há histórias destas todos os dias nas civilizadas Europa e América. Eu vi, há-de haver vinte anos, duas raparigas serem apedrejadas em Toronto, no Canadá, por irem abraçadas na rua. Mas em África é pior: a Helena Ferro de Gouveia conta que em Moçambique os mineiros de Manica que partem para a África do Sul cosem a vagina das mulheres para lhes assegurar a fidelidade. Leymah Gbowee, uma das novas premiadas, diz que as mulheres que liderou em lutas pacíficas** não tinham medo porque as piores coisas imagináveis já [lhes] tinha[m] acontecido.
Infelizmente quando se trata de maldade a imaginação humana parece não ter limites.
*Miserius nihil est quam mulier (Bacchides, I,1)
** A greve de sexo foi descrita pela primeira vez por Aristophanes na sua comédia Lysistrata, na qual as mulheres gregas conseguiam assim o fim da guerra entre as suas cidades - em tradução inglesa aqui.
6 comentários:
Fiquei muito satisfeita que o prémio Nobel da Paz fosse para as três mulheres africanas, Ellen Johnson Sirleaf, Leymah Roberta Gbowee e Tawakkul Karman.
Embora o meu candidato favorito fosse o Daniel Barenboim, que além do seu EXCELENTE trabalho em prol da paz no Médio Oriente, também levou Richard Wagner a Israel, um acto de grande coragem.
Teresa, concordamos em absoluto. Mas a verdade é que eu nem conhecia estas mulheres, e fiquei a admirar particularmente Gbowee.
Gi, não me recordo desse caso de apedrejamento em Toronto. Que barbaridade.
Catarina, não foi um caso, só uma cena, à saída do autocarro, à noite: duas raparigas saíram abraçadas e uns energúmenos não gostaram e atiraram-lhes pedras, aos urros de lésbicas!.
Fiquei angustiado com as histórias bárbaras que acabei de ler.
A verdade sempre choca.
Mas é preciso o constante alerta da verdade para termos alguma esperança que alguma coisa mude.
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