Don Giovanni é uma das óperas de que gosto há mais tempo, desde que vi a versão filmada por Losey. É difícil estragarem-ma - mas não impossível.
Na penúltima récita da temporada, isso esteve perto de acontecer, principalmente por conta de Katharina von Bülow que foi um verdadeiro desastre como Dona Elvira. A certa altura dei por mim a estremecer em uníssono com Don Giovanni quando ela entrava em cena para desafinar. Juro. Quanto a Carla Caramujo na Dona Anna, não desafina e tem uma voz audível, mas é o melhor que posso dizer dela. Em comparação Chelsey Schill não me pareceu mal na Zerlina, para a qual criou uma sexyness sem sensualidade, que suspeito mais natural que premeditada, mas que é plausível.
Os homens estiveram melhor: Nicola Ulivieri em boa voz foi um Don bastante aceitável, irresponsável, poltrão, talvez demais para ser credível a redenção final - no sentido da coragem e da dignidade com que enfrenta o Commendatore, e não no de um ataque de moralidade.
Kevin Short foi exactamente o que eu esperava depois de o ter visto como Méphisto no Faust: um comparsa gingão e divertido, mas a quem o fôlego chega à justa para a ária do catálogo. Musa Nkuna esteve muito melhor do que como Nerone na Agrippina. Fiquei com a impressão que teve uma boa ajuda do maestro Johannes Stert e da orquestra. Leandro Fischetti, o Masetto, fraquinho, esperemos que melhore porque agora também é cantor residente. Andreas Hörl, pelo contrário, foi um Commendatore devidamente impressionante, e a maravilhosa cena final do jantar, na qual tivemos direito a figurantes com as maminhas à mostra (oh que ousados estamos, praticamente berlinenses), passou-se muito bem.
Cenários a fazer moderno, misturando um Hotel Alfonso XIII com grafitti que diziam Vive la Liberté, figurinos variando entre o razoável e o horrível, com alguma tese mas sem coerência, e na encenação umas excentricidades (as maminhas, o rapaz vestido de marinheiro que andava por ali às vezes com o único propósito aparente de andar por ali às vezes).
Da orquestra gostei, e entretive-me muito a observá-la e a acompanhar a sua articulação com o que se passava no palco. A propósito, encontrei ontem este post sobre a interacção do maestro Stert com a OSP na anterior temporada do S. Carlos.
O restante público gostou. Muito. De tudo. Fartou-se de aplaudir, ária a ária, inclusive a von Bülow. Vá lá, no fim houve alguém com ouvido que a pateou.
Na penúltima récita da temporada, isso esteve perto de acontecer, principalmente por conta de Katharina von Bülow que foi um verdadeiro desastre como Dona Elvira. A certa altura dei por mim a estremecer em uníssono com Don Giovanni quando ela entrava em cena para desafinar. Juro. Quanto a Carla Caramujo na Dona Anna, não desafina e tem uma voz audível, mas é o melhor que posso dizer dela. Em comparação Chelsey Schill não me pareceu mal na Zerlina, para a qual criou uma sexyness sem sensualidade, que suspeito mais natural que premeditada, mas que é plausível.
Os homens estiveram melhor: Nicola Ulivieri em boa voz foi um Don bastante aceitável, irresponsável, poltrão, talvez demais para ser credível a redenção final - no sentido da coragem e da dignidade com que enfrenta o Commendatore, e não no de um ataque de moralidade.
Kevin Short foi exactamente o que eu esperava depois de o ter visto como Méphisto no Faust: um comparsa gingão e divertido, mas a quem o fôlego chega à justa para a ária do catálogo. Musa Nkuna esteve muito melhor do que como Nerone na Agrippina. Fiquei com a impressão que teve uma boa ajuda do maestro Johannes Stert e da orquestra. Leandro Fischetti, o Masetto, fraquinho, esperemos que melhore porque agora também é cantor residente. Andreas Hörl, pelo contrário, foi um Commendatore devidamente impressionante, e a maravilhosa cena final do jantar, na qual tivemos direito a figurantes com as maminhas à mostra (oh que ousados estamos, praticamente berlinenses), passou-se muito bem.
Cenários a fazer moderno, misturando um Hotel Alfonso XIII com grafitti que diziam Vive la Liberté, figurinos variando entre o razoável e o horrível, com alguma tese mas sem coerência, e na encenação umas excentricidades (as maminhas, o rapaz vestido de marinheiro que andava por ali às vezes com o único propósito aparente de andar por ali às vezes).
Da orquestra gostei, e entretive-me muito a observá-la e a acompanhar a sua articulação com o que se passava no palco. A propósito, encontrei ontem este post sobre a interacção do maestro Stert com a OSP na anterior temporada do S. Carlos.
O restante público gostou. Muito. De tudo. Fartou-se de aplaudir, ária a ária, inclusive a von Bülow. Vá lá, no fim houve alguém com ouvido que a pateou.
3 comentários:
A crítica do Jorge Calado no Expresso é, para não variar, destruidora :)
Não li, Moura, mas vou tentar encontrar.
Gostaste dos cameleopardos que lá apareciam a decorar o cenário?
Não digo mais nada, que já encerrei este assunto.
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