segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Don Pasquale

Ir à Fundação Gulbenkian assistir a uma transmissão televisiva directa da Metropolitan Opera House não é a mesma coisa que assistir a uma récita ao vivo, mas é o melhor que se arranja sem sair de Portugal, já que não perspectivamos ter tão cedo no S. Carlos espectáculos de primeira qualidade.

Dito isto, só tenho que alegrar-me e agradecer ao Met e à Gulbenkian o prazer que me deram no sábado com a transmissão do Don Pasquale de Donizetti.

A encenação de Otto Schenk, cenografia e figurinos sem arrojo mas muito bons - às vezes é mesmo o que apetece - e mesmo com alguns clichés como a cena em que Anna Netrebko / Norina calça as meias, decalcada de uma Manon em que fez furor, quando era mais jovem e mais magra e fazia personagens sexy sem precisar da suspensão da incredulidade que se usa habitualmente na Ópera. A voz, no entanto, mau grado a dicção tão incompreensível quanto a de Joan Sutherland, continua firme, ágil e sem esforço aparente nos trilos e agudos - sexy - e é sem dúvida uma forte presença no palco.

De Mariusz Kwiecien conhecia o nome e a reputação de barihunk, merecida tanto pela figura elegante e movimentação em cena quanto pela belíssima voz. O tenor Matthew Polenzani fez um Ernesto inocente, cuja única qualidade parece ser igualmente o único defeito, estar perdidamente enamorado. Achei a voz bonita, um bocadinho metálica às vezes, mas podia ser efeito do microfone.

Quanto ao protagonista, foi muito bem retratado pelo baixo-barítono John Del Carlo tanto do ponto de vista cénico como vocal, dando-lhe uma dignidade muito simpática. O divertido dueto com Kwiecien no 3º acto teve direito a repetição, nesta como em récitas anteriores.

Finalmente, coro e orquestra portaram-se lindamente, sob a direcção do maestro Levine que, diminuído ainda após a cirurgia, conduziu sentado mas aparentemente bem disposto.

9 comentários:

Moura Aveirense disse...

O vídeo é o máximo! :)

Paulo disse...

Ainda bem que gostaste, Gi. Eu passei porque não acho graça à Netrebko (reconhecendo-lhe as qualidades, porém) nem ao "Don Pasquale". Agora aposto no "Don Carlo" com o Alagna e o Keenlyside (mais um barihunk).

Mário R. Gonçalves disse...

Também tendo a concordar com o Paulo. Voz "firme e ágil" , Gi? Ágil, pelo menos, é favor. Completamente desagradável de timbre e emperrada nos momentos difíceis, em que grita mais que canta. A dicção é para esquecer.

Encenação suficientemente engraçada, sim, sem estragar.

Concordo 100% com o aplauso à Gulbenkian. Espero o mesmo para breve na Casa da Música.

ematejoca disse...

No sábado também tentei assistir à transmissão directa da Metropolitan Opera House do Don Pasquale de Donizetti no Atelier, mas nenhum bilhete foi devolvido.
Aqui é uma loucura para conseguir bilhetes. Nem só nomes como Otto Schenk, Anna Netrebko e Levine atraem muitos espectadores, mas sim todas as óperas. Os cinemas estão às moscas, pois a ópera é a grande paixão do povo alemão.
A próxima transmissão da MET no dia 11 de Dezembro de DON CARLO tenho que a ouvir na rádio, pois também já não há bilhetes. Só consegui um bilhete, na segunda fila, para DIE WALKÜRE, no dia 14 de Maio de 2011.

Era formidável, que a Casa da Música fizesse o mesmo que a Gulbenkian e o Atelier, pois penso, que no Porto, deve ser mais fácil arranjar um bilhete; é que visito várias vezes no ano, a minha querida cidade invicta.

Gi disse...

Moura, ainda não há por aí muitos videos desta produção.

Paulo, espero encontrar-te no Don Carlo :-)

Mário, eu tenho andado pouco confortável com a Netrebko ultimamente, mas a sério que gostei muito de a ouver, e a achei melhor na transmissão do que neste clip.

Teresa, essas são excelentes notícias para quem adora ópera e acha o cinema actual indigente. Na Gulbenkian os bilhetes para o Don Carlo estão praticamente esgotados.

ematejoca disse...

Eu sou uma mulher do teatro e da ópera, e é mesmo muito raro ir ao cinema.
A última vez tinha sido em Setembro de 2009, mas no sábado passado vi um filme argentino belíssimo.
Se quiser, leia:

http://ematejoca-ematejoca.blogspot.com/2010/11/blog-post_13.html

Gi disse...

Obrigada pelo link, Teresa, vou ver.

antonio disse...

Claro que uma transmissão destas em HD não é exactamente a mesma coisa que um concerto ao vivo. Mas é certamente muito melhor do que aquelas tretas deprimentes de 3ª classe que passam no São Carlos.É, em termos futebolisticos a diferença entre um jogo Real Madrid-Barcelona e um jogo entre os Magnificos de Celorico de Bastos e o os Gaiteiros de Miranda do Douro.

E já pedi à minha namorada para comprar bilhetes para os próximos espectáculos.

Os cantores eram fabulosos e a Netrebko, redondinha e farfalhuda se não encantou a vista de alguns galãs, também os não terá desiludido.

Antonio

Gi disse...

Antonio, que maldade: os Magníficos de Celorico de Bastos e o os Gaiteiros de Miranda do Douro provavelmente nem existem. Digamos o Imortal e o Freamunde... onde às vezes se calhar até há um jogador que se destaca pelo potencial ou pela história passada.