Quase levei tampões para os ouvidos, tal a apreensão que as críticas de Henrique Silveira, de Augusto M. Seabra, de Manuel Pedro Ferreira e a horrífica transmissão da Antena2 me tinham causado. Afinal, excepto pontualmente, não precisei deles.
Esta é, por conseguinte, uma crítica um bocadinho em contra-corrente.
Já aqui o disse: o S. Carlos é um teatro de província, onde há tempo não se ouvem cantores estelares. Mas é o que temos, e podemos decidir não ir lá, ou ir ouvir coisas medianas.
A Agrippina tem uma música lindíssima, que inclui ecos de Vivaldi, sementes de outras óperas Haendelianas, e até, para meu pasmo, uma espécie de valsa. A orquestra, a meu ver, esteve muito bem, e só notei uma descoordenação numa ária de Ottone (Vaghe fonti) e, pareceu-me, noutra de Nerone (Quando invita la donna). Gostei particularmente do clarinete que dialoga com Agrippina no Pensieri, voi mi tormentati.
Quanto aos cantores: Alexandra Coku, na Agrippina, foi bem: sabe obviamente o que anda ali a fazer, o que é música barroca, e cumpriu. A sua interpretação de Pensieri... foi um bom momento.
O tenor Musa Nkuna (Nerone) é fraco, embora tenha uma voz clara e audível; o baixo Reinhard Dorn (Claudio) tem uma extensão limitada mas um timbre agradável. O contra-tenor Andrew Watts também mas esganiça nos agudos. Quanto a Manuel Brás da Costa (Narciso), tem um falsete áspero, a pedir reforma, e Chelsey Schill é um óbvio erro de casting numa ópera barroca: não tem cor nem coloratura para Poppea.
(A propósito, tanto o programa, como as legendas, como o comentador da Antena2 na terça-feira traduziram sistematicamente Poppea por Pompeia. Não há quem os corrija?)
Os barítonos Luís Rodrigues (Pallante) e Jorge Martins (Lesbo) são duas boas vozes mas se calhar melhor num repertório romântico.
A encenação, a cenografia e os figurinos importados transportam a história para o Império de Napoleão I. Escolhas... Anacronismo por anacronismo, porque não?
Por fim, sobre o intermezzo apresentado no princípio não tenho muito a dizer: não é o meu género de música, o libretto é medíocre, mas deve ter servido para os cantores aquecerem as vozes. Belos sotaques portugueses, diga-se em abono da verdade.
Esta é, por conseguinte, uma crítica um bocadinho em contra-corrente.
Já aqui o disse: o S. Carlos é um teatro de província, onde há tempo não se ouvem cantores estelares. Mas é o que temos, e podemos decidir não ir lá, ou ir ouvir coisas medianas.
A Agrippina tem uma música lindíssima, que inclui ecos de Vivaldi, sementes de outras óperas Haendelianas, e até, para meu pasmo, uma espécie de valsa. A orquestra, a meu ver, esteve muito bem, e só notei uma descoordenação numa ária de Ottone (Vaghe fonti) e, pareceu-me, noutra de Nerone (Quando invita la donna). Gostei particularmente do clarinete que dialoga com Agrippina no Pensieri, voi mi tormentati.
Quanto aos cantores: Alexandra Coku, na Agrippina, foi bem: sabe obviamente o que anda ali a fazer, o que é música barroca, e cumpriu. A sua interpretação de Pensieri... foi um bom momento.
O tenor Musa Nkuna (Nerone) é fraco, embora tenha uma voz clara e audível; o baixo Reinhard Dorn (Claudio) tem uma extensão limitada mas um timbre agradável. O contra-tenor Andrew Watts também mas esganiça nos agudos. Quanto a Manuel Brás da Costa (Narciso), tem um falsete áspero, a pedir reforma, e Chelsey Schill é um óbvio erro de casting numa ópera barroca: não tem cor nem coloratura para Poppea.
(A propósito, tanto o programa, como as legendas, como o comentador da Antena2 na terça-feira traduziram sistematicamente Poppea por Pompeia. Não há quem os corrija?)
Os barítonos Luís Rodrigues (Pallante) e Jorge Martins (Lesbo) são duas boas vozes mas se calhar melhor num repertório romântico.
A encenação, a cenografia e os figurinos importados transportam a história para o Império de Napoleão I. Escolhas... Anacronismo por anacronismo, porque não?
Por fim, sobre o intermezzo apresentado no princípio não tenho muito a dizer: não é o meu género de música, o libretto é medíocre, mas deve ter servido para os cantores aquecerem as vozes. Belos sotaques portugueses, diga-se em abono da verdade.
7 comentários:
Então, afinal, gostou? ;) A crítica do Jorge Calado hoje no Expresso é demolidora!
Beijinho, Moura Aveirense
Se gostei? Acho que fiquei aliviada, embora seja difícil explicar porquê dadas as limitações e as falhas que apontei... Mas a música é linda, e a encenação (que já conhecia) tem graça, mesmo que transforme uma opera seria numa opera buffa.
Cara Gi,
Permita-me apenas uma pequena correcção:
o instrumento que dialoga com Agrippina no Pensieri, voi mi tormentati,é um oboé e não um clarinete.
Quanto ao resto concordo consigo!
O Manuel Pedro Ferreira é um "purista",daí a forte crítica à Agrippina ,mas o próprio já reconheceu que foi um pouco duro demais.
Quem é Henrique Silveira??????
Quanto a Jorge Calado,já comentei no nosso amigo Valquírio e também para elucidar um pouco a Moura Aveirense o porquê de tais críticas.Nem preciso de ler a crítica no Expresso para adivinhar o que lá está escrito...!
Saudações Musicais e...belo Blog!!!!!
Cara Gi,
Por esquecimento,não contei um episódio que se passou no intermezzo de Nuno Côrte-Real,no que diz respeito ao sotaque português de que gostou.
No princípio dos ensaios,não se percebia nadinha do texto que os cantantes cantavam e eu perguntei ao Nuno Côrte-Real:
Ò Nuno!Em que raio de língua é que eles estão a cantar???
Resposta pronta do Nuno:
Por enquanto em... Açoriano!!!!!!
Caro Sr. José Mlinsky, obrigada pela visita: ainda bem que gostou do blog, volte sempre.
(Não vai acreditar, mas tive uma enorme tentação, no intervalo, de ir a correr ao fosso perguntar Quem é o Sr. José Mlinsky?)
Obrigada pela correcção em relação ao clarinete/oboé, tive dúvidas mas pareceu-me o primeiro.
Li hoje o texto de Jorge Calado no Expresso, e correspondeu ao que esperava depois de ter lido os outros que citei.
Essa história a propósito do Velório é muito engraçada, gostei, obrigada por no-la contar!
Tivesse eu lá estado contigo, Gi, e seguramente teríamos ido os dois à procura do Sr. José Mlinsky.
Cara Gi e Caro Paulo,
Nem os meus colegas sabem quem é o Mlinsky.Fazem-se apostas,mas por enquanto...nada!
Pode ser que um dia destes ,depois de desvendar a minha identidade( de certeza antes da reforma!!!)nos encontremos no fosso do Teatro.
Saudações Musicais
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