domingo, 23 de agosto de 2009

Uma história da música

Acabei de ler o primeiro volume de Toda a Música que eu conheço de António Vitorino d'Almeida.

O mais interessante foi mesmo o processo de leitura, em que tive de vencer alguns dos meus próprios preconceitos para ter algum gosto em lê-lo (aconteceu-me o mesmo com The Ides of March de Thorton Wilder, um belíssimo romance recheado de falsidades históricas e anacronismos). É que este não é um tratado académico mas sim, nas palavras do autor, um livro escrito por um músico que fala sobre a música que conhece e jamais um investigador de documentos históricos (pg 618), já que não [lhe] sobra tempo nem vocação científica para pesquisar em arquivos (pg 635).

Vitorino d'Almeida não fornece bibliografia e não cita fontes. Tem ele também preconceitos. Detesta a ópera barroca italiana, na qual por exemplo até Vivaldi não faz mais do que dar mostras, aqui e além, do seu verdadeiro génio (pg 194). Detesta igualmente as apresentações nos famigerados «instrumentos de época» (pg 404). Nem sempre se percebe se o que escreve são factos, interpretações ou especulações, algumas bastante disparatadas e irritantes. Gosta de ser engraçado e de invectivar políticos, empresários e fazedores de modas. Acaba uma enorme quantidade de parágrafos com reticências ou pontos de exclamação. Dá uma importância desproporcionada ao anedotário de certos compositores (Bruckner, por exemplo).

No entanto, passa realmente uma visão corrida da história da música da Idade Média ao final do século XIX, aproxima-nos de alguns compositores através do tal anedotário, enquanto aponta brevemente as razões por que na sua opinião alguns autores foram inovadores e que peças valem uma audição mais cuidada: a descrição/análise da sinfonia nº 6 Patética de Tchaikovsky (pgs 639-640) abre o apetite. São pistas que valem o esforço de leitura e me fazem mesmo considerar a compra do segundo volume.

6 comentários:

mfc disse...

É a visão subjectiva de alguém que é um conhecedor e um comunicador fantástico.

Gi disse...

Sem dúvida, e melhor a comunicar falando do que escrevendo.

ematejoca disse...

Gostei de ler o seu artigo sobre "Toda a Música que eu conheço" de António Vitorino d'Almeida.
É lamentável, que o Vitorino d'Almeida não forneça bibliografia e não cite fontes.
Que ele deteste a ópera barroca italiana como as apresentações nos famigerados «instrumentos de época», não me importa.
No entanto, acho muito chato, que ele dê uma importância desproporcionada ao anedotário de certos compositores.
Mesmo assim, penso comprar esse livro quando chegar ao Porto.

Aceita um "selinho viciante", Gi?
Caso afirmativo, ele está à sua espera no "ematejoca azul"!!!

Gi disse...

Aceito, Teresa, e agradeço.

Paulo disse...

Gi,
Lembras-te das velhinhas Histórias da Música? E do desastre que foi a tentativa de fazê-las reviver na SIC, com o mesmo AVA acompanhado por Bárbara Guimarães (Diga lá, maestro)?

Gi disse...

Lembro-me sim, Paulo (bom regresso!), eu adorava ouvi-lo naquele tempo e foi em grande parte por isso que li o livro.
Mas também era muito novinha e inocente...