sexta-feira, 3 de junho de 2011

A Valquíria em Lisboa (ou isso)

Antes de prosseguir com as notas de viagem, volto num instante atrás para comentar a transmissão Met-Gulbenkian da Walküre de Wagner, na véspera da minha partida: foi excelente.

Gostei de tudo, ou quase tudo: da música de Wagner que não me lembrava fosse tão bonita, da voz de mel de Jonas Kaufmann que me levou à beira das lágrimas na cena em que recusa a imortalidade por amor à Sieglinde totalmente credível de Eva-Maria Westbroek, de Bryn Terfel como um deus de pés de barro e de Stephanie Blythe fantástica, em voz e atitude a nagging wife completa, do coro das valquírias perfeitamente afinado, da orquestra e do seu maestro que nos deram um Wagner lírico e arrebatador, e até da máquina de Robert Lepage, com as suas mudanças de cenário simbólicas ou naturalistas, e cujo barulho felizmente a transmissão disfarçou.

A propósito, vale muito a pena ler no blogue Fanáticos da Ópera a comparações entre as récitas ao vivo aqui e aqui e a transmissão video, e no Valkirio os clips que o Paulo descobriu.

Ainda não falei de Deborah Voigt? Pois acho que se saiu lindamente, apesar de um bocadinho de botox a mais aqui e ali.

6 comentários:

Paulo disse...

Sabes que eu sou totalmente pela liberdade de opinião. Conhecendo a máquina desde O Ouro do Reno, penso que consigo imaginar, a partir do Youtube, os efeitos que ela fez agora. Intriga-me que, depois de um investimento tão grande no bicho, Lepage não tenha conseguido evitar as projecções nas caras dos cantores. E também acho, muito honestamente, que o sucesso desta Valquíria se deve aos cantores. Sem Kaufmann, Westbroek, Terfel e Blythe, não sei. A espectacularidade da máquina parece-me demasiado oca. Apesar de (penso eu de que) faltar ali trabalho de encenação, uma das maiores críticas a Lepage, algumas interpretações salvam a coisa.
A Brünnhilde da Debbie não me decepcionou, porque eu pensava que ela não conseguiria chegar lá. Aguentou-se, muitas vezes com grandes dificuldades. Está a milhas do que é uma verdadeira Valquíria.

Moura Aveirense disse...

Kaufmann & Terfel são um espectáculo! :)

Gi disse...

Paulo, concordo contigo: não é a máquina que faz esta Valquíria, são os cantores.
E também tens razão quanto à encenação, pelo menos na direcção de actores, que foram deixados um bocado ao abandono.
(E os figurinos são horrorosos, entre o revivalismo medieval e a ficção científica bacoca)
No entanto, as boas interpretações apagam esses detalhes, e a cena da cavalgada das valquírias é muito bem esgalhada - quando elas não caem dos cavalos, claro.

E quando o Kaufmann não se baba ;-)

FanaticoUm disse...

Muito obrigado pelas várias referências ao nosso blogue. Vindas da Gi, são ainda mais honrosas.
Concordo com a sua (e de outros) opinião, o que faz um bom espectáculo destes são os cantores e, no presente caso, foram todos do bom ao excelente.
A transmissão em HD beneficia os mais fracos, mas dá-nos tanto prazer que até "desculpamos" esse aspecto.
A "máquina" de Lepage, tão contestada por tantos, é muito inovadora e cria um ambiente fantástico. É a minha opinião.
Mas é um privilégio ouvirmos Blythe (absolutamente fabulosa), Kaufmann, Westroek, König, Terfel e mesmo Voight. Proporcionaram-nos uma das melhores Valkirias dos últimos tempos.
E é também um privilégio visitar um blogue como este.
Muito obrigado e bem haja!

Fernando Vasconcelos disse...

No que me diz respeito gosto embora também me pareça discutível o gosto nos figurinos e no ambiente geral estilo Mad Max ... bem mais ou menos.

Gi disse...

FanáticoUm, não tem nada que agradecer :-)

Fernando, tem razão, é mesmo o estilo Mad Max :-)