sexta-feira, 3 de junho de 2011

Ariodante em Paris

Pode-se ir a Paris sem nenhum propósito especial, mas desta vez havia dois, sendo o primeiro ouvir e ver Joyce DiDonato no Ariodante de Handel, em versão de concerto no Théatre des Champs Élysées.

Por muito que me entusiasme com as transmissões Met-Gulbenkian (haja muitas!), é no palco, ao vivo, que se tiram teimas. Não que aqui as houvesse: tendo tido já o privilégio de assistir a uma das primeiras récitas que deram origem ao CD Furore, já sabia que em voz e presença ela é exactamente o que se pede aos deuses.

Confirmou-se: Joyce DiDonato é como um grande vinho: tem corpo, aroma, complexidade, maturidade, equilíbrio. Dos outros cantores, destaco a soprano Karina Gauvin na Ginevra, uma voz doce, cristalina e ágil, e a contralto Marie-Nicole Lemieux que fez um grande Polinesso apesar das palhaçadas em excesso.
O baixo-barítono Matthew Brook no Rei tem uma voz bonita mas que se tornava inaudível nas notas mais graves. À soprano espanhola Sabina Puértolas em Dalinda só faltou um bocadinho de emoção, mas é uma cantora a seguir. O tenor Nicholas Phan em Lurcanio também esteve bem e muito seguro. Quanto a Paolo Borgonovo, o pequeno papel de Odoardo não chega para brilhar, mas não destoou.

Outros já criticaram Il Complesso Barocco e a direcção de Alan Curtis pela sua falta de delicadeza; talvez o maestro temesse que a duração da peça afastasse o público, e optasse por despachar um bocadinho a coisa... O certo é que foi um espectáculo entusiasmante, de tal forma que no final, entre aplausos que não abrandavam, maestro e elenco voltaram à sala para um encore obviamente inesperado.

(Paris, Maio 2011)


Depois, alguns admiradores impenitentes esperaram a saída dos artistas, e a encantadora Joyce autografou-me o CD novinho em folha, comprado na véspera na Fnac dos Champs Élysées.

5 comentários:

Paulo disse...

A começar pela caixa de bombons que é esse teatro, vale logo a pena ir lá. E tratando-se de "Ariodante", então, e logo com a Joyce... Pena não teres tido direito a Minkowski e à sua tribo. Seria certamente outra conversa.

Moura Aveirense disse...

Cool! Muito fixe!

Ahhhhhh, e essa FNAC dos Champs Elysées... é de perder a cabeça! :)

Ludmila Ciuffi disse...

Que delícia ler comentário de conhecedor! Vejo tanto amor e vivacidade em suas palavras que dá vontade de ouvir também...

mfc disse...

Como é bonito ver-te assim empolgada!
Contagia... sabes?!

Gi disse...

Paulo, caixa de bombons é uma excelente descrição :-)

Moura, eu fui direitinha ao Ariodante e praticamente não olhei para mais nada para não a perder ;-)

Ludmila e Mfc, obrigada, fico contente por conseguir partilhar coisas de que gosto.