terça-feira, 16 de novembro de 2010

Terroristas à Portuguesa

Notícia do Público:

Cimeira da Nato
Dois detidos na fronteira do Caia com armas brancas e panfletos anarquistas e anti-polícia
16.11.2010 - 13:59 Por Lusa
A GNR deteve hoje de madrugada na fronteira do Caia (Elvas) duas pessoas que tinham armas brancas e vários panfletos com mensagens anarquistas e anti-polícia, disse à Lusa fonte daquela força de segurança.
Segundo a mesma fonte, os dois cidadãos, um homem de nacionalidade espanhola e uma mulher portuguesa, foram detidos cerca das 4h45 na fronteira do Caia.
A GNR encontrou no interior do carro armas brancas, designadamente uma navalha, uma catana de 40 centímetros e um estilete, e vários panfletos com mensagens anarquistas e anti-polícia, adiantou.
(...)


Oh pr'ós perigosos terroristas, com uma navalha, um estilete e uma catana de quarenta centímetros. Oh pr'ás nossas forças de segurança a fazer notícia. Oh pr'á Europa a olhar-nos cheia de respeito:

Portugal, dizia-se há anos, é o país mais liberal da Europa! A Europa, diziam os correspondentes dos jornais provincianos, inveja a nossa sorte, e acha-a única! A Europa, diziam no Grémio os jogadores de bilhar, estuda com afinco as nossas instituições, e duvida se chegará a imitá-las! A Europa quase que não compreende a nossa fenomenal liberdade de pensamento! Somente, meus senhores, ninguém se lembrava de pensar.

Antero de Quental, Carta ao Ex.mº Senhor António José d'Ávila, Marquês d'Ávila, Presidente do Conselho de Ministros

Já então era assim. O resto da carta é uma resposta maravilhosamente bem escrita à portaria com que o marquês proibira as "Conferências Democráticas" de que Antero era promotor, portaria que Antero definiu como um acto contrário à lei e ao espírito da época, e um acto tolo. A carta acaba asssim:

(...) supondo por um momento que alguma destas coisas possa passar ao século xx, folgo de deixar aos vindouros com este escrito a certeza duma coisa: que em 1871 houve um ministro que fez uma acção má e tola, e um homem que teve a franqueza caridosa de lho dizer.

O que, diz o Paulo, é uma maneira elegantíssima de mandar o marquês à merda.

2 comentários:

Paulo disse...

Até há umas décadas ainda era comum ler-se textos de calibre altamente corrosivo, irónico, subversivo, etc., em que os autores descompunham os visados (no Parlamento era igual) sem lhes dizerem coisas do género manso é a tua tia, pá. Havia sempre um grande aprumo, uma delicadeza e uma elegância que se perderam. É pena.

Rita Maria disse...

Grande text, Gi.