quarta-feira, 27 de março de 2013

O Prina

O general Bonaparte entrou em Itália como libertador, e a sua vitória em Marengo sobre as tropas austríacas que dominavam grande parte da península foi saudada por muitos que se reviam nos ideais revolucionários: liberdade, igualdade, fraternidade; no entanto em breve se percebeu que a França e Napoleão tinham uma política expansionista e que os Estados italianos não teriam a autonomia que desejavam.
A nova República Italiana, por exemplo, criada por Napoleão com base na Lombardia com capital em Milão, passou por várias fases em termos de território, estendendo-se a certa altura do Piemonte a Veneza. A partir de 1805 designou-se Reino de Itália, com Eugène de Beauharnais, enteado de Napoleão, como vice-rei. Mais tarde o próprio filho do imperador foi nomeado rei de Itália.

A mais importante nomeação para o governo de Milão foi o ministro das Finanças, Giuseppe Prina, encarregado de pôr em ordem as contas públicas, diminuir o défice e reduzir a dívida, que atingira valores elevadíssimos, em boa parte a financiar as campanhas italianas do próprio Napoleão. Para tal, o Prina fez o óbvio: aumentou impostos e lançou medidas de austeridade.
Odiado por isso tanto como por ser instrumento do ocupante, o Prina foi fazendo o seu papel: vendeu activos, incluindo bens confiscados ao clero, fez cortes na despesa, nomeadamente no exército, e inventou novos impostos sobre tudo o que se lembrou.

O império napoleónico seguiu o seu curso, das grandes vitórias às grandes derrotas, o vice-rei acompanhou o padrasto na invasão da Rússia e subsequente retirada, e o Prina foi administrando as Finanças do reinozinho para lá dos Alpes. Quando, vencido e humilhado, Napoleão abdicou, os italianos sonharam com a independência mas, no Reino de Itália, os do costume discutiam outros planos: manter a ligação à França, entregar-se aos austríacos. Rumores sobre as reuniões secretas do Senado chegaram à rua; os cidadãos indignaram-se, uma multidão invadiu o Senado, partiu, destruiu e saqueou. Alguém se lembrou do Prina. O Prina! O Prina estava em casa, escondido numa chaminé, donde o arrancaram. Foi despido, atirado pela janela e, na rua, atacado a golpes de guarda-chuva por respeitáveis cidadãos tomados de uma selvajaria incontrolada, que não pararam senão quatro horas depois, quando já pouco restava do Prina.

Fontes:
Wikipedia
Massimo Fabi, Milano e il Ministro Prina, Milão, 1860

8 comentários:

Paulo disse...

Pelo caminho que isto está a levar, não me admiro que acabe tudo outra vez à defenestração e à guarda-chuvada.

Gi disse...

Paulo, foi o que pensei quando soube desta história.

Mário R. Gonçalves disse...

Há outro desfecho que me preocupa mais.

Gi disse...

Mário, qual, por exemplo?

linksdistodaquilo disse...

Blog muito interessante! Fico como seguidora.
Beijo.
Nita

Gi disse...

Obrigada, Nita. Esteja à vontade.

Mário R. Gonçalves disse...

Gi, preocupa-me que em vez de defenestração e guardachuvadas possa haver autos da fé e metralha. Há armas por toda a parte, menos provavelmente onde seriam precisas.

Gi disse...

Mário, pode ser, mas receio que as armas sirvam para outras coisas - assaltos e afins.