domingo, 25 de abril de 2010

Os dias e a música

Com a música barroca em alta, os contra-tenores estão na moda, e qualquer falsetista esganiçado tem acesso aos palcos.

Não é bem o caso de Cenk Karaferya: apesar de as gravações disponíveis no Youtube não o demonstrarem, a sua voz tem um timbre bonito quando se consegue ouvi-lo, o que, não tendo acontecido no primeiro número do concerto de hoje no Centro Cultural de Belém, melhorou muito nos dois seguintes e no encore com que brindou o público entusiasta.

Entusiasmo é o que se pede nestes Dias da Música, herança pindérica da Festa da Música de René Martin. Massimo Mazzeo e os seus colaboradores do Divino Sospiro não têm falta dele, mas a mim tanta expressividade perturba-me um bocadinho.

O alaudista Pietro Prosser esteve bem, embora mais uma vez me pareça que certas peças perdem em ser tocadas (e cantadas) em ambientes tão grandes. É o compromisso inevitável entre a qualidade sonora e as necessidades comerciais, e desta vez o grande auditório estava longe de estar cheio.

Quanto a Karaferya, parece ser um cantor com ambição e capacidade que precisa de mais tempo e trabalho antes de atacar os pesos-pesados aos quais se atira já com valentia.

4 comentários:

Moura Aveirense disse...

Este ano não fui... achei o programa fraquito e continuo a achar os Dias da Música uma cópia péssima da Festa da Música.

Gi disse...

Concordo, Moura, e estive mesmo para não ir, aliás fui hoje a este único concerto.

Paulo disse...

A ouvir os excertos de Vivaldi e Handel por Cenk Karaferya. Não o conhecia e confesso que não fiquei entusiasmado. Talvez melhore com o tempo, mas concordo contigo que a moda já chateia. Há contra-tenores que não consigo ouvir.

Gi disse...

Paulo, o moço é melhor ao vivo, mas pelo menos nesta fase eu não iria a lado nenhum especialmente para o ouvir.