Dera-se, com efeito, durante o século XVI, uma deplorável revolução nas condições económicas da sociedade portuguesa, revolução sobretudo devida ao novo estado de coisas criadas pelas conquistas. O proprietário, o agricultor, deixam a charrua e fazem-se soldados, aventureiros: atravessam o oceano, à procura de glória, de posição mais brilhante ou mais rendosa. Atraída pelas riquezas acumuladas nos grandes centros, a população rural aflui para ali, abandona os campos, e vem aumentar nas capitais o contingente da miséria, da domesticidade ou do vício. A cultura diminui gradualmente. Com essa diminuição, e com a depreciação relativa dos metais preciosos pela afluência dos tesouros do Oriente e América, os cereais chegam a preços fabulosos. O trigo, que em 1460 valia 10 réis por alqueire, tem subido, em 1520, a 20 réis, 30 e 35! Por isso o preço nos mercados estrangeiros, nem sequer pode cobrir o custo originário: a concorrência doutras nações, que produziam mais barato, esmaga-nos. Não só deixamos de exportar, mas passamos a importar.
Antero de Quental, Causas de Decadência dos Povos Peninsulares, Lisboa, 2010, pg 37
Substitua-se as conquistas pelo turismo, a afluência dos tesouros do Oriente e América pela facilidade de crédito e pela inundação de papel-moeda, e parece-me que a actualidade deste discurso proferido em 1871, na sessão inaugural das "Conferências Democráticas", não deixa dúvidas.
Antero de Quental, Causas de Decadência dos Povos Peninsulares, Lisboa, 2010, pg 37
Substitua-se as conquistas pelo turismo, a afluência dos tesouros do Oriente e América pela facilidade de crédito e pela inundação de papel-moeda, e parece-me que a actualidade deste discurso proferido em 1871, na sessão inaugural das "Conferências Democráticas", não deixa dúvidas.
2 comentários:
Andamos nisto desde D. Manuel I.
Parece que sim, Paulo, é impressionante.
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