No sábado passado lá regressei à Fundação Gulbenkian para mais uma transmissão da série Met Live in HD. Desta vez tratava-se de Un Ballo in Maschera, uma ópera que eu nunca tinha visto mas apenas ouvido, e que não me tinha seduzido, não sei porquê, visto que tem todos os ingredientes verdianos: a história de amor e política, árias bonitas, coros e ensembles, e o que presumo fosse um momento de bailado no terceiro acto.
A encenação de David Alden é uma mistura de clássico e diferente: clássico no sentido de que os protagonistas são tratados muito mais como cantores do que como actores, sendo mesmo muitas vezes prantados a cantar sem interagir fisicamente; diferente porquanto personagens e relacionamentos são caracterizados segundo conceitos talvez menos óbvios. Um exemplo, o rei Gustavo como um homem com vontade de fugir às suas responsabilidades metendo-se em aventuras pouco apropriadas. Outro exemplo: o amor entre Gustavo e Amelia é casto, enquanto há uma forte ligação erótica entre Amelia e o marido, Renato, e é essa ligação que salva a rapariga e o casamento.
Havia coisas que não percebi, como o simbolismo das asas brancas do pagem, Oscar, a possível relação com o quadro A Queda de Ícaro que decora o palácio real, ou a razão para a história decorrer nos anos de 1930. Debbie Voigt, a apresentadora da noite, deu-nos algumas pistas, nomeadamente para os bailados tipo Broadway, explicando que nos contrastes desta peça alguns números mais alegres remetiam para a opereta.
A orquestra foi dirigida por Fabio Luisi, que a soprano Sondra Radvanovsky elogiou por saber "respirar com os cantores", o que acho muito interessante.
De Sondra Radvanovsky (Amelia) já tinha ouvido falar: tem uma voz interessante, com bons graves e agudos muito agradáveis; e uma dicção muito difícil de entender. Marcelo Álvarez (Gustavo) pareceu-me o típico tenor verdiano que canta mais em potência que em elegância mas, não conhecendo a partitura, eu sei lá se há alguma coisa apontada excepto forte e fortissimo?
Dimitri Hvorostovsky (Renato) foi igual a si próprio excepto na ária Eri tu che macchiavi, em que se superou, transmitindo magnificamente toda uma série de emoções. Stephanie Blythe (Ulrica), que me tinha impressionado como Fricka, está cada vez mais gorda, e pareceu-me menos bem nos agudos, mas bem no registo grave.
Os secundários cumpriram; gostei de Scott Scully no pequeníssimo papel de criado de Amelia. A soprano Kathleen Kim (Oscar) é incrivelmente desajeitada para uma pessoa tão pequena, e tem uma voz um bocadinho estridente. Diz o Joaquim que ela vai cantar a Olympia nos Contos de Hoffmann no Liceu: engraçado que foi exactamente nesse papel que ela me fez pensar.
A encenação de David Alden é uma mistura de clássico e diferente: clássico no sentido de que os protagonistas são tratados muito mais como cantores do que como actores, sendo mesmo muitas vezes prantados a cantar sem interagir fisicamente; diferente porquanto personagens e relacionamentos são caracterizados segundo conceitos talvez menos óbvios. Um exemplo, o rei Gustavo como um homem com vontade de fugir às suas responsabilidades metendo-se em aventuras pouco apropriadas. Outro exemplo: o amor entre Gustavo e Amelia é casto, enquanto há uma forte ligação erótica entre Amelia e o marido, Renato, e é essa ligação que salva a rapariga e o casamento.
Havia coisas que não percebi, como o simbolismo das asas brancas do pagem, Oscar, a possível relação com o quadro A Queda de Ícaro que decora o palácio real, ou a razão para a história decorrer nos anos de 1930. Debbie Voigt, a apresentadora da noite, deu-nos algumas pistas, nomeadamente para os bailados tipo Broadway, explicando que nos contrastes desta peça alguns números mais alegres remetiam para a opereta.
A orquestra foi dirigida por Fabio Luisi, que a soprano Sondra Radvanovsky elogiou por saber "respirar com os cantores", o que acho muito interessante.
De Sondra Radvanovsky (Amelia) já tinha ouvido falar: tem uma voz interessante, com bons graves e agudos muito agradáveis; e uma dicção muito difícil de entender. Marcelo Álvarez (Gustavo) pareceu-me o típico tenor verdiano que canta mais em potência que em elegância mas, não conhecendo a partitura, eu sei lá se há alguma coisa apontada excepto forte e fortissimo?
Dimitri Hvorostovsky (Renato) foi igual a si próprio excepto na ária Eri tu che macchiavi, em que se superou, transmitindo magnificamente toda uma série de emoções. Stephanie Blythe (Ulrica), que me tinha impressionado como Fricka, está cada vez mais gorda, e pareceu-me menos bem nos agudos, mas bem no registo grave.
Os secundários cumpriram; gostei de Scott Scully no pequeníssimo papel de criado de Amelia. A soprano Kathleen Kim (Oscar) é incrivelmente desajeitada para uma pessoa tão pequena, e tem uma voz um bocadinho estridente. Diz o Joaquim que ela vai cantar a Olympia nos Contos de Hoffmann no Liceu: engraçado que foi exactamente nesse papel que ela me fez pensar.
6 comentários:
Também lá estive e concordo globalmente com a sua apreciação. Já escrevi um breve texto que publicarei amanhã. Nele toco também, embora de forma muito sumária, em aspectos que aqui explicitou de forma elegante, esclarecida e esclarecedora.
Não fui ver este "Baile", mas há uns quantos momentos na ópera de que gosto muito: a entrada de Amelia na cena com Ulrica, a ária dela e o dueto no orrido campo, e acima de tudo Morrò, ma prima in grazia.
Quanto ao dueto Teco io sto, precisamente este é o meu modelo.
[É claro que, como sabes, para ver aqueles dois juntos, muita gente seria capaz de matar alguém :-)]
Já fui ver o que dizem o Joaquim e o Fanático_Um sobre o assunto. O Joaquim deixa-nos ouvir alguns excertos da transmissão radiofónica, o que me ajudou a compor o ramalhete.
Fanático_Um, já fui hoje ler a sua apreciação - e muito agradeço os seus elogios.
Paulo, acho que todos os momentos de que falas podem ser muito bonitos.
Disto tudo concluo que nem o met tem sempre produções memoráveis.
E dou cada vez mais razão ao Fernando Vasconcelos quando diz que ao vivo é outra coisa.
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