quinta-feira, 22 de março de 2012

O poder intermédio

A oposição anda por aí a clamar que este governo é forte com os fracos e fraco com os fortes. Disse-o Seguro, disse-o Zorrinho, mas há mais quem faça coro. E é verdade? É.

Mas como de costume, não é só o governo: qualquer português a quem se dê um gostinho de poder assume logo a vocação de capataz, passando a funcionar como veículo para que as ordens de cima caiam pesadamente sobre os ombros dos de baixo. Amizades, ideologias, horas de queixume e maldizer à mesa do café, tudo é apagado pela nova condição. O conceito de defender os antigos companheiros e os ideais ou os princípios com que antes todos afirmavam concordar nem lhe passa pela cabeça. É que se não for ele o capataz, outro será, e assim como assim, antes ele.

Julgo que nem sequer são só os portugueses: deve fazer mesmo parte do genoma humano. Por isso não é de estranhar que o governo faça a figura que faz, que nos mande empobrecer para que alguns continuem ricos, e que se desculpe com a troika, ou com o feiticeiro de Oz se for caso disso. Só há uma maneira de fugir ao síndrome do capataz, que é não aceitar posições intermédias de poder, ser única e claramente autocrata ou anarquista.

6 comentários:

Paulo disse...

Claro que é bem pensado.

mfc disse...

Tocaste no meu ponto querido que é a anarquia!
Mas a anarquia no seu sentido original... aquela forma de organização da sociedade sem poderes, porque cada um tem intuídos os seus limites!
Que lindo que seria... se fosse possível!!
Acabavam-se os Relvas, os Sócrates, a Maçonaria e a Opus e os demais salafrários da confraria do poder!

Beijinhos,

Joao Quaresma disse...

Infelizmente, o português típico é um tiranete por natureza mal se lhe dê um pouco de poder. E nem é preciso muito: basta sentar-se ao volante.

Gi disse...

Essa anarquia é muito bonita, e eu também gostaria que fosse possível, mas infelizmente, parafraseando Cícero, isto não é a República de Platão mas a latrina de Afonso Henriques...

Gi disse...

E no entanto ao volante o português é senhor, não é capataz. A não ser quando quer aplicar aos outros as regras de trânsito ;-)

Joao Quaresma disse...

Sim, as regras são sempre para os outros..