domingo, 25 de julho de 2010

Falácias

Quando eu era jovem e ingénua achava graça ao Miguel Sousa Tavares. Pelo que me diziam, não era única. Mas desde há anos cada vez lhe acho menos, e mesmo assim de vez em quando leio os artigos que escreve no Expresso, e pontualmente dou-lhe razão.

Ele tem, contudo, um jeito especial para o raciocínio falacioso, e um bom exemplo vem no artigo desta semana, intitulado PARE, SCUT E OLHE (ainda não online), precisamente na parte sobre as SCUT:

(...) Porque carga de água uns usam sem pagar o que outros depois vão pagar sem ter usado? (...) Por que razão devo pagar as minhas portagens e duzentos quilómetros mais a norte ou a leste cidadãos iguais a mim passam sem pagar e remetem a conta para o meu IRS?(...)

Isto é populismo a mais. É que se há uns que pagam sem usar, os que usam também pagam, da mesma forma, ao pagarem os mesmos impostos. Está bem? Pode-se concordar ou não com o esquema, mas não vale a pena pintar a coisa mais feia do que ela é.

E já agora, não é a isto que chamam Estado Social? Quando todos pagam para alguns usarem - o sistema nacional de saúde, as escolas públicas, os subsídios aos agentes culturais, o rendimento social de inserção e por aí fora?

9 comentários:

Goldfish disse...

Pode ser um pouco populismo no tom... mas é verdade. E o Estado Social deve prover as necessidades essenciais da população: estradas em boas condições, sim, cabe na definição, auto-estradas, não.

Moura Aveirense disse...

Por acaso gostei bastante do artigo dele desta semana... principalmente quando ele comenta a falta de qualidade do serviço em muitos restaurantes algarvios. Nesse aspecto, sinto que a diferença entre o sul e o Norte é cada vez mais atroz; acompanhe os meus posts de amanhã (que já se encontram a ser cozinhados ;) )

Beijinho, Moura Aveirense

Paulo disse...

Uma ou outra vez posso concordar com MST, mas não nutro simpatia por ele. Nenhuma. De resto, bem pensado. E já agora, as A's foram construídas, não foram? Umas bem, outras mal, umas mais necessárias, outras muito dispensáveis. Não podemos agora desfazê-las. Certo é que em muitos casos as alternativas implicam custos enormes em horas, principalmente no tal interior onde fecham escolas, centros de saúde, postos de atendimento da segurança social, correios, etc.

Gi disse...

Goldfish, não é um pouco populismo, é muito mesmo. Quanto às necessidades essenciais das populações incluirem ou não auto-estradas, se calhar não incluem, mas em Portugal uma estrada com duas faixas de cada lado já é praticamente uma auto-estrada :-) e havendo um bocadinho mais de trânsito ou existe ou há mortos todos os dias...

(Eu não tenho nada contra as portagens, mas dizia outro dia o sinistro Silva Pereira com ar sério que em democracia não se mudam as regras a meio do jogo)

Moura, há restaurantes melhores e piores, é preciso conhecê-los. E há gostos também. Não percebo porque continua o MST a frequentar a tal tasca de praia que ele refere (eu já o vi no Evaristo). Bj.

Paulo, este país um dia escorrega todo para o mar. Entretanto, vão-se construindo mais umas auto-estradas, umas linhas de comboio e uns aeroportos que também terão de ser pagos, não sei quando nem como.

Rita Maria disse...

Deixa lá, eu quando era pequenina queria ser como a Porcina da telenovela, todos tivemos fases embaraçosas! ;)

Rita Maria disse...

(quanto à necessidade de auto-estradas, acho a coisa muito relativa. Há dois argumentos muito fortes a favor: por um lado, acho que se retiramos serviços básicos, como maternidades ou unidades de oncologia, a partes do país, temos de lhes melhorar os acessos (e aqui um parêntesis também para dizer que isso também passaria por melhorar acessos ferroviários, em vez de deixá-los morrer); por outro lado há decisoes que sao económicas - se queremos, e nao temos de querer, que partes do país se tornem dinâmicas e activas, se queremos ressusitá-las, isso pode passar por dar às pessoas e empresas que vao para lá vantagens - uma contrapartida por fazerem aquilo que, enquanto país ou comunidade, nos interessa por uma infinidade de razoes - demográficas, sociais, económicas ou outras)

Gi disse...

Rita Maria, LOL

(e essa argumentação em relação às auto-estradas parece-me sensata).

Rita Maria disse...

(aquilo ali em cima era ressuscitá-las)

Gi disse...

Rita Maria, e eu a pensar que te tinha dado uma de Diácono Remédios ;-)