quinta-feira, 22 de julho de 2010

Trabalhar ao domingo

Notícia do Diário de Notícias:

Comércio
Hipermercados abertos aos domingos até à meia noite
por Lusa Ontem
O conselho de ministros aprovou hoje o alargamento do horário das grandes superfícies (mais de dois mil metros quadrados) ao domingo, passando estes estabelecimentos a poder funcionar todos os dias das 06:00 as 24:00.
(...)
Quanto ao risco de o funcionamento dos hipermercados ao domingo poder implicar o encerramento de algumas lojas de comércio tradicional e um aumento do desemprego, como têm defendido a confederação do comércio e outras associações do sector, Vieira da Silva mostrou-se convicto que esse é um receio ultrapassado.
(...)

Sempre me pareceu bem que as empresas tivessem liberdade de decidir os seus horários, e não creio que venha mal ao mundo por isso, desde que haja trabalhadores suficientes e turnos apropriados. Nos EUA são as mercearias de esquina que estão abertas até tarde e muito úteis são elas: assim as houvesse em Portugal, mas aqui tem-se a ideia que maior é melhor e assim se abrem hipermercados, enquanto os americanos mesmo a esses continuam a chamar simplesmente mercearias.

Mas há outra notícia relacionada no mesmo jornal:

Hipermercados
Igreja contra novos horários do comércio
por Lusa Ontem
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) discordou hoje do alargamento do horário das grandes superfícies ao domingo, afirmando que o lucro não deverá sobrepor-se aos valores familiares.
(...)
O porta-voz da Conferência Episcopal disse ainda que os domingos devem ser dias de 'celebração do credo', devendo ser aproveitados para 'estreitar as relações fraternas e familiares'.
(...)


Oh hoho que engraçado. São uns pândegos. Eu quero ver a CEP querer fechar os hoteis ao domingo, e os restaurantes, os hospitais, sei lá, os aeroportos, e até as lojas mais pequenas dos centros comerciais, para os trabalhadores celebrarem o credo e estreitarem as relações fraternas e familiares.

Mazel tov, eminências.

3 comentários:

Paulo disse...

O argumento da CEP leva-me a pensar se os bispos portugueses serão, por ventura, alemães. A pergunta "cá em Portugal trabalha-se ao Domingo?" é recorrente entre os meus turistas. Basta verem uma loja aberta, obras na estrada ou a reparação de uma conduta da EPAL. Então é preciso explicar-lhes que eu também estou ali a trabalhar, tal como o motorista do autocarro, os empregados do hotel e dos restaurantes e etc. E que na Alemanha a vida não pára aos Domingos só pelo facto de a maior parte da população descansar.

Mas isto era um aparte. O que me preocupa é que no comércio tradicional, na maior parte dos casos, não há funcionários que possam trabalhar por turnos. O Sr. António e a D. São acordam cedo todos os dias, incluindo ao Sábado, para irem ao mercado abastecedor e mantêm a loja aberta até cerca das 20h30. Durante a manhã e a tarde vão lá algumas velhotas e é ao final do dia que aparecem mais alguns fregueses que precisam de uma alface ou porque se esqueceram do açúcar quando foram aviar-se no fim-de-semana à grande superfície.
Eu, se fosse eles, o que faria era fechar às segundas e abrir aos Domingos. No entanto, quem quer fazer compras ao Domingo vai a um dos vários super-mercados que se encontram abertos no bairro.

Goldfish disse...

A CEP é idiota, nada mais a dizer. Mas essa história da liberalização do horário tem mais que se lhe diga: quantas horas vão os turnos ter? Qual vai ser a rotatividade entre turnos? Como é que vão ser pagos os turnos? Quanto mais vão receber pelas horas "fora do normal" (das 6h às 8h, e das 20h às 24h)? Eu desconfio, e muito, dessas coisas.

Gi disse...

Paulo e Goldfish, claro que nada é simples nesta história. A mim irrita-me a cara inocente com que Vieira da Silva salientou a apoio do governo à modernização do comércio tradicional, como se aumentar o IVA, por exemplo, apoiasse o comércio tradicional, ou com que Silva Pereira afirmou há dois dias, a propósito da revisão constitucional, que está prevista na própria Constituição, que em democracia não se mudam as regras a meio do jogo, como se este desgoverno fizesse outra coisa.