A descoberta, há alguns anos, que a natureza é assimétrica, foi para mim singularmente libertadora.
A assimetria não só nos livra da dicotomia branco / preto como nos leva, para além das óbvias gradações de cinzento, à cultura da cor.
Daí ao pensamento out of the box vai um passo que é fundamental que seja dado para se fugir aos moldes e às modas.
Vem isto a propósito da situação portuguesa, da crise, do memorando de entendimento e da insustentabilidade da segurança social.
Desde há algum tempo que todos os economistas e aprendizes afinam pelo mesmo diapasão (sim, mudei de metáfora, e daí?) e repetem em coro que a crise é estrutural, que as soluções, mesmo drásticas, não solucionam, e que as reformas têm de acabar porque a natalidade é baixíssima e o desemprego das gerações mais novas significa menos dinheiro para pagar as aposentações dos mais velhos.
Isto é assim porque as reformas assentam, dizem-nos, num esquema em pirâmide ou de Ponzi, em que quem chega depois paga com juros o investimento de quem chegou primeiro. Os esquemas de Ponzi desmoronam-se como é evidente quando a base da pirâmide é insuficientemente larga.
No entanto, não há razão para que as aposentações continuem a seguir esse esquema, e é essencial que não o sigam de modo restrito: o dinheiro em jogo tem de ser aplicado e rentabilizado antes de ser usado para pagar as reformas dos mais velhos.
Além disso, quando os mais velhos de agora morrerem, hão-de sobrar as gerações mais novas, que são menos gente e, pelo menos por essa razão, por um lado mais fáceis de empregar e por outro mais baratas de reformar.
Como consequência, é possível que se enrasquem apenas uma ou duas gerações, incluindo a minha e a geração rasca. Quem está agora reformado talvez se safe ainda com os meus descontos, e a geração à rasca com a dos filhos, os agora bebés que, se os deixarem, terão formação digna, profissão condigna e emprego gratificante, já que os trabalhos menos diferenciados poderão ser desempenhados, cada vez mais, por máquinas.
Estou assim hoje: armada em Jules Verne. Descongelem-me no próximo século e digam-me se acertei - se houver dinheiro para me congelar, naturalmente.
A assimetria não só nos livra da dicotomia branco / preto como nos leva, para além das óbvias gradações de cinzento, à cultura da cor.
Daí ao pensamento out of the box vai um passo que é fundamental que seja dado para se fugir aos moldes e às modas.
Vem isto a propósito da situação portuguesa, da crise, do memorando de entendimento e da insustentabilidade da segurança social.
Desde há algum tempo que todos os economistas e aprendizes afinam pelo mesmo diapasão (sim, mudei de metáfora, e daí?) e repetem em coro que a crise é estrutural, que as soluções, mesmo drásticas, não solucionam, e que as reformas têm de acabar porque a natalidade é baixíssima e o desemprego das gerações mais novas significa menos dinheiro para pagar as aposentações dos mais velhos.
Isto é assim porque as reformas assentam, dizem-nos, num esquema em pirâmide ou de Ponzi, em que quem chega depois paga com juros o investimento de quem chegou primeiro. Os esquemas de Ponzi desmoronam-se como é evidente quando a base da pirâmide é insuficientemente larga.
No entanto, não há razão para que as aposentações continuem a seguir esse esquema, e é essencial que não o sigam de modo restrito: o dinheiro em jogo tem de ser aplicado e rentabilizado antes de ser usado para pagar as reformas dos mais velhos.
Além disso, quando os mais velhos de agora morrerem, hão-de sobrar as gerações mais novas, que são menos gente e, pelo menos por essa razão, por um lado mais fáceis de empregar e por outro mais baratas de reformar.
Como consequência, é possível que se enrasquem apenas uma ou duas gerações, incluindo a minha e a geração rasca. Quem está agora reformado talvez se safe ainda com os meus descontos, e a geração à rasca com a dos filhos, os agora bebés que, se os deixarem, terão formação digna, profissão condigna e emprego gratificante, já que os trabalhos menos diferenciados poderão ser desempenhados, cada vez mais, por máquinas.
Estou assim hoje: armada em Jules Verne. Descongelem-me no próximo século e digam-me se acertei - se houver dinheiro para me congelar, naturalmente.
5 comentários:
As gerações (saltando por cima da definição e delimitação) serão tanto mais rascas quanto menos coesas na sua consciência do todo social de que provém ie. quanto mais individualistas e informais - as gerações rascas sê-lo-iam, assim, todas as que entraram para o secundário entre 1975 e 1980 por força da alienação dos valores de referência e da hesitante substituição por valores importados ou por-não valores, com o intuito de desmantelar o Estado pelo deslaçar do tecido social, como se pode ver...
Assim sendo, não me parecem sustentáveis discussões acerca do propósito que moveria 'gerações' (outra a vez, a questão da delimitação no tempo e na compreensão) sem geração e que beneficiam (melhor ou pior) do foi edificado antes e do que foi e ainda é produzido actual e maioritariamente pelos que os antecederam (que em simultâneo, foram contribuindo com prestações destinadas a suportar as tais 'reformas' e que, pelo caminho, vão suportando parte dos sistemas que formam e enformam a rasquice patenteada).
A assim não ser não colheria o argumento do desemprego; por outro lado, o 'emprego' prende-se com a necessidade de produção e esta, com a necessidade de criar bens e serviços adequados e adequadamente orientados e dimensionados ao bem-estar geral, -e do indivíduo, por consequência- o que, por sua vez, fecha o círculo e põe em evidência o que deve ser e ao que se destina o emprego e a sua génese.
Entendo a sua preocupação e vejo com simpatia a sua intenção de ir viver com o Jules Verne.
Olá -pirata-vermelho-, tem toda a razão em relação ao uso alargado de geração, como aliás é verdade para muitas palavras de que se usa e abusa - estou a lembrar-me por exemplo, noutro contexto, do célebre tabu.
Intenção de ir viver com o Jules Verne? Ah não, já é tão complicado viver com pessoas do nosso próprio século ;-)
A oirâmide de Ponzi vai dar lugar ao losango ou ampulheta (unindo pelos vértices) de Gi.
Acho muito bem.
João Afonso Machado
Boa visão geométrica, João Afonso. E nós no vértice, não esquecer.
Oops - nós na barriga demográfica, que corresponde a um vértice monetário. Ou vórtex.
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