domingo, 16 de outubro de 2011

Anna Bolena

O primeiro filme que vi para maiores de 18 anos, muito antes de os fazer, chamava-se Anne of the Thousand Days, e contava a história de Ana Bolena, segunda mulher do rei Henrique VIII de Inglaterra, por quem este se incompatibilizou com o Papa e criou a Igreja Anglicana.
Fiquei fascinada - vendo agora uns pedacinhos no YouTube apercebo-me que só Richard Burton seria capaz de safar alguns daqueles monólogos - o que naturalmente me levou a ler mais alguma coisa sobre o rei Henrique e as suas seis mulheres.

A ópera Anna Bolena de Donizetti, que eu não conhecia e inaugurou ontem, sábado, a temporada das transmissões Met HD para a Gulbenkian, apresenta um rei carrasco (não há menção dos problemas contextuais, sucessórios ou outros), uma rainha praticamente impoluta e uma amante torturada, mas a trama segue bastante de perto a história, e a música provoca todas as emoções apropriadas. A encenação de David McVicar é clássica e, na minha opinião, impecável, os cenários adequados, os figurinos bonitos e historicamente correctos.

Já li críticas à direcção de Marco Armiliato noutras récitas, mas confesso que me deleitei de tal maneira com o que se passava no palco que só raramente me dei conta de como estavam as coisas no fosso - e quando dei, estavam bem.

No palco passava-se lindamente. Anna Netrebko canta cada vez melhor: a dicção melhorou muito, a voz está mais clara, o controle técnico preciso, a coloratura excelente, e a tudo isto soma-se a expressividade dramática. Que importa que tenha engordado desalmadamente? Bem, bem, já que falamos nisso: Annoushka, vá lá, uma dieta e umas horas no ginásio, eu sei que é um sacrifício mas valia imenso a pena, sabe?

Os outros cantores, muito bons, com destaques óbvios para o baixo Ildar Abdrazakov, que foi um Enrico lúcido e cruel com uma voz doce, menos grave que o esperado de um baixo russo, a mezzo-soprano Ekaterina Gubanova que fez uma Giovanna muito capaz cenicamente, com a voz um bocadinho em esforço e o tenor Stephen Costello um Riccardo mais desigual, nos seus melhores momentos fazendo mesmo lembrar Juan Diego Florez. Embora achasse a voz interessante, tive dúvidas quanto à adequação de Tamara Mumford ao papel de Smeaton.

O som esteve, no primeiro acto, um tanto metálico, mas melhorou no segundo. Venha a próxima transmissão: Don Giovanni, a 29 de Outubro.

11 comentários:

FanaticoUm disse...

Foi um excelente espectáculo e Anna Netrebko arrasou!

Gi disse...

Concordo, FanaticoUm. Tive pena de não o ter visto no intervalo.

Paulo disse...

Desta vez não pude ir ao Met mas, pelo que tenho lido (incluindo no "Fanáticos"), há-de ter sido muito bom. Ainda bem.

Gi, deixa a miúda ficar assim que está muito bem. A voz ficou muito mais redondinha e suculenta desde que ela adquiriu esses quilitos.

FanaticoUm disse...

Também tenho pena de não nos termos visto, mas com a Gulbenkian esgotada... ficará para uma próxima vez (que não será no Don Giovanni, pois estarei impossibilitado de ir, por razões profissionais :-(

Gi disse...

Paulo, não foram quilitos, foi pr'aí uma arroba. Não pode.

Gi disse...

FanaticoUm, o trabalho a complicar a vida ;-)

Catarina disse...

Foi pois uma tarde/noite em cheio!

Gi disse...

Catarina, foi mesmo.

Mário R. Gonçalves disse...

Confesso que Anna Netrebko assim nunca tinha ouvido. Bela surpresa - já foi para o meu Olimpo por esta interpretação.

Abençoados quilinhos.

Gi disse...

Et tu, Mari? ;-)

Mário R. Gonçalves disse...

Um pouco de "embonpoint" não faz mal nenhum a uma bela mulher madura...

;)