O general Bonaparte entrou em Itália como libertador, e a sua vitória em Marengo sobre as tropas austríacas que dominavam grande parte da península foi saudada por muitos que se reviam nos ideais revolucionários: liberdade, igualdade, fraternidade; no entanto em breve se percebeu que a França e Napoleão tinham uma política expansionista e que os Estados italianos não teriam a autonomia que desejavam.
A nova República Italiana, por exemplo, criada por Napoleão com base na Lombardia com capital em Milão, passou por várias fases em termos de território, estendendo-se a certa altura do Piemonte a Veneza. A partir de 1805 designou-se Reino de Itália, com Eugène de Beauharnais, enteado de Napoleão, como vice-rei. Mais tarde o próprio filho do imperador foi nomeado rei de Itália.
A mais importante nomeação para o governo de Milão foi o ministro das Finanças, Giuseppe Prina, encarregado de pôr em ordem as contas públicas, diminuir o défice e reduzir a dívida, que atingira valores elevadíssimos, em boa parte a financiar as campanhas italianas do próprio Napoleão. Para tal, o Prina fez o óbvio: aumentou impostos e lançou medidas de austeridade.
Odiado por isso tanto como por ser instrumento do ocupante, o Prina foi fazendo o seu papel: vendeu activos, incluindo bens confiscados ao clero, fez cortes na despesa, nomeadamente no exército, e inventou novos impostos sobre tudo o que se lembrou.
O império napoleónico seguiu o seu curso, das grandes vitórias às grandes derrotas, o vice-rei acompanhou o padrasto na invasão da Rússia e subsequente retirada, e o Prina foi administrando as Finanças do reinozinho para lá dos Alpes. Quando, vencido e humilhado, Napoleão abdicou, os italianos sonharam com a independência mas, no Reino de Itália, os do costume discutiam outros planos: manter a ligação à França, entregar-se aos austríacos. Rumores sobre as reuniões secretas do Senado chegaram à rua; os cidadãos indignaram-se, uma multidão invadiu o Senado, partiu, destruiu e saqueou. Alguém se lembrou do Prina. O Prina! O Prina estava em casa, escondido numa chaminé, donde o arrancaram. Foi despido, atirado pela janela e, na rua, atacado a golpes de guarda-chuva por respeitáveis cidadãos tomados de uma selvajaria incontrolada, que não pararam senão quatro horas depois, quando já pouco restava do Prina.
Fontes:
Wikipedia
Massimo Fabi, Milano e il Ministro Prina, Milão, 1860
8 comentários:
Pelo caminho que isto está a levar, não me admiro que acabe tudo outra vez à defenestração e à guarda-chuvada.
Paulo, foi o que pensei quando soube desta história.
Há outro desfecho que me preocupa mais.
Mário, qual, por exemplo?
Blog muito interessante! Fico como seguidora.
Beijo.
Nita
Obrigada, Nita. Esteja à vontade.
Gi, preocupa-me que em vez de defenestração e guardachuvadas possa haver autos da fé e metralha. Há armas por toda a parte, menos provavelmente onde seriam precisas.
Mário, pode ser, mas receio que as armas sirvam para outras coisas - assaltos e afins.
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