Considerando que Barack Obama pode vir a ser o próximo presidente dos Estados Unidos da América, pareceu-me interessante ler o seu primeiro livro, Dreams from my Father, uma espécie de memória da sua busca por uma identidade, publicado inicialmente em 1995, isto é, bem antes da candidatura à presidência e às mudanças que o candidato tem feito para conquistar eleitorado.
Mudança é um conceito que apareceu cedo na sua vida profissional, quando após o bacharelato em ciências políticas se dedicou a organizar grupos de direitos cívicos dentro das comunidades negras desfavorecidas.
Há quem se interrogue sobre o peso que tem a questão racial nestas eleições: tem obrigatoriamente muito, porque essa é uma questão central na auto-definição de Obama: mestiço, desenraizado, com pai ausente, sentiu-se marginal durante toda a sua juventude, e este livro é a memória da procura da sua identidade e das suas raízes negras.
É um homem de mulheres: percebe-se ao longo de todo o livro como se sente bem entre elas: a mãe, a avó, as mulheres com quem se relaciona profissionalmente, mais tarde a irmã, as tias e a avó queniana. Mas da sua vida amorosa praticamente não fala: refere uma relação amorosa com uma branca, e a sua mulher, Michelle, parece cair de pára-quedas no capítulo final.
Aliás é engraçada a saída subtil de cena da memória familiar quando entra a fase política. A família só volta a aparecer mais tarde e é a família queniana; a mãe e os avós americanos praticamente desaparecem a um terço do livro.
A sua atitude perante a religião fica clara: Obama aproxima-se das igrejas pelo trabalho social, e não pela fé. Talvez assim seja mais fácil entender a ligeireza com que se desligou do seu pastor de há 20 anos quando este lhe pareceu um obstáculo aos seus objectivos eleitorais.
Este homem tem muito mais mundo do que George W Bush e provavelmente do que a maioria dos presidentes americanos. Não nasceu com dinheiro; viveu no Hawaii, na Indonésia, nas duas costas dos EUA, visitou a Europa como turista e o Quénia como filho pródigo. Lê muito. Gosta de jazz e das suites para violoncelo de Bach. Joga basket. Tem 47 anos e experiência política e cívica. Foi advogado e professor.
Deveria ser um presidente muito interessante para a América. Infelizmente a política devora os seus filhos, e quando se começa a querer vender uma imagem e a agradar a gregos e troianos, perde-se a autenticidade.
Citações:
And it was this realization, I think, that finally allowed me to share more of myself with the people I was working with (...) [A]s people listened to my stories (...)they would nod their heads or shrug or laugh (...) Then they'd offer a story to match or confound mine, a knot to bind our experiences together (...)
Barack Obama, Dreams from my Father, NY, 2008, pg 190
Between the two of us, I was the one who knew how to live as an outsider.
id, pg 211
The pain I felt was my father's pain. My questions were my brothers' questions. Their struggle, my birthright.
ibid, pg 430
Mudança é um conceito que apareceu cedo na sua vida profissional, quando após o bacharelato em ciências políticas se dedicou a organizar grupos de direitos cívicos dentro das comunidades negras desfavorecidas.
Há quem se interrogue sobre o peso que tem a questão racial nestas eleições: tem obrigatoriamente muito, porque essa é uma questão central na auto-definição de Obama: mestiço, desenraizado, com pai ausente, sentiu-se marginal durante toda a sua juventude, e este livro é a memória da procura da sua identidade e das suas raízes negras.
É um homem de mulheres: percebe-se ao longo de todo o livro como se sente bem entre elas: a mãe, a avó, as mulheres com quem se relaciona profissionalmente, mais tarde a irmã, as tias e a avó queniana. Mas da sua vida amorosa praticamente não fala: refere uma relação amorosa com uma branca, e a sua mulher, Michelle, parece cair de pára-quedas no capítulo final.
Aliás é engraçada a saída subtil de cena da memória familiar quando entra a fase política. A família só volta a aparecer mais tarde e é a família queniana; a mãe e os avós americanos praticamente desaparecem a um terço do livro.
A sua atitude perante a religião fica clara: Obama aproxima-se das igrejas pelo trabalho social, e não pela fé. Talvez assim seja mais fácil entender a ligeireza com que se desligou do seu pastor de há 20 anos quando este lhe pareceu um obstáculo aos seus objectivos eleitorais.
Este homem tem muito mais mundo do que George W Bush e provavelmente do que a maioria dos presidentes americanos. Não nasceu com dinheiro; viveu no Hawaii, na Indonésia, nas duas costas dos EUA, visitou a Europa como turista e o Quénia como filho pródigo. Lê muito. Gosta de jazz e das suites para violoncelo de Bach. Joga basket. Tem 47 anos e experiência política e cívica. Foi advogado e professor.
Deveria ser um presidente muito interessante para a América. Infelizmente a política devora os seus filhos, e quando se começa a querer vender uma imagem e a agradar a gregos e troianos, perde-se a autenticidade.
Citações:
And it was this realization, I think, that finally allowed me to share more of myself with the people I was working with (...) [A]s people listened to my stories (...)they would nod their heads or shrug or laugh (...) Then they'd offer a story to match or confound mine, a knot to bind our experiences together (...)
Barack Obama, Dreams from my Father, NY, 2008, pg 190
Between the two of us, I was the one who knew how to live as an outsider.
id, pg 211
The pain I felt was my father's pain. My questions were my brothers' questions. Their struggle, my birthright.
ibid, pg 430
2 comentários:
Olá Gi
Ainda não li, mas, pelo que diz, parece bastante interessante. Vou ver se o leio nas férias
Alvaro
Fico à espera dos seus comentários, Álvaro.
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